quarta-feira, 30 de abril de 2008

O resto da minha vida

Niki Conolly, Abstracts and Nonsense, 2006

Em véspera de envelhecer mais um ano, olho para dentro e contemplo a estrutura. Nada existe sem lugar próprio e reconheço a história de cada centímetro e o tamanho de cada momento guardado na memória. E o tempo que passou é pouco, porque a vida começou contigo. Quero o dobro dos dias e mais se puder ser. Quero que os meus dias contigo durem a eternidade. Amanhã a minha festa da vida és tu e o nós que somos. Embrulha-me em ti no momento zero e deixa-me nascer devagarinho no calor de um beijo. Que sejas tu a primeira pessoa que eu vejo e que o tempo nos sorria porque é o infinito que nos desejo. O resto da minha vida és e sempre foste tu.

terça-feira, 29 de abril de 2008

A nossa diferença

Back to the start, Almost lover, 2007

Não tenho a certeza, mas cada vez mais me convenço de que pouca gente há como nós. Por isso nos celebro a vida que nos descobrimos, no passado, no presente e no tempo que há-de vir. Pouca gente haverá como nós que baralhamos as estações do ano e quase nos esquecemos das horas de dormir para ficarmos mais tempo no olhar e no corpo uma da outra. Não tenho a certeza mas penso que somos bem diferentes do habitual, somos únicas e, juntas, uma só em tudo distinta do resto à nossa volta. Por isso te escrevo quase a dizer aquilo que me adivinhas antes de leres as palavras que se repetem em tudo o que te dedico. Não tenho a certeza, mas em todas as ruas em que te procuro só existes tu e, por isso, encontras-me o sorriso constante de quem em ti encontra tudo o que é preciso daqui até à eterenidade. Pouca gente há que se nos pareça com certeza, porque a nossa diferença está no abraço infinito que nos segura o hoje mais intenso do que ontem e, certamente, menos convicto do que amanhã. Esta noite não, que é já tarde e quero, ainda, embalar-te sonhos, mas um dia explico ao mundo o segredo da nossa diferença, mesmo sabendo que ninguém vai acreditar...

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Aconchego

David Starling, Light Angles Shadows and Lines

Os teus braços são feitos daquele conforto único que sentimos nos dias em que o Inverno chove lá fora e sorrimos no aconchego de um cobertor quente que nos embrulha corpo e alma. Nos teus braços o vento acalma e encontro-nos um céu cheio de azul, tão luminoso quanto infinito. Nos teus braços só me abalam tempestades dos sentidos que o corpo acolhe como princípio de vida. Não conheço outro lugar para além do que te encontro em cada centímetro que te sinto em mim. Não me desejo noutro lugar senão no espaço que ocupamos e somos uma. Não existe mundo nem antes nem depois disso. E durante esse abraço o mundo é nosso e o nosso mundo não tem fim. Porque tudo o que começa em nós se multiplica. Porque somos uma história sem Tempo, um território sem fronteiras. Porque a vontade de sermos para sempre não envelhece. Nos teus braços seguro a certeza do Amor cada vez mais firme e resolvida. Sei que longe dos teus braços tudo é Inverno, os dias são de vento e alma fria. Hoje e sempre abraço-nos com a força de quem promete a eternidade.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Comigo

Niki Conolly, 18 days without rain...the color of delirium, 2007

"Sejamos nós para sempre companheiras, vivamos nós eternamente o amor que nos engrandece a alma e nos ilumina os dias, sejamos tudo uma para a outra sempre com a força com que nos descobrimos um dia." - U-Turn
Sejamos todas as estações do ano e todos os segundos em todas as horas de um tempo infinito. Sejamos nós todos os jardins que amanhecem sob espelhos de orvalho. Sejamos sempre a nossa cama desfeita pela urgência dos sentidos. Que seja assim, simples e inevitável este tu em mim e eu em ti. Que seja assim a vida - todo o inadiável que nos descobrimos. Sejamos sempre a ideia fixa de que o Amor é tudo e sem ele nada vale a pena, porque nada existe realmente dentro de nós. Sejamos, pois, esse milagre que nos juntou corpo, alma e coração. Que seja assim - eternamente o instante supremo de um encontro feliz.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Contigo

Jeffrey Jones, Tree-hood, 2006

Procurei à minha volta e encontrei-me um carro velho, não muito antigo. E dentro dele havia vida. E quase por acaso, se o acaso existisse, percebi a essência do Amor. Reconheço o ferro, que o tempo foi tornando inútil, e a força com que abraça a vida. Porque a vida não é forma, mas sim conteúdo e o tempo apenas um artíficio que nos empresta um sentido nem sempre muito claro das coisas. E quase nunca andamos em tempo certo ou chegamos a tempo à vida. Mas, por vezes, o milagre acontece e esse momento raro de sincronia absoluta vale o tempo desperdiçado e os sonhos em que nos embrulhámos pelo caminho. Do carro velho nascem árvores. As flores, que são de aço, crescem no resto do jardim. Seja eu eternamente o carro que, ainda que gasto, abraça a vida com a força do Amor com que te vivo. Seja o Amor que me transborda os dias a robustez dos troncos de árvore que crescem, decididas, a tocar o céu e as estrelas onde mandei gravar o teu nome.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Além das nuvens

Back to the start, A better son daughter, 2007

E as nuvens negras são feitas de quê? Água quase madura à espera de chover. E depois chega a luz e o mundo é um lugar muito diferente do que a sombra deixou perceber. Antes não havia caminhos nem sequer talvez paisagem. O sol traz o horizonte e a coragem para o passeio por longínquo que nos pareça. As nuvens negras são feitas de desperdício porque o tempo que passa não volta para trás e o que dele perdemos não voltamos a encontrar. E eu não tenho tempo a perder porque já perdi muito, demasido, antes de ti. Não vou durar para sempre e não gosto que me digam que 'devagar se vai ao longe'. E se pudermos ir depressa para sobrarmos nós ao tempo e segurar o Verão o mais tempo possível? A minha vontade de partir, chegar e ficar és tu. As nuvens negras incomodam-me o passo e eu quero ver-te sempre, mesmo de através do escuro. Quero a luz que te sinto em mim eterna e segurar-te o sol à janela para aquecer o teu generoso sorriso.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Hipoteticamente

Adalberto Tiburzi, Convento do Carmo - Lisboa, 2002

E se, um dia, casasses comigo havia de ser numa igreja de céu aberto, límpido e translúcido, que nos deixasse espreitar para além dele e perceber um sorriso cósmico do tamanho do Amor que nos enfeita os dias, mesmo aqueles em que duas ou três gotas de chuva nos apanham desprevenidas. Se, um dia, casasses comigo todas as igrejas seriam catedrais mais perto desse céu que nos imgino como eternidade, e todas as catedrais seriam árvores numa primavera infinita em que a terra é verde e dela nascem flores de esperança em cada beijo nosso. Se, um dia, casares comigo não haverá chão de pedra fria mas uma imensa pradaria onde o Amor se passeia sem dar contas a ninguém e sem que ninguém nos queira mal por isso. Se casares comigo não haverá paredes que contenham a música no baile da alma em que a ti me entrego e em mim te recolho num abraço sem tempo nem cansaço, que vale a vida inteira. E a vida inteira seria pouco se casasses comigo um dia...

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Bolas!

Back to the start, Wise up, 2007

Há dias assim, dias em que corremos contra o tempo ou que fazemos tudo para o alcançar, mas o vento está contra e a maré não ajuda. E as horas passam e a noite começa e quase se acaba e nada acontece, ou melhor, tudo acontece ao contrário. E neste tudo de pernas para o ar, vou perdendo a noite porque perdi as palavras que tinha escritas para te amanhecer o dia. A tecnologia assim quis. Não me lembro de quase nada e pensei em desistir. Mas não sei desistir facilmente e tu sabes disso. Do que desapareceu sem pedir licença, ficou-me uma ideia, o mais importante talvez e, hoje, tem de ser suficiente o que é fundamental:
"...o meu coração desertou-me no dia em que nos encontrámos e ficou contigo, teimando na ideia de 'Sempre'. Nas tuas mãos o meu coração é infinito..."
Tinha escrito coisas bonitas a condizer contigo. Perdi o texto, mas desistir, não desisto - Bom-dia, Meu Amor!...

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Câmera lenta


Mazda 2 Sport 1.5

E as horas avançam lentamentamente, o tempo não passa e eu começo e recomeço o que tenho para fazer sem nunca chegar ao fim. No príncipio, meio e fim de tudo o que penso, digo e faço encontro-te muitas vezes e neste intervalo em que te espero sem dormir procuro-te nas pequenas e grandes coisas em que me detenho para gastar o tempo sem ti. Em todas elas há uma janela por onde te espreito na esperança que me adivinhes. E sonho que o tempo que demora daqui até aí ande tão depressa como o carro nervoso e leve em que ainda não chego à tua porta. No meu relógio os minutos chegam atrasados e as horas adormecem encostadas umas às outras. Sem ti o dia morre lentamente numa noite que começa logo pela manhã. Os meus olhos cansados do que hoje não te vi vão, agora, sucumbindo ao sono e à vontade de te encontrar em sonhos. Adormeço neste limbo à espera do sol de amanhã, porque amanhã me voltas e eu a ti. Mesmo que os intervalos se contassem em minutos, eu sentiria a tua falta como uma ausência de mil anos.