Marco Heisler, 2009
Encontro nos dias de chuva uma forma de me chegar mais perto, de me espreitar com uma claridade diferente dos dias secos e soalheiros. E ando debaixo de chuva miudinha com a verticalidade das gotas de água como se eu e elas fizéssemos parte da paisagem natural. Nesses dias, em que os meus olhos vêem com argúcia os cantos mais recuados da alma, invade-me uma nostalgia feliz daquilo que me encontro através da chuva. Os dias de chuva não são em mim tristes como o céu cinzento que faz chover. São uma janela aberta àquilo em que eu me esqueci e que recupero às escondidas do sol que, tantas vezes, me cega a vontade de ver. A transparência das gotas de chuva devolve-me a luz do que fui e ilumina-me o que sou. De amanhã nada sei, nem a chuva de hoje o desvendou. Guardo apenas a luminosidade que, aqui e agora, me toca na alma.