quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Debaixo de chuva

Jo' Chambers, Rain drops on glass, 2007

Enquanto te dispo em pensamento vezes sem conta durante o dia, no que te quero e vou dizendo chove um mar inteiro de desejo onde aprendemos a respirar debaixo de água. E na vontade que te assalta de me despires também, perco-me e encontro-me em ti. Abraço-te milhares de vezes entre uma hora e outra e, em todas as vezes que te abraço, sinto-nos esta urgência irremediável de corpo contra corpo. Enquanto te dispo mentalmente o tempo custa menos a passar e, quando passa, corro a vestir-me de ti e a embrulhar-te o corpo com a minha pele feita de água incendiada pelo que a imaginação nos permite. Regresso-te debaixo de chuva intensa e descubro-te no mesmo temporal e o mar onde, em pensamento, mareava a minha vontade de ti encontra agora um oceano feito do desejo que nos navega, em simultâneo, a realidade. Na intensidade do que te sinto e tu a mim, abandono-me ao que choves de ti, aninhada nessa entrega de saudade que nunca chega ao fim.

terça-feira, 30 de outubro de 2007

D. Quixote

Denis Doucette, Black Knight attacks, 2005

Porque sou, como diz a canção, o cavaleiro andante que mora no teu livro de aventuras, podes vir chorar no meu peito, pois, sabes sempre onde estou. E porque me imagino esse cavaleiro andante, finjo que não preciso do que me faz falta para te levar para longe de tudo o que é mau, fugir contigo no meu cavalo de pau. E enquanto choras no meu peito, pedes-me a paz e eu quero dar-te o mundo porque a solidão é dura e o Amor um fogo que a saudade não segura e a razão não serena. Deixa-me embrulhar-te o corpo nos dias em que, fraco de lutar, te apetece ser criança e ouvir histórias que te façam feliz. Porque sou o cavaleiro andante, quero ser o teu respirar nas horas em que o vento frio te navega a alma e te transforma as noites em madrugadas de cristal. No teu livro de desventuras encontrarás sempre o chão seguro que te estendo sem precisares de quebrar o silêncio.

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Menos do que amanhã

Anabark, Infinitamente (MAI07)

Mais do que ontem, menos do que amanhã, porque é sempre mais mesmo que pareça impossível ser mais do que o infinitamente já é. E nunca será demais, certamente. Os dias passam e a vontade que nos fica é que nunca acabem em nós, mesmo sabendo que ninguém vive para sempre. A eternidade é o presente, o momento que construímos único e nos sentimos por dentro com a alma maior do que ontem e pronta a crescer outro tanto no dia a seguir. Os versos em branco que os poetas chamam de futuro são promessas que se começam a cumprir no aqui e agora que nos damos. Hoje somos muito mais do que fomos ontem à mesma hora. Amanhã seremos um dia a mais. O mundo acontece num dia, amanhã somos o tudo de hoje e o resto que está para vir. São os beijos do presente que multiplico amanhã porque hoje, ao teu lado, quero sempre tudo e procuro sempre mais. Somos infinitamente mais na soma dos dias que acontecem em nós, somos o mundo em construção e a certeza absoluta de amor que nos junta inseparáveis na alma e uma só no coração.

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

No teu poema

Ana Carloto, Bond («Drawing With the Fire» Series), 2005
No teu poema
Existe um verso em branco e sem medida
Um corpo que respira, um céu aberto
Janela debruçada para a vida
No teu poema existe a dor calada lá no fundo
O passo da coragem em casa escura
E, aberta, uma varanda para o mundo.
Existe a noite
O riso e a voz refeita à luz do dia
A festa da senhora da agonia
E o cansaço
Do corpo que adormece em cama fria.
Existe um rio
A sina de quem nasce fraco ou forte
O risco, a raiva e a luta de quem cai
Ou que resiste
Que vence ou adormece antes da morte.
No teu poema
Existe o grito e o eco da metralha
A dor que sei de cor mas não recito
E os sonhos inquietos de quem falha.
No teu poema
Existe um canto
chão alentejano
A rua e o pregão de uma varina
E um barco assoprado a todo o pano
Existe um rio
A sina de quem nasce fraco ou forte
O risco, a raiva e a luta de quem cai
Ou que resiste
Que vence ou adormece antes da morte.
No teu poema
Existe a esperança acesa atrás do muro
Existe tudo o mais que ainda escapa
E um verso em branco à espera de futuro


Letra: José Luís Tinoco
Voz: Carlos do Carmo

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

A caminho de sempre

J. Harvey, Washed out tracks, 2007

Porque Deus escreve certo por linhas tortas, porque caminhamos por trilhos irregulares mas sabemos onde queremos chegar, porque seguir em frente é aceitar o piso como parte da aventura de caminhar, porque te sinto em absoluta certeza em cada passo desequilibrado, porque firme e seguro é o Amor que nos embrulha a alma, por isto e por tudo o que não escrevo incapacitada pelo sono que me encolhe o raciocínio e me leva de volta a ti, amo-te mais do que ontem e menos do que amanhã. O hoje que vive entre passado e futuro é a nossa aposta - apostamos no que temos para chegar ao que queremos e temos tudo para conseguir. Temos a força rara e inquebrável do sentimento em que o coração nos embrulha. Somos mais do que um episódio de tempo, somos 'sempre' sem anos nem dias. É infinita a vontade de sermos Roma no fim de todos os caminhos. Nos passos que damos, todos os caminhos vão dar ao nós que nos guia a alma e nos inspira na direcção certa. Amanhã somos mais do que hoje porque a distância até ao 'eternamente nós' se encurtou. Estamos mais perto a cada minuto que passa e a intimidade de mais um dia em que nos descobrimos abraça-nos com a meiguice de quem confia e é de confiança. Gosto infinitamente do que te descubro quase sempre espontaneamente. Este 'amo-te' em que te embrulho noite e dia é feito à tua medida e estreado por ti, o único amor da minha vida, para ti que guardei a palavra que nunca disse nem senti. Gostar muito não é amar - amo-te.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Alto (a)mar

Irene Muller, Drop Gone Missing, 2007

Quando, a dois passos de ti, acontece um eclipse, o mundo à nossa volta desaparece e só nós existimos em estado de total urgência. E no eclipse que acontece todos os dias, quase a toda a hora e sem distância segura, a transparência do olhar é uma viagem inadiável ao centro do corpo. Quero o que me adivinhas e o que te sei urgente deixa-nos ainda mais transparentes. Nos teus olhos submissos à vontade de nós, eu navego de alto a baixo, por entre ondas de um mar que conheço bem e nelas me abandono com a mesma entrega e submissão. Sabemos de cor a força que nos empurra e a intensidade do nosso marear. A luz que nos guia vem do centro e, nesse mar adentro, somos o eclipse de qualquer outra claridade. Não há porto que nos abrigue o desassossego infinito em que nos viajamos. Somos a tempestade e a bonança num encontro apaixonado de oceanos.

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Parte descoberta

Anabark, Afrodisíaco (JUL07)

Descubro-te por dentro e por fora ao mesmo tempo que te passeio de alto e baixo todos os dias como se fosse a primeira vez. Nunca te descubro por inteiro porque encontro sempre mais da próxima vez. Porque não tens fim em mim. Porque há sempre mais do que eu já sei. Porque te procuro em partes de ti que tu mesma desconheces. Porque a intensidade com que te vivo não tem princípio nem fim. Desassossego por tudo e por nada, pelo que sinto e pelo que imagino, porque, em mim, estás em toda a parte mesmo nos instantes em que não estás comigo. Porque és a pele da minha pele, a parte de mim que não sei despir. Desassossego por este tudo que de tanto é infinito. Desassossega-me o brilho dos teus olhos que, longe ou perto, sempre me adivinham. Porque nos sabemos bem demais mas não o suficiente ainda. Porque nada é suficiente em nós, tudo é pouco quando nos sentimos o infinito.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

O que não se vê

Yves Rubin, Convergence

Quando fecho os olhos, observo-te noutros ângulos de visão não completamente evidentes e nem sempre fáceis de explicar. Fico a olhar-te numa dimensão fora de tempo, sem antes nem depois, porque em tudo o que te vejo se impõe a ideia de 'sempre'. Existes em mim desde que eu existo e o 'nós' que somos hoje aguardava o instante que nos fez encontrar. E aconteceu sem esperar nem planear, encontrámos o que procurámos sem dar conta da procura, mas sempre conscientes da falta. Nascemos ao mesmo tempo, nascemos no momento em que alma fixa o que sente o coração. Do ponto de onde te observo, não existe vida antes de ti porque a vida é o fogo que nos arde dentro do peito e uma vontade de entrega por inteiro, é sentir o corpo em desassossego permanente, guiado pela voz do coração. A vida é a certeza do encontro de almas que esperam sem saber e acreditam para além do que os olhos encontram. O Amor é encontrar por dentro tudo o que se quer dar, é embrulhar com braços fortes quem se ama na ideia de 'sempre' e acontecer todos os dias com essa intensidade. O Amor em que te seguro não tem tempo nem medida, é tudo o que me encontro ao encontrar-te a ti.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Casa

Inês, Por Ali, 2006

Casa

Tentei fugir da mancha mais escura
que existe no teu corpo, e desisti.
Era pior que a morte o que antevi:
era a dor de ficar sem sepultura

Bebi entre os teus flancos a loucura
de não poder viver longe de ti:
és a sombra da casa onde nasci,
és a noite que à noite me procura.

Só por dentro de ti há corredores
e em quartos interiores o cheiro a fruta
que veste de frescura a escuridão. . .

Só por dentro de ti rebentam flores.
Só por dentro de ti a noite escuta
o que sem voz me sai do coração
DAVID MOURÃO FERREIRA

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Mais do que tudo

Nik Conolly,18 days without rain - the color of delirium

Quase a chegar ao fim da noite, demoro-me um bocadinho a pintar, em cores vivas, um quadro de saudades. Desassossego em cada tom pela intensidade com que te vivo. Desenho-te vezes sem conta no que te sei de cor e sei-te muito, tanto que não haverá nunca obra acabada. Porque não tens princípio nem fim, és infinita por condição do que te sinto em Amor. Menos do que este tudo em mim seria nada e não seria Amor porque o Amor é tudo por definição. E todos os dias és mais, somos mais de nós pelo muito que amadurece na alma sempre insatisfeita. Demoro-me na ideia de que o 'sempre' é esta construção dos dias com a intensidade do primeiro beijo. Os lábios e o desejo são os mesmos e a certeza cresceu e crescemos nós. Somos perfeitas nesta vontade partilhada de vencer as fronteiras do tempo. Amar para além de tudo é também acreditar na eternidade e confiar nas razões do coração. Tudo em nós é a força dessa razão. Não sei amar-te menos do que 'mais do que tudo'.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Nas memórias do sonho


Tom Gething, Locked, 2004

Daqui a pouco estarei a dormir o pouco tempo que falta para me levantar. Deito-me e adormeço e sonharei contigo porque não sonho com outra coisa que não sejas tu. Ou, se calhar, não sonho, penso adormecida, convoco memórias, porque os sonhos fazem-se combinando recordações. Amanhã não me vou lembrar das memórias encontradas que o sono combinou numa ordem qualquer que não sei entender acordada. Mas sei que, em tudo o que sonhei, estavas tu porque te guardo em mim de coração fechado a cadeado. Por grande que seja a alma, o Amor é exclusivo e nunca lhe sobra espaço. Sonho-te de noite para matar saudades e entreter as horas que, não sendo muitas, são infinitas de olhos fechados. Sonho-te de dia para enganar o tempo e ter-te sempre à distância de um beijo, porque sinto saudades tuas mesmo no intervalo dos nossos lábios. Amar-te é acumular saudades no aqui e agora e sofrer o tempo que, lentamente, vai passando entre um abraço e outro. Adormeço de vida suspensa à espera de sonhos que invento para te reviver neste tanto que somos, infinitamente, uma na outra.

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Um ano dentro do copo

nnpc, Doin' the Dishes (Fluids Series), 2002

Há um ano e poucos dias atrás um copo entornado sobre a mesa media as horas de ausência que passavam em nós. O vazio não tinha fim nem a tristeza de um 'nós' interrompido lá no fundo. E eu morria e tu morrias fora do copo. Subitamente, ou nem por isso, no Inverno passado dobraste a esquina que nos separava e seguraste o vidro com duas mãos mais fortes, mais seguras e decididas do que eu conhecia. E os estilhaços do copo caído fizeram-se cálice cheio de história e um destino por cumprir. Seguro um brinde nesse cálice que transborda o que somos dentro. O 'nós' irreversível em que nos reconhecemos não se quebra, não se gasta nem se acaba. Por frágil que pareça o cristal na nossa mão, a vontade da alma e do coração com que brindamos o destino é indomável. E a vida é feita destas vontades teimosas em que nos cumprimos em tudo o que nos prometemos a nós mesmos. Merecemos o sempre em que nos coleccionamos dentro deste copo renovado e intacto. Acontecemos infinitamente mais para além das palavras de amor que o transbordam. Somos uma, como sempre fomos, dentro e fora do copo.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

O que não vem nos livros

bluebookparis

Entre o sonho e a realidade estamos nós. Procuramos nos livros e encontramos sempre menos do que esperamos. Não temos explicação. Somos mais do que lemos ou ouvimos dizer. Somos tudo e o que resta para além disso. Quando fecho os olhos encontro-nos sempre em mil lugares não muito diferentes do mundo que te quero mostrar. Depois acordo e a luz da manhã devolve-me a graça de um beijo quente na pele dos lábios. Entre o sonho e a realidade acendemos dia após dia de improviso e intensidade. A nossa pressa de viver é a pressa do Amor que não vem nos livros nem se ensina porque o Amor vem da alma que se ilumina tocada pelo coração. O Amor estala-nos a pele de dentro para fora e faz-nos correr para além do espaço e do tempo. Sem explicação, entre o sonho e a realidade, vivemos duas vezes porque vivemos completamente o que poucos sabem sentir por inteiro e viver infinitamente. Somos esse inexplicável que vai de sempre à eternidade.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Recados na janela


Anabark, Janela (JUN07)

A janela de onde te escrevo é a tua, a minha, a nossa certamente, e as palavras que debruço todas as noites nela são pedaços de sol nascente que quero deixar nos teus olhos quando acordares, para que nunca te falte a luz com que me amanheces todos os dias. Esta janela que abro às escuras, devagarinho, para deixar entrar as estrelas por onde vagueia o meu sono, é a mesma por onde espreito para saber se já dormes. E enquanto me adormeces no mesmo abraço, aqui regresso entre sonhos para te deixar, de surpresa, beijos num recado. As minhas noites são mais longas porque estou mais tempo acordada a pensar em ti. Mas logo te volto sem deixar passar muito tempo entre o aqui e o agora, porque ainda que em nós não haja longe nem distância, tenho medo que acordes sem o meu abraço nos minutos que fico a abraçar-te por palavras nesta janela que te acolhe na paisagem infinita do meu Amor. Aqui somos o eternamente que nos prometemos e que vamos sabendo cumprir tal como sonhamos.

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Je t'aime...

Anabark, Pontos de vista (SET07)
Je t'aime non seulement pour ce que tu es mais pour ce que je suis quand nous sommes ensemble.
Roy Croft (1919-1977)

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Em frente


Anabark, The only way is up, (OUT07)

Não conheço outro caminho senão aquele em que nos escolhemos para sempre e mais um dia. E caminhamos no sentido ascendente e a certeza de onde queremos chegar. Construimos cada dia mais perto do que sonhamos. Não é longa a caminhada, tem a medida exacta dos passos que sabemos justos e seguros. Caminhamos num abraço e a intensidade que nos embrulha marca o ritmo e aproxima-nos do horizonte. Para trás deixámos vidas em que nos entretivemos à espera de nós; para a frente ganhamos a vida por inteiro, a vida em que somos completamente, com total urgência e sem tempo a perder. Para a frente, acontecemos e cumprimo-nos neste infinito que somos. A vontade que nos orienta o passo é o Amor que nos descobrimos sempre mais e o Amor vai aonde quer chegar. E, para além duma saudade constante feita do que nos falta andar, somos nós o caminho e o Amor a nossa eternidade. Somos este tudo que sentimos e o que sonhamos vale toda essa saudade.

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Força

Lin MacDonald, Stopping the Train, 2005

Não te sei explicar como nem porquê, sei apenas a força que vem de dentro e que é suficiente para mover uma montanha. Sei que querer muito é chegar a todo o lado. Sei que a vontade é mais forte do que a razão e que há em tudo uma razão, mesmo que não tenha lógica nenhuma. Sei que amar é ter força para dar e segurar ao mesmo tempo, mas também cair ao encontro de um abraço, porque, às vezes, precisamos mais dos braços de quem amamos do que de certezas em nós mesmos. Se te digo, meu amor, que a minha vida és tu, é porque te sinto, em mim, a própria vida. Antes e depois de ti é espaço vazio e tempo gasto em nada. Morri muitas vezes nos dias que ficaram entre nós e nesse intervalo de existência suspensa em que eu te adivinhava, animei a alma de uma força contrária à razão. É com essa força que te abraço a eternidade. Este querer que te embrulha noite e dia é absoluto e irreversível assim como a certeza de que somos mais do que razão, somos a força do Amor. Somos por inteiro no que acontecemos por força do Amor.

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Por dizer

Lee Rudd, The Chain, 2005

A pressa de te chegar é tanta que tropeço nos milhares de coisas que tenho para te dizer. E o que tenho para te dizer é tão simples que invento formas complicadas de o dizer só para demorar mais tempo contigo nessas coisas que te segredo ao ouvido. O que tenho para te dizer é simples e infinito. São coisas que sinto e que tenho urgência em revelar, mesmo que tu me saibas em pormenor. Tenho sempre pressa de te falar de amor - posso não ter tempo de te dizer tudo e, por isso, vivo a ansiedade de querer contar tudo de uma vez, ainda que saiba que nunca chegarei ao fim das frases que componho e descomponho à espera de te surpreender. Lembro-me de tudo que disse até agora e não tenho dúvidas quanto ao que te vou dizer amanhã ou no dia seguinte ou para o ano que vem. E quando me faltarem as palavras, os meus olhos nos teus falarão por mim. O infinito do que sinto não se fica nas palavras, alastra-se por debaixo da minha pele, desde a alma ao coração. Posso dizer que te amo de milhares de maneiras, mas continuo a começar todas as frases com 'Meu Amor'... tão simples quanto infinito.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Frágil

Linda Alstead, Fortune Coockie, 2005

É porque amamos tanto que a alma, por vezes, adoece na ambiguidade da palavra ou num erro de cálculo de um gesto desastrado. Às vezes entramos numa loja de cristais e deixamos tudo em cacos. Às vezes julgamos o todo pelas partes porque estamos contrariados. Às vezes damos demasiado importância a coisas sem importância nenhuma e dizemos coisas em voz alta que nem nos passaram pela cabeça de mansinho. Ouvimos e dizemos coisas que não queremos nem ouvir nem dizer. Coisas sem sentido que sabemos que nos adoecem e não impedimos que o absurdo aconteça, porque acontece o absurdo cada vez que não te oiço nem te vejo. Porque o absurdo é esse instante entre duas verdades numa balança. Porque a verdade tem um peso absoluto, imesurável, em cada um de nós. Convencer-me do contrário é tornar-me surda ao argumento, andar em círculos em opiniões divergentes. Convercer-te a ti é desencontrar-te em cada ideia, perder-te nas palavras fora de contexto. Só porque amamos demasiado isto acontece, por vezes, sem razão. Porque te quero demasiado bem tudo tem uma importância do mesmo tamanho, mesmo a irrelevância das coisas sem sentido. Sei que falho ser inteligente e falo com o coração quente, mas em tudo o que falho há Amor para sempre, porque o Amor é a incondicionalidade de saber amar também a imperfeição. Amar-te tudo é saber-te humana e distinguir-te do resto do mundo como o Amor da minha vida. Assim desejo eu fazer tão completamente parte de ti, mesmo cheia de erro e abastada imperfeição. Amar por inteiro é abraçar a fragilidade e compreênde-la de alma e coração.