segunda-feira, 27 de abril de 2009

De ontem até sempre

Howard Chu, Clarity contraste texture, 2005

Olho sempre em frente, mesmo quando nos visito o passado... Gosto de voltar atrás e seguir os passos que nos trouxeram até aqui e nos hão-de levar por diante até onde o tempo deixa de ter a importância terrena que orienta os dias de toda a gente. Gosto de reencontrar-nos no passado e de reconfirmar a escolha com a intensidade de quem renasce com um sentido definido. Gosto de sentir-te todos os dias com o entusiasmo da primeira vez. Gosto desse regresso ao passado pela oportunidade de projectar-nos o sempre em que nos reconhecemos indivisíveis. Desculpa se sou obsessiva na insistência do que nos recordo, mas não conheço maior expressão de amor senão aquela que revive o encontro de almas em eterna celebração.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Boca a boca

Oleg Moiseyenko, The Kiss, 2004

Em cada beijo a vontade do mundo inteiro contigo lábios nos lábios. Tenho pressa de te beijar tão infinitamente quanto a força do abraço que o Amor me imprime. Em cada beijo carrego a vontade de beijos que não sei adiar, porque o Amor nos torna inadiáveis. Porque o Amor é urgência, é não querer guardar nada para o dia seguinte. Porque no Amor o mundo acaba hoje e tenho a pressa de viver-te tudo num só dia. Porque amanhã é sempre hoje e assim sucessivamente, o último dia da minha vida. Nós em absoluta urgência para o resto da nossa vida. Porque o Amor é o sabor da eternidade no beijo inevitável que nos perdura.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Margem de manobra

Yes But, Bubbles, 2008

Somos de tantas formas e feitios que, às vezes, nos baralhamos por dentro com estilhaços à superfície. Mas a vontade de marear é infinita e o impulso que nos torna fortes e invencíveis tem o estranho nome de Amor. Para quem ama nenhum mar é impossível. Os erros são hipóteses de aprender mais e melhor, são a margem de manobra que nos resgata de uma perfeição monótona e moribunda. Se soubéssemos tudo estaríamos mortos por dentro e mergulhados na indiferença do lado de fora. Sei que pouco ou nada sei, a minha imperfeição é ilimitada e os meus erros desprezíveis como todas as coisas incorrectas e fora de lugar. Mas carrego em mim uma vontade tamanha de aprender-te e de crescer e construir-nos como história intemporal. Sei o infinito que és em mim, sei que sem ti não sou, apenas existo numa deriva insustentável. Quero-te com a intensidade de quem luta pelo sopro de vida em cada fôlego. Querer-te é acreditar que estou viva e não tenho idade, porque tu existes e tu, em mim, és imortalidade.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Debaixo do chão que nos segura

Mattana, Orange Glows Series, 2004

São raízes o que mais importa e raízes são certezas que nos prendem à terra não onde nascemos, mas onde descobrimos que pertencemos. São as raízes que nos fazem crescer seguros e ganhar a força necessária que nos torna vivos e não apenas seres indiferentes. Viver é criar raízes de dentro para fora e esticar os braços cada vez mais amplos ao mundo que nos dá cor. A raiz que me faz nascer de ti é esta certeza de que sou mais contigo do que fui comigo apenas. Porque ninguém se cumpre sozinho e mal acompanhado. Porque sozinhos somos companhias viciadas de nós mesmos estagnados. Porque crescer é saber dar e receber. Amar com certeza. Sentir raízes é acreditar que nunca morremos realmente porque alguém nos ama com a mesma força com que nos entregamos. Cresço em ti e tu em mim como chão fértil desta certeza abraçada pelas raízes que o Amor nos entrelaça como artérias de sangue vivo.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Azul feito de flores

Mattana, Dahlia I, 2004

Hoje trago-te uma flor, não porque seja primavera e porque haja flores a anunciar a estação. Quero apenas que saibas as cores que vou absorvendo por cada vez que te lembro e te regresso, que te adormeço e te desperto, que respiro o que somos apaixonadamente sem qualquer interferência das estações do ano. Hoje, dia em que choveu gelo a meio da manhã, sobre o chão da Primavera, trago-te uma flor intemporal, que segura nas pétalas a frescura da eternidade que nos prometemos dia após dia. Não precisamos de mais quando encontramos por dentro, uma flor sem tempo, que floresce todos os dias sob temperatura tépida do Amor que cuidamos com fogo de alma em corpo escaldante e húmido.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Apenas o essencial

Polyvios Stylianou, 25-09-2004

Não há nada que nos falte quando temos o essencial. Porque o essencial é tudo o que realmente nos faz falta. E quando sabemos o que nos é essencial todas as medidas e dimensões se acertam pela referência que assumimos como única e fundamental. A certeza do que temos é um bem escasso e nele depositamos toda a força e vontade do ser e da confiança. Nada nos derruba, nada nos torna fracos, nada nos diminui porque nos construímos na dimensão do essencial. O Amor. A medida da felicidade. Para isso nascemos, crescemos e procuramos. Para isso vivemos, porque a vida é apenas isso e nada mais para além desse bem essencial. Porque até depois da morte continuamos a amar quem não está, quem partiu, quem nos ficou por dentro sem tempo. És-me essencial e o que somos é a vida plena, tudo o que vale a pena. Porque te procurei desde que nasci em tudo o que existi para te encontrar. Porque a minha certeza é tão definitiva quanto o amor que me descobri ser capaz de dar. O meu essencial é o que crescemos em altura neste sentir absoluto lado a lado. A tocar o céu sem nuvens, embrulhadas num infinito azul feliz.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Ponto alto

Brent, Minneapolis Institue of Arts, 2009

Por todos os caminhos, os passos que me acompanham são os da vontade de te chegar sempre mais depressa do que, às vezes, consigo andar. Por isso caio e perco tempo pelo chão. E levanto-me e volto a cair e assim sucessivamente. Ainda que os acidentes façam parte da caminhada, a vontade em mim é sempre urgente e, por isso, desespero durante as quedas e desequilibro-me ao levantar. Porque quero correr para ti antes de por os pés no chão. Se pudesse voava, mas ninguém me ensinou a flutuar. As minhas asas não o são ainda, por isso, desculpa, meu amor, o barulho que faço quando caio por terra sem cair em mim. Um dia viajarei tão suavemente os caminhos ao teu encontro, que só nos ouviremos respirar o vento em que o Amor, constantemente, nos embala num vôo sem espaço nem tempo, infinito como o desejo de voar.