sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Àcerca de ausência

Jim Warthman Eternity, 2005

«Absence is to love what wind is to fire: it extinguishes the small, it inflames the great.»

Bussy-Rabutin (1618-1693)

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Arrumações

C. Evans, 10-29-05 My Room, Dammit!, 2005

E quando tu não estás nada está no seu devido lugar. Arrumo objectos, planos e pensamentos e tudo permanece fora de sítio. Faltas tu e sem ti a casa está desarrumada. Vejo a desordem acontecer sozinha e não faço nada contra este estado de sítio inevitável em que as coisas divagam durante a tua ausência. Não posso fazer nada, deixo tudo acontecer sem mim, porque sem ti eu existo em parte incerta. A desordem é uma forma de distrair a espera. Enquanto não chegas transformo os dias em puzzles e em equações indecifráveis. Não procuro soluções. O Universo tem uma ordem precisa que voltará a ser amanhã, quando voltares.

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Chegar-te

Adalberto Tiburzi, Unstable Triangles 1
Conto as horas que nos separam e elas passam tão lentamente que confundo os dias com as noites. O meu calendário é uma página em branco em que só deixei ficar os dias em que abrevio a distância para ir ao teu encontro. Todas as encruzilhadas são possibilidades de chegar-te, mas tenho partida e chegada em dia e hora marcados. Desespero. E tu esperas e desesperas. Falta sempre muito tempo quando estamos à espera, mesmo sem longe nem distância entre entre aqui e agora...

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Longe, a Sul

Adalberto Tiburzi, Frames 3, 2002

Há espaços que são nossos, meus e teus apenas, ainda que, por eles, milhares de pessoas se passeiem antes de depois de nós. Este espaço onde te escrevo é nosso. Inventei-o para ti como a única ponte em que me senti segura a atravessar para te chegar do outro lado, na margem da ausência, numa distância imaginada, feita do tempo que é preciso para nos encontrarmos por dentro, no mais profundo e verdadeiro da alma. Inventei-te e procurei-te meses a fio aqui neste lugar. De tanto te procurar acabaste por me encontrar num acaso que, se calhar ou quase certamente, foi escrito por uma vontade superior cujos desígnios nos escapam, mas que nos ensinam que há uma força maior em nós que não podemos contrariar. E, nesta ponte que construí e que soubeste atravessar vivemos eternamente nas palavras que nos desenham graficamente o Amor. Aqui volto todas as noites e todas as manhãs me encontras. Às vezes parto em viagem, mas nunca em pensamento. Depois de amanhã partes tu, num sopro de tempo para a beira do mar. E até eu seguir ao teu encontro, as palavras multiplicam-se, e depois disso também. E quando tu voltares, este lugar cresceu em saudades nos dias que nos separaram, a provar que a ausência é sempre falta e que o Amor é fogo que incendeia infinitamente.

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Supercalifragilisticexpialidocious

JD Anderson, Love is..., 2003 (1 Coríntios 13:4-8)

Há palavras que não sei dizer mesmo na língua que melhor conheço. Há palavras que tenho dificuldade em utilizar porque não me dizem nada e é suposto as palavras dizerem sempre alguma coisa. Há palavras que nunca me lembro de dizer porque nunca me fizeram falta para me fazer ouvir. Há palavras que utilizo quando valia mais estar calada. Há palavras que ficam a meio porque mudei de ideias enquanto falava. Há palavras que não sei o que querem dizer e, mesmo assim, teimo em dar-lhes um sentido único. Há palavras que me escapam e que nunca mais voltam ao mesmo sítio. Há palavras que não sei escrever, mas conheço-lhes o significado. Há palavras que confundo e, por isso, hesito e apresso-me a explicá-las por sinónimos. Há palavras que digo sem querer e sou mal interpretada. Há palavras que quero dizer e que me faltam. Há palavras que digo sempre da mesma maneira e nem sempre são ouvidas com a mesma intenção. Há palavras que escrevo e que não digo por ter receio de redundâncias. Há palavras que sinto intensamente e não sei dizê-las com eloquência. Há palavras, muitas e eu conheço tão poucas! E há uma palavra que aprendi contigo e sei senti-la, dizê-la e escrevê-la correctamente: 'Amo-te'. É uma forma do verbo 'amar' que eu só sei conjugar no Infinito quando penso em ti.

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Pequeno-almoço?


Cheryl Ridge, Making Scones
Amor, os verdadeiros scones (receita inglesa) não levam ovos e há uma série de regras que temos de cumprir, ainda que, às 2h da manhã, a disposição para cumprir regras não seja por aí além, já que temos mais do que fazer durante a noite, para além de comer scones para repôr energia.... Havemos de chegar à perfeição também a fazer scones...
Scones
12 colheres de sopa de Farinha
6 colheres de sopa de leite
3 colheres de sopa de açucar
1 colher de sopa de manteiga
2 colheres de chá de fermento
1 colher de chá de sal
É só juntar os ingredientes (DE ACORDO COM AS REGRAS ABAIXO INDICADAS), fazer umas bolinhas e colocá-las num tabuleiro previamente untado com manteiga e polvilhado com farinha.
Rules to make perfect scones:
  • Preheat oven to 200C 15 minutes before making scones. A hot oven is essential to cook evenly risen, golden-brown scones with crisp crusts.
  • Cook scones in the top half of the oven. Adjust shelves before turning on the oven.
  • Grease a flat baking tray with a little melted butter only where you intend putting the scones.
  • Always measure then sift the flour. Sifting adds lightness and removes large lumps.
  • Only use butter and use it straight from the fridge. Cut into small cubes, then add to flour.
  • Rub in with your fingertips only. Using the palms of your hands will cause the butter to melt and the result will be oily scones.
  • The water and milk mix is used because water adds lightness and milk adds flavour.
  • Use a table knife in a cutting motion to mix liquids with flour. Do not over-mix or you will make tough, heavy scones.
  • Turn dough out onto a lightly floured surface. Knead gently with your fingertips until dough just comes together. Pat out till about 2.5cm thick. Do not roll.
  • Use a sharp cutter on dough. Do not twist cutter, it causes unevenly risen, lopsided scones.
  • Bake dough immediately. Wrap cooked scones in a clean tea towel or linen serviette to give a softer crust. a Scones should be eaten within a couple of hours of baking.

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Dias de espuma

Zane Paxton, Foam & Rock, 2006

Desabituei-me do relógio, mudei de vida ou, pelo menos, mudei de tempo e do espaço que o tempo se demora. As minhas horas são as tuas e a disciplina que lhes impomos para vivê-las infinitamente. Mas, ainda assim, a vertigem do que nos queremos altera-nos os planos e, por isso, vivemos mais depressa do que o resto do mundo sem nós. Os nossos dias são mares de espuma pelo tempo que se esgota entre o aqui e o agora do que nos passeamos de pele na pele e olhos nos olhos. E porque o Amor é viver em estado de urgência, tudo o que em nós se passa deixa rasto. As saudades medem-se pelos segundos do relógio que ficou para trás e que recupero agora, para poder contar o tempo que falta para a nossa ausência de gravidade - porque o tempo é relativo, mas nem o Amor nem as saudades o são.

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

O fogo e o gelo

Gary Fairhead, Blue Glow
Porque está calor e dentro há um fogo a arder, guardo-te água fresca numa nuvem de gelo que segurei ao passar. O fogo que arde vê-se e sente-se nos dedos das mãos. O fogo que se sente a queimar o corpo começa e acaba no coração. O calor que seca a boca, à procura de água, deixa-nos nos lábios uma única palavra 'Amo-te'. O incêndio em que nos sinto não é novo e, no que nos consome, parece não ter fim. Ardes-me em vontade e desejo por debaixo da pele. Refresquei água no glaciar que pus dentro de um frasco antes de correr ao teu encontro. E agora que aqui estou, não me sobra gelo. Quero dar-te de beber com urgência, a mesma urgência que sinto em mim. Conservo-te água fresca no gelo que desaparece pelo que incendiamos à nossa passagem. Descobri que o gelo queima, incendeia o corpo desassossegado pela paixão. A sede de nós é sempre a mesma e o fogo que nos consome também.