sábado, 31 de janeiro de 2009

Ao céu subiu uma estrela

Jardim de estrelas (Shiba Sakura - Japão)

Antes de ontem o teu mundo ficou mais pequeno, e o meu também. Antes de ontem o mundo inteiro perdeu um sorriso do tamanho do mundo e ficou menos do que era antes de antes de ontem. Ontem acordámos mais pobres, mais despidas, mais transparentes e mais rentes ao chão do que somos sob a contemplação das estrelas que, na terra, adormecem para acordar no céu. Ontem démo-nos conta que somos muito pouco no infinito mistério da vida, mas também aprendemos que o muito pouco que somos, às vezes, faz a diferença na vida do muito pouco dos outros. Ontem choviam tempestades desde a alma ao céu. Hoje o sol brilha como se nada tivesse mudado a não ser a nossa consciência de que o que importa verdadeiramente é amar todos os dias como se fosse o último, viver nesta urgência, percebendo, a cada instante, quem faz a diferença no que somos e no que queremos ser para ser felizes. Hoje à noite, quando olharmos as estrelas, uma delas reconheceremos pelo sorriso que, em nós, nunca se acaba.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Revelação

Firstbrook, The great hall, 2008

Celebro tantas coisas em ti, mas, talvez por egoísmo, festejo aquilo que não te descobriste noutros tempos para me chegares com a maturidade de quem viveu e encontrou a essência que se adivinhava. Celebro a descoberta pelo valor acrescentado que ela representa num percurso intímo que só depende de nós próprios e do que estamos dispostos a apostar para nos cumprirmos. Celebro o momento que te disseste que sou mais do que apenas o que tenho por agora. A luz que deixamos entrar, nesses momentos raros de lucidez, plena fazem a diferença entre viver realmente e o existir por existir. Porque a felicidade depende da capacidade de nos assumirmos perante a vida, de nos permitirmos sentir inteiros, dessa liberdade que aprendemos, pouco a pouco, de ser o que somos verdadeiramente. Tudo aquilo que nos acrescentamos livres faz-nos crescer por dentro. Quando sabemos quem somos é mais fácil encontrar o que nos faz falta. Ser feliz é encontrar o que nos desejamos instintivamente. Celebro-te a coragem de não desistir de procurar o que sempre quiseste para ti. Celebro o estarmos aqui nesta forma completa de quem está por muito querer.

sábado, 24 de janeiro de 2009

Sem desvio

Adrian Reilly, One Way, 2006

Em todas as paredes dos lugares por onde passo, vou escrevendo o teu nome no seu verdadeiro sentido e não com as letras que o formam. Por todas as estradas, caminhos ou encruzilhadas, vou deixando pistas da direcção que te escolhe sempre antes de tudo. Em frente é por onde vou, sem memória de outra coisa senão aquilo que vivi para te encontrar. Em frente sem passado senão aquele que me esculpiu o sonho e o tornou palpável. Caminho na linha recta do indefínivel e assim te partilhas na mesma caminhada. O Amor, que ninguém sabe definir senão por aproximação, é uma estrada de sentido único sem desvios e a vertigem da velocidade de querer ir mais longe e ter mais história partilhada. O Amor, que não tem peso nem contorno, é uma direcção irreversível. Não seria Amor se nos distraíssemos a olhar para trás.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Partida, largada, fugida

Jeroen Bosman, Softning up, 2006

Anda comigo, tenho o mundo para te mostrar e o universo à nossa espera. Vem daí, vem comigo pela terra inteira à conquista do que é nosso por direito absoluto: o infinito. Dá-me a mão e acompanha-me por todo o lado, porque tudo nos pertence, tudo é nosso e nós somos o tudo que percorrermos, lado a lado, num passo único e seguro. Corre livre neste passeio pelo tempo que temos emprestado e sê comigo tudo o que sonhas e o que te queres cumprir. Vem com vontade de saltar em altura e comprimento aquilo que não nos faz falta e que nos faz perder tempo no caminho. Juntas somos uma cuja força ninguém virá que dome.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

De corrida

Yannis Logiotatides, Stair, 2008

Neste intervalo, que não tenho mas que invento para te chegar, confesso que as horas do dia acontecem mais plenas nos instantes em que te sonho e me sonho contigo. E sorrio. E tudo o resto me parece insignificante pelo que lhes falta de nós. Porque tudo o resto acontece num contra-relógio para te voltar. Neste intervalo, que o tempo real não me permite, mas que eu insisto em inventar, regresso-te vezes sem conta e, em ti, descanso da corrida, das subidas e das descidas, e em ti permaneço o tempo suficiente para recuperar a força necessária para dar a volta e fazer tudo o me falta para te poder voltar de alma inteira e corpo sedento do teu abraço. O coração fica sempre contigo, aninhado, à espera de nós no mesmo espaço. E sorrio, contente, por ser assim, sempre eu em ti e tu em mim.

domingo, 18 de janeiro de 2009

Provavelmente a eternidade

Anabark, Tempo (DEZ08)

No que o tempo acrescenta à paisagem, encontro-te, camada sobre camada, com a consistência da pedra que conta a história de muitas vidas passadas junto ao mar. Em mim és sem tempo, ou melhor, talvez sejas o próprio tempo, o tempo que eu conto e desconto, a medida de todas as coisas em que aconteço dentro e fora de mim. Talvez o infinito coincida com este fora de tempo em que te sinto e vivo. Talvez eternidade seja esta paisagem alterada pelo tempo em camadas. Há em nós uma inevitabilidade demasiado grande para caber no tempo. Porque o Amor e o tempo são duas dimensões diferentes. Por vezes tocam-se e deixam marcas na alma que nos sustenta o corpo. Mas o tempo passa e acontecem mundos diferentes por entre as horas que se desenrolam. O Amor transcende o corpo porque acontece no universo da alma. E tu, nesse universo em mim, és imortal.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Celebrando...

Always (a partir de 'Mutts 3: Mais Coijas), 3º Aniversário (JAN09)

Sabes qual é o meu maior desejo no dia de hoje?
Que multipliquemos infinitamente os 3 anos que temos.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Pela chuva

Ackerl, Out there!
Em frente aos olhos um jardim suspenso, onde o verde se afoga nos lagos que a chuva deixa à superfície da terra saciada pelo inverno. E, hoje, tenho sono. A chuva que, lá fora, nos torna o dia desconfortável, surpreende-nos em diferentes esquinas da alma. As mãos e corpo gelados aguardam momentos de agasalho, enquanto vai anoitecendo no jardim. Não sei onde estou. Cá dentro e lá fora, tenho frio e sono e sei que não estou em mim.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Minimal

José Pinto, Gamelight, 2004

Enquanto, no meu colo, aninho a espera do tempo que conto e desconto para que chegues com a mesma pressa com que te espero, vou alinhando o sentido das palavras que quase nunca chegam ao que eu lhes projectei. Sei que, neste espaço de perda entre o que se pensa e o que se quer dizer e o que se lê e se interpreta, falho muitas vezes em dizer exactamente como sinto e não o que sinto. Porque o que sinto é mais fácil de dizer. Como o sinto é uma visão calesdoscópica de muitas coisas ao mesmo tempo que, embora tente, não sei dizer num sentido único, sem margem de erro interpretativo. Por mais que organize um sentido e uma geografia precisa na cadeia de palavras que me ocorrem para falar de ti, sei, com toda a certeza, que as palavras têm vida para além de mim, no que tu lês e nem sempre escrevi. Aqui e agora, tenho três palavras inequívocas para te acordar amanhã de manhã: tu, amor e sempre. Assim, de forma minimal e sem ambiguidade.

domingo, 11 de janeiro de 2009

Mais do que palavras

Barbara Heide, Sous influence ou inspirée, 2006

Está escrito em todos os livros, em todas as línguas, mesmo nos livros que não são livros e em linguagens que não são línguas. Está escrito numa forma universal de comunicação. Está escrito com uma força contra a qual não existem leis nem sequer a ausências delas. Está escrito em todas as cores e em todos os tamanhos. Está escrito de trás para a frente e da frente para sempre. Está escrito simplesmente, na medida exacta do que se sente. Do que sinto. E o que sinto não sei dizê-lo de outra maneira nem ser mais convincente. Sinto-me inteira, sem fim, verdadeira. Não procuro mais do que o que sinto e o que encontro em ti. Não quero mais do que o tamanho infinito do que abraço em ti. Porque não existe mais para além disso. Mas nada no Amor é suficiente e ainda bem. Por isso, não quero mais nada para além de ti e tudo me parece pouco. Sabes porquê? Porque tu és a minha vontade de sonhar o infinito e, não querendo nada, tenho contigo todos os sonhos do mundo para cumprir. Perdoa-me se te parece impossível, mas acredito numa escala de tempo que poucos compreenderão, o que é irrelevante. Basta que tu me acredites da mesma forma em que projecto a nossa eternidade.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Decrescer

Firstbrook, With an icy blast of breath Stan brings the car to a standstill, 2008

Se tivesse escolha, se tivesse o privilégio de decidir pelo que me apetece e não pelo que tem de ser, se fosse realmente livre como ninguém o é completamente, tirava o dia e ia brincar com o frio, à procura de bonecos de neve em ruas onde não neva, num carrinho de brinquedo e um gato, um cão e um lobo amigo por companheiros quentes de brincadeira. Gostava tanto de ser um desenho animado!...

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

De baixo a cima

Yannis Logiotatides, Alpen Mountain, 2008

Hoje, que viajei até ao mais profundo do centro da terra, apeteceu-me o tempo todo andar nas nuvens e vigiar a paisagem lá de cima, como os anjos, supostamente, têm como missão, nem sempre bem cumprida. Agora que o dia caminha mais lentamente, regresso ao meu infinito pessoal, o abraço do Amor, firme como as montanhas que nos observam desde o princípio do mundo.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Fado

Agnes T. Ackerl, Depressed

Sem mais nem menos, somos confrontados com a fragilidade da vida. Neste dias, irreversíveis, que começam mal e não chegam ao fim, porque o que era não voltará a ser, percebemos que somos muito pequenos e insignificantes. Aprendemos pouco ou quase nada. Amanhã, quando acordarmos, somos feitos da mesma matéria e teremos sorte se acordarmos. Haverá quem não acorde para o dia seguinte e uma tristeza intrínseca nos que são tocados pela ausência. Deveríamos aprender algo, uma lição de vida. Passear os olhos tristes é muito pouco perante a urgência da mensagem: temos pouco tempo, seria um desperdício viver a adiar as coisas importantes da vida. Há que aprender a valorizar, a hierarquizar e a viver à escala humana.