A poucas horas do fim de um ano e do início de outro, votos de que haja desejos e sonhos cumpridos no que agora se acaba e no que daqui a pouco se inicia.
No centro do peito há um foco de luz, sempre aceso, que nos chama e guia nas horas escuras dos dias sombrios. No centro do peito bate o coração e nele uma música tão nítida que chega a ser sol suficiente para aquecer o mundo. No centro do peito há estrelas a nascer e a morrer de noite e de dia, durante toda a vida.
Que o Natal não seja apenas uma noite e um dia no mês de Dezembro - que o espírito dessa noite e desse dia renasça todas as manhãs durante o ano inteiro.
Os anos passam, as pessoas mudam, os anos mudam as pessoas. As palavras ficam e a alma de quem sente para sempre não perde validade. São oito anos de um copo vazio cheio de palavras que o coração aprendeu a escrever no corpo com a alma. São oito anos de vida a encher o copo. Meio cheio ou meio vazio, pouco importa. O sentido e o sentimento das palavras dentro dele é pleno e absoluto.
E porque o tempo passa mais depressa do que conseguimos vivê-lo e preencher-nos, hoje seguro o dia como teu e, nele, o mesmo voto de sempre: que tenhas muito tempo para te cumprires e seres feliz. Festejo o teu dia desejando-te essa eternidade.
Havia sempre luz naquela janela onde a noite nunca chegava a entrar. Havia sempre luz e os dias nunca acabavam da janela para dentro. De vez em quando adormecia o seu cansaço em cima de um livro ou encostada a um filme a preto e branco. E acordava quase envergonhada pelo tempo perdido no sono sempre breve. A luz continuava acesa, só o nascer do dia a tornava dispensável. Havia sempre luz naquela sala como que à espera de alguém que não sabe o caminho de volta.
Os caminhos deixaram de ser caminhos, a floresta cresceu e tomou conta de tudo. Já não encontro os pés quando olho para o chão agora tapete verde-vida. A terra seca e árida desapareceu. Beijo nos lábios uma brisa tão suave e fresca como se a primeira luz da manhã durasse o dia inteiro e tudo fosse orvalho nas horas por despertar.
São também palavras as cores, e ausência delas, que nos desenham o mundo por fora e por dentro da alma. São palavras sem voz que nos dão conta do que fica para além de nós e nos aproxima dos outros também. São o texto do silêncio em quem sabe escutá-lo e dizê-lo através do olhar.
Era só um mar inteiro que não tinha volta por nunca se acabar. Era só um partir por não saber ficar. Era só um longe que se navegou por se deixar de gostar. Era só um mar que trocou as ondas pela areia de tanto se cansar.
Assim, num imprevisto, vem-me à cabeça a frase de um poema que exclama 'Eu que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo...'* e penduro no armário a perfeição do mundo como roupa de estação que nunca virá a ser. Toda a gente veste a angústia das coisas ridículas mas poucos a assumem. Visto os dias de ideais que não calo por muito absurdos que pareçam ditos em voz alta. Sei que sou apenas o sonho de ser um pouco mais além. E, no absurdo em que tantas vezes me encontro, desencontro-me de todos quantos se acreditam acima do ridículo que são. *Álvaro de Campos in 'Poema em Linha Recta'
Foi, tão depressa como veio. Foi onda de maré viva, tocou a praia e fugiu com o mar. À noite procura-se na areia por onde passou. E escreve cada passo com a força do mar. De manhã acorda no mesmo sítio, apenas as nuvens mudaram de céu. Uns dias chove, outros dias o sol vem dançar com as horas da maré vaza.
Street art in Syria - Tammam Azzam: 'The Kiss' (Gustav Klimt)
E nesse dia bebeu-se coragem de um copo de vinho. E a terra na Terra tremeu. A culpa foi do vinho e da vontade corajosa de quem quer beber a vida num só dia.