segunda-feira, 20 de julho de 2009

Momentos abstractos

Petem, Vase, 2006

Tenho dias. Às vezes não sei se existo, se sou ou estou naquilo que muda o sentido do verbo ser para o verbo estar. Tenho dias. Por vezes acredito que sou infinita e que tudo à minha volta é infinito. Tenho dias. Outras vezes sou matéria e vivo um dia de cada vez, porque aprendo que a vida é uma sucessão de dias e não um plano estável, definido e acabado, que cumprimos com rigor ponto por ponto. Tenho dias, mas todos eles contigo e a viagem das horas, sabendo-te comigo, acontece-me lúcida, transparente como água pura de uma nascente do centro da terra que só a natureza tocou. A essência dos meus dias é a certeza de tudo o que existes em mim nesse estado de tal forma translúcido que caminho a noite dos dias desencontrados de lógica sem chocar de frente com o abstracto, porque amar é o oposto do abstracto, é uma linha que desenhamos contínua num espaço com margens de infinito. Assim te desenho eu, em cores de vida todos os dias.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Dias sem geometria

Peter Sussex, Ashtray on the floor, 2007

Passam dias demasiado voláteis, quase translúcidos, feitos de matéria impalpável que só a alma toca e segura. Passam dias em que me escondo em ti do mundo e, nesses dias, deixo-me ficar quieta, imóvel, sem tocar em nada para que o encanto não se quebre e as cores não desapareçam e se instalem os cinzentos infinitos que nos vigiam como aves de rapina do lado de fora do que é nosso. Nesses dias suspensos, quase mágicos, pelo desafio de não obedecerem às leis habituais do espaço e do tempo, gosto de te observar sem dares conta, como fazem os anjos invisíveis que, supostamente, olham por nós no alto dos edifícios. Nesses dias tudo fora de ti é superficial, monótono, plano. Procuro-nos, sobretudo, a irregularidade porque nos dá graça e consistência em três dimensões. Procuro-nos a relevância dos planos a partir de dentro, porque assim existimos fora do desenho, para além da projecção. Interessa-me essencialmente a realidade em que tu e eu somos percurso e linha do horizonte.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Natureza curiosa

Natebol, A curious nature, 2009

Porque a curiosidade é sempre um acto espontâneo em qualquer aprendizagem, é essencial observar, integrar e compreender. Somos mais se estivermos atentos. Somos nós por nós mesmos e mais aquilo que nos acrescentamos todos os dias pelo que sabemos aprender através do olhar curioso e espontâneo sobre todas as coisas. Assim é viver. Receber e dar, desinteressadamente, ao mundo o que sabemos em diferentes cores. A vida é assim… tudo a condizer.