segunda-feira, 30 de abril de 2012

'Açores', uma casinha

U-Turn, Untitled (MAI2009)

Um laço desfeito, um nó no peito, o amor perdido. Uma saudade infinita, uma voz contida, a felicidade esquecida. Um coração partido, um amanhã sem sentido, o passado infinito. Uma casa sem paredes num ilha sem oceano, um segredo, um esconderijo. Uma cama pequena, um amor sem tamanho, dois corpos num. Primeiros dias de Maio, um 'nós' na alma, um sempre em mim. O eterno regresso ao lugar, ao Amor que, sendo infinito, me deixou nessa morada onde vivo para sempre. Nas mãos, a mesma flor sem tempo que ali colhi e ofereci para toda a vida. Não perdi por não saber o que encontrei. Não perdi por deixar de amar. Perdi porque o amor da minha vida se perdeu de mim e não voltou a querer encontrar-me.

sábado, 28 de abril de 2012

Tudo vale, no amor e na guerra

Algis Kemezys, Beauty and the pricks, 2012

Eu, que vivi o mais efémero de todos os amores infinitos que conheço, acredito na ideia de um sempre, de alguém único e na incondicionalidade do sentimento. Eu, que vivi o mais breve de todos os amores eternos que testemunho á minha volta, acredito, apesar de tudo, no Amor como sangue, suor e dor no corpo como na alma, essência de vida. Na guerra não sei mas no Amor vale tudo e nesse 'vale tudo' cresce resistente o Amor. Na versão dos outros o Amor neles sobrevive contra tudo, na minha, que jurei para sempre, em todas as batalhas fui vencida. Todos os grandes amores que conheço continuam eternos menos o meu. Mas, quando olho para esses jardins que aguentam ventos e tempestades e permanecem floridos, indiferentes á violência das estações do ano, invade-me uma fé que não renego e assumo que vale tudo em defesa do Amor. Teimo em acreditar numa versão maior do que aquela que vivi, que julguei perfeita e infinita e se desfez tão rapidamente como uma nuvem passageira ao sabor do vento.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Autocorrecção

Geert Goiris, Resonance #19 - Black Box, 2000

A tristeza tem certamente um fim, como um café que arrefece ou o fumo que desaparece. O tempo passa, as pessoas mudam. Do que não se guardou com amor nada fica. O que não nos fica é porque nunca chegou a ser completamente. A vida não se apaga, mas esquecem-se horas, e ás vezes dias que são anos, no coração que não quer ver nem sente. E a tristeza chegará a um fim, arrumada numa caixa selada, como tudo o que não é eterno nem infinito. O tempo passa e as pessoas mudam, mudam-se e desaparecem também. Longe da vista nada existe, seguramos apenas a ideia de que tudo continua no mesmo sítio em que foi visto pela última vez, mas pode não ser. Quem não vê não sente e, assim, a tristeza, como a felicidade, chegará ao fim. Um café que arrefece e fumo que desaparece no tempo que nos passa são tristeza acabada e luto cumprido. Não se deve chorar para sempre quem não nos ama eternamente.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

O sonho da Liberdade

Noel Saratan, Poetry in a Tree

Trabalhei todo o dia e quase toda a noite em nome da LiberdadeE hoje, que é feriado, voltarei a fazer o mesmo sem me cansar... e todos os dias, com o mesmo ânimo, para o resto da minha vida.

terça-feira, 24 de abril de 2012

Com atraso relativo

Dwight Rankine, Weather Worn, 2007

É tarde para quem se quis tanto e não se acreditou. O mundo mudou de lugar e nenhuma janela ficou virada para o infinito. É tarde, não pelo tempo que passou mas pela inocência perdida que não se sabe recuperar. Atrás de uma fecham-se todas as portas que nunca, antes, existiram. É tarde, a pele envelhece e os olhos são outros, desencantados pelo que aprenderam a ver para além da contemplação. A criança desapareceu, por dentro e por fora uma voz adulta calou a aventura. Uma luz diferente sobre o presente e uma verdade dura aprendida. Bem que se quis e amor infinito, tudo em vão, ilusão de uma vida. Faz-se tarde para perder tempo quando se já se perdeu tempo para nada. É hora de deixar o que não é meu, mudar a casa, as chaves e a fechadura. É hora de perder o medo de ser livre e comprometer-me comigo. São horas de aceitar que amei alguém que não se deixou amar e a quem já nada resta do que, em tempos, foi capaz de ser comigo.

sábado, 21 de abril de 2012

Mar transparente

Sugimoto, Seascape - North atlantic, Cape Breton (A), 1996

Navego na tranquilidade de um mar que, em tempos, descobri e me encontrou um sentido de existência. Neste mar que me fez nascer como gente, a certeza que me anima é concreta, definida e sem contradições. Conhecer-me é aceitar o que sinto e reconciliar-me. Sou a força de um sentimento na sua absoluta transparência de intensidade. Não que isso me torne mais feliz, mas visto a honestidade na pele, indeferente ás consequências. Não me nego nem rejeito a minha maior parte, a alma viva e acrescentada pelo Amor, esse estado de existência que muitos ignoram e outros não serão capazes de sentir. Navego nesse mar imenso que aprendi a entender como tudo o que vale a pena. A felicidade não é um fim, é um caminho, e o Amor é a força da vida em si. Sem ele, tudo é frio e vazio, tudo é pouco, tudo é nada.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Uma página a cores

Sem título

Cedo à tentação para que a alma não adoeça de desejo, como quem escreve uma história sem palavras numa página a cores. Acolho, no corpo, o abraço de quem me quer tocar a alma, de leve que seja. Não me nego o que me oferecem sem, de mim, esperar a promessa que nem sequer insinuei. Não minto nem finjo o que não sinto, concentro-me apenas na cor que mais gostei. Não invento histórias de conquista nem me invento a mim num texto sedutor. Não me prometo nem engano quem, num beijo mais demorado, me tenta falar de Amor. Livro-me da tentação, caio no impulso e não no sentimento. E quando me dizem, em muitas cores diferentes, ao ouvido baixinho: 'quem quer de verdade não desiste; eu espero e insisto... e um dia, sem dares por isso, casas-te comigo!', eu, teimosa e  trocista, sorrio e resisto… Amanhã logo se vê!

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Intransmissível

Marisa D.L., Je t'aime, 2008

Do fantasma do Amor, guardei uma palavra, a que disse e repeti apenas a uma pessoa. Porque há palavras em que acontecemos uma única vez na vida, não podemos torná-las banais. Da única história de Amor que eu vivi como pele da minha pele, guardo o rascunho do que não foi. Em tudo o que nela me escrevi, senti cada palavra como sangue e vida sem fim. O que não voltarei a escrever, recomponho e guardo em mim, numa linguagem que só eu entendo. No princípio, no meio e no fim, a palavra que não digo, escurecida pelo luto do Amor vestido, que apenas em mim sobreviveu. Do fantasma do Amor que não foi para sempre, ficou um livro que só eu consigo ler, hoje como antigamente.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Olhar para cima

Paula Gonçalves, Sem título

Ontem foi, hoje é o aqui e amanhã é um sonho. Fora disto tudo fica fora de tempo e fora de tempo nada é. E há uma janela de nevoeiro em cada hora de presente não aproveitada. O instante que nos morre for falta de coragem não voltará a ser, porque a coragem fora de tempo é uma oportunidade perdida. E há momentos que nos são montanhas e nelas esbarra a nossa vontade quando teimamos em não olhar para cima, para o céu aberto que é mais plausível como limite. Há quem nasça com esse azul de infinito na alma e não se detém.  Vai andando e vai subindo, indiferente às tempestades, com a força do querer a segurar a vontade. Outros voltam as costas, vencidos, desapaixonados, à procura de caminho sem alturas e rasos de emoção. A grande diferença entre uns e outros é a intensidade do sentir e da paixão que aninham na alma.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Procura

Brett Weston, Water, 1970

E se a certeza é uma mentira porque a verdade ninguém alcança completamente, é preciso estar atento ao que acontece nas entrelinhas entre um momento e outro. É nos intervalos da certeza que julgamos ter que vemos mais além, que descobrimos a verdade não como nossa mas como algo que nos integra num universo de causas e consequências de que somos resultado, tantas vezes, inconsciente. Somos feitos de 'certezas', por vezes tantas que deixamos de ver e o universo perde-se e perdemos a fé. E porque a vida faz-se de forças encontradas, alimentadas e partilhadas, a verdade não é uma ilha mas um mar de marés vivas navegado pela oportunidade de resgate e de esperança renovada. Nós, somos apenas vontade de acreditar, ou não, que o sol existe para além da linha do horizonte.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Ser possível

Neil Paskin, Stummers Sunset, 2007

Porque existir é ser possível e ser possível é ir para além das expectativas, das nossas e dos outros, é sonhar e acreditar nessa liberdade que os sonhos permitem. Menos do que isso não vale a pena, menos do que isso é aceitar que tudo é o que é e não há nada a fazer. E não é verdade. A vida é um tudo por fazer, um dia novo, uma nova oportunidade de ser, de aprender a ser o que nos falta. As coisas definitivas são a morte. E porque o maior mistério de todas as coisas é a vida, tem de haver perguntas sem resposta pelo próprio desafio da procura da hipótese. Nunca será demais perguntar para encontrar uma forma de chegar ao tudo que nos está por desvendar.

domingo, 15 de abril de 2012

Retratos de dentro

Pekka Leppanen, January Sea IV - Pine, 2007

O que é verdadeiro resiste. O que mora dentro da alma como essência de vida sobrevive às estações do ano, ao inverno de Janeiro como a aridez do Verão, inteiro porque a integridade do sentir nos segura um propósito de exisência. Porque as emoções, tanto as boas quanto as más, são prova de vida na alma, o testemunho de uma humanidade conquistada para além da mera necessidade de sobreviência. Porque quem não sente não será sequer filho de gente mas de um impulso de vida não cuidada. O que é verdadeiro resiste aos artíficios e ás contrariedades. Com cicatrizes, sim. Como tudo á face da terra. Por mais bela que seja uma paisagem, tudo nela é composto de mudança que o tempo vai esculpindo em nós também. Importante é saber que, para além de tudo, o horizonte se mantém.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Querer o que se sente

Anabark, Veludo (AGO2011)

A simplicidade das emoções directas é o primeiro movimento para um estado felicidade a conquistar. Porque a felicidade conquista-se e viver não é mais do que essa procura, dentro e fora de nós, que temos de aprender e fazer evoluir através de laços que nos atem, seguros, a quem gostamos e queremos sempre à distância de um abraço. É preciso saber sentir e assumir paixões que durem mais do que o lume aceso de um instante. É preciso entender que o desejo não é uma necessidade insatisfeita mas um querer emocional do qual não depende a nossa vida, é certo, mas que nos acrescenta uma vida interior fértil e menos abandonada. Querer não é precisar, é infinitamente mais do que isso. Querer é sentir e sentir é criar laços, intensidades, gostar e ser gostados, e talvez até amar e ser amados. O contrário disso é uma casa fria, escura onde tudo o que em nós acontece é, apenas, por necessidade, o que nos transforma numa ilha deserta perdida num mar sem fim de infelicidade.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Tentação

Magazine, In the womb (Marisa Taddia), 2005

"A única maneira de nos livrarmos da tentação é ceder-lhe."
Oscar Wilde in  'O Retrato de Dorian Gray'

terça-feira, 10 de abril de 2012

Como o branco das flores

Franky2005, Winter Melody, 2009

Um dia feliz é feito de coisas simples como o branco das flores que acabaram de florir nos canteiros da minha varanda, semedas, de noite e á toa, pela vontade de quem não desiste da primavera... Um dia feliz é feito desse estado constante de primavera adivinhado em cada gesto que nos desenha no olhar dos outros... Um dia feliz é uma vontade louca de correr para chegar depressa a quem nos faz falta e, de nós, sente a mesma falta também. Um dia feliz é sufocar e suspirar, vezes sem conta, daquela saudade que, de noite e de dia, nos bate forte no peito. Um dia feliz é acreditar que tudo vale a pena, porque temos fé no lado bom das coisas e na força do bem sobre a adversidade. Um dia feliz é sentir que amamos, que nos damos, que não competimos, que somos simplesmente capazes de amar.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Previsão

Steve Gosling, Wave Patterns

Mais tarde ou mais cedo, tudo encontra o seu lugar numa ordem, talvez predefinida, que não adiantará contrariar. Mais tarde ou mais cedo, uma calma diferente encontra-nos uma outra sabedoria e nela uma verdade amadurecida que não se quererá ignorar. Como as ondas do mar que vão e voltam, umas vezes altas outras vezes mansas, mas sempre a mesma praia e o mesmo mar. Mais tarde ou mais cedo, anoitece o medo e a claridade torna-se dia infinito na alma. Mais tarde ou mais cedo, a razão há-de ser inteira e indisputável. Como o sol e a lua, que lá em cima adormecem separados, unidos pela mesma luz iluminam noite e dia eternos e inseparáveis.

sábado, 7 de abril de 2012

Para muitos bens

Jerry Curtis, Christmas Bokeh, 2008

Longe da vista, mas sempre no coração guardo a estrela que, ainda ontem, era pequenina, Hoje cresceu e é já quase grande. E eu não me esqueci. Que cresças muitos anos e que guardes um bocadinho de mim em ti.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Hoje e depois

Pekka Leppanen, Nails, 2011

Vou perder tempo a procurar um outro tempo onde me deixei suspensa e reaver o que de mim pendurei por falta de lugar na vida que não chegou a ser para sempre como eu queria. A memória é um calendário, uma colecção de momentos expirados e insuficientes para perder o presente a pensar no que não ficou. O meu sempre não é uma memória, é um sentimento vivo e, nele, ontem e hoje são unos, indistintos... e sem futuro. Não me vale de nada, sem retorno não vale a pena. Não vou perder mais tempo nesse tempo que, hoje, só existe em fotografias. Tenho coisas adiadas e gente à minha espera. E já estou atrasada, dizem-me e reclamam. E todos têm razão, menos eu. O Amor da minha vida não vale a minha vida adiada nem merece o meu amor de uma vida.

terça-feira, 3 de abril de 2012

Tempo

Imre Kinszki (1901-1945)

O tempo é muito lento, para os que esperam.
Muito rápido, para os que tem medo.
Muito longo, para os que lamentam.
Muito curto, para os que festejam.
Mas para os que amam, o tempo é eterno.


Willam Shakespeare

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Domo arigato

Luís Afonso, 満開- Full Bloom Series, 2012

Do outro lado do mundo chegaram-me flores pela noite dentro. Entraram pela janela e espalharam-se pelo quarto. E continuaram a chegar de manhã cedo como se não viessem daquele longe onde o sol nasce primeiro do que neste céu ocidental. De manhã quando acordei havia árvores floridas por toda a parte e dei-me conta que, afinal, não são de longe, vêm da alma de quem nelas reparou beleza e a partilhou com igual encanto e sensibilidade. Chegaram-me sem distância flores guardadas com a emoção de quem tem, dentro, um jardim  sempre a florir. Recolho-as como nuvens perfumadas que abrigarei na minha casa com o mesmo abraço que trouxeram até mim. E debruço-me na janela para olhar mais de perto o jardineiro que, do outro lado do mundo, me espreita o coração com o toque de veludo de quem cuida de estados de alma.