segunda-feira, 30 de junho de 2008

As ondas de um copo água

Charles Rettner, Liquid Ice

E as tempestades de que, às vezes, escrevo, são ondas num copo de água. São feitas de vento e de vontade de ser tudo mais e sempre melhor. São tempestades em que as agulhas de chuva são faíscas de Amor em lume, num incêndio permanente. São quase nada e tudo na mesma hora. São um querer desesperado porque impaciente. As tempestades que nos acordam numa côr diferente são a força de nos querermos mais do que nos podemos imaginar. As tempestades que nos agitam momentos nem por isso inteligentes são a intensidade que nos segura o abraço em que sempre adormecemos. A tempestade só é tempestade quando não percebemos que somos maiores do que o mar insignificante que acontece num copo de água agitado. Porque somos um universo sem princípio nem fim. Se somos mar que sejamos sempre sem limites o beijo que nos navega infinitamente corpo, alma e coração.

sábado, 28 de junho de 2008

Intervalos de chuva

Zenmatt, A Hard Rain Is Gonna Fall, 2007

Nem sempre o que brilha são estrelas, nem sempre o que dizemos é ouvido como foi dito à partida. Nem sempre reagimos com razão universal. Nem sempre pensamos ao encontro do outro. Nem sempre nos encontramos à mesma distância. Nem sempre sabemos o que pensar. Nem sempre percebemos o que nos querem dizer. Nem sempre estamos no mesmo sítio na altura certa. Nem sempre estamos de olhos abertos atentos a tudo como gostaríamos. Nem sempre acertamos. Falhamos e nem sempre comprendemos como. Falhamos. Conheço a culpa do que digo com intenção e a impotência perante uma má interpretação. Sei de cor a minha culpa nas coisas que digo pensadamente. E sei também as coisas que digo por dizer sem prejuizo intencional. Falho de ambas as maneiras, como quem não sabe dizer sem magoar e magoar-se. Um dia saberei interpretar tempestades e andar por entre os intervalos da chuva. Um dia serei capaz de evitar as poças de água de um lado e do outro do nosso caminho. O meu coração continua no mesmo sítio, abraçado a ti.

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Simplicidade

GeorgeV'Myer, Drawing with light series

Das coisas mais simples que existem gostar naturalmente de alguém é a essência da simplicidade. Não sei explicar porque gosto, gosto simplesmente. Amar é gostar tão infinitamente que saber porquê é uma profunda redundância. Acontece e todas as explicações são dispensáveis porque sentimos e o que se sente explica-se na forma como nos damos ao outro e sabemos receber. Hoje quero dizer-te uma coisa que de tão simples chega a ser complicado escrevê-la na mesma forma simples e natural que te sinto em mim. Hoje quero dizer-te o que encontro em mim em cada segundo à espreita para te fazer saber. Porque tenho medo que te esqueças. Porque tenho medo de não dizê-lo vezes suficientes. Porque preciso dizê-lo em cada instante. Porque sou eu contigo e tu és vida em mim. Hoje quero dizer-te tudo o que já sabes numa palavra apenas: amo-te... Assim simplesmente.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Ao acordar

George V'Myer, Rock Forms Series, 2005

Acordei só para te dizer que estava a sonhar sontigo. Acordei para te chegar mais de perto. Acordei porque não durmo muito tempo sem te abraçar. Acordei só para te dizer isto meia a dormir. Volto a fechar os olhos não tarda nada. Só tarda a tua vinda e neste tempo em que te espero desespero no espaço que me sobra nos braços da tua ausência. Durmo o que falta à manhã e vou deslizar pelo dia, suavizando as arestas das horas sem ti. Vem cedo, Meu Amor, porque cedo é sempre tarde para quem te quer sem intervalos.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Iluminada

Linda Alstead, Sunshine on Teasel, 2005

Todos os dias nasces em mim como a Terra amanhece debaixo do mesmo Sol de sempre. Todos os dias és mais centro e mais verdade em mim. E a minha verdade é aquela que me faz ter a certeza de que existem histórias de amor felizes, porque a felicidade de amar é sentir profundamente cada instante debaixo de sol ou chuva e amanhecer inteira a vontade de um sempre incondicionalmente. O Amor, aprendi, não é um estado superficial de embriaguez dos sentidos. O Amor é extâse e contratempos e um constante bem-querer que nos transcende e que nos segura cada passo mesmo que caminhemos às escuras. Porque nunca é noite no Amor. Sei por onde vou, caminho sob a luz que me amanhece todos os dias num beijo infinito e num toque de pele sem tempo. O Amor não sabe contar as horas que passamos lado a lado. No Amor só existe o tempo infindável da espera e da saudade. Sei por onde vou. Vou contigo para todo o lado. Porque sou esse caminho de vontade e nós somos um destino de eternidade.

domingo, 15 de junho de 2008

Dias livres

Niki Conolly, Lost in Cool, 2008

Agora que o Verão se instalou do outro lado da esquina, espero-te à sombra, sob a frescura quase azul que carrego numa garrafa de água fresca. Nestes dias cheios de calor em que eu te espero e tu me chegas a correr, entretenho as horas, distraindo os minutos com histórias sem muito sentido ou, talvez, sem sentido sequer. Espero que chegues e que tragas sede e que eu te sossegue nesta sombra que mantive, do meu lado, fresca à tua espera. Quero que te sentes ao meu lado e deixes o teu dia para trás e que sintas comigo a brisa que pintei de azul de mar aqui deste lado da esquina em que fui trabalhando a tua chegada. Quero que descanses no meu tempo os contratempos que te demoraram até casa. Quero abraçar-te as horas do dia em que os braços se ausentaram e sentir-te o corpo aninhar a noite em nós e assim adormecer numa única almofada. Desperta-me quando for dia com a ternura que te conheço em todas as manhãs na mesma esquina do sonho. Vou preparar-te a noite durante o dia e quando voltares vou embrulhar-te num sopro de vento fresco, a lembrar os dias de mar que nos aguardam a chegada. Tenho água sempre fresca nos lábios que te beijam o regresso a casa.

domingo, 8 de junho de 2008

Ensina-me...

George V'Myer, Eucalyptus Bark

Por mais camadas em que te descubra há um querer-te mais porque és mais em mim por cada cor em que te revelas. E tudo tem um encanto próprio e um sentido cada vez mais definido mesmo quando não me encontras exactamente no sítio em que me procuras. Por vezes perco tempo precioso a brincar às escondidas, mas só aparentemente deixo de estar onde tu estás. Por vezes perdemos tempo que não devemos desperdiçar escondidas por detrás de pensamentos descarrilhados que nos escapam e nos distraem do essencial. Mas a vida é também essa indiciplina que nos reforça o laço e nos faz mais inteiras nas nossas múltiplas camadas. Se te quero para o resto da minha vida quero viver-te nas mil cores que reflectes nos meus olhos que nunca te perdem de vista. Porque és mais tu e sou mais eu no que nos deixamos conhecer e tocar. Porque somos mais nós no tanto que nos sabemos amar. Não me leves a mal a imperfeição, pensa-me um projecto em construção, uma obra inacabada. Cresço e aprendo contigo um mundo inteiro. Aprender-te é amar-te e querer-te sempre mais.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Inquebrável

CM Kwan, Grey Hairs, 2008

Se tudo correr bem, e vai tudo correr bem, os meus e os teus cabelos serão tornados brancos, sem excepção, pelo tempo por onde passeamos demasiado depressa para viver mais e chegar mais além. E eu vou olhar para esse teu branco de neve que os anos acumularem na tua cabeça e vou sorrir feliz como quem chega ao cimo de uma montanha. Por dentro pouco muda porque o Amor não envellhece. O Amor nasce e cresce e nunca chega a morrer. Amadurece porque isso é conhecer mais um bocadinho de nós a dois. O Amor é a força com que vencemos a montanha, a mão que nos segura a queda e nos levanta do chão para continuar. O Amor é a habilidade de olhar para dentro e mudar de sítio as peças soltas para arrumar melhor o lado de fora. E mesmo que tudo nos pareça virado ao avesso, o Amor é acreditar numa ordem primeira e inalterável, aquela que nos segura uma vontade de vida infinita, um querer intocável. Mesmo quando os dias acontecem fechados num círculo escurecido, sei que te tenho comigo tão de dentro que não perco de vista essa luz que és em mim e que me aquece a alma que se me aninha no coração.