quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

À beira de 2009

Maaike Huizer, January 1st - Let's play

Está quase e é inevitável. É ver o que acontece...
FELIZ ANO NOVO a todos dentro e fora do 'Copo...' Que 2009 nos faça mais fortes, mais felizes e melhores como seres humanos.

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Prémios Dardo


Obrigada Brokenangel e Angell pela distinção atribuída a este espaço, com um prémio que tem como objectivo "...distinguir blogues que contribuem de forma significativa para o enriquecimento da cultura virtual, através da veiculação de valores culturais, éticos, literários, pessoais… premiando os blogueiros que demonstram a sua criatividade através do pensamento vivo e através das formas de comunicação que utilizam para o expressar...."

Aqui fica o selo do prémio, mas não a escolha de outros blogs para premiar, porque é difícil escolher e porque há demasiadas coisas boas para escolher só algumas.

Lembrança

Christoph Joosten, 50 mm shots, 2007

Lembrei-me de um anel que nos segurasse a força de para sempre e mais um dia. Lembrei-me dessa força imparável que nos fez convergir num centro inamovível. Lembrei-me da resistência dos metais preciosos, da velocidade de um cometa ou da altura de uma montanha. Lembrei-me de tanta coisa, meu amor. E depois ficou-me a ideia obcessiva de uma argola em ferro, sem princípio nem fim, para definir a ideia em que eu habito o nós.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Do outro lado do inverno

Yannis Logiotatides, Drops on window, 2003

Enquanto a chuva desce e o abraço em que descansamos nos aquece a noite do frio em que se desfiou o dia, lembro-te a ti e a mim sem o abrigo que hoje somos. Aqui, por detrás do vidro da janela que nos separa da tarde invernosa, sabe bem recordar as muitas voltas que o mundo deu até nos encontrar num mesmo passo, num mesmo tempo, numa mesma história. Aqui, abrigadas dos dias invernosos em que derivámos na dôr, à margem uma da outra, celebramos uma fé maior do que a vida, porque ela é a própria vida quando tudo perde sentido longe do Amor. O fogo, que é como sempre foi, vive em tons escaldantes numa chama alta. Aqui não temos frio, a roupa sobra-nos despida da pele incendiada por este algo tão imenso e quanto impalpável que sentimos por dentro e nos estremece o corpo todo. Ontem já éramos tudo isto, mesmo quando, longe, chorámos o que nos julgámos impossível. Hoje somos mais e amanhã, recordando hoje, seremos mais ainda. Somos infinitas, porque o provámos a nós mesmas e aprendemos a razão desse infinito. Porque, se dúvidas houvesse, bastaria olhar para trás e repararmos na nossa sombra escura e arrastada nos tempos de abandono. Porque tu e eu temos uma razão de ser, aqui, do mesmo lado. Do outro lado do inverno, um mundo de vento, chuva e nevoeiro sem nós.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

O amor no calendário

Matthew Jellings, Ice Leaf

Quase a fechar o ano e a celebrar, pela terceira vez, o dia em que a vida nos começou um fogo diferente ao nosso encontro, sorrio aos três anos que nos juntam e percorro todas as esquinas do pensamento, revivendo os caminhos que andámos para estarmos aqui, à distância de um beijo a qualquer hora do dia. Temos história. Temos tanto para contar, vivemos tanto para aqui chegar. Temos muitas histórias, sobramos em intensidade no tanto que já vivemos em tão pouco tempo. Somos o exemplo de que de nada serve lutar contra a vontade que a alma segura a ferro e fogo. Porque o coração tem vida própria, porque aos dois corações que se reconhecem na primeira hora une a promessa de sempre. Somos esse inexplicável e esse infinito que os outros nos reconhecem no olhar. Porque brilhamos por dentro e há uma luz que nos encaminha os dias, um a um, cada vez mais perto do que queremos cumprir - o nosso sempre é um estado de alma absoluto, sem sombras nem dúvidas.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Boas Festas

Jim Larkey, Christmas Tree, 2004

A todos quantos por aqui passam e se demoram e aos outros que, nunca passando por dentro de copos escritos, desejam e procuram ser felizes votos de FELIZ NATAL.
Que, esta noite, haja presentes sem preço, tão raros e únicos quanto os desejos de alma de cada um de nós. Nada do que é realmente importante está à venda em lojas...
Um abraço de boas festas!
Always & U-Turn

sábado, 20 de dezembro de 2008

Pelos cantos

Anabark, Pelos cantos, SET08


Nos cantos, pela casa, espreitam partes de nós desengonçadas. Reparamos todos os dias no que temos de arrumar e, por vezes, arranjamos tempo para deitar fora e desocupar o espaço que nos falta. Outras vezes acostumamo-nos e deixamos estar desarrumado. Porque nos doi o corpo pelas horas acordado, porque nos doi a cabeça de tanto pensar. Nos cantos, pela rua, sobram pedras abandonadas. Tropeçamos, passo a passo, nas que não conseguimos evitar. Não sabemos de onde vêm, mas apenas que ali estão à espera da gente que passa distraída, de olhos mais alto do que o chão. Os dias estão muito longe do Natal. Voltar a casa é acreditar que o que nos apetece vai acontecer. E corremos mais depressa do que as pernas podem. Todos os lugares do mundo são não-lugares longe da casa onde nos cumprimos. Pelos cantos, vão estando coisas soltas por arrumar, que nos sabemos, muito bem, onde as encontrar.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Descrição

Jakob Ehrensvärd, Exploding sugar cubes

A vida acontece acontece mais depressa do que a dor tantas vezes incurável. A vida passa sem darmos conta que envelhecemos e da irreversibilidade do que vamos ficando. Aqui e ali juntamos estilhaços úteis de uma moldura que nos configura a existência, com mais ou menos sentido, dependendo do empenho que lhe dedicamos. E ainda que tudo se transforme, às vezes perdemos o jeito de criar de novo. E nesses momentos, salva-nos o espaço interior que nos faz sentir inteiros, unos e cristalinos, o que sentimos só nosso incondicionalmente, ou nada do resto faria sentido. E só o Amor assim se descreve. Nada em mim é mais verdadeiro do que o laço que me faz viver-te sem descanso porque não sei distinguir-me de ti. No que me une a ti não envelheço, recrio-me e transformo-me. Aprendo a vida do princípio, porque não sei nada e quero muito aprender sobre todas as coisas que somos sem saber. De ti nasce-me a vontade de ser para sempre porque, à medida que o tempo passa, seja qual for a estação do ano, confirmo que não sei separar-me de ti. Só o Amor assim se descreve, neste olhar para dentro e ver-te aqui, para além da pele, onde as mãos não tocam, aqui no mais intímo e autêntico do que sou e tu és num todo. Só o Amor assim se descreve, a clareza de ser contigo, indivisível.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Pedras

Frank Loehner, Cutting the stone - raw material, 2005

Pedra sobre pedra crescem muros.
Dentro de paredes há um mundo inteiro retraído,
de paisagens retalhadas

pelos muros que se erguem
em florestas de pedra descontroladas.

Debaixo das pedras vivem escorpiões assustados.
Pedra sobre pedra deixamos acontecer
muros mais altos do que altura segura para saltar.
Que nos falte o cimento
e nos sobre a força para os derrubar.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Chega-te a mim

Wenche Aune, Winter 06, 2007

E havia fogo sepultado no gelo das horas vazias porque a chama permanece na alma tão naturalmente como a fome e a sede habitam o corpo vivo. E o gelo nunca fica porque se transforma em água que mata a sede ou que aquece o estômago à procura de conforto. Longe de nós pouco existe, a consistência perde-se e as coisas derivam numa lógica imprópria porque incompreensível. Até as palavras que nos abandonam procuram formas de nos alcançar com uma urgência incontornável que, por vezes, não sabemos acompanhar. Erros de percepção são reflexos no espelho, imagens imperfeitas que se sustentam numa inversão da realidade. Descubro-te lentamente descubrindo-me. Os dias de tempestade são apenas nuvens num céu de azul infinito. Por cima das nuvens o sol não dorme. A luz permanece num plano absoluto de imortalidade. Assim nos sinto eu, assim nos vivo sem equívoco do que te sinto em mim. Porque há um lume aceso em nós como o céu luminoso e sem limites para além das nuvens.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Dias úteis

Jakob Ehrensvärd, Conclusion, 2006

Nos dias em que nos são úteis, sinto o mundo encolher e tornar-se tão pequenino que, às vezes, chega a desaparecer. Outras vezes, vai ficando tão difuso e indefinido que se torna, simplesmente, invisível. Nesses dias raros, porque únicos para nós, a matéria que nos funde é de uma outra grandeza e consistência que só estremece perante uma catástrofe natural. E somos sem tempo e sem fim encostadas uma à outra, a ordem de todas as coisas, mesmo daquelas que ainda não são. Tudo quanto existe perde centralidade e a pertinência relativiza-se numa inversão voluntária de prioridades. Tudo quanto existe somos nós, o princípio e o fim de tudo e não o mundo que nos sobra. Nos dias que nos são úteis, o universo deixa de ser uma ideia da física e da matemática combinadas. Nos dias que nos são úteis, somos o infinito e todas as combinações e probabilidades de existência.