terça-feira, 15 de outubro de 2013

Entre a vida e a morte

João Castilho, Redemunho series

Parece-me fácil perdoar. Perdoamos por amor, e só nos magoam as pessoas que amamos realmente. E porque amamos é difícil não perdoar. Difícil é odiar, por muita mágoa que esteja desarrumada, quem nos foi vida numa espécie de infinito. Porque amamos encontramos em nós, apesar de tudo, margens de tolerância que, em tempos de guerra, nos faltaram. E perdoamos. O ódio é coisa ruim que consome a alma como a carne até que, um dia nada nos fica da pessoa que fomos nem ninguém resta à nossa volta. Porque odiamos e odiar é a mais fria das solidões. E morremos. Porque viver sem amor é impossível.

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

O que dói verdadeiramente...

Darren Nisbett, Broken Doll

"O que dói não são as roturas, o afastamento, a incapacidade a minar como um cancro oculto e certeiro. O que dói não é a pouca solidez com que se disse esta ou aquela palavra, esta ou aquela frase, com que se insistiu, apesar de receios vários, na grotesca encenação do que se previa muito aquém de qualquer futuro. O que dói não é a viscosidade das emoções a grafar-se em algum mapa antecipadamente condenado, nem tão-pouco a insistência de uma insolúvel lembrança a fugir.

O que dói verdadeiramente é acordarmos um dia e descobrirmos que nada disso teve importância alguma."

Victor Oliveira Mateus, in "Gente Dois Reinos"

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

A propósito de silêncios

Anabark, Lágrimas que não se acabam (SET13)

Medo tenho da infinidade do silêncio, apenas disso e não da morte. Não me doem as palavras mas a falta de coração na voz. O silêncio que me aflige é o de quem não sente nada nem tem coisas para dizer. Porque não existe pior morte do que morrer-nos o coração em vida, porque nos condena a uma solidão interior irreparável. Porque a voz sem coração mata para sempre a felicidade. Alma que não sente morre lentamente de sede, seca e deserta. Ser feliz é ter muito para dizer, ouvir, ensinar e aprender. Porque a felicidade acontece no sobressalto do sentir, no reboliço da alma que quer crescer, no contrário do silêncio. Tenho tantas coisas para dizer que me irrito facilmente com a falta de oportunidade! Porque tenho medo de morrer de silêncio, esquecida de voz na sua infinidade.