segunda-feira, 25 de maio de 2009

A(garra)r

JLM, Kittens Series, Griffes

Olha como eu me seguro às paredes, usando unhas que não querem largar nem deixar cair. Repara no quanto quero segurar que, por vezes, transformo as mãos em garras e, por vezes também, arranho sem querer magoar. A pedra nada pode, não detém mãos que te querem com a vontade da alma onde tudo cabe, porque não tem tamanho quem, no peito, sente o fogo da vida reacender todas as manhãs de todos os dias. Vê como os meus dedos te procuram em cada esquina e sabem onde te encontrar, porque o amor é uma linha recta que nos orienta e nos faz chegar a lugares que nem sabemos que existem quando começamos a andar. Tudo o que descobrimos só existe porque caminhamos lado a lado. Tudo o que imagino do outro lado do mundo, lá estará à nossa espera, bastará que venhas comigo. Olha como cresci e avanço sem medo, dobrando cada esquina com a fé de que a vida é mais jovem, mais leve, mais luz de primavera, porque te tenho a ti por todo caminho de mão dada.

terça-feira, 19 de maio de 2009

Árvores de tronco único

Mart's, Trees series, 2009

Nada melhor do que o espaço livre da imaginação para rebolar-me em ti sem intervalos sobre uma relva sempre verde e perfumada, onde somos sempre luz da primavera, indiferentes às horas do dia. Nada mais livre do que esse mergulhar por entre as ondas em que abandonamos corpo e alma em viagens onde somos principio, meio e não temos fim. Um dia seremos árvores, de tronco único, eternamente esperança e elevadas até onde o céu e a terra perdem os seus limites. A liberdade de ser mede também a liberdade de amar. Em ti renasço todos os dias no que o Amor me deixa livre para te amar desmedidamente. Nada melhor do que uma pradaria infinita que cuidamos por dentro, onde tu e eu nos deitamos na verdade do mesmo abraço.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Quase pornograficamente

Barry Green, Rose Petal Pink, 2005

Apetece-me deixar tudo por fazer e correr até onde estiveres para te despir num gesto único e descontrolado, porque é descontrolada a minha vontade de te ter pele na pele e de me fundir contigo. Apetece-me ouvir o gemido húmido e incontido do corpo que nos escorrega no desassossego constante que nos anima. Apetece-me dar-te voz na minha voz num mesmo movimento instintivo. Apetecem-me todos os beijos que nunca esgotamos e fazê-los durar até adormecer embrulhadas numa febre contínua. Apeteces-me despida aqui e agora e em todos os minutos que demoram até te chegar, porque me apeteces sempre e em toda a parte mesmo que te tenha toda e completamente em mim. Porque o desejo é permanente e o Amor absoluto.

domingo, 10 de maio de 2009

No topo da montanha...

Stefano di Domizio, Ladybugs and coleopters Series, 2009

Só vejo um caminho, só imagino esse caminho, só sei o caminho que se estende em frente até à nossa eternidade. Em frente e cada vez mais alto a abraçar paisagens que o mundo lá em baixo não sonha nem acredita. Cá de cima somos maiores do que a vida e o sempre é uma cama de nuvens prateada pela luz sol que não dorme nem se esconde no azul, onde reina indiferente ao movimento do mundo. Aqui, onde ninguém nos alcança, seguimos firmes o caminho em frente porque acreditamos no tanto que alcançámos e temos fé no infinito que está por vir. Subimos e olhamos para baixo para guardar sempre a certeza do que ontem nos aconteceu, do que hoje somos e do que amanhã e depois queremos continuar. Aqui, onde não temos limites conhecidos, somos a cada instante mais matéria estável, mais corpo definido e alma intocável. Cá em cima onde nunca deixamos de nos abraçar, as horas passam ao contrário, a contagem é decrescente pelas saudades de tudo quanto nos aproxima e nos une debaixo do mesmo sentido e sentimento. Não te apresses nem te atrases, morreria bruscamente de saudades no descompasso de um respirar... O Amor é vida e tu és a minha vida, o meu caminho em frente, o meu sempre, o meu em toda a parte.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Meia luz

Niki Conolly, Color - Blue Series, 2006

Nem sempre os dias são favoráveis à conjugação de palavras com sentido inequívoco. Nem sempre conseguimos organizar os pensamentos fiéis à lógica em que ocorrem. Nem sempre as palavras se descobrem com a rapidez dos sentidos. Há dias lentos, tão lentos que nos chega a doer a vontade de chegar mais depressa a qualquer sítio. São dias estranhos, estagnados como a água de lagos que nem gente nem vento visitam. E mesmo que nos esforcemos para regressar à nossa velocidade normal, tudo acontece descoordenado numa dormência de corpo que não sabemos evitar por desconhecermos a sua origem. São estes os dias tímidos entre estações, em que as cores encobertas esperam luz que as descubra, pacientemente embaladas pela brisa...