sábado, 31 de dezembro de 2011

Ano Novo...bom...

Anabark, Play it (NOV2011)

Logo depois da meia-noite, novo jogo no tabulheiro. Joguem para ganhar por dentro. No que não se vê nem se toca reside o princípio básico da felicidade. Um outro mundo é possível, apostem no melhor de cada um de nós. E haja saúde e sonhos! Feliz Ano-Novo...

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Sistema solar

Anabark, Up (DEZ2011)

Por onde passo o céu é sempre o mesmo. Os dias e as cores mudam. Chove e faz sol e vice versa, ou tudo ao mesmo tempo rasgando um arco de cores no azul lá em cima. Tudo muda, os lugares, as pessoas, o pensamento, apenas o céu permanece à mesma distância das nossas cabeças, sempre longe, impalpável, do tamanho de todos os sonhos do mundo. Posso imaginá-lo um sistema solar pintado de balões, fugidos das mãos de crianças, que tento prender com o olhar para devolver aos distraídos que sonham sem limites e acreditam que vale a pena o que a alma sonha e o que faz sorrir o coração. Porque vale a pena o que a alma imagina sorrindo ao coração. Porque vale a pena a alegria do coração no que sonha a alma. Lá em cima um céu nos abriga de sol ou chuva, conforme as estações. Por dentro, a alma é uma galáxia e as ideias são planetas vivos na órbita do sonho.

sábado, 24 de dezembro de 2011

Desejo...

Dave Leiker, Glass Trees

A todos quantos vão pegando neste copo e e deixando dentro dele um pouco de alma desejos de um Natal Feliz feito de coisas realmente importantes em essência e que nos ajudem a sermos mais e melhores para nós e para os outros.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Perder aos bocadinhos

Rob Oele, See Buoys 6, 2010

Perdemos todos os dias um bocadinho de vida que não nos volta e nos faz falta. Perdemos todos os dias um bocadinho de nós que não terá segunda oportunidade. Perdemos todos os dias tempo que não nos sobra para ser e acontecer por inteiro. Perdemo-nos todos os dias na falsa ideia de que o fim não será amanhã quando o presente é tudo o que temos garantido. Perdemos a memória e, aos bocadinhos, a vontade também. Perdemo-nos como hipótese de ser quando queremos ganhar, sofregamente, tudo de uma vez. Perdemos coisas e pessoas por falta de cuidado e perdemo-nos de nós mesmos quando trocamos alma pela razão. Perdemo-nos se não reclamarmos o Amor como princípio, meio e fim da nossa essência. Ninguém nos encontra se não soubermos dar o coração que esperamos receber dos outros.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Olho nú

HB, Sombras

Olhos que amam guardam luz noite e dia, brilham em silêncio e não apenas quando falam de amor. Olhos que amam não se apagam nem escondem o sol que trazem dentro para além da cor. Olhos que amam beijam de luz sem tocar, não mentem por muito que tentem disfarçar. Acredito no que os olhos dizem ainda que a voz e as palavras os contradigam. Desfaço a dúvida no instante em que o olhar se cruza e se despe a alma vestindo-me com o Amor translúcido que reflecte o meu contorno. Não me engano. Acredito no que os olhos mostram, às vezes sem querer, outras vezes sem controlar. Foi assim que reconheci o amor que me encontrou e foi assim que percebi que o meu Amor partiu porque lhe fugiu a luz do olhar. Os meus olhos ainda brilham do amor que neles ficou guardado.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Luz da luz

Anabark, Lua Cheia (DEZ2011)

Os dias adormecem pendurados na fé como passagem secreta para o dia seguinte. E quando amanhecem só a luz mudou de sítio, tudo permanece como numa pintura, igual ao dia anterior, como se o tempo voltasse atrás todas as noites para começar no mesmo ponto na manhã seguinte. As noites chegam e passam sem deixar rasto. As noites acordam porque têm de acordar, porque a luz do novo dia desfaz as sombras que na escuridão se instalam por todo o lado. O tempo que passa não passando do sol faz lua e vice-versa e nem todos dormem à mesma hora. Tudo é relativo, até a noite e o dia no que acontece dentro de nós. A luz vem da alma - o que nos ilumina é o que sentimos para além da pele e o que damos de nós ao mundo que, incondicionalmente, nos abraça muito para além da escuridão das horas.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

O contrário de pequeno



O coração é maior do que a vida. Nele cabe tanto que a vida por comparação é um ponto no final de uma frase. O coração escreve textos que nunca acabam porque, na intensidade do que sente, existe sempre uma última palavra, que nunca chega a ser a derradeira. O coração vive como um livro inacabado. Nada existe fora dele nem sequer a vida que acontece de forma independente, se vida houvesse no que acontece sem Amor. E o coração tem sempre razão, tem a razão dele que é verdadeira e única. O coração não se contradiz, o coração afirma, constrói a sua linguagem. Reinventa o que sente e deita fora o superficial. O coração decide, rejeita, aceita, tira e volta a dar. Porque no coração se abriga a alma. Nada do que somos vale a pena se ignorarmos essa voz humana que nos vem de dentro e nos dá uma vida do tamanho do coração. O Amor é sangue e vida infinita da alma.

sábado, 10 de dezembro de 2011

À margem

Anabark, Muro (NOV2011)

Nunca desisti de nada nem sequer de quem desistiu de mim. Não desisto do que me conheço nem da força do sentir. A alma não comprometo ao sabor de ventos e contratempos, a alma conservo inteira como âncora que me devolve o sentido e a razão de tudo quanto existe. Não sei desistir de coisas vivas, não sei desistir de mim. Deixo de lado o que não me encontra, o que deixou de ser para mim. Tudo o que não me encontra, tudo que parte e não me volta, não existe, desistiu de ser, assumiu um fim. Não quero nem desejo gente ausente, feita de cinzas frias. O que sinto é meu e sem espelho, o fogo que conservo é feito apenas do meu sangue e carne vida. Quem não me abraça as feridas com o Amor não existe, só o meu abraço interior lhe inventa vida, como quem desenha um coração de papel sem braços nem força para amar.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

A propósito de coisa nenhuma

Tomasz Dziubinski, TheBlackArt - Warsaw Poland, 2010

Caminha-se, segue-se em frente, anda-se por aí. Não se pode ir ao encontro de nada. Encontra-se o que existe, o nada é coisa nenhuma. Caminha-se para além do nada à espera do momento em que a alma nos acorda e os pés aquecem em cada passo depois de percorrem tanto inverno como vida. Não se pode ir ao encontro de nada. Caminha-se ao encontro da vida, do que sentimos como fé no fim do caminho. Encontra-se o que sentimos dentro como força maior se soubermos o que procuramos. Derivamos se tudo o que acontece em nós é fogo fátuo que se consome em si mesmo sem deixar cinzas, porque nada nos encontrará no nada que somos dentroPodemos passear no nada, viver no nada a pensar que é tudo o que existe. Mas no nada nada corre, nada é, apenas o tempo passa porque é tudo o que existe se é verdade que o tempo é real.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Pedras do mar

Anabark, Rosa-água (DEZ2011)

Do mar eu trouxe pedras que a maré deixou na areia e guardo-as para me lembrar das ondas em que o Amor me navegou. Desse mar sem fundo perdi a praia, a caravela partiu e não voltou. Longe é terra á vista quando perto só as águas das ondas me encontram e só as pedras que guardo me lembram de chão para me voltar a mim.  Ao mar azul, onde o vento do norte era o Amor sem fim, chegou a noite demasiado cedo e pedras negras naufragaram um barco de luz. Trago no peito uma bússola como bóia, não perdi o rumo, sei onde estou. O meu mar tem a mesma transparência e a caravela nunca afundou. As velas de velhas rasgaram-se, mas os remos ficaram e eu sei onde estou. Navego o tempo com o Amor que me ficou.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Do lado de fora

M.L. Keep Away From Open Windows

Por detrás da janela devassa, há uma casa desabitada, morta, por onde o vento passa e leva o tempo e a memória do que ficou quieto, á mercê do pó, que é o que sobra ás coisas abandonadas. Da janela para dentro, vê-se a escuridão, por vezes rasgada por uma ou outra lembrança de pormenores há muito postos de lado. Não se ouvem passos nem vozes nem sequer ruídos de portas mal fechadas, empurradas pela corrente de ar. Já não há paredes, apenas vestígios de salas e de quartos e nada da vida que lhes deu forma e cor. Para lá da janela cansada e descaída não sobrou nem chão nem lugar seguro. Nenhuma forma vida aqui se abriga, para além do vento frio que tudo levou. Dizem que ali já viveu feliz o Amor.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Choque frontal

Anabark, Desastre (JUL2010)

Só o Amor vale a pena, o resto é uma deriva, um sem destino, uma espera desorientada. Mas o Amor é caprichoso e abraça toda a gente da mesma maneira. Por vezes passa por nós de mansinho e quase nos toca mas, livre, segue em frente, outras vezes pega-nos pela mão e leva-nos consigo por duas ou três ruas apenas, para nos largar á esquina, sem olhar para trás, desapegado e vago. Mas o Amor que vale a pena é aquele que acontece contra nós como um choque frontal, aquele em que nos deixa imobilizados com tudo amachucado e uma só certeza acrescentada: que estamos vivos por dentro porque o coração nos dói pela força do gostar. Ao desastre que chamo Amor muito poucos sobrevivem por muito que jurem o que sentem. Porque este Amor escolhe os corações, um a um, em que ficar, porque este Amor escolhe quem, em intensidade, o acolhe incondicionalmente. É é disparate acreditar que ele acontece a todos da mesma maneira. São raros os que têm a força de amar para sempre e que sabem não ser amados da mesma forma.