sexta-feira, 24 de junho de 2011

No jardim, ao fundo

Kelly Dempsey, Second Chance, 2006


Enquanto procuro no jardim o amor que de mim se perdeu, encontro folhas secas  que o tempo não poupou e espalhou pelo chão. Mas não falta verde de vida por aqui e por ali. O cheiro da terra molhada, que alimenta a vontade de florir, toma conta de mim como um perfume inevitável, forte e sólido, uma segunda pele que não se distingue da minha. E por aqui e por ali espreito, respiro e caminho. Não conheço tudo e procuro. Não me conheço tudo e, em mim, me procuro o que me perdi. O amor que não encontro depois do que conheci. Passeio os dias pelo jardim frondoso, onde o amor morava pleno e descuidado. Caminho por um lugar que, agora, desconheço e aqui sempre vivi. Procuro o amor que conheço num lugar que só existe em mim. Só aí o irei encontrar, no lugar exacto onde eu dele me perdi.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Amor perdido

Viral infection

O Amor perdido é também uma doença, dói-nos o corpo pela ferida na alma que teima em não curar. E mesmo quando deixamos de ter pena de nós próprios, tropeçamos invariavelmente nos momentos em que nos desequilibrámos. As interrogações e as  incertezas que tomam conta dos amantes em desgraça ensinam-nos que não somos donos da verdade, nem sequer da nossa própria verdade. E é nesse instante de humildade que surge a libertação. Porque tomamos consciência que, depois do Amor, já não somos tábuas rasas, somos mais por tudo o que soubemos sentir por inteiro. Aprendemos um universo, uma vida infinita. E a grandeza de um sentimento maior do que a vida, recompõe-nos na nossa certeza de que não somos estéreis, porque o Amor nos tocou e porque abraçámos infinitamente a possibilidade de ficar para sempre em nós.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Apesar de tudo, uma cabana

Daniel Shorey, 2007

Apesar de tudo o que se diz, o Amor, por si, tem de ser suficiente. Porque não conheço força maior do que a que nos vem do estado de graça de amar alguém. E se o Amor não é suficiente para ser infinitamente forte, não será Amor, mas apenas um gostar com dias contados. Porque amar é um acto de fé em cada dia renovado, que tudo quer e tudo é insuficiente. O Amor não se acomoda aos dias nem se quebra porque a vida corre mal. O Amor arruma e desarruma, baralha e torna dar. Quem ama não se contradiz, quem ama procura caminhos onde se perde e se volta a encontrar guiado por esse valer a pena que a alma lhe   reconhece. O Amor tem de ser suficiente porque se não for nada o é. Se o Amor não chega para mudar as montanhas de lugar, é porque ele não existe, foi confundido com uma qualquer paixão a prazo. O Amor  verdadeiro incomoda, dói e faz sofrer, não fica no mesmo sítio, quietinho e disciplinado. O Amor é sangue pulsante, é luta e revolução. O Amor tem de ser suficiente para quem ama, porque a Vida é esse desalinho e uma fé imensa em cada primeiro dia para o resto da nossa vida.