segunda-feira, 26 de abril de 2010

Reticências

Dragomir Vukovic, All, 2010

Que acontece aos espaços em branco que ficam dos dias? Porque há dias incompletos e horas que não se esgotam totalmente no que esperamos delas. Que acontece a esses intervalos de tempo imaterial? Acumulam como pontos de um crédito impalpável para usar numa outra ocasião de maior conveniência? É confortável a ideia de que existem vazios, intervalos e branco, espaços de tempo disponível, alternativas de voltar a fazer e fazer melhor o que ainda não aprendemos totalmente, o que perdemos ou o que não demos conta que existiu. É importante agarrar essa possibilidade como fruta fora de época que nos desperta maior vontade, porque viver é mais do que tempo contado, universal. A vida é a subjectividade do espaço temporal que ocupamos combinada com o desejo de rosas quando não as possa haver. Se assim não fosse, o universo inteiro seria uma imensa maçada, porque a previsibilidade é cansativa e porque não vivemos realmente se sabemos invariavelmente o que vem a seguir.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Liberdade

Sanjibm, Flying in the wind, 2009

Free your mind and the rest will follow

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Se calhar hospital

S. Sabine Krause, A try at perfection, 2010


Hoje acordei mais envelhecida do que o habitual, hoje dói-me o corpo e o dia pesa demasiado. Deitei-me doente. Durante a noite senti a tua mão cheia de calor aninhar-me e o sono veio e levou-me. Ou então, acordada, esqueci-me de tudo, dos ossos fora de sítio e de nervos inflamados, debaixo da tua mão quente reparadora. Durante o dia, quando o corpo se impacienta dorido, regresso à palma da tua mão quente sobre a minha pele da noite anterior e aí me recomponho e restabeleço a força que preciso para chegar a casa...

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Tu também não

Maria João Arcanjo, Theatre of the escape, 2010
Sou capaz de não ter razão. E tu também não. E talvez ninguém tenha a razão que quer ter porque é essencial acreditarmos em nós mesmos íntegros, sobretudo quando sobramos em fragmentos, onde não cabemos nem sabemos encaixar. Querer ter razão é uma procura de sentido quando nos apercebemos em pedaços, sem nexo, pelo chão. Sou capaz de não ter razão. Sou capaz até de nem saber o que é ter razão. Talvez não conheça, de todo, a razão. Talvez assim me justifique a minha intolerância e o desejo, oblíquo talvez, de razão. Ou talvez não. Talvez queira apenas aprender a reconhecer a razão e não teimar em tê-la simplesmente. Talvez a ti te seja indiferente a diferença, mas para mim são dois mundos à parte e um barco entre eles que não sei equilibrar. Não espero que percebas, entende apenas o esforço do meu querer, em ti e por nós, navegar.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Insatisfação

Aziz J. Hayat, Broken Metal, 2009
"Sofremos demasiado pelo pouco que nos falta e alegramo-nos pouco pelo muito que temos..."

William Shakespeare