quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Feliz nova década

Lisa Feuer, Fiber optic snowman, 2004

Que os dias que vamos estrear no ano mesmo à beira de chegar sejam cheios de saúde, de paz e permitam a concretização de sonhos e expectativas. Tudo isto embrulhado em muito Amor. A todos desejo um Feliz Ano Novo.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Que seja realmente Natal

Clinton Chin, Frozen Night, 2005

A todos desejo um NATAL FELIZ como nas fantasias de infância, nas quais o mundo começa e acaba no sapatinho sobre a chaminé. Porque o Pai Natal existe quando acreditamos que um outro mundo é possível e fazemos alguma coisa para isso acontecer.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

9mm


Também tenho munições...
...milimetricamente eficientes.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Acontece no Oeste... e não só



Tenho a pistola... Vá, DESPE-TE!

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Electromagnetismo

Steve H, London Visions

E se desatássemos a correr pelos dias, que imagens focaríamos? A velocidade, por desatenta que seja, tem a vantagem de recriar perspectivas e definir paisagens ligeiramente diferentes da realidade. Se pudéssemos fixar esse intervalo entre o que realmente é e o que julgamos ver, que coisas novas descobriríamos acerca de nós mesmos? Enquanto tento imaginar, para passar um pouco mais depressa pelas horas onde estou agora, dou-me conta que o teu tempo, tão diferente do meu, vai passando por onde não nos vamos encontrar senão à noite, quando nos regressamos por inteiro, despidas de contratempos, disponíveis em intensidade. Temos tão pouco tempo para tanto que nos queremos dar! Quem me dera que fôssemos mais velozes e fizéssemos durar as noites tão infinitamente quanto as horas dos dias que nos separam… Quem me dera ser raio de luz e encontrar-te, ao longo do dia, a intervalos regulares, empurrada pela voracidade dos trezentos mil quilómetros por segundo de um impulso e percorrer-te por inteiro com a velocidade desta ideia magnética que me anima!...

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Uma ideia de fé

Jasontheaker, Photographic paradox, 2009

Viver é acreditar. Acreditando vivemos mais coisas no mesmo tempo de vida. Acreditando vivemos, sem dar conta, duas vidas numa só. Acreditar é crescer em altura e em comprimento, porque construímos uma alma maior, mais preparada para chegar a todo o lado. Acreditar é saber que não estamos sós e poder contar sempre com isso, porque fica mais pobre aquele que escolhe desfocar o mundo e ver tudo de um só lado. Acreditar é aprender um pormenor diferente em cada dia que passa, decorá-lo até saber falar dele de cor, sem hesitações. Acreditar é confiar que o lado bom é infinitamente superior ao pior que se imagine, porque vivem bem aqueles que fazem dos obstáculos pontos de apoio para alargar conhecimento. O Amor, que é coisa que não se vê, acredita-se porque se sente e vive-se acreditando que aquilo que não vemos nem tocamos é uma razão maior do que a nossa capacidade de raciocínio. Amar é confiar e confiar é admitir que há coisas que não sabemos explicar e crescer em busca de respostas, sem desistir nem vascilar no que sentimos como força maior, centro do mundo. Assim te sinto eu.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Um lobo chamado António Sérgio


Foi ontem, dia de Todos-os-Santos, durante a hora do lobo que partiu. Ou talvez não. Ninguém parte realmente quando deixa para trás história viva em cada um de nós crescidos ao som de uma voz, de um gosto, de uma estética, de uma maneira de estar sem fronteiras. Apostas, transgressões para a frente, sempre adiante e mais além. Sede de descobrir, de arriscar, de musicar o mundo de forma alternativa, porque o mundo tem ser alternativo para que seja inteiro e completo. Porque o direito à diferença foi o que aprendi na voz, no som, na escolha de António Sérgio, assim cresci embalada pelo uivo da resistência e assim me reconheço parte da matilha do lobo 'Gitano', obrigado António Sérgio - o teu espírito vive para sempre... para além do éter para além do tempo.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Dois tons

Mattana, California poppy, 2004

Hoje enfeito o dia de verde esperançoso e vermelho cor de vida a condizer com a paisagem que a minha vista alcança quando olho para ti. Não te dás conta das vezes que fico a olhar para ti e a percorrer campos e colinas de vida, passado, presente e futuro. Não está à vista o tom de sangue que me aquece quando me chegas num beijo. Vermelho de sangue pulsante, incandescente como fogo. Não te dás conta do verde e do vermelho que me pintam o caminho por te saber comigo, sempre e completamente. Não sabes nem eu te consigo dizer mais do que os meus olhos te mostram honestamente todos os dias, ainda que nem sempre te dês conta do tanto que os meus olhos olham para ti.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Delay

Aziz J. Hayat, Water Animation, 2009

Esqueci-me. Foi num dia 4 de Outubro. há 3 anos atrás. Naquele tempo todos dias eram noite escura. O sol deixou de ser e o corpo vivia aos tombos á procura dos pedaços do amor estilhaçados pelo chão. Há 3 anos atrás fingia que havia vida para além de ti e morria ao minuto, morria cada vez mais, fatalmente adoecida pela tua ausência. Foi assim, de olhos sofridos, rasos de água e dôr, que deixei as primeiras palavras dentro de um copo vazio. Foi há 3 anos atrás... noutra vida cujo único elemento constante somos nós, três anos depois, renascidas, mais fortes, infinitas. E talvez imortais.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Anatomia do coração


Porque às vezes na ficção encontramos palavras certas, cheias de sentido exacto que explicam a verdadeira anatomia do Amor:
"(...) Burke: Cristina...I could promise...to hold you...and to cherish you. I could promise to be there in sickness and in health. I could say...till death do us part. But I won't. Those vows are for...optimistic couples, the ones full of hope. And I do not stand here on my wedding day optimistic or full of hope. I am not optimistic. I am not hopeful. I am sure. I am steady. And I know. I am a heart man. I take 'em apart. I put 'em back together. I hold them in my hands. I am a heart man. So of this I am sure...you are my partner...my lover...my very best friend. My heart, my heart...beats for you. And on this day, the day of our wedding, I promise you this...I promise you to lay my heart in the palm of your hands. I promise you... me. (...)"

Votos de casamento do Dr. Preston Burke de "Anatomia de Grey" (Serie 3, Epis. 25)

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Expedição

Patrick Smith, Shores of Eternity - Big Sur, California, 2009

Vá, vem daí, anda contar as pedras que fazem o infinito que temos pela frente por entre terra e mar. Porque nada nos separa e o céu inteiro nos ampara. Anda, vem daí, vem mais longe, sempre mais além, temos tanto para alcançar. Damos voltas e mais voltas porque a terra não se acaba onde o mar começa. Temos sempre um céu infinito como horizonte e mesmo o chão ao contrário é feito desse azul sem tempo e sem fronteiras para além da nossa vontade. Daqui vejo um mundo inteiro para descobrir para além de tudo quanto já temos arrecadado. Anda, vem daí, sempre comigo, pelo caminho que nos segura corpo e alma sem cansaço porque nele confiamos um mesmo coração.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Desabafo

Looseends, Dipped, 2008

Está calor. Estou um bocadinho farta de transpirar todo o dia…
Ontem foi o equinócio de Setembro e eu tenho urgência do aconchego do Outono.
Desculpem a falta de propósito do desabafo...

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Ponto X

Katfood1, You are here, 2007

Aqui, encontradas, inteiras, numa peça única. Os desajustes de calendário não passam disso, mas são injustos para ambas as partes - quem vai à frente vai sozinho, quem fica quer partir porque a espera se torna longa quando se suspende o abraço. Assim se explica o desassossego deste desencontro de dias que me fez voltar sem ti e te fez voltar a mim mais tarde. Assim explico eu o Amor que se mede pela pressa de chegar-te e tu a mim, com a ansiedade da primeira vez. Aqui de novo, completas, inebriadas reciprocamente, na partilha do mesmo estado de alma como se todos os dias, todos os anos, toda a vida fosse apenas um minuto em que apostar tudo vale sempre a pena.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Quase aqui

Jack P. Williams, Time Flies in the World of Grunge, 2008

Já é hoje e hoje é voltar a estar inteira. O tempo de espera esgota-se e a cor da vida regressa ao corpo, aos olhos e aos gestos. A medida do tempo é um estado de espírito. Hoje somos a terra outra vez em movimento. A medida da saudade, se a saudade se medisse, é a eternidade. Longe ou perto, quem ama vive sempre de saudade. Mas hoje que voltas para onde estiveste sempre, o coração celebra reencontro do olhar. Chega-te depressa a mim que me custou tanto esperar-te.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Falta o quase

Patrick Smith, Walking on Glass - Pismo Beach, California, 2008

Os dias grandes são, por vezes, demasiado grandes, sobram no vagar que arrastamos nas horas teimosas, vazias, que duram mais do que o suficiente. Nesses dias é o inverso que avança e que nos ultrapassa. A sensação de que falta tudo para coisa nenhuma toma conta de nós como uma espécie de bolor antigo. Os dias grandes não se definem, demoram e demoram-nos no impasse, na espera, no porvir. Os dias grandes são erráticos, tiranos. São assim os dias em que te espero, grandes e asfixiantes. Os dias em que te espero são uma prisão onde, hora a hora, sucumbimos à claustrofobia da deambulação.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Falta muito?

Dond, Polished Stones, Worn Smooth by the Sea, 2007

Agora que voltei, não paro de fixar o ponteiro das horas. Espero. Faltam quantos dias? Menos um do que ontem, eu sei, que é como quem diz faltam quase todos! Poucos, tão poucos para alguns. Para mim muitos, porque até me voltares parte do que sou está ausente, logo não existo completamente. Vim à frente e enquanto não chegas conto as pedras que o mar nos deixou e que não apanhámos. São tantas, muitas, infindáveis... como as saudades.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Descompressão

J_P6, Decompression Bubbles, 2009

Dias de descanso, dias que se resolvem em si mesmo sem pensarmos muito nisso. Dias em cujo o único assunto é a ausência de assunto com que percorremos as horas, como se o tempo fosse todo nosso. Dias que começam sem príncipio e terminam sem fim definido. Dias que podem ser tudo e se forem nada tanto melhor. Dias de vagar que passeamos sem compromisso e sem planos fixos. Dias em que nos demoramos nas horas que escapam de um relógio despreocupado. Dias de férias e férias dos dias matemáticos e disciplinados. Férias para recuperar um outro passo, mais cheio do que é importante e primordial. Férias. Volto depois do intervalo.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Momentos abstractos

Petem, Vase, 2006

Tenho dias. Às vezes não sei se existo, se sou ou estou naquilo que muda o sentido do verbo ser para o verbo estar. Tenho dias. Por vezes acredito que sou infinita e que tudo à minha volta é infinito. Tenho dias. Outras vezes sou matéria e vivo um dia de cada vez, porque aprendo que a vida é uma sucessão de dias e não um plano estável, definido e acabado, que cumprimos com rigor ponto por ponto. Tenho dias, mas todos eles contigo e a viagem das horas, sabendo-te comigo, acontece-me lúcida, transparente como água pura de uma nascente do centro da terra que só a natureza tocou. A essência dos meus dias é a certeza de tudo o que existes em mim nesse estado de tal forma translúcido que caminho a noite dos dias desencontrados de lógica sem chocar de frente com o abstracto, porque amar é o oposto do abstracto, é uma linha que desenhamos contínua num espaço com margens de infinito. Assim te desenho eu, em cores de vida todos os dias.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Dias sem geometria

Peter Sussex, Ashtray on the floor, 2007

Passam dias demasiado voláteis, quase translúcidos, feitos de matéria impalpável que só a alma toca e segura. Passam dias em que me escondo em ti do mundo e, nesses dias, deixo-me ficar quieta, imóvel, sem tocar em nada para que o encanto não se quebre e as cores não desapareçam e se instalem os cinzentos infinitos que nos vigiam como aves de rapina do lado de fora do que é nosso. Nesses dias suspensos, quase mágicos, pelo desafio de não obedecerem às leis habituais do espaço e do tempo, gosto de te observar sem dares conta, como fazem os anjos invisíveis que, supostamente, olham por nós no alto dos edifícios. Nesses dias tudo fora de ti é superficial, monótono, plano. Procuro-nos, sobretudo, a irregularidade porque nos dá graça e consistência em três dimensões. Procuro-nos a relevância dos planos a partir de dentro, porque assim existimos fora do desenho, para além da projecção. Interessa-me essencialmente a realidade em que tu e eu somos percurso e linha do horizonte.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Natureza curiosa

Natebol, A curious nature, 2009

Porque a curiosidade é sempre um acto espontâneo em qualquer aprendizagem, é essencial observar, integrar e compreender. Somos mais se estivermos atentos. Somos nós por nós mesmos e mais aquilo que nos acrescentamos todos os dias pelo que sabemos aprender através do olhar curioso e espontâneo sobre todas as coisas. Assim é viver. Receber e dar, desinteressadamente, ao mundo o que sabemos em diferentes cores. A vida é assim… tudo a condizer.

terça-feira, 30 de junho de 2009

A linguagem dos objectos

Jackeline R., 3# Project Love

Pé ante pé, antecipando o corpo todo, espalho vestígios pelo quarto onde te encontro um sorriso antes de adormecer. Esqueço-me do dia e das horas que passaram até a noite nos abraçar. No momento em que me arrumo em ti já só cabemos nós e o que desarrumamos com o desassossego do corpo e a febre de quem ateia um fogo descontrolado desde o princípio do mundo. Amanhã, quando a noite chegar ao fim, vou tropeçar, com cuidado, nos restos de ontem espalhados pelo chão e reparar no que ficou escrito no escuro na cumplicidade de objectos dispostos numa espécie de ordem ditada pelo acaso. Mas tudo em meu redor me diz que nada acontece por acaso. Olhando para ti, acredito. Tenho fé nas pequenas coisas, em pequenos gestos, como gotas de água transformadas em oceanos.

domingo, 28 de junho de 2009

Depois do tempo

Petem, Storage container, 2006
Assim. Arrecandando vestígios e marcas de quase tudo o que surpreende na alma. Assim, coleccionando o tempo no que, da sua passagem, vai ficando em todos espaços dentro e fora de nós, vivemos. Assim te vivo eu no desdobrar das horas sempre a desejar que elas se prolonguem e nos projectem, um dia, nessa prometida dimensão onde nada de nós se acabe, nada morra e tudo cresça para além do espaço e do tempo. Assim te sonho e nos sonho eternas e indivisíveis. Assim nos quero na vida e na morte. Assim, sem tempo. Quero olhar para as paredes, para os livros de letras a perderem-se no papel, paras ruas por onde caminhamos os dias e reparar que o tempo passou contigo ao meu lado. Assim. Com a mesma certeza do primeiro momento e vontade indomável de vivermos para sempre, partilhando com a mesma intensidade o tempo e a sua inevitável relatividade.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Massa de ar frio

Mischa Bronstring, Locked Bibles, 2007

Amanhã, enquanto eu não chego, guarda-me o dia inteiro como se eu fosse um livro que não queres acabar sem me teres à distância de um beijo a sussurrar-me a última frase. Leva-me para todo o lado quando saíres para o dia que começa e não me percas de vista nem me esqueças um instante que seja. Eu estarei a ir, a percorrer quilómetros cheia de pressa, a acelerar a máquina que não é do tempo, mas que eu gostava que fosse para te voltar sem demoras. Amanhã saio mais cedo em direcção ao norte e terei frio durante todo o dia porque deixo os teus braços, ainda adormecidos, à minha espera. Parto agasalhada porque o inverno é o que me fica quando me separo de ti, por breves instantes que sejam. Amanhã segura-me as horas que faltam para voltar-te e sopra-me recados tontos que apressem a viagem e a hora de chegada. Sem longe nem distância, não sei deixar-te sem mim nem sei estar sem te saber comigo.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Movimento pela igualdade - MPI

Kevin Rolly, Greystone VII, 2009

Convido todos quantos por aqui passam a assinar a petição do MPI :
e a visitar o site em www.igualdade.net/
Porque um Estado de direito democrático existe para defender os direitos e garantias fundamentais de TODOS os cidadãos e não apenas de alguns e porque não podemos permitir que a sociedade se baseie no príncipio de que 'todos somos iguais mas alguns MAIS IGUAIS do que outros'.

Constituição Portuguesa - Artigo 13.º da PARTE I
(Direitos e deveres fundamentais - Princípios Gerais)
(Princípio da igualdade)

1. Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei.

2. Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica, condição social ou orientação sexual.

Não será isto suficientemente claro para todos sem excepção?

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Precisão

Captain Superlekker, Kyoto

Fosses tu uma espécie de lugar que o tempo não define e eu o momento tornado infinito de quem descobre terra a acabar o mar e as palavras que nos explicam e nos descrevem teriam outra precisão. Porque o que não se vê nem sempre se escreve de forma precisa, nem sempre as palavras são fáceis de entender, porque o pensamento e a eloquência falham, porque as ideias nos falham, porque o talento é algo tão raro como o amor e é tão difícil conjugar as duas coisas... Tenho o Amor que sonhei, falta-me o talento da precisão com que sinto para ser exacta na descrição. O valor absoluto do Amor existe numa outra dimensão, onde tu e eu navegamos exactas num mesmo e único plano.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Tu ali, em todo o lado

Don Nieman, Hole in the table, 2005

De pensamento solto sempre ao teu encontro saio para o sol que me espera lá fora. E, enquanto os nossos olhos não se cruzam e ficam um no outro a trocar segredos e outras coisas com e sem importância, vou e venho muitas vezes até onde te sei, ou onde te imagino, para matar saudades. Espero-te em todo lado, ao dobrar da esquina, ao funda da rua, à saída de um edifício de um e do outro lado da estrada. Toda a parte é toda a parte e o meu pensamento solto é indisciplinado e impreciso. Daqui até aí todo o espaço se resume ao momento da chegada.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Éden

Brent, 1st - fresh fruit, fresh water, 2009

Não saias daí. Deixa-te ficar na minha vontade de água fresca todo o ano, nesta sede que tenho do teu corpo transpirado e exausto enroscado no meu. Não te mexas, deixa-me saborear o fruto acabado de colher, de cores vivas e permanentes como o teu perfume omnipresente em todo o lado por onde passo sempre a caminho de ti. Deixa-te ficar neste momento doce em que os meus beijos te procuram a frescura do que me és na alma, no que me fica de forma inteira mesmo depois de adormecermos. Fica assim como um amor primeiro e último porque não quero mais nada do que o infinito que me refaz os dias cheios de certeza de que o mundo é nosso, apenas nosso e todo o resto é fado. Eu contigo e tu comigo somos o destino marcado. Não saias de mim, deixa-te descansar no corpo que te aninha no desejo vivo e fresco, acabado de nascer sôfrego e sempre desassossegado.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

A(garra)r

JLM, Kittens Series, Griffes

Olha como eu me seguro às paredes, usando unhas que não querem largar nem deixar cair. Repara no quanto quero segurar que, por vezes, transformo as mãos em garras e, por vezes também, arranho sem querer magoar. A pedra nada pode, não detém mãos que te querem com a vontade da alma onde tudo cabe, porque não tem tamanho quem, no peito, sente o fogo da vida reacender todas as manhãs de todos os dias. Vê como os meus dedos te procuram em cada esquina e sabem onde te encontrar, porque o amor é uma linha recta que nos orienta e nos faz chegar a lugares que nem sabemos que existem quando começamos a andar. Tudo o que descobrimos só existe porque caminhamos lado a lado. Tudo o que imagino do outro lado do mundo, lá estará à nossa espera, bastará que venhas comigo. Olha como cresci e avanço sem medo, dobrando cada esquina com a fé de que a vida é mais jovem, mais leve, mais luz de primavera, porque te tenho a ti por todo caminho de mão dada.

terça-feira, 19 de maio de 2009

Árvores de tronco único

Mart's, Trees series, 2009

Nada melhor do que o espaço livre da imaginação para rebolar-me em ti sem intervalos sobre uma relva sempre verde e perfumada, onde somos sempre luz da primavera, indiferentes às horas do dia. Nada mais livre do que esse mergulhar por entre as ondas em que abandonamos corpo e alma em viagens onde somos principio, meio e não temos fim. Um dia seremos árvores, de tronco único, eternamente esperança e elevadas até onde o céu e a terra perdem os seus limites. A liberdade de ser mede também a liberdade de amar. Em ti renasço todos os dias no que o Amor me deixa livre para te amar desmedidamente. Nada melhor do que uma pradaria infinita que cuidamos por dentro, onde tu e eu nos deitamos na verdade do mesmo abraço.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Quase pornograficamente

Barry Green, Rose Petal Pink, 2005

Apetece-me deixar tudo por fazer e correr até onde estiveres para te despir num gesto único e descontrolado, porque é descontrolada a minha vontade de te ter pele na pele e de me fundir contigo. Apetece-me ouvir o gemido húmido e incontido do corpo que nos escorrega no desassossego constante que nos anima. Apetece-me dar-te voz na minha voz num mesmo movimento instintivo. Apetecem-me todos os beijos que nunca esgotamos e fazê-los durar até adormecer embrulhadas numa febre contínua. Apeteces-me despida aqui e agora e em todos os minutos que demoram até te chegar, porque me apeteces sempre e em toda a parte mesmo que te tenha toda e completamente em mim. Porque o desejo é permanente e o Amor absoluto.

domingo, 10 de maio de 2009

No topo da montanha...

Stefano di Domizio, Ladybugs and coleopters Series, 2009

Só vejo um caminho, só imagino esse caminho, só sei o caminho que se estende em frente até à nossa eternidade. Em frente e cada vez mais alto a abraçar paisagens que o mundo lá em baixo não sonha nem acredita. Cá de cima somos maiores do que a vida e o sempre é uma cama de nuvens prateada pela luz sol que não dorme nem se esconde no azul, onde reina indiferente ao movimento do mundo. Aqui, onde ninguém nos alcança, seguimos firmes o caminho em frente porque acreditamos no tanto que alcançámos e temos fé no infinito que está por vir. Subimos e olhamos para baixo para guardar sempre a certeza do que ontem nos aconteceu, do que hoje somos e do que amanhã e depois queremos continuar. Aqui, onde não temos limites conhecidos, somos a cada instante mais matéria estável, mais corpo definido e alma intocável. Cá em cima onde nunca deixamos de nos abraçar, as horas passam ao contrário, a contagem é decrescente pelas saudades de tudo quanto nos aproxima e nos une debaixo do mesmo sentido e sentimento. Não te apresses nem te atrases, morreria bruscamente de saudades no descompasso de um respirar... O Amor é vida e tu és a minha vida, o meu caminho em frente, o meu sempre, o meu em toda a parte.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Meia luz

Niki Conolly, Color - Blue Series, 2006

Nem sempre os dias são favoráveis à conjugação de palavras com sentido inequívoco. Nem sempre conseguimos organizar os pensamentos fiéis à lógica em que ocorrem. Nem sempre as palavras se descobrem com a rapidez dos sentidos. Há dias lentos, tão lentos que nos chega a doer a vontade de chegar mais depressa a qualquer sítio. São dias estranhos, estagnados como a água de lagos que nem gente nem vento visitam. E mesmo que nos esforcemos para regressar à nossa velocidade normal, tudo acontece descoordenado numa dormência de corpo que não sabemos evitar por desconhecermos a sua origem. São estes os dias tímidos entre estações, em que as cores encobertas esperam luz que as descubra, pacientemente embaladas pela brisa...

segunda-feira, 27 de abril de 2009

De ontem até sempre

Howard Chu, Clarity contraste texture, 2005

Olho sempre em frente, mesmo quando nos visito o passado... Gosto de voltar atrás e seguir os passos que nos trouxeram até aqui e nos hão-de levar por diante até onde o tempo deixa de ter a importância terrena que orienta os dias de toda a gente. Gosto de reencontrar-nos no passado e de reconfirmar a escolha com a intensidade de quem renasce com um sentido definido. Gosto de sentir-te todos os dias com o entusiasmo da primeira vez. Gosto desse regresso ao passado pela oportunidade de projectar-nos o sempre em que nos reconhecemos indivisíveis. Desculpa se sou obsessiva na insistência do que nos recordo, mas não conheço maior expressão de amor senão aquela que revive o encontro de almas em eterna celebração.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Boca a boca

Oleg Moiseyenko, The Kiss, 2004

Em cada beijo a vontade do mundo inteiro contigo lábios nos lábios. Tenho pressa de te beijar tão infinitamente quanto a força do abraço que o Amor me imprime. Em cada beijo carrego a vontade de beijos que não sei adiar, porque o Amor nos torna inadiáveis. Porque o Amor é urgência, é não querer guardar nada para o dia seguinte. Porque no Amor o mundo acaba hoje e tenho a pressa de viver-te tudo num só dia. Porque amanhã é sempre hoje e assim sucessivamente, o último dia da minha vida. Nós em absoluta urgência para o resto da nossa vida. Porque o Amor é o sabor da eternidade no beijo inevitável que nos perdura.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Margem de manobra

Yes But, Bubbles, 2008

Somos de tantas formas e feitios que, às vezes, nos baralhamos por dentro com estilhaços à superfície. Mas a vontade de marear é infinita e o impulso que nos torna fortes e invencíveis tem o estranho nome de Amor. Para quem ama nenhum mar é impossível. Os erros são hipóteses de aprender mais e melhor, são a margem de manobra que nos resgata de uma perfeição monótona e moribunda. Se soubéssemos tudo estaríamos mortos por dentro e mergulhados na indiferença do lado de fora. Sei que pouco ou nada sei, a minha imperfeição é ilimitada e os meus erros desprezíveis como todas as coisas incorrectas e fora de lugar. Mas carrego em mim uma vontade tamanha de aprender-te e de crescer e construir-nos como história intemporal. Sei o infinito que és em mim, sei que sem ti não sou, apenas existo numa deriva insustentável. Quero-te com a intensidade de quem luta pelo sopro de vida em cada fôlego. Querer-te é acreditar que estou viva e não tenho idade, porque tu existes e tu, em mim, és imortalidade.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Debaixo do chão que nos segura

Mattana, Orange Glows Series, 2004

São raízes o que mais importa e raízes são certezas que nos prendem à terra não onde nascemos, mas onde descobrimos que pertencemos. São as raízes que nos fazem crescer seguros e ganhar a força necessária que nos torna vivos e não apenas seres indiferentes. Viver é criar raízes de dentro para fora e esticar os braços cada vez mais amplos ao mundo que nos dá cor. A raiz que me faz nascer de ti é esta certeza de que sou mais contigo do que fui comigo apenas. Porque ninguém se cumpre sozinho e mal acompanhado. Porque sozinhos somos companhias viciadas de nós mesmos estagnados. Porque crescer é saber dar e receber. Amar com certeza. Sentir raízes é acreditar que nunca morremos realmente porque alguém nos ama com a mesma força com que nos entregamos. Cresço em ti e tu em mim como chão fértil desta certeza abraçada pelas raízes que o Amor nos entrelaça como artérias de sangue vivo.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Azul feito de flores

Mattana, Dahlia I, 2004

Hoje trago-te uma flor, não porque seja primavera e porque haja flores a anunciar a estação. Quero apenas que saibas as cores que vou absorvendo por cada vez que te lembro e te regresso, que te adormeço e te desperto, que respiro o que somos apaixonadamente sem qualquer interferência das estações do ano. Hoje, dia em que choveu gelo a meio da manhã, sobre o chão da Primavera, trago-te uma flor intemporal, que segura nas pétalas a frescura da eternidade que nos prometemos dia após dia. Não precisamos de mais quando encontramos por dentro, uma flor sem tempo, que floresce todos os dias sob temperatura tépida do Amor que cuidamos com fogo de alma em corpo escaldante e húmido.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Apenas o essencial

Polyvios Stylianou, 25-09-2004

Não há nada que nos falte quando temos o essencial. Porque o essencial é tudo o que realmente nos faz falta. E quando sabemos o que nos é essencial todas as medidas e dimensões se acertam pela referência que assumimos como única e fundamental. A certeza do que temos é um bem escasso e nele depositamos toda a força e vontade do ser e da confiança. Nada nos derruba, nada nos torna fracos, nada nos diminui porque nos construímos na dimensão do essencial. O Amor. A medida da felicidade. Para isso nascemos, crescemos e procuramos. Para isso vivemos, porque a vida é apenas isso e nada mais para além desse bem essencial. Porque até depois da morte continuamos a amar quem não está, quem partiu, quem nos ficou por dentro sem tempo. És-me essencial e o que somos é a vida plena, tudo o que vale a pena. Porque te procurei desde que nasci em tudo o que existi para te encontrar. Porque a minha certeza é tão definitiva quanto o amor que me descobri ser capaz de dar. O meu essencial é o que crescemos em altura neste sentir absoluto lado a lado. A tocar o céu sem nuvens, embrulhadas num infinito azul feliz.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Ponto alto

Brent, Minneapolis Institue of Arts, 2009

Por todos os caminhos, os passos que me acompanham são os da vontade de te chegar sempre mais depressa do que, às vezes, consigo andar. Por isso caio e perco tempo pelo chão. E levanto-me e volto a cair e assim sucessivamente. Ainda que os acidentes façam parte da caminhada, a vontade em mim é sempre urgente e, por isso, desespero durante as quedas e desequilibro-me ao levantar. Porque quero correr para ti antes de por os pés no chão. Se pudesse voava, mas ninguém me ensinou a flutuar. As minhas asas não o são ainda, por isso, desculpa, meu amor, o barulho que faço quando caio por terra sem cair em mim. Um dia viajarei tão suavemente os caminhos ao teu encontro, que só nos ouviremos respirar o vento em que o Amor, constantemente, nos embala num vôo sem espaço nem tempo, infinito como o desejo de voar.

segunda-feira, 30 de março de 2009

Luz absoluta

John Lamb, Let there be light

Sabes o que te procuro, meu amor? A luz no seu estado puro que eu te reconheço. Porque tenho medo do escuro mesmo quando iluminado. Porque a escuridão é ausência de vida por colorida que a queiramos pintar. Porque viver não é apenas respirar. A luz que me és na essência do que sinto é a síntese de todas as cores e não apenas os tons que os olhos conseguem perceber. A luz que te procuro e te encontro vem de dentro, do pedaço de alma onde me nasce o sol e nunca é noite porque existes tu e a tua existência é um universo infinito de possibilidades de eternidade. A luz que me ilumina os dias não depende da cor das manhãs que nos encontram ao acordar. Tu, a minha estrela quer de noite quer de dia, existes tão dentro de mim que me confundo no tempo que não existe senão na intensidade do que me sinto viva pela luz que me emprestas e me permite respirar. Para além do que te sinto e me ilumina, apenas frio existe, o nada.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Suspirar

Adalberto Tiburzi, Rome at Random Series, 2005

Tenho uma sede desmedida de tudo quanto te recebo. A minha vontade, tão cega quanto infinita, desespera-me em desassossego, no espaço de tempo em que a tua pele me foge. Raros são os minutos em que não suspiro o teu nome baixinho, para que não percebam que o meu pensamento se escapa dos sítios onde estou, para te encontrar mais depressa do que o tempo que me falta para te beijar. Por onde passo espreito-te, desejo-te e apresso o passo para que me sintas na distância e nunca te canses à minha espera.

terça-feira, 24 de março de 2009

Para além do ruído

Sylvie C. L' ombre, 2009

Se a união faz a força, haverá algo mais forte do que a vontade de caminhar em frente, lado a lado, para um mesmo lugar ou não-lugar quando vamos à descoberta? Nada segura a força do ser e querer é viver tudo sem limite de velocidade. Amar é ter a alma em permanente ebulição, é um mar revolto de mil viagens por cumprir depois de outras tantas realizadas. O Amor é esta constante tempestade em que te vivo e te quero eterna comigo em qualquer lugar do mundo e numa qualquer parte incerta do universo. O ruído que me escutas é tudo quanto quero dizer-te ao mesmo tempo e de forma descoordenada. E em tudo o que não sei desculpar-me, nem explicar-me talvez, subsiste a vontade e a força do Amor que, de tão precioso e absoluto, se assume selvagem e bruto na expressão, como os diamantes antes de serem o que realmente são.

terça-feira, 17 de março de 2009

Nada a declarar

Jack Seeds, Lovers

A liberdade que nos assiste é a que só o Amor permite no seu verdadeiro sentido, a escolha - amar-te porque quero, viver-te porque a minha vida é o que respiro em nós, construir-nos porque acredito-te como o meu sempre e tenho fé em nós para além disso. O Amor é esta escolha ampla e plena, este tempo inteiro que nos envolve corpo e alma em que não cabem outras possibilidades, esta vontade absoluta de prender os meus olhos nos teus e ser essa a paisagem, noite e dia, em todas as direcções. Amar-te é escolher-te todos os dias, perder-te e procurar-te nas saudades e encontrar-te por instinto em todos os pensamentos nos intervalos de um aqui e um agora. É esta pessoa livre que te escolhe uma e outra vez e se compromete sem tempo num querer-te tão completamente como infinito é Amor. Porque nos sinto a força do vento que nos empurra a mesma vontade, um único destino lado a lado.

sexta-feira, 13 de março de 2009

Em abstracto

Gordon W., Ethereal Abstract, 2006

Comprei tintas, muitas, de várias cores, as que encontrei. Estou ocupada a combiná-las e a procurar todas as possibilidades para pintar tudo à nossa volta, mesmo o que não se vê, especialmente os teus sonhos, tal como me pedes antes de adormecer. Vou ficar acordada toda a noite para te encontrar na obra de arte em que, durante o sono, me esperas e te desejo adormecida. Se, entretanto, acordares desenha-me um beijo sobre a pele que me cubra o corpo da cor que mais gostares.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Noite americana

Michael McMurrough, Primary Merger

E se a luz fosse sempre a mesma não haveria a noite que é precisa para embrulhar o que o dia deixou por cumprir e, assim, encontrar caminhos que nos acordem cores em que deixámos, momentaneamente, de reparar. Porque o corpo nos pesa uns dias mais do que outros. Porque a alma fica sem voz à procura de palavras certas. Porque olhos cinzentos só conseguem ver por dentro. A noite é um porto de abrigo ao que o dia nos cega. O silêncio que adormeço nos teus braços é um grito, estridente e prolongado, do que morri durante as horas que passaram sem nós. Porque, ás vezes, só a tua luz me faz falta e, por isso, espero a noite para me aninhar no teu olhar. Nem sempre sou difícil. Mas sei sempre o que encontro em ti que me amanhece a alma.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Tenho as mãos atadas

José Paulo Andrade, My hands are tied, 2007

Tenho as mãos atadas em redor do teu pescoço e tudo o que eu quero é tocar-te o corpo porque a verdade em mim nua, em ti, caminha. Tenho as minhas mãos atadas à espera de acção porque a qualquer hora é sempre agora e hoje quero cantar-nos. E porque perder não sei, não sei não querer mais porque quero insaciavelmente o que é nosso, o que é único e sem tamanho. Tenho as mãos atadas à tua volta e, debaixo da pele que te consome incendiada, bate um coração maior do que eu porque esta forma de Amar assim só acontece uma vez na vida. Tenho as mãos atadas em teu redor e os teus braços à volta de mim hoje, ontem, amanhã… infinitamente.


(a partir de "Mãos Atadas" de Simone e Zélia Duncan)

terça-feira, 3 de março de 2009

Peças combinadas

Michael McMurrough, Jigsaw
E serão feitas de que matéria as saudades que se instalam por não sabermos dar sentido ao longe, mesmo quando o longe se mede em horas? Procuro uma cor, uma textura ou talvez um odor preciso e logo me chegam imagens tão definidas como o toque da tua pele que uso como pele de mim mesma em todas as dimensões do espaço físico ou imaginado em que te habito. E vêm-me as saudades à boca como sede de água em lábios ressequidos pela espera no deserto do tempo. Na paisagem áspera por onde ando fora de nós, vou combinando sons, cores, sabores e fotografias de alma como um puzzle em que nos encontro num todo, onde todas as partes são únicas como único é jeito em que as combinamos uma a uma. Como um poema onde as palavras se aninham e se embrulham num estado de alma pessoal e intransmissível, vivo as saudades do que não te tenho e não te abraço no aqui e agora.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

A vida no cimo das árvores

Don Nieman, Leaf on frosty Morn, 2008

Restos do Inverno transportados pela brisa amena que anuncia a estação verde enfeitam-me os passos neste chão destroçado pelo mau tempo. Enquanto a semana entardece, caminho para o princípio de tudo, da vida que me encontrei, do presente e do sempre que acredito como futuro. Em todos os jardins crescemos nós e hoje já somos árvores, cada vez mais altas, feitas de ramos seguros. Em cada folha a certeza que nos renasce indiferente às estações do ano. O azul infinito que nos abraça o despertar é a única luz que precisamos para perceber o infinito. À noite celebramos a força dos braços que constroem, no corpo e na alma, a casa que incansavelmente acrescentamos na arquitectura do Amor.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Recreio

Stu, Two little boys, 2006


Se horas de ócio houvesse entre os minutos que passam contados e cheios de urgência, o mundo seria infinitamente mais bonito pelo que poderia sonhar-te sem pressas, antecipando a vida em tempo real. Os momentos que nos invento nos intervalos de nós são paisagens de férias nos dias de cansaço irremediável que nos envelhecem no desespero das horas que, passando, não nos trazem uma à outra. Encosto-me, por agora e durante quase todo o dia, nesta pausa de tempo para te dar conta do que me custa este longe do abraço onde me aguardas e eu te guardo quando, à noite, nos regressarmos para renascer em todas as madrugadas.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

As asas do Amor

Yukio, Tokio Disney sea, 2007

E quando as correntes que me prendem ao chão têm o peso e a magia de asas que atravessam céus e mares de um lado ao outro da terra? E quando a liberdade que me protejo como bem supremo e insubstituível ganha o seu verdadeiro sentido na escolha e na vontade infinita de ficar para sempre contigo? E quando a força das amarras é um privilégio raro que nos faz sentir livres, autênticos e vivos de dentro para fora? Que nome hei-de dar a este sentir pleno e voluntariamente aprisionado a ti que não seja Amor? Porque a liberdade vem da alma e eu na alma prendi-me a ti. Porque na alma, que é infinita, a palavra do Amor é a própria vida, a liberdade incondicional de ser o que nos diz o coração.