sexta-feira, 30 de março de 2007

Sempre e mais um dia

José Pinto, Infinite, 2005

Quando te digo 'eternamente', quero dizer 'para sempre e mais um dia'. Eternamente é pouco, mais um dia faz toda a diferença porque te quero para além da eternidade. Não sei dizer-te de que é feito o amor a não ser por esta vontade de ser contigo sempre, para além do tempo e sem distância, porque não há longe entre quem se ama, apenas uma saudade infinita. Este 'nós' em que tu e eu nos confundimos sem princípio nem fim é, certamente, o amor dos poemas de amor que, antes de ti, nunca senti para além da forma. Contigo aprendi o que me faltava - o sentido do verbo amar que conjugo no presente e no futuro na primeira pessoa do singular. No teu abraço encontro a certeza da segunda pessoa do singular e quando adormeço tu e eu somos 'nós' no infinito. Amar-te é adivinhar-te sem te ver e sentir-te em pensamento nos intervalos de nós, é querer-te todos os dias mais, porque cresço todos os dias mais um bocadinho na verdade do que sinto. O amor é perceber que te esperei a vida inteira e nunca desisti de te encontrar, é procurar-te em toda parte e morrer de saudades no desencontro do tu aí e eu aqui. E este contentamento descontente que é o amor vem da falta que me fazes no que sou contigo, porque sinto a tua falta como a falta de mim mesma, porque não sei onde tu começas e eu acabo. O Amor é este nó cego que nos demos para sempre... e mais um dia.

segunda-feira, 26 de março de 2007

O que não te escrevo

Steward Lloyd-Jones, A sort of self-portrait, 2004

E, ao fim da noite, dou-me conta de que as palavras que conheço são insuficientes para te contar o que sinto tão completamente. Nas histórias que te invento, falho a intensidade do que consigo dizer porque dentro de mim tudo é mais, infinitamente mais, do que sei descrever. Neste amor que é maior todas as manhãs, vou procurando maneiras de te dizer o muito que gosto de ti e tudo é pouco nos arranjos de palavras que vou conseguindo, comparado com o que me transcende no infinito que sou contigo. E neste falhar do que quero dizer-te, vou baralhando e voltando a dar as palavras que falam de amor, na esperança de te inventar algo único, só para ti, em que sejas capaz de me sentir na intensidade do que te abraço. Já te escrevo há uma eternidade e nesta eternidade que sinto contigo cada palavra é um pedaço de mim e do que me és sem fim. Só existo nestes pedaços soltos que te dizem, sem engano, que a minha vida és tu. Colecciona-me como partes do todo que somos nós.

domingo, 25 de março de 2007

Caminho em chamas

Bruce Berrien, Milford, 2004

Passo a passo no que falta andar, caminho com a certeza de que não me enganei na encruzilhada quando virei na tua direcção. Caminho cautelosamente como se reaprendesse a andar depois de muito tempo no mesmo sítio rente ao chão. Sigo em frente e o meu sentido és tu. Quero chegar-te no que nos falta e só nos falta o que ainda não sabemos mudar à nossa volta. Chegar-te é segurar-te na distância, dentro do coração. Segurar-te é saberes que te abraço todas as vezes que me pensas durante o dia. Amar-te incondicionalmente é viver-nos nesta espera feita de beijos sem princípio nem fim. E se morro de saudades no tempo que nos falta é porque tenho pressa de sentir o fogo que somos pelo caminho. A minha urgência de ti é um principio de vida: não existo no que não te tenho, sobrevivo embrulhada neste querer-te infinitamente. No caminho que tu e eu vamos andando tudo se incendeia, tudo é fogo da nossa eterna chama. Tu e eu somos um oceano que nos queima de sangue a ferver.

Nos intervalos

Steve Price, 2006

Que faço eu nos intervalos da vida, nesses intantes em que não existo pelo que não me vês? Que faço eu nos buracos do tempo que me ficam do que não estás comigo, nesses momentos em que me sinto ausente de mim mesma? Não faço nada - paro de respirar para não perturbar a calma perfeita do sonho em que te encontro uma e outra vez para além da distância. Fico aqui parada, na companhia das estrelas que guardam o infinito do nosso amor. Seguro-te no que te sinto e no que tenho para te dar e te receber também, que é imenso como o horizonte onde repouso a alma enquanto espero. A distância só existe quando não sentimos e nós sentimos um universo inteiro a acontecer entre nós. E neste infinito em que te vivo debaixo da pele não há intervalos nem ausências. No teu lugar em mim, só existimos nós a corpo inteiro e um coração do nosso tamanho.

sexta-feira, 23 de março de 2007

A melhor parte

ALB, Shades of Indigo, 2006

De que é feita esta força inexplicável que nos confunde corpo e alma num só, indistinto e uno? Adivinho-te do que me conheço e do que te aprendi do muito que temos em comum. Sei-te no que sentes pelo que eu sinto também para além do silêncio e da distância. Conheço-te através de mim, na forma inteira com que sempre estive contigo e tu comigo. Tu e eu somos muito mais do que conseguimos explicar e mesmo que soubéssemos dizer tudo o que somos, seria demasiado e ninguém nos acreditaria. 'Acreditamos nós e é isso que importa', dizes-me tu. Sim, nós acreditamos no que sabemos ser verdade por incrível que pareça. Se vivi uma vida inteira à espera de te encontrar e te reconheci no primeiro instante em que te vi, não preciso de explicações para o que acontece com a simplicidade do que é puro e genuíno. Porque as coisas simples são as mais verdadeiras, aquelas em que confio com uma certeza inabalável. E eu tenho-te naturalmente dentro de mim, sempre e em todo lado, como aquela minha parte que quero salvar sempre primeiro. Foi essa parte que salvei todos os dias ausentes e nela acreditei muito para além das evidências. Foi dessa parte que não quis desistir pela absoluta certeza do que sinto e do que quero viver contigo. Foi essa parte que me tornou melhor pessoa pelo que aprendi a amar verdadeiramente. Essa minha parte que preservo sem tempo nem distância és tu e o teu lugar em mim, hoje e sempre, incondicionalmente. Somos enquanto existimos e no que sentimos somos eternamente.

quinta-feira, 22 de março de 2007

Na parede, uma casa

Steve Price, 2007

Casa

Tentei fugir da mancha mais escura
que existe no teu corpo, e desisti.
Era pior que a morte o que antevi:
era a dor de ficar sem sepultura.
Bebi entre os teus flancos a loucura
de não poder viver longe de ti:
és a sombra da casa onde nasci,
és a noite que à noite me procura.
Só por dentro de ti há corredores
e em quartos interiores o cheiro a fruta
que veste de frescura a escuridão
Só por dentro de ti rebentam flores.
Só por dentro de ti a noite escuta
o que sem voz me sai do coração
.

David Mourão Ferreira
«Infinito Pessoal»
(1959-1962)

segunda-feira, 19 de março de 2007

As saudades em que morri

Alfisti, Nail

Deixa-me falar-te do que sei de cor e, de cor o que sei melhor são as saudades em que te vivi nos dias em que me faltaste. Nesses dias tudo era espuma, frágil e inconsistente. Tudo era um inverno infindável, cinzento e chuvoso. Nesses dias só havia noite e um sol negro ao meio-dia. A tua ausência deixava-me rente ao chão e, no teu silêncio, eu morria muitas vezes sem nascer ao outro dia. E no tempo que passava só a minha dor me acordava do pesadelo em que dormia. Não sonhava depois de adormecer nos dias em que adormecia, procurava-te durante o dia em sonhos de quem não dorme há muito tempo. E neste mar de destroços em que me flutuava, eu ia aprendendo a respirar debaixo de água. Amava-te e, de vez em quando, sorria contente por saber amar e ter bem concreto e definido este sentir-te em mim tão completamente. E adoecia nas saudades como um castigo de mau marinheiro à deriva num voltar a casa impossível. E quando caia no fundo do mar, vinha uma voz de longe, de dentro de mim, que te trazia e em mim ficavas por instantes. E as saudades matavam-me mais um bocadinho. Enquanto a dor dessa saudade me consumia, sentia-te e, pouco a pouco, passei a acreditar no que não via, mas sentia tão intensamente quanto a dor que me mantinha viva. Guardava-te dentro de um copo a transbordar de saudades e aprendi a sentir-te para além da distância em que me fugias. Guardei-te em amor do qual nunca desisti e no amor silencioso em que me guardavas também. Desencontrada de mim no que te perdi, reencontrei-me na fé do que se sente e não se vê. Falo de cor dessa saudade porque a conheço bem. Mas hoje que me voltaste, as saudades que tenho tuas são tão infinitas quanto o meu querer-te sempre embrulhada em mim. Sinto a tua falta quando te tenho e tendo-te na certeza de estares sempre comigo e eu contigo em pensamento.

Mais do que um mar sem fim

Michael Rickard, Florida Sunrise, 2004

Adormeço nas tuas palavras e amanheço-te nas minhas.
Baixinho e ouvido... EU MAIS.

domingo, 18 de março de 2007

Dentro e fora fogo

Bryanl, Volvano NP lava flows, 2002

Quando a vida me regressa no abraço em que nos queremos a vida inteira, só dou pelo tempo que passa pelas vezes que morro de saudades tuas de hora a hora. A tempestade em que me deixas quando partes, mesmo nunca partindo do que te guardo dentro, é a urgência deste querer-te eternamente. E nesta minha inquietação percebo que o Amor é este descontentamento de tudo saber a pouco pelo muito que se sente e pela falta que me fazes mesmo quando estás comigo. Porque somos muito nada é suficiente. Porque sem ti os dias não existem. Porque a minha vida é este fogo de querer-te infinitamente. Porque não sei amar-te menos do que amei completamente no silêncio e na distância de um copo vazio. A certeza com que me habitas corpo e alma é, hoje e sempre, a força desta vontade de amar-te mais, quando mais é impossível. Daqui até ao infinito será sempre insuficiente para sossegar o meu desejo de ser contigo.

À século XIX...

Christian & Sarah Milburn, Ibiza Lightning, 2006

«How do I love thee? Let me count the ways...»

How do I love thee? Let me count the ways.
I love thee to the depth and breadth and height
My soul can reach, when feeling out of sight
For the ends of Being and ideal Grace.
I love thee to the level of everyday's
Most quiet need, by sun and candle-light.
I love thee freely, as men strive for Right;
I love thee purely, as they turn from Praise.
I love thee with a passion put to use
In my old griefs, and with my childhood's faith.
I love thee with a love I seemed to lose
With my lost saints, --- I love thee with the breath,
Smiles, tears, of all my life! --- and, if God choose,
I shall but love thee better after death


Elizabeth Barrett Browning  (1806-1861)

sexta-feira, 16 de março de 2007

Aqui, sabemos onde

Steven Price


Amanhã quando acordares, estarei aqui. E depois de amanhã, também. E todas as manhãs da tua vida. Estarei no muito que existe entre nós e só tu saberás onde me encontrar. Sabes onde fica 'aqui', este 'cá' onde existimos. E eu estou neste lugar em nós e do absoluto em que nos sabemos. Aqui, neste lugar onde somos de verdade. Sou por inteiro no que me dou a ti e recebo-te na mesma proporção. Já quase morremos no vazio, salvou-nos a saudade de um amor que nos eleva deste mundo frágil como vidro. Na espera uma da outra, sentimos o sangue como lava no centro de um vulcão e a vontade de nós transpira-nos em cada poro. Nesta forma única em que nos preenchemos tão completamente, define-se aquilo que dá pelo nome de Amor. Estamos aqui onde só nós nos sabemos encontrar de perdidas de amor que estamos.

quinta-feira, 15 de março de 2007

You got me

ESKOBAR feat. Emma Daumas «You Got Me»
Apeteceu-me... gosto de ver mulheres de fato e gravata.

Sempre

Anabark, Sempre (OUT06)

Nesta saudade em que me aninho a toda a hora, vou juntando todos os pedaços de ti que me ficam entre a carne e a alma. Gostar-te é querer-te à minha beira a toda hora, demorar-te num abraço antes de ires embora e embrulhar-te de beijos em pensamento pela noite fora. Amar-te é ter-te em mim num sempre para além do tempo e do espaço que nos separa, é sentir noite e dia esta constante vontade de nós e nunca saciar a sede que nos desafia o corpo a cumprir o coração. Não sei amar-te menos do que incondicionalmente nem querer-te menos do que infinitamente. A minha certeza é o absoluto que não se explica. És tu o meu lugar porque és tu a minha raiz. Nasci para te encontrar no dia em que te conheci e vivi uma vida inteira nesta espera de ti. Não somos por acaso, somos a força do que nos permitimos ser felizes. Seguro-te nos dias, nos anos, nas vidas que nos faltam para sermos nós. Sempre é mais do que uma promessa, é a minha forma de estar em ti.

quarta-feira, 14 de março de 2007

Sonho-te a cores

Zenmatt, Paint Trck, 2006



E quando me adormeces no desejo que te embrulha em mim, não sei se durmo, se sonho ou se de saudades eu já morri. Amanheces-me a pressa de acordar para correr o que me falta para chegar-te. Não durmo, fico horas acordada no amor com que te desenho o corpo quando não estás comigo. No calor que me incendeia corpo e alma, desassossego em tudo o que recordo de ti. Quero-te lentamente no abraço de fogo que não se acaba em nós. Quero-te com a urgência do respirar que nos segura a vida. Dizer que te desejo é pouco, desejar é menos do que a vontade do verbo 'querer' e eu quero-te muito para além do desejo que nos consome. E por todas as vezes que não consegues adormecer porque me pensas na tua pele e por debaixo dela, eu invento mil maneiras de me sentires na mesma saudade que te arranca ao sono. Não durmo, sonho-te com o vagar incendiante de quem te espera numa promessa de beijos que ilumine, por inteiro, a estrela que me és, gravada no meu coração. Deixa-te ser comigo eternamente.

terça-feira, 13 de março de 2007

Mar me quer

José Pinto, Dourada, 2004

Quantos anos passam em cada minuto despido da tua pele? Sinto a vida interrompida nos intervalos em que não acontecemos e a respiração suspensa no que não me canso de esperar. E no tempo em que te demoras vivo-te intensamente do que me ficou do dia atrás. Sinto a marca dos teus braços no meu corpo abraçado de saudades e a ponta dos teus dedos na pele que me tocas mesmo quando não me tens contigo. Sinto-te chegar e partir no mesmo fogo antigo que, longe ou perto, hoje e sempre, nos consome. O que somos não tem tempo porque existimos dentro e fora do pensamento. Tu e eu somos o espaço imenso de um mar de amor sem fundo. Naveguei-te na distância e, nas voltas que dei no fim do mundo, nunca deixei de te encontrar. Ausência é falta, é morrer sem deixar de respirar. Se o mar me quer como eu quero o mar, só a viagem me importa e a certeza que tenho de conseguir chegar. A sede que temos de nós não nos deixará naufragar.

segunda-feira, 12 de março de 2007

The Look of Love

Faye White, 2005
by Dusty Spingfield

The look of love
Is in your eyes
The look your smile can't disguise
The look of love
Is saying so much more
Than just words could ever say
And what my heart has heard
Well it takes my breath away

I can hardly wait to hold you
Feel my arms around you
How long I have waited
Waited just to love you
Now that I have found you
You've got the look of love
It's on your face
A look that time can't erase
Be mine tonight
Let this be just the start
Of so many nights like this
Let's take a lovers vow
And then seal it with a kiss

I can hardly wait to hold you
Feel my arms around you
How long I have waited
Waited just to love you
Now that I have found you
Dont ever go

I can hardly wait to hold you
Feel my arms around you
How long I have waited
Waited just to love you
Now that I have found you
Don't ever go
Don't ever go
I love you so

domingo, 11 de março de 2007

Abraço-te sem fim

Linda Alstead, Thanking my lucky stars, 2004

Adormeço-te e amanheço-te no mesmo abraço...

«Põe os teus braços à volta de mim»
Põe os teus braços à volta de mim
Leva-me a um cinema de sessões contínuas
Onde não haja princípio nem fim
Mas apenas nós

Põe os teus braços à volta de mim
Vamos provar a noite dessas avenidas
Onde não haja princípio nem fim
Mas apenas nós

Esta noite não é noite
Não é noite de dormir
Nem esta nem a que vem
Nem aquela que está pra vir
As nossas noites nunca serão noites
de dormir

Põe os teus braços à volta de mim
Não nos importa que falem os outros
Que somos loucos
Sem princípio nem fim
Já sabemos nós

Voz: Gabriela Schaff
Letra: António Pinho
Música: Nuno Rodrigues

Somos Uma

Theodor Severin, Gray

Entre o céu e a terra existias tu. E eu ficava no fundo do mar à procura de estrelas nas noites por dormir. No fundo do mar a escuridão era imensa e os dias nunca chegavam a ser. O tempo passava lento e arrastado, às vezes parava completamente e, nesses intervalos, eu envelhecia muitas vidas nos buracos dos dias. Guardava-te e guardava-me a mim sem desistir. E nunca deixei de te sentir. E assim segurava a vida que por mim passava vazia de ti. Sonhava-te no céu de estrelas de onde caí. Nos tempos livres da noite escura, pegava nos estilhaços do que fui contigo e colava um a um com o amor que me sobrava e esta vontade infinita de ti. No fundo do mar escuro colecionei estrelas enquanto erguia os meus olhos aos céus guiada pela fé na procura dos teus. A tempestade maltratou-me corpo e alma. Salvou-me o coração em diálogo com o teu e no muito que me disse, baixinho e ao ouvido, acreditei que me sentias com a intensidade que sempre te conheci. Hoje, abrigada na tua praia, olho-te nos olhos e embrulho-te no que não sabemos desistir. Na vontade com que me abraças somos Uma, sem princípio nem fim. No amor com que nos regressamos, nunca partiste de mim.

sexta-feira, 9 de março de 2007

Meio cheio, meio vazio

Brian Mckay, Kool Aid, 2006

Volto a pegar no copo e reparo dentro dele qualquer coisa que não estava durante o intervalo de nós. Dentro do copo, onde havia coisa nenhuma, encontro um bocadinho do que falta de mim que és tu. Tem cor de vida e o sabor do fogo. O vazio transbordava de amor que segurei com duas mãos firmes, doridas mas cheias de certeza que nunca deixei cair. Nem meio cheio nem meio vazio do que tenho não te tendo, este copo inquebrável é feito daquilo que nunca chegará ao fim, o amor e o teu lugar em mim. Encontro-te nesta transparência do que sou e reconheço-te através do vidro. Dentro do copo estamos nós, eu contigo e tu comigo, neste pouco que nos damos do infinito que sentimos. O teu copo está meio cheio, o meu meio vazio. Existo no que sinto bater no coração cheio de ti e o meu coração cheio não cabe dentro de um copo vazio. Sabes quantas vezes te encontro significado em cada palavra de amor? Tantas quantas as vezes em que procuro palavras para te fazer acreditar o meu verdadeiro sentido. O vazio tem a forma do que me faltas. O amor não se esquece, não se apaga e não chega ao fim. O amor é feito do que me dás e do que te dou a ti, na certeza de sempre que tu e eu sentimos.

quinta-feira, 8 de março de 2007

Desequilíbrio

Wenche Aune, Winter #7, 2007

Por vezes, quando o caminho se torna difícil, mas temos pressa, arriscamos e caimos. Perdemos tempo e calor e no corpo arrefecido invade-nos a dor. E, por momentos, perdemos a razão que nos fez correr com a pressa do risco. Dói-nos o corpo e, nesse instante de feridas em que chegamos a ter pena de nós próprios, fixamos o momento em que as forças faltaram e nos desiquilibrámos. E ficamos cada vez mais frios e mais doridos, à espera de qualquer coisa que nos salve do chão frio. E, quase por instinto, enquanto esperamos e olhamos em volta, voltamos a nós mesmos e, nesse porto de abrigo interior, reencontramos a razão da nossa pressa em vencer as dificuldades do caminho que nos maltratou. O calor regressa-nos e salva-nos a vontade de chegar. Levantamo-nos e caminhamos. Não desistimos. Seguimos a pé se for preciso, mas seguimos. Caídos no chão morremos longe do destino. Sobrevivemos. Levantamo-nos e caminhamos, passo a passo, devagarinho, ao encontro da vida. Não desistimos. Aos poucos, o sangue aquece com força suficiente para chegar onde nos leva o coração. Se não desistirmos havemos de lá chegar.

quarta-feira, 7 de março de 2007

E = mc2

Zenmatt, Snowflake glove. Magic abounds, 2006

Porque acredito que tudo na vida é relativo, às vezes, é reconfortante encontrar nas ciências exactas princípios que validam a nossa observação do mundo e que nos reasseguram de coisas que pensamos de forma emocional (e, portanto, sem grande sustentação), porque, às vezes, precisamos de demonstrar a nós próprios que temos razão. E quando me faltam argumentos contra mim ou a meu favor, dá-me sempre jeito evocar a Teoria da Relatividade de Einstein, da qual, no meio de todos os cálculos e explicações matemáticas que não entendo, fixo a teoria e alguma filosofia que, teimosamente, lhe atribuo.
A relatividade do tempo fascina-me do princípio ao fim, partindo do pressuposto que existe um fim e um princípio. Supondo que me dispunha a medir o intervalo de tempo gasto na ocorrência de um fenómeno, aprendi (com alguma dificuldade e enorme incerteza quanto à correcção do meu entendimento do que li...) que uma das consequências dos postulados de Einstein é que o valor do intervalo de tempo depende do ponto de referência do observador. Ou seja, se tivermos dois observadores situados em dois pontos de referência (inertes) diferentes, mantendo velocidade constante um em relação ao outro, os intervalos de tempo medidos por esses observadores serão diferentes. Segundo o que percebi (não é certo que seja assim, mas existem boas probabilidades de eu acertar) parece que um relógio que esteja num ponto de referência que se mova em relação a nós "anda" mais devagar do que nosso relógio.
Resumindo a teoria da relatividade do tempo (e não da relatividade geral, que isso é um assunto mais complicado que ainda vou demorar alguns anos a aprender completamente), o intervalo de tempo em que dois eventos (emissão e recepção de luz) ocorrem no mesmo local, é designado de tempo próprio. Para qualquer outro ponto de referência inerte o intervalo de tempo é maior do que o tempo real. Pois bem, a boa notícia nisto tudo é que esta relação é válida para todos os processos físicos, incluindo reações químicas e processos biológicos.
E pronto, explico assim as divergências de perspectiva de um mesmo fenómeno, envolvendo dois observadores em pontos de referência distintos. Torna-se, assim, muito mais fácil compreender as diferenças e relativizá-las, situando-as num determinado contexto, de acordo com a experiência de cada observador. E mesmo que estejamos a falar da mesma coisa, a ciência demonstra e comprova a existência de tempos de observação diferentes de um mesmo fenómeno e isso deixa-me muito mais descansada, mas feliz, nem por isso. Ainda bem que existem pessoas excepcionalmente inteligentes que perdem vidas inteiras em busca de uma equação matemática que nos descomplica a vida. Que seria de nós sem esses génios loucos?

segunda-feira, 5 de março de 2007

Primeira vez


James Church, The Bed's too big without you, 2004

Mais do que a memória, a pele não se esquece, o fogo queima e o desejo permanece. Mais do que a recordação, vive o desassossego intenso do que sente corpo, alma e coração.
Sempre.

domingo, 4 de março de 2007

Mercy



Peta Wilson e Ellen Barkin em
MERCY
Real: Damien Harris (2000, EUA)
Para ajudar a passar a chatice de ser domingo!

sábado, 3 de março de 2007

Barkflip

Anabark, Windows, 2003

Flipside,
Hoje escrevo para ti, mesmo sabendo que não me lês porque sabes que tudo o que aqui escrevo não é para ti. Mas hoje o que escrevo aqui é só para ti e, ainda que não venhas ler-me, sabes de cor o que fica escrito. Vivemos uma na outra quase meia dúzia de anos e nem mesmo o intervalo de dor que se instalou entre nós nos afasta da inevitabilidade da tua vida estar, para sempre, na minha. A pessoa que melhor me conhece és tu e quem me ama verdadeira e incondicionalmente és tu. Quem chora por me ver triste a deslizar pelos dias, és tu; quem corre ao meu encontro para me segurar, és tu. E eu não sei porque amo outra pessoa quando tu me dás o melhor e o mais puro. Desculpa a minha imperfeição e a injustiça do que não te seguro. Não soube amar-te como tanto desejei e como sempre esperaste acontecer. Mas sei ser a tua melhor amiga e abraçar-te sem estares à espera. Saberei ouvir-te e aconselhar-te como sempre fiz para que cresças ainda mais forte e segura. O que somos tu e eu fica para sempre, fazes parte da minha vida como se o teu sangue corresse em mim. Sei que me adivinhas em tudo o que sinto e sofro - sei que, longe ou perto, choras e ris comigo. E enquanto a dor não parte de mim, deixas ficar o ombro e dois braços a embrulhar-me no conforto de quem ama eternamente para além de si mesmo, à espera que eu encontre a felicidade. Prometo-te que um dia serei feliz como me desejas. Prometo porque mereces a minha promessa e a minha dedicação ao que prometi. Prometo viver bem para que não chores procupada; prometo curar a minha dor para que adormeças e acordes descansada; prometo, da próxima vez, escolher melhor para mim; prometo dar-te ouvidos porque tu tinhas e continuas a ter razão. Prometo estar sempre aqui onde tu me sabes, e de onde nunca parti quando deixámos de ser nós, sem tempo nem distância no que soubemos construir com maturidade. Orgulho-me do que cresceste e da parte de mim que te ficou. Sinto-te infinitamente grande e gosto infinitamente de ti. Barkflip é a nossa eternidade.

Salvados

Steve Price, 2006

Virado do avesso este tempo que passa demasiado lento para esperar e demasiado rápido para partir. Ao contrário passam os dias cheios de tudo e de muito de coisa nenhuma. E, aos poucos, afoga-se o corpo inerte que se despeja nas horas que faltam para ir ao fundo. Mas debaixo de água existe um mundo infinito e a vida continua ao sabor das correntes que nos seguram e nos trazem de volta à superfície. Na viagem dos instantes que o relógio vai contando, descubro a verdade das coisas e a escala real das coisas verdadeiras. E neste desvendar da essência das coisas, entrevejo os moinhos de vento contra os quais luto em vão. Percebemos o mundo ao contrário durante, talvez, tempo demais e mesmo que a esperança permaneça enquanto estamos vivos, é preciso alimentá-la de alguma coisa para que tenha consistência e não se fique pela fragilidade de uma bolha de ar. O egoísmo de quem não tem nada para dar do muito que sente tem de ser ultrapassado pela generosidade daqueles que têm o mundo inteiro nas mãos à minha espera. Esses seguram verdadeiramente e ensinam a flutuar. Esses são a esperança de salvar o melhor que há em mim e de regressar-me à força que me prende à vida embrulhada na ideia de felicidade. Quem me diz que 'não quer', manifesta claramente uma vontade contra a qual não me adianta viver.

quinta-feira, 1 de março de 2007

Para além do muro

Zenmat, Brick, 2006

Pedra sobre pedra constrói-se um muro em pouco tempo. Cada vez mais alto e mais resistente, até ser uma muralha que defende corpo e alma do que não sabemos enfrentar. Pouco a pouco tornamo-nos a própria pedra, indiferentes ao que se passa do lado de fora de nós. E quando a muralha se confunde com a nossa identidade, desistimos da vida porque perdemos a liberdade. Se não podemos ser livremente e sentir medo de uma forma natural, não existimos, somos uma coisa qualquer fechada, fria como pedra, morta por detrás do muro. Acontecemos no inesperado, no que não se planeou, no instante em que reagimos quando somos surpreendidos. A vida acontece nos riscos que corremos em cada minuto que passa por nós. A vida é o entusiasmo que nos anima a apostar tudo com a esperança sempre viva de que havemos de ganhar um dia.