quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Em 2014...

Rune Guneriussenan, Upward displacement

365 oportunidades para viver o ano. Que as próximas sejam bem aproveitadas, que haja sempre luz em cada dia! Bom Ano Novo.

sábado, 21 de dezembro de 2013

No Natal e sempre...

Anabark, Despida, (DEZ 2013)

Que não falte ao corpo o calor de um abraço nem luz no coração a iluminar a alma...
...FELIZ NATAL

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

História mal contada

Bertil Hansson, Red Night, 2009

Tudo e tanto eram a mesma coisa, a mesma pessoa, um sentimento que não cabia no tempo, bastava um abraço para o abrigar sem princípio nem fim. Tanto e tudo sem intervalos, apenas a eterna urgência de, para além da pele, beijar com fogo a alma e adormecer depois num corpo só. Em toda a parte, os mesmos lábios desenhados por esse tanto que nem nos sonhos cabia. Porque tudo era sempre a toda a hora num encontro feliz. De tanto e tudo se fez nada. Apenas uma história mal contada.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Semear

Kat Pi, Love drops

Deixo a tinta cair em gotas pelo chão. Deixo a cor espalhar-se como raiz na terra. As paredes de pedra não se movem, a pedra cinzenta e fria não tem vida, não precisam de cor. Mas o chão é de terra e da terra nasce sempre verde a esperança de um novo caminho. Rego a chão com gotas de todas as corres e espero que nasçam as flores que desenhei quando comprei a tinta.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Entre a vida e a morte

João Castilho, Redemunho series

Parece-me fácil perdoar. Perdoamos por amor, e só nos magoam as pessoas que amamos realmente. E porque amamos é difícil não perdoar. Difícil é odiar, por muita mágoa que esteja desarrumada, quem nos foi vida numa espécie de infinito. Porque amamos encontramos em nós, apesar de tudo, margens de tolerância que, em tempos de guerra, nos faltaram. E perdoamos. O ódio é coisa ruim que consome a alma como a carne até que, um dia nada nos fica da pessoa que fomos nem ninguém resta à nossa volta. Porque odiamos e odiar é a mais fria das solidões. E morremos. Porque viver sem amor é impossível.

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

O que dói verdadeiramente...

Darren Nisbett, Broken Doll

"O que dói não são as roturas, o afastamento, a incapacidade a minar como um cancro oculto e certeiro. O que dói não é a pouca solidez com que se disse esta ou aquela palavra, esta ou aquela frase, com que se insistiu, apesar de receios vários, na grotesca encenação do que se previa muito aquém de qualquer futuro. O que dói não é a viscosidade das emoções a grafar-se em algum mapa antecipadamente condenado, nem tão-pouco a insistência de uma insolúvel lembrança a fugir.

O que dói verdadeiramente é acordarmos um dia e descobrirmos que nada disso teve importância alguma."

Victor Oliveira Mateus, in "Gente Dois Reinos"

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

A propósito de silêncios

Anabark, Lágrimas que não se acabam (SET13)

Medo tenho da infinidade do silêncio, apenas disso e não da morte. Não me doem as palavras mas a falta de coração na voz. O silêncio que me aflige é o de quem não sente nada nem tem coisas para dizer. Porque não existe pior morte do que morrer-nos o coração em vida, porque nos condena a uma solidão interior irreparável. Porque a voz sem coração mata para sempre a felicidade. Alma que não sente morre lentamente de sede, seca e deserta. Ser feliz é ter muito para dizer, ouvir, ensinar e aprender. Porque a felicidade acontece no sobressalto do sentir, no reboliço da alma que quer crescer, no contrário do silêncio. Tenho tantas coisas para dizer que me irrito facilmente com a falta de oportunidade! Porque tenho medo de morrer de silêncio, esquecida de voz na sua infinidade.

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Flatline

Anabark, Flatlines, (2013)

   DNR

sábado, 14 de setembro de 2013

Rigidez

Anabark, Insegurança (SET 2013)

E a vida é tão curta para fechar portas a quem foi a nossa vida!... Tudo quanto temos é emprestado, nada é realmente nosso, a não ser o que sentimos na alma. E a vida é tão curta para viver de alma fechada! Nada é mais valioso do que quem por nós passa e nos toca a alma, essa porta não fecha nem tem chave.

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Cada um que passa...

Ion Zupcu, 2005

"...Cada pessoa que passa na nossa vida, passa sozinha, pois cada pessoa é única e nenhuma substitui outra. Cada pessoa que passa na nossa vida, passa sozinha, mas não vai só nem nos deixa sós. Leva um pouco de nós mesmos, deixa um pouco de si mesma. Há os que levam muito, mas há os que não levam nada. Essa é a maior responsabilidade de nossa vida e a prova de que duas almas não se encontram ao acaso."

Antoine de Saint-Exupéry in "O Princípezinho"

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Hoje é dia de festa

Anabark, Lobo Mau (SET 2013)

Foram apenas quatro os beijos de parabéns que tive tempo de te dar. Das quatro vezes que te beijei este dia te desejei o mesmo: que a vida te seja um passeio feliz. Hoje que não te beijo o desejo não me morreu: vive muito anos e sorri todos dias.

Ass. O lobo mau

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Ponto de situação

Anabark, Ideias Fixas (AGO 2013)

Gostava mesmo muito de estar enganada como tu achas sempre que estou. Gostava de não ter razão nenhuma e de ser surpreendida por melhor razão!...

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

"Que nada nos limite..."

Iwona Drozda-Sibeijn

"Que nada nos limite, que nada nos defina, que nada nos sujeite. Que a liberdade seja a nossa própria substância, já que viver é ser livre. Porque alguém disse, e eu concordo, que o tempo cura, que a mágoa passa, que a decepção não mata, e que a vida sempre, sempre continua." 
 Simone de Beauvoir

terça-feira, 20 de agosto de 2013

"Apaga-me os olhos..."

Bence Bakonyi

"Apaga-me os olhos, ainda posso ver-te. Tranca-me os ouvidos, ainda posso ouvir-te, e sem pés posso ainda ir para ti, e sem boca posso ainda invocar-te. Quebra-me os ossos, e posso apertar-te com o coração como com a mão, tapa-me o coração, e o cérebro baterá, e se me deitares fogo ao cérebro, hei-de continuar a trazer-te no sangue."
Rainer Marie Rilke

domingo, 18 de agosto de 2013

Coração inteligente

Shihya Kowatari,Transparent 1, 2012

Com toda a transparência como água que é vida, assim te assumo em mim. E querendo-te, quero-te com a mesma relevância, no bom e no mau que tiver de ser. De outra forma não seria inteligente porque não seria verdadeiro e eu dispenso mentiras no sentir. Conheço-te bem, sei o que podes, o que queres e o que sonhas ser, e tu conheces-me também, sabes o que sou e o que de ti não desisto mesmo quando me chegas no gelo dos dias frios. Esta inteligência que temos uma da outra distingue-nos no mundo depois de 'nós', porque há nela uma incondicionalidade que, ainda que negada, sobrevive ao tempo em que 'nós' não existimos. Amando por inteiro aprendi que Amor é coisa de pessoas inteligentes e corajosas. Os outros, os que não entendem o sentir nem confiam no coração, desistem a meio caminho. É preciso ser inteligente para perceber que encontrámos o Amor e é preciso ser corajoso para reconhecer o seu valor e fazê-lo crescer incondicional no que as horas, inevitavelmente, nos envelhecem. Os outros, por muitas vezes que se apaixonem, confundem e confundem-se, amam apenas a ideia de Amor e vão procurar a vida inteira o Amor verdadeiro que nunca chegarão a reconhecer. E morrerão como sempre viveram, desencontrados em si mesmos.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Sem tempo contado

Dario Puggion

Sabes que minto quando te reclamo 'cinco segundos'. E já não tenho idade para te mentir. Sabes tão bem quanto eu que 'cinco segundos' em nós foram sempre muitas horas de dias de desassossego e noites incendiadas. A única inocência dos 'cinco segundos' que proponho é porque sei que será sempre assim para toda a vida. Apenas contigo, 'sem remédio', de corpo e alma fundidos. O estado de urgência que não envelhece em nós é a nossa eternidade indesmentível. Por ser tão verdade não haverá, nunca, mais válido compromisso do que aquele que prevalece debaixo da pele sem tempo, por muitas voltas que dê, sem 'nós', o mundo. Já não tenho idade para mentir-me.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Apontamentos

Kristina Lerner, Isolation Series

Gosto de te ouvir falar, das coisas que dizes sem querer dizer, dos pensamentos soltos que completas como quem escreve palavras novas num caderno de apontamentos. Gosto que te oiças no que aprendes, no que sentes e no que és livre de dizer. Gosto do que me ouves no que te reconheces e sorris. Gosto do que te conheço e que ninguém te descobriu ainda. E gosto do que a tua pele me diz. Gosto do que te encontro sem te dares conta quando me engano. Sei quem és e o que podes ser ainda. Não gosto do que te perdes no esforço de controle como quem anda, por dentro, desencontrada, porque não gosto da dúvida disfarçada de certeza da boca para fora. Gosto do sonho em que és tu por inteiro sem que o tempo te magoe essa força de liberdade absoluta. Conheço o que não te conheces e gosto do que és capaz de te descobrir. Não gosto quando não te permites ser apenas tu, nem mais nem menos.

sábado, 10 de agosto de 2013

A Escolha

Alessandro Puccinelli, In Between

Se pudesse escolher outra vida, escolheria a que tenho, mesmo sabendo da dor em que nela morri mais do que uma vez, se fosse esse o preço a pagar para te ter e para que o instante de deslumbramento em que, um dia, acontecemos permanecesse intacto até à hora da nossa morte. Porque me arrependo do abraço que não te dei e que talvez esperasses de coração nas mãos como eu sempre esperei o teu em cada segundo. Porque me arrependo de todos os beijos que não te roubei nos dias em que os lábios nos secavam por falar demais da boca para fora. Da alma para dentro ficaram demasiados beijos e abraços que, hoje, me fazem falta com a mesma urgência de ontem. Arrependo-me do tudo que não fiz, do amor que não te disse e não te ouvi, e lamento as horas que perdi calada, desencontrada de mim em ti. E, acima de tudo, arrependo-me do momento em que fiquei surda à voz do coração, emaranhada na razão que julguei que tinha, porque sei que enlouqueci no dia em que troquei o coração pela minha razão contra a tua, porque sem ti descubro que ter razão e o coração frio é a morte. E eu escolho a vida, amar-te como sempre amei, por instinto e sem razão nenhuma.

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Hoje sei

Andrey Belkov

Não fomos por acaso e não somos por acaso no que, hoje, nos sentimos ainda na pele e para além dela. Somos mais do que uma história que sobrevive ao tempo e ao teu desencantamento. E se eu, hoje, moro no teu livro de desventuras, tu moras na minha alma e nela te seguro nos dias, nos anos, nas vidas que me sobrarem. ‘Sempre’ é mais do que uma intenção, é a minha forma de estar contigo, porque gosto infinitamente do que és em mim sem tempo e a vida é o que abraçamos incondicionalmente com a alma e o contrário disso é a morte. Hoje sei que não há porto que me abrigue o desassossego infinito em que te revisito e viajo. Desassossegam-me coisas simples como o brilho dos teus olhos escuros quando amas apaixonadamente. Porque há uma luz que só eu conheço em ti e tu em mim, antes e depois de nós. Hoje sei que, em mim, nenhuma tempestade é mais forte do que o Amor. Só a tua falta de fé me condena ao passado.

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Indisponibilidade

J.M. Barclay

"...Agora vê que há momentos em que é impossível o amor. É impossível abrir o coração quando nem se sabe onde ele anda. É impossível pensar em dar, ou mesmo em receber, quando há apenas cansaço. Quando a palavra esforço entra na equação. (...) Agora ela olha para trás e acha que, quando duas pessoas se apaixonam e começam uma relação com uma disponibilidade completamente diferente para o amor, uma das duas vai herdar um cansaço que não é o seu. Sabe agora que o amor pode muita coisa mas não pode tudo. Pode adiar o cepticismo, pode contornar a sensação de fracasso, pode entusiasmar-se durante uns tempos, mas se começar cansado, vai acabar cansado.(...) Porque, agora, sabe que sim, o amor também é uma questão de disponibilidade. Que nem sempre se tem."

Patrícia Motta Veiga

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Sem passado II

Autor desconhecido

A segunda vez que morri, fui estrangulada pela tua partida magoada e sem regresso e não paro de morrer no nada em que nos encontramos desencontradas em coisas que não queremos e coisas que não sabemos por no lugar. A dor que te atrapalha ainda, tornei-a minha dor também. No passado ficou tudo e esse tudo é muito por cumprir e, por isso, morro todos os dias pela oportunidade que não tive de curar-te em Amor. Guardo em mim o abraço interrompido e sinto em ti o passado mal resolvido e o medo das saudades que não te morreram. A minha morte é a tua ausência nos meus braços. A tua vida é querer outros braços que não os meus. O meu passado é a vontade de perdão do Amor. O teu passado é a dor de amor eternamente revisitada. O presente, por comparação, é nada.

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Sem passado I

Autor desconhecido

Já adoeci vezes sem conta de saudades e até delas morri duas vezes. Da primeira vez morri de copo vazio na mão quando tu partiste com o teu meio cheio. E o vazio tomou a forma do que me faltavas, desse amor que não se esquece, não se apaga e não chega ao fim. E, vazio do que não te tinha mas cheio desse infinito e do teu lugar em mim, o meu copo não quebrou. E tu voltaste-me um dia. E eu limpei a dor em que morri na tua ausência e abracei-te sem sombras no passado, abracei-te como da primeira vez em nós e, nesse mesmo instante, o Amor curou-me as cicatrizes e renasci contigo num presente a construir. Abracei-te tudo sem a dor do passado a pesar-me nos meus braços, senti a tua força segurar-me em cada passo e o Amor aninhar-nos para além da dor das saudades em que fui juntando todos os pedaços de nós que me ficaram entre a carne e a alma. Porque o teu sorriso vence-me, porque o brilho dos teus olhos no encontro dos meus cura, porque és TU e tu serás sempre um beijo infinito nos meus lábios incondicionais.

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Demais

Geert Goiris, White

Amei demais, pensava eu para me explicar o tombo e a minha morte depois de ti. Amei demais, desculpava-me eu para encontrar paredes onde me agarrar para levantar-me do chão. E em todas as paredes havia sombras e nenhum sol com calor suficiente. E as saudades dos anos por onde passei contigo encontrei-as espalhadas em todas as ruas e em todos os sítios onde não consegui voltar porque tu e eu, para sempre, ali moramos. Amei demais, julgava eu, e tudo o que dei perdi por amar demasiado. Mas enganei-me. Depois de tantos anos à procura de ti e de mim, não pode ter sido por amar demais que nos perdemos, porque o Amor não tem medida, é a proporção divina. Demais foi a nossa imperfeição humana que, tão estupidamente, nos tornou pequenas para abraçar esse Amor que nos chora ainda por ser, em ti, distante e, em mim, tão infinito. Amar demais é um pensamento banal e nós, ainda que imperfeitas, nunca seremos banais uma na outra.

domingo, 4 de agosto de 2013

Milhares de razões

Britta Jaschinski

Gostava tanto de poder dizer que te encontrei. Gostava tanto de dizer que passei por ti entre milhares de gentes e os meus olhos te encontraram e em ti ficaram. Gostava de ter passado por ti e atrasado o passo para poder guardar-te em pormenores infímos, para hoje ter mais para recordar-te. Gostava tanto de ter sido eu a encontrar-te na vida e não fui. Foste tu quem me encontrou. E essa é a minha eterna dívida contigo que nunca poderei pagar, porque soubeste encontrar-me, eu que te procurei tanto e por todo o lado e não consegui. Depois 'foi fácil' ficares em mim para sempre e 'sem remédio'. Ainda hoje te encontro o sorriso da primeira vez que nos vimos. E, às vezes, quando estás distraìda e baixas a guarda, os teus olhos incendeiam-me na mesma ansiedade dos tempos em que fomos infinitas. Tenho milhares de razões para encontrar-te e sentir-te hoje em mim, as mesmas que, um dia, nos fizeram para sempre. Nenhuma delas mudou, nenhuma delas esqueci.

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Floresta

Gerhard Richter

Lá longe havia pontes que atravessávamos vezes sem conta para nos encontrármos sempre a meio caminho. Nesse longe havia forças combinadas que nunca nos abandonavam, mesmo com ventos fortes nos nossos corpos desabrigados. E andávamos depressa e nunca nos cansávamos. E nunca caímos da vontade de sermos infinitas porque nunca soubémos ser, uma na outra, de outra maneira. Lá longe nunca nenhuma tempestade nos deteve porque sabíamos sobreviver escutando o coração. E não sabíamos desistir do que sentíamos porque nos ouvíamos com alma e tínhamos sede do que dizíamos com o olhar. Este tudo eu sei de cor e ainda sou eu, ainda é a melhor parte de mim. O resto são apenas árvores arrancadas do chão nos dias de tempestade. As pontes desapareceram mas a floresta mantém-se de pé, viva e renovada.

quarta-feira, 31 de julho de 2013

Dia a dia

Wolfgang Tillmans

Desapareceu nas palavras que nunca ouviu. Desapareceu no tudo que calou. Desencontrou-se do que não deixou à espera e perdeu-se do que encontrou. Não partiu, não voltou. Desapareceu num tempo que não aproveitou. E os dias passam como têm de passar, feitos de passado e de presente, e desaparecem também. Tudo é tão frágil como a própria vida. E só a intensidade do sentir é força para segurar por inteiro, em vida e para além da morte.

terça-feira, 30 de julho de 2013

Acreditar


Gabriel Benaim

"A intensidade com que se é esmagado não importa. De facto o que importa é a intensidade que nos resta depois de sermos esmagados."

 Gonçalo M. Tavares

domingo, 28 de julho de 2013

(es)correndo

Mia Minor

O relógio chegou mais depressa do que eu. Odiei os ponteiros, os carros, os caminhos. Tentei voar, mas não me cresceram asas quando foram precisas. Não sou um anjo na terra e o meu corpo, gota a gota, assim o confirma. Odiei o relógio, o Tempo e o desencontro. Porque cheguei atrasada aonde a minha vontade sempre esteve e permanece, nunca esgotada em mim.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Prova material

Ricardo Machado

5 segundos!... Que não chegaram a ser.

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Em quem não sobra o perdão

 
Anton Okički

Sentou-se no seu canto à espera de envelhecer. E depressa envelheceu, mais depressa do que o normal. Cresceram-lhe cabelos brancos dentro da cabeça e o olhar foi ficando baço até que perdeu toda a luz que antes o transbordava. Deixou de ver, de falar e de sentir também. Ficou quieta no mesmo sítio até não lhe sobrar mais nada de juventude, como quem desiste da inquietude da vida e abraça a tranquilidade da morte por antecipação, incapaz de assumir o risco e o desconforto dos dias incertos. Envelheceu uma vida dentro da sua própria vida por opção. E enquanto vai desaparecendo de si mesma, segura de mão fechada ressentimento e o desperdício de acreditar que tem outra vida para viver. Olho-a à distância, tento chegar-lhe e caio sempre no chão, magoo-me. Já parti, por ela, vezes sem conta o coração.

terça-feira, 23 de julho de 2013

Resumo

João Castilho, Linhas

A meio da noite, na escuridão de quase nada, havia, contudo, uma história maior interrompida. Mas nenhuma quis reparar. Deixaram-se morrer presas numa armadilha de teimosia, paralisadas e surdas, sem querer chegar a um abraço.

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Sem lados

Sharon Johnstone

O Amor é como uma bola, é redondo, não tem lados. O amor não quer ter razão, quer dar-se e ser retribuído em partes iguais. O Amor não quer fazer braço-de-ferro com quem ama, só tem braços de ferro para abraçar. O amor é justo, não tem ângulos nem pontos de vista. O amor não divide, une quando está dividido. O Amor não compete por um lugar nem disputa o lugar que ocupa, nivela altos e baixos. O Amor não impõe nem se impõe. O Amor não se põe em bicos de pés para poder chegar. O Amor não se cala, fala mais alto do que  vozes desencontradas. O amor não é dois 'eus', é um 'nós' aprendido e guardado. O Amor não tem lados, é redondo como o brilho no olhar de quem o sente realmente incondicional.

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Em falta...

Bertil Hansson. Red, 2010

Braços que carregam, que seguram sem cansar. Braços que não deixam cair e que apanham do chão se chegar a cair. Braços que não se viram de costas quando o frio lhes chega. Braços que, em dias do avesso, surpreendem e estremecem o corpo de quem amam. Braços que esticam até à alma para dissolver tempestades. Braços que abraçam simplesmente e secam lágrimas. Braços que esperam outros braços esticados e que, unidos, alcançam o inalcancável. Braços com a força de montanhas por quererem demasiado. Braços que são a força na fraqueza da ausência de palavras. E nesses braços, os abraços são tudo na alma em abandono, porque dizem pele na pele e debaixo dela 'estou aqui porque quero estar, porque tu és em mim todos os lugares no mundo'. Abraços que são Amor quando faltam as palavras.

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Nem de um lado nem de outro

Nuno Borges

Dizes que não sabes mas afirmas-te quase sempre como se tivesses em ti todas as certezas do mundo. Porque te conheço para além do que 'não sabes' acho que não sabes porque tens medo de saber-te. Eu sei e sei-me. Procuro, não temo as minhas próprias perguntas, confio, duvido e revejo tudo o que aprendi. O que é conveniente não me serve, nunca me serviu. Tu não sabes do que estou a falar porque escolhes não querer saber. Mas eu conheço-te muito para além disso e sei que és mais do que afirmas e te conheces. O resto 'não sei, sei lá'... nem me interessa.

terça-feira, 16 de julho de 2013

Dizem

Anabark, Auto-retrato [Out. 2012]

Procurei nos cantos, no chão da casa e até em cada rua por onde passei. A cabeça que perdi não voltei a encontrar. Não faz mal, não me faz falta. O essencial mora na alma, dizem...

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Chão de papel

S. Richardson, 'Balloon'

Da festa ficavam restos das horas em que o tempo se perdia sem dar por isso. Passos de despedida tropeçavam em fotografias do chão que, antes, era de dança e que, agora, só as partículas de pó colorido deixavam adivinhar essa vida anterior. Agora o chão desfazia-se ao som da voz como se as palavras fossem pedras arremessadas contra montras de papel e tudo nele se desequilibrava e caia, a música, as coisas, as horas, as memórias. Nos buracos abertos formou-se um abismo do que ficava por dizer e nesse vazio foram-se arrumando aos poucos... até que o silêncio as engoliu para sempre na indiferença.

sábado, 13 de julho de 2013

Sem música de fundo

Michael Van Ofen

Às vezes as palavras não nos encontram o tempo nem o tom certo. Às vezes ficamos perdidos na voz que não sabe dizer, nem talvez sentir, o que por dentro nos estremece. Às vezes somos apenas silêncio como música de fundo. E no silêncio deixamos de ser mas não morremos. Perdemos sem ter encontrado, acreditamos tudo e nada ao mesmo tempo e ficamos surdos também. E não são as palavras que nos salvam mas a honestidade que as trespassa e que deixamos chegar ao coração. Porque há coisas que, sentindo, não dizemos por não saber dizê-las correctamente. Escolhemos o silêncio. Calamos tantas vezes o que sentimos porque gostaríamos de o dizer com a eloquência e o ritmo das batidas de coração. E outras vezes calamos, porque são surdos os ouvidos que não sentem.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

A importância de 'nunca'

Seth Casteel

Nenhuma palavra é mais injusta do que a palavra 'nunca' porque ela obriga a um quase juramento e compromisso imediatos que, amanhã, poderemos não conseguir cumprir, porque o mundo mudou de lugar, porque nós mudámos em nós mesmos, porque deixou de fazer sentido, por milhares de razões. Mas existe, em mim, um 'nunca' que é uma verdade absoluta, quando nem o coração nem a alma sabem mentir: o que nunca fiz! Esse 'nunca', mesmo que ninguém o acredite, e por muito que me acusem do contrário, vale em mim a maior certeza de mim mesma, porque essa inocência me pertence de corpo e alma. Mesmo que me afogue nela.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Cativa


Tocou-lhe suavemente a pele e a marca dos dedos ficou lá. Ficou cativa, como quem fica preso na alma por um fio de uma força invencível, que ninguém se atreve a desenrolar. Os dedos, as mãos, o corpo desapareceram, mas a pele tocada relembrará sempre o doce enredo de quem lhe tocou, para além do corpo, a alma.

terça-feira, 9 de julho de 2013

Cinzento

Werner Branz

- Uma memória vaga da última noite que até podia ser a noite passada! - disse de voz esvaziada no tom, quase cinzenta, e virou as costas. O quarto encheu-se de nevoeiro e os olhos, perdidos nessa distância, não voltaram a encontrar-se no que alguma vez tiveram.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

O poder das palavras

Web

Há palavras que caem no chão porque as ouvimos numa linguagem que não somos capazes de entender...

sábado, 6 de julho de 2013

Ar de lume

Mark Mawson

À noite, ao entrar no quarto, cheirou-lhe a incêndio e não havia nada a arder. Desfez a cama, abriu a janela e esperou que a lua entrasse. Não adormeceu nem tentou dormir. Viu as horas passar e os dias também. A lua deixou de deixar ver-se da janela aberta e ar de lume espalhou-se por toda a casa. E não há fogo nem vontade de dormir.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Do céu para debaixo do chão

Robert Vizzini

Foi num filme antigo, em technicolor, que elas se desencontraram, a olhar para cima, não para o céu mas para o topo do arranha-céus. Muito tempo passou, o filme envelheceu e elas perderam-se para sempre na esquina oposta da mesma cidade. Sobreviveu-lhes o arranha-céus e nem a saudade que as encontrou é livre de ser vivida, porque agora são enredo de cinema negro: os polícias são ladrões e não há heróis numa história de passado contada em voz passiva.

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Águas paradas

Tito Mouraz

Já foi mar, um oceano sem fim por onde toda a fé do mundo nos navegava. Já foi esse azul infinito sem estações do ano onde o céu, sempre iluminado, se espelhava. Já foi uma vontade mais forte do que, no mar e na terra, todas as tempestades. E foi por vezes cabo das tormentas mas sempre da boa esperança, a noite e o dia como tudo na vida é. Foi o que pode ser e o que o verão bruscamente interrompeu pelo que escapou aos sentidos. De todo o mar que o tempo não cumpriu, ficou um buraco de pedra sobreposta em camadas. E, no fundo, um lago de lágrimas, onde a alma deserta lutou para não se afogar. Já foi mar onde, hoje, são as águas paradas do naufrágio do amor.

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Nudez

Baptiste Léonne

Despia a alma a custo. Nunca tinha ficado nua para além do corpo. Escondia na nudez da pele o longe que a habitava dentro, onde ninguém chegava sem voltar para trás de tão perdidos no caminho. Ficava nua sem nunca despir quem era. Foi a primeira vez, e talvez a única, numa vida inteira, que deixou espreitar o que, de corpo nu, nunca foi capaz de revelar. E ninguém reparou.

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Teoria das possibilidades

Akos Major

Entre a terra e o céu tudo é uma possibilidade. Todas as paisagens se tocam no longe e no perto, apenas o tempo é uma miragem. Até o fogo e o gelo se encontram como princípio e fim de vida. Tudo podemos ser e não ser no que a Natureza nos combina.

terça-feira, 25 de junho de 2013

Real valor

Anastasia Zavalo, Chairs

E se tudo quanto existe fosse apenas impressões digitais únicas do Tempo, quanto valeria uma mancha numa parede de memórias ou as partes de uma história antiga desarrumadas pelo chão? Que valor teriam as ruínas de uma casa em nós há muito tempo desabitada?...

terça-feira, 18 de junho de 2013

Um dia?...

Alessandro Puccinelli, Mare Series -Cascais, Portugal

- Não sei, sei lá!

terça-feira, 5 de março de 2013

Neste dia aconteceu...

João Castilho, Série 'Temperos", 2009

... o fim da espera, o irrepetível quando se ama uma vez na vida...

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Sem mais nem menos...

João Castilho, 'Tempero' Series, 2009

...num instante o infinito.