terça-feira, 31 de outubro de 2006

Halloween

"...Yet year after year, it's the same routine
And I grow so weary of the sound of screams
And I, Jack, the Pumpkin King
Have grown so tired of the same old thing..."
The Nightmare Before Christmas» - Tim Burton, 1993)

Aimee Mann - Wise Up


"...It's not going to stop
'Til you wise up
No, it's not going to stop
So just...give up"

segunda-feira, 30 de outubro de 2006

Adoecer-te

Anabark, Memória (MAI06)

A última vez que me falaste de ti disseste que te adoeci...
A acreditar nas tuas palavras, adoeci-te profundamente (e a mim também) e isso não me posso perdoar. Há oito meses atrás nunca acreditaria que a pessoa que eu sou alguma vez pudesse magoar a pessoa por quem me apaixonei perdidamente. Hoje, os factos falam por si e falam mal de mim. Quem eu sou fez-te mal, o meu toque tornou-te frágil. Fui a tua doença, a tua ‘morte lenta’. Tive tanto cuidado – nunca na vida tive tanto – e de nada me valeu . Fui veneno. Fui vil. Fui ‘nao-eu’, ou melhor não sei quem fui mas não fui eu porque eu não sou uma doença!... Vivo agora com o sabor do mal que fiz sofrer. Vivo sabendo que ficaste pior do que antes mim, mesmo quando me dizes que fui a tua "mais bonita história de amor" e que 'provavelmente não voltarás a amar assim'. Vivo triste e viverei, porque, depois de tudo o que vivemos, não acreditas nesta minha dor que é tudo menos passageira.

Não tenho palavras novas para te convencer de que te quero bem e que tudo o que disse, pensei, desejei, foi por amor. No pouco tempo que tivemos, reconheci-te como aquela a quem gostaria de ensinar tudo o que sei e dela aprender outro tanto. E aprendi porque estiveste sempre à altura de me ensinar. Acredita em mim, por favor. Mas um dia decidiste que não querias aprender mais comigo. E eu, sem perceber totalmente os teus argumentos, fui falando cada vez mais baixinho e os dias passaram até que percebi que tinha de calar-me e assumir que não sei ensinar nem talvez transmitir uma ideia sequer do que aprendi. E um muro de pensamentos obscuros, dilemas, dúvidas se ergueu. Fechei-me num novelo sem pontas. E quando falei, disse coisas que já não querias ouvir - falei-te de amor quando tentavas esquecer o que sentias. Perturbei a tua paz de espírito, até que me calaste de vez, magoando-me de forma irremediável. A culpa pode não ser de quem ouve, mas é seguramente de quem fala, porque torna a proximidade dolorosa, porque fala quando devia estar calado, porque escolhe mal as palavras ou, muito simplesmente, porque não respeita a distância do outro. Provavelmente cometi todos esses erros.

Não sou melhor do que tu para dizer bem ou mal de ti. Não me posso armar em Deus e listar as tuas qualidades e defeitos. Pensando melhor, talvez eu devesse ter feito uma lista de qualidades quando duvidaste de mim a primeira vez. Serias tão mais feliz a esta hora (e eu também)! Fui ingénua, confiei demais. Durante todo este tempo pensei que percebias que a intensidade dos dias em que existimos uma na outra era o maior elogio que te podia fazer. Errei, pensei por mim e não me apercebi que tu não és eu e não podes ser o que eu te imaginei.

Pedir uma certeza de que o passado existiu não é pedir muito. Bastava que me dissesses, uma vez por outra, que pensas em mim para eu acreditar que a paixão que senti queimar a pele do meu corpo no teu existiu, que não foi inventada por mim. Pensei que no meu-aqui-longe-de-ti havia uma forma de adivinhares com segurança as noites e os dias em que me perdi no desespero da tua ausência. Pensei que saberias a falta que me fazes e que me importa o que vai na tua cabeça e que te quero bem. Pensei que fosse inquestionável a certeza com que te repeti tantas vezes 'és o amor da minha vida’. Enganei-me.

Não sei dizer melhor. Sei que te sinto elogiosamente na intensidade do que vivi contigo, mas apercebi-me que não sei dizer-te isso de forma convincente. Sei apenas que o que eu sou te obriga a defenderes-te de ti mesma e a recalcares o que sentes, porque queres muito que o teu corpo e o teu coração desistam de mim, porque te faço sentir algo que não sabes controlar e que causa incómodo na tua vida certinha e igual à de toda a gente. Como todos os medos, o teu é irracional, cheio de equívocos, paralisante e internamente conflituoso.

Não te escrevo para me queixar, de nada me adiantaria, só o silêncio me responde e tanto vazio entre nós põe em dúvida a tua existência real. E, se existes, alguma vez gostaste realmente de mim?

domingo, 29 de outubro de 2006

Até logo

Anabark - Second skin (OUT06)

Não há longe nem distância porque a alma vive no coração. E quando o coração deixar de bater, as almas separadas voltarão a encontrar-se numa só.
Não há longe nem distância porque o amor sobrevive na memória que não desiste por tão bem querer. E quando a memória se desvanecer, as almas reencontradas viverão para sempre nesse amor incondicional.
Não há longe nem distância porque quem bem quer é inseparável do que ama. E quando longe da vista estiver, estará perto num bater de coração que guarda a alma num sempre e em toda a parte, até à eternidade.
Não há longe nem distância, há apenas um contratempo de matéria que não é suficiente para uma ausência definitiva. No coração há janelas abertas que nunca se chegam a fechar...

sábado, 28 de outubro de 2006

Björk - All is Full of Love


"...All is full of love
You just aint receiving
All is full of love
Your phone is off the hook
All is full of love
Your doors are all shut
All is full of love!..."

Uma história de adormecer

Analogic dream... Mer-de-Glace
Era uma vez um astronauta que, depois de inúmeras viagens por outras tantas galáxias, chegou a um planeta onde encontrou um ser que em muito apresentava semelhanças com o que na terra se podia ter como animal de estimação. Podia ser um cão ou um gato. Era uma criatura diferente, talvez até estranha, mas amistosa, mostrava-se afável e de confiança. E por tudo o que a criataura lhe inspirava imediatamente se afeiçoou a ela. Ficou radiante por também a criatura mostrar sinais de afecto.
O astronauta ficou muito satisfeito com a situação. Tinha estabelecido contacto com um ser alienígena e isso era um feito notável neste e em qualquer mundo habitado, tratou, por isso, de cuidar bem da sua descoberta. E lá foi cuidando sempre o melhor que pode. Pensou que a sua missão a partir daí seria cuidar. E a criatura, aparentemente cuidada e cuidadosa, deixou-se cuidar porque pensou que esse cuidado era importante para o astronauta.
Os dias iam passando e os cuidados do astronauta tornavam-se uma rotina mais ou menos bem sucedida. Entretanto a criatura, que não era nem um gato nem um cão, interrogava-se sobre o que faria o astronauta manter tanto afinco em cuidados que, afinal, não eram tão necessários assim, e sentia-se incomodado. O astronauta olhava a criatura cada vez mais com estranheza e pensava e repensava como é que tanto empenho e afecto a cuidar poderia incomodar e, confuso, foi entristecendo. A criatura notou e ficou triste, sem saber como curar a tristeza do astronauta.
O astronauta conhecia cães e gatos e amava todos os animais. Queira o melhor para eles. Por mais que se esforçasse não entendia o desconforto e a indiferença da criatura que, entretanto, comunicava numa linguagem estranha e indecifrável. O astronauta começou a ter medo sem saber de quê. A criatura reparou e não percebeu porquê. O astronauta inventava maneiras de cuidar. A criatura inventava formas de se deixar cuidar sem esforço do astronauta. O astronauta cuidava que cuidava. A criatura queria cuidar sem nunca conseguir.
Ambos se tinham esquecido que eram apenas diferentes. Diferentes no sentir e no cuidar. E isso fazia toda a diferença das peças por encaixar. O astronauta e a criatura eram diferentes e atropelavam-se diariamente sem perceber os limites da diferença.

sexta-feira, 27 de outubro de 2006

Insónia

Anabark - Floating (JUL06)
Dormir liberta o espírito para o sonho como solta a imaginação e a vontade de ir mais além da pacatez dos dias vulgares em que acordamos para trabalhar e adormecemos para acordar e trabalhar mais.

Dormir é fundamental. Pessoas descansadas são mais doces, mais gentis, mais receptivas, mais felizes. É isso que eu quero ser. É isso que eu sonho ser se dormisse o suficiente para sonhar. The hurting time acontece também pela insatisfação do sono que se perdeu, dos olhos que não se fecharam para guardar uma imagem que nos alumiaria na alma um pensamento feliz durante a noite e também durante o dia. Porque o cansaço rouba-nos tempo e ânimo. Envelhece-nos o estar e seca-nos o sentir, 'that’s when the hurting time begins'.
Quando estamos acordados muito tempo ficamos presos a coisas sem importância, coisas que acontecem no dia a dia, irrelevantes, mas que só pelo facto de acontecerem se tornam importantes. Isto é estar cansado, é olhar só para o que acontece à nossa frente e não distinguir um segundo plano. A vida não uma tábua rasa com apenas dois pontos de fuga, dizemos para nós mas, no entanto, para além do que os nossos olhos vêem deixamos de alcançar. Perdemos a profundidade. Morremos aos poucos numa espiral de acontecimentos estéreis da qual somos o centro... 'that’s when the hurting time begins'. Ora, eu não quero morrer devagar nem na vertigem da minha própria estupidez. Ninguém quer agonizar assim.
A vida é evolução, é acreditar para além de nós, é sonhar e pôr em prática. É imaginar acontecer para que aconteça. É distrair o pensamento do dia a dia de minudências e desenhar o que não existe para que possa ser possível. Para isso é preciso disponibilidade. É preciso tempo, oportunidade. É preciso dormir a pensar nisso e não a remoer the hurting time. Tudo o que não desejo é que a almofada me ampare a tristeza de um equívoco, de um malentendido no momento de adormecer. Não há nada que adormeça 'the hurting time' nem nada que amanse um dormir revoltoso agarrado à crueldade de palavras mal ditas ou mal pensadas.
Quero imaginar uma côr diferente da noite negra. Quero dormir a pensar no verde das paisagens que nunca irei percorrer porque não existem sequer, fui eu que as criei para passear pensamentos felizes. Quero sonhar outras possibilidades de ser, de ver, de sentir, de gostar, de dormir. Quero imaginar que não morro aos poucos a perder tempo mal empregue.
E quando penso em ti, quero acreditar que não causo dôr - quero sentir que mereci tudo o que me deste como quero acreditar que entendes também o quanto te dei. Quero que saibas que não penso mal de ti mesmo achando tu que sim. Quero fazer-te saber que compreendo um bocadinho mais de ti do que tu imaginas. Conheço, talvez, até um pouco de ti que tu ainda não conheces e que só descobrirás mais tarde, quando menos esperares. Porque as verdadeiras descobertas acontecem quando deixamos de estar preocupados em descobrir milimetricamente quem somos. E por mais que nos esforcemos nunca saberemos o nosso próprio destino. Esse é o desafio que importa.

quinta-feira, 26 de outubro de 2006

U2 - Stay (Far Away, So Close!)


"...If I could stay... then the night would give you up.
Stay then the day would keep its trust
Stay with the demons you drowned
Stay with the spirit I found
Stay and the night would be enough..."

Lisboa - Porto - Lisboa

Adolphe Menjou e Marlene Dietrich em Morocco (Josef von Sternberg, 1930)

É já ali, volto dentro de momentos. Preferia que não fosse ´'já ali', preferia demorar tempo a chegar e a ficar. Preferia que em vez de 300 fossem 3000 kms. A viagem só vale a pena quando se sente a distância, quando nos afastamos realmente do que queremos deixar para trás. Portugal é pequenino e o Porto é já ali, a passo curto - ir e voltar não chega sequer a ser um exercício de abstracção.
Parto num cinematográfico Mercedes branco, de vidros pretos, e levo companhia. Esperam-me à chegada e, desde o momento da partida até ao instante da chegada, vou distraída a pensar imensas coisas importantes que tenho de cumprir e não pensarei em ti. Levo a minha equipa comigo, porque o sucesso dos projectos depende do esforço de equipa e não do protagonismo da liderança, e só eles e os outros que nos esperam merecerão a minha atenção. Vou estar muito ocupada e não me lembrarei de ti.
Vou deixar-te para trás, à beira da estrada. Quero que a minha cabeça te abandone, porque estou cansada de te levar comigo para toda a parte sem destino nenhum. Sei que não te importas se eu te deixar ficar, sei que não te incomoda eu dizer que quero partir sem ti. Tu partiste.
Eu sei que te disse muitas vezes que esperaria por ti a vida inteira, e assim seria se fosse essa a tua vontade agora como era dantes. Mas mudaste de ideias e partiste como quem escreve no espelho de um filme: 'I changed my mind. Good luck!'. Não me leves a mal, mas já que queimaste todas as pontes que construímos, tenho de acreditar que sou capaz de atravessar sozinha uma passagem para a outra margem. Não te levo comigo desta vez.

terça-feira, 24 de outubro de 2006

Passar por nós


Anabark - Ausências (MAI05)

Por cada vez que o Sol passa ao largo, ficas mais perto de saber se o mar ainda te pede para ficar. É possível que não saibas o que fazer, mas também não queres que o tempo permita tal consciência. Sabes, com certeza, que o tempo diz pouco a quem espera. Entre o estares aí e o meu aqui há um espaço infinito que se preenche alietoriamente, sempre acreditando que a alma vive no coração. Até que ponto vivo na tua cabeça? Se ao menos tivessemos um pouco da sorte dos marinheiros – partir e voltar para voltar a partir, sem nada e nada levar a não ser esta vontade grande de estar sempre longe, além, fora de tempo, a desejar voltar...

Houve tempos em que poder dizer algo era uma forma de estar perto de alguém. É estranho como 'algo' e 'alguém' soam próximos quando, na verdade, nem sempre coincidem. Quantas vezes 'algo' acontece e não fica no 'alguém' em quem gostaríamos que ficasse. Não que isso fosse uma consequência natural das coisas, mas por ser a nossa vontade, a nossa forma de representar um gosto, um desejo de vida. Egoísmo apenas. Não é suficiente encontrar uma porta aberta, é preciso saber fechá-la também.

Sabes quantas palavras tem uma língua viva? Eu também não. Tantas quantas aquelas que nos forem necessárias para existir e não apenas sobreviver. É preciso esbanjar as que temos, partilhar as que conhecemos e criar uma terra de ninguém com a nossa generosidade, passear para lá de todos os dias à procura do que existe ainda muito timidamente por enquanto. Quantas palavras faltam ainda inventar? Todas as que passaram por nós quase a pedir licença mais aquelas que ainda nem sentido têm nem se sabe se alguma vez terão. Não te parece tão pouco?
Se alguma vez pensaste que o chão que pisas existe, de facto, debaixo dos teus pés, certamente pensavas distraída, caso contrário terias perdido o equilíbrio. Não faria sentido de outra forma. Confirmar o óbvio não é perda de tempo, é um luxo dos distraídos, porque os outros sabem do risco que é tropeçar no inquestionável. Estamos longe de ser perfeitos. Tu estás aí. Eu nunca mais chego. Não estou atrasada, porque não combinámos nada. Tu não estás imóvel só porque não passas do mesmo sítio. Eu vou andando sem chegar, tu permanecerás, sem vascilar. Eu espero, tu esperas. Não sei quando passarei por ti, nem sei se tu me reconhecerás quando passar. Sei, apenas, contar-te esta nossa existência imperfeita, inacabada. Uma ideia de partida, um retrato de chegada. Alguma vez te falei da errância como castigo do que nos ensinaram e, teimosamente, não quisemos aprender? Melhor do que ninguém percebes o que quero dizer... certamente que sim!

Tuxedomoon - In a Manner of Speaking


"...And the way that we feel
might have to be sacrified
So in a manner of speaking
I just want to say
that just like you I should find a way
to tell you everything
by saying nothing..."

Naufrágio

Anabark - Raging sea (JUN05)

Outros eram os tempos em que corria um vento a mar por cima do desejo de encontrar a vida. Não sabia ao certo o que fazer depois de tanto tempo à espera, devagar. Sentia o medo apoderar-se dos braços e não era cobardia pensar que não resistiria para além do tempo absoluto de um instante. O próximo. Na boca engolia a vontade de gritar, a voz perdia-se no próprio corpo. Se chegasse a noite profunda, enrolar-se-ia por detrás do terror, discretamente até adormecer de vez.

O barulho da tempestade em alto mar soltava demónios invisíveis que tornavam a noite numa escuridão sem volta. Os olhos anteviam o pior, a alma sobrevivia a custo. A luz chegava de repente como um fim de mundo aos poucos, sem consequências para além de um coração suspenso na garganta por fracções de segundo que duram eternidades. E outra vez o barulho de mil mundos em fúria entre o céu e o mar. Nunca o inferno pareceu tão verdadeiro. Nunca tinha respirado tantas vezes seguidas como se a próxima fosse a última, numa agonia que rangia em uníssono com a madeira molhada do barco, que perdia o norte e se perdia aos poucos, desfeito, engolido pelo mar.

O longe estava ali, na incerteza de viver para além do desespero de uma luta em vão. Morrer cada vez mais sem soluções, empurrado pela discórdia entre o vento e as ondas de um mar gigante e negro. O longe era agora, tão perto de coisa nenhuma. Esvaziava-se a alma na vertigem de uma contagem decrescente, sem princípio nem fim. E uma alma vaga pouco pode lutar. Aos poucos perdia-se a vida e com ela o medo que assegura a sobrevivência à beira do abismo. Tornava-se difícil acreditar que a noite tem um fim e que o dia rompe em cada manhã, indiferente à escuridão da noite que o precede.

Os olhos habituavam-se agora ao negro entre o céu e a terra e sobravam na alma pensamentos incoerentes pendurados numa intermitência melódica de memórias. Passado, presente e futuro fundidos num só, num compasso rápido e dissonante como a deriva do navio maltratado e condenado ao fundo do mar. Faltavam as forças e ar para respirar debaixo de água. O desespero que, há pouco, era tão cheio de vida, sucumbiu sob um barulho ensurdecedor e depois disso, a sensação de uma vertigem sem fim numa calma de morte. A viagem afogava-se num turbilhão de despojos de vida e madeira, enrolados em água uns de encontro aos outros. Senti o corpo abandonar-me quando fechei os olhos. Não voltei a abri-los.

Não sei onde estou. Não sinto nem frio nem calor. Sinto um movimento descendente e uma vaga impressão de consistência. Navega-me uma calma involuntária e irresistível. Não me lembro de nada e deixo-me ir na escuridão do veludo negro e opaco que me embrulha os sentidos. Não paro de cair e estranho. Sei que deixei de existir, mas continuo a ir ao fundo na perpétua incerteza de encontrar o chão.

The Cure - Just Like Heaven


"...I opened up my eyes
And found myself alone alone
Alone above a raging sea
That stole the only girl I loved
And drowned her deep inside of me..."

segunda-feira, 23 de outubro de 2006

Voltar a casa



Anabark - Amsterdam (OUT06)
E se a vida fosse um hotel de cinco estrelas, onde nos instalassem como convidados especiais com acessos privilegiados e tratamento de excepção e se tudo isso acontecesse por merecermos essa condição de existência?...
Voltei de Amesterdão, onde estive com a Europa inteira num hotel de cinco estrelas, com estatuto privilegiado e tratamento VIP, não por merecer mas porque tenho a sorte de ter um emprego especial que a maioria dos mortais só conhece de ver em filmes.
Foram dias diferentes, num universo paralelo que só é paralelo porque, no fim, voltamos a casa e, para o ano, quando regressarmos, será uma outra cidade, numa Europa diferente e apenas a certeza de reencontrar rostos conhecidos, que se vão tornando amigos cúmplices por partilharmos o mesmo mundo observado em diferentes latitudes.
Para o ano, Estocolmo terá tanto ou mais encanto do que Amesterdão, e os colegas de línguas diferentes estarão cada vez mais próximos de um estar comum, sem fronteiras, onde as diferenças fazem parte do charme desta Europa que é grande e generosa no coração de pessoas que a partilham e se esforçam por torná-la forte e segura para todos.

terça-feira, 17 de outubro de 2006

Sylvian & Sakamoto - Heartbeat


"It opened the mind and the heart was free
A home in the silence, safe from sound
Where trouble sleeps and the light is found
Listen to my heartbeat baby"

Lisboa - Amesterdão - Lisboa

Anabark - Passaporte (OUT06)
Na hora em que faço a mala de partida para Amesterdão, recordo a letra de uma canção antiga, talvez uma das mais bonitas escritas em português...
"(...) Quem parte deixa sempre uma parte,
deixa sempre um pedaço do que construiu
quem fica não esquece o abraço do amor que partiu
Quem fica, fica sempre calado fica sempre sentado
com o peito ao frio..." *
...e, quase sem querer, penso na verdade incontornável destas palavras, muito para além do sentido do 'partir em viagem'. E mesmo partindo em viagem de trabalho com regresso marcado e tudo previsto pelos ponteiros do relógio, não escapo a este pensamento de deixar algo incompleto para trás e a esta saudade inexplicável da origem e, simultaneamente, do destino ao qual ainda nem cheguei. Quando regressar a casa, terei partido outra vez e, como sempre, deixarei uma parte por construir do lado de lá, porque deixamos sempre uma parte de nós no sítio onde estivemos por uma semana que seja.
--------
* "Esta Página Em Branco" - Quarteto Música em Si

domingo, 15 de outubro de 2006

A ausência é falta

Anabark - Ibiza (OUT06)

Desde que não te tenho, voltei a fazer aquilo que fazia antes de existires na minha vida - regressei às coisas simples que me davam prazer, alimentavam a alma e me tornavam uma pessoa mais perto do mundo que vale a pena celebrar. Ainda que sejas insubstítuivel, substitui-te pelas artes que imitam a vida de forma inperfeifeita, mas com verdades inegáveis acerca da essência e da redundância do que somos enquanto pessoas.
Ontem, no teatro, ouvi uma frase que, melhor do que eu, resume o meu estar sem ti: "Dou-te o que tenho para te dar e tudo o que tenho para te dar é esta ausência" Gentileza é suportar a presença discreta de alguém..." (*). Claro que me incomoda a ausência, ao contrário de ti, sinto-a como falta, mas é o quanto me é permetido dar-te perante a tua falta de gentileza. Não posso dar-te mais do que queres de mim.
Tu abraças a minha ausência, não a entendes como falta nem és gentil o suficiente para suportar a minha presença discreta. Não posso dar-te o que quero, mas posso dar-te o que esperas de mim. Ao dar-te a minha ausência fico sem nada - dar é ficar sem nada, é ficar de mãos vazias. Dar o que não queres receber não seria dar. O que é o contrário de 'dar'? 'Tirar'?...
Não há nada para tirar de alguém que não suporta a presença discreta da pessoa que diz amar e querer para sempre. Não faz falta nada a quem encontra paz de espírito na ausência de alguém que ama sem condições e sofre a distância em silêncio.
Para quem ama a ausência é falta... e é ausência de amor e de gentileza não conseguires sentir nem perceber porquê.

(*) «Comida», de Miguel Castro Caldas - Bar do Teatro Maria Matos

Leftfield (feat. Toni Halliday) - Original


"...My mother told me, don't ever change
You're original, in your own way
My mother told me, don't ever change
You're original, got your own path

You're original
Will it ever be the same again?
I need to hear that again
Because a dream starts, and a dream must end."

sábado, 14 de outubro de 2006

Um gato à cabeceira

Anabark - Ghost image (JUL05)

São olhos de noite e movimentos de silêncio
que vigiam e tomam conta da alma tantas vezes à deriva
Se a distância tivesse calor, a alma não teria frio.
Se entre esse longe e este aqui, se pudesse pintar um quadro,
teria as cores da invisibilidade
e as formas do que não se vê mas que existe:
o inexplicável que une dois seres diferentes na existência

O silêncio tem a cor da noite
mas os olhos felinos brilham às escuras e vêem longe,
deixam marcas na pele de quem olha por eles
Estranha forma de amar
silenciosa e arranhada
lenta e cuidada

Nouvelle Vague - Don't Go


"Said he /(she) was a killer, now I know it's true
I'm dead when you walk out the door"

sexta-feira, 13 de outubro de 2006

China in my hands...


Anabark - Pieces of China (OUT2006)
THANK YOU F.
Pieces of you came today in the mail and I'm seeing China through your eyes. You've put a smile on my face as I hold part of the Everest Mount in my hand. I'm no longer where I stand - I'm following your footsteps from one extreme to another on the big wall across China, feeling like a dazzled child in a candy store.
The world seems really small, the size of these rocks from the mountain, while I go through all the fabulous things you've collected for me. All China fits in one box. You have a heart the size of the universe. I don't care how big the universe is, I've just grown accustomed to your infinite generosity.
Obrigada!

quinta-feira, 12 de outubro de 2006

George Michael - An Easier Affair


"Don’t let them tell you who you are is not enough
Don’t let them tell you that it’s wrong
It’s an easier affair

Not livin’ my life with other people on my mind"

The Black Heart Procession - GPS


"All our fears are fed
All the things you fight
are all the reasons to rise"

quarta-feira, 11 de outubro de 2006

Nunca me falaste dos teus amigos

Carlos D. - Amigos (JUL06)

Quantos amigos te sobram de tanta gente que conheceste e vais conhecendo? Quantos amigos tens nesse mar de conhecidos que navegas tão superficialmente?
Tens amigos?
Alguém a quem possas confessar a alma ou simplesmente ficar em silêncio sem que o silêncio incomode nem um nem outro?
Tens um amigo a quem contar um segredo ou mostrar-te frágil num dia em que sintas tudo ao contrário dentro dentro de ti?
Tens alguém perto se precisares, por um instante, de fugir de tudo para estares contigo mesma?
Tens um ombro em que possas descansar dos fantasmas que te assombram e ouvir, enquanto descansas, um ou dois conselhos para aliviar o incómodo?
A quem contarias aquilo que, a pouco e pouco, te enlouquece por não poderes contar a ninguém - aquela história que silencias todos os dias e que te vai sufocando, aquele outro lado de ti que queres esquecer mas que não desaparece? A quem te mostrarias com honestidade, sem reservas e sem receio de ser julgada? Tens um amigo a quem te possas segurar com toda a verdade sobre a mesa, despida de máscaras?
Pergunto porque acho que não - não tens amigos. Ninguém te guardou como AMIGA, não sabes guardar AMIGOS. Sabes porquê? Porque te conheces mal e não gostas de ti mesma, logo não podes dar aquilo que não tens para ti. Instinto de protecção e sobrevivência são os teus únicos amigos porque a insegurança não te deixa aproximar outra coisa.
Gostava tanto que te conhecesses melhor e respeitasses mais aquilo que és. Tens tanto para dar e ninguém para receber-te completamente. Falta-te um amigo que te faça crescer para fora de ti. Serás tão bonita quando fores crescida...

Skunk Anansie - Hedonism



"...I wander what you're doing now
I hope you're feeling happy now..."

terça-feira, 10 de outubro de 2006

A verdade da mentira


Às vezes a ingenuidade é tão desmesurada que se torna suspeita. Não acredito que haja pessoas realmente ingénuas - ou são burras ou são fingidas.
Acho que sabes mais do que deixas perceber e, nesse caso, és conivente com a história, tirando disso benefícios. E, nesse caso também, não vale a pena alertar-te para o perigo uma vez que conheces os riscos e brincas com o fogo. Contudo, há dias de azar e, mais tarde ou mais cedo, os culpados também pagam pelo crime cometido. O mundo é uma aldeia bem pequena, com um bocadinho de inteligência e alguns meios o puzzle vai-se compondo e descobre-se que há um sentido para tudo o que acontece, que nada é por acaso.
Se ignoras, de facto, a verdade, então és muito, demasiado distraída, enfim... Achas realmente que se engolem sapos em nome do amor incondicional e, acrescentas-lhe tu, de uma bondade infinita? Achas que um ego magoado perdoa sem segundas intenções? Por quanto tempo achas possível ignorar interferências numa relação sem tentar descobrir o que há por baixo do ruído de fundo? Ainda acreditas que ele não sabia de tudo, e quando digo 'tudo', refiro-me ao que tu sempre lhe omitiste quando ele te perguntava? Tu, no lugar dele, não irias à procura? Não achas que foi fácil para ele perceber quando até já tinha vivido a mesma situação no passado?
Acreditas em tudo o que ele te diz? Não te passa pela cabeça que também mente, que foi treinado para inventar histórias e utilizar a ingenuidade como uma arma a favor dos seus propósitos que nem sequer são dele? Por que é que tão difícil acreditar que ele também sabe mentir, quando tu, que não gostas de mentiras, também mentiste? Por que achas que aguentou ele tudo tanto tempo? Porque não tem amor próprio e/ou porque te ama acima de tudo? Não. Se te interessa saber realmente, não desprezes as pistas. A quem viva através de histórias de cobertura. Sabes o que é uma história de cobertura? Sabes, vês filmes. Mas, tem cuidado, a realidade pode sempre ser mais fria e calculista do que a ficção.

Where Life Begins


by Madonna
I'd like to direct your attention
To something that needs directing to
A lot of people talk about
Dining in and eating out
I guess that's what this song's about


I know this is not a dining room conversation
And you don't have to listen if you don't have the time
But let me remind you in case you don't already know
Dining out can happen down below

Everybody's talkin' 'bout
Wanting that and needing this
I'd just like to know
If you want to learn a different kind of kiss

So won't you go down
where it's warm inside
Go down where I cannot hide
Go down where all life begins
Go down that's where my love is

Now what could be better than a home cooked meal
How you want to eat it depends on how you feel
You can eat all you want and you don't get fat
Now where else can you go for a meal like that
It's not fair to be selfish or stingy
Every girl should experience eating out
Sometimes when I come home from a hard day at work
I swear it's all I can think about

Everybody's talkin' 'bout
Wanting that and needing this
I'd just like to know
If you want to learn a different way to kiss

So won't you go down where it's warm inside
Go down where I cannot hide
Go down where all life begins
Go down that's where my love is

Colonel Sanders says it best "Finger lickin' good"
Let's put what you've learned to the test
Can you make a fire without using wood
Are you still hungry; aren't you glad we came
I'm glad you brought your raincoat
I think it's beginning to rain

Everybody's talkin' 'bout
Wanting that and needing this
I'd just like to know
If you want to learn a different way to kiss

So won't you go down where it's warm inside
Go down where I cannot hide
Go down where all life begins
Go down that's where my love is

That's where my love is
Come inside
That's where all life begins
It's warm inside

segunda-feira, 9 de outubro de 2006

Garbage - Androgyny




Boys in the girls room
Girls in the men's room
You free your mind in your androgyny
(...)
Don't let a soulmate pass you by

Parallel universes?



Anabark - Slussen... parallel paths (SET06)


F.
...a question for you:
How would you define the notion of 'parallel universe'? You know all there is to know on this matter and I'm curtious. I believe in parallel universes, I have even spent half of my life in them, but somehow I fail to convince some people about the consistency of each layer of the multiple existence of the self. I can not prove it, but it's rather obvious life evolves through a multitude of choices and resolutions, otherwise it would be an arid desert dried of emotions and boredom would be a major cause of death.
I need a second opinion from someone else and I think you're good at exposing facts clear and simple because you're honest and fair, you speak the essential to make me understand new possibilities and perspectives of reality. We've been talking about parallel universes for a longtime, since ever actually. I feel now it's the moment to draw a definition of this elaborate way of dealing with our inner demons, anxities and desires as a mean to prevent us from being caged in hollowness and frustration through life.
What does it take to keep the bound in between worlds intact? Despite of what others may think living in parallel universes is not the same as living in a lie.

domingo, 8 de outubro de 2006

Medo do que somos


Anabark - Eye to Eye (2004)

Sinto que tens medo, muito medo. Sei que tens medo e tu assim o confirmas. O medo é ausência de amor, alguém* escreveu. E agora, depois de tudo, sinto que tens medo porque não sabes amar nem merecer o amor que te dão.
Tens medo de ti mesma, tens medo do que eu te faço sentir, tens medo do que sentes porque, no fundo, pensas como o resto do mundo à tua volta: que não podes sentir o que sentes, que não está certo sentir assim...
Tens medo de mim porque te ponho em causa naquilo que és ou no que julgas ser. Tens medo de mim porque sou a parte de ti que não queres assumir porque não tens coragem para te aceitar, independentemente de me amares ou não.
Fazer teatro todos os dias cansa, eu sei. Viver no teu papel tem as suas compensações e tu consegues desligar as emoções para teres paz de espírito. Já não estou a atrapalhar o teu caminho. Nunca te exigi nada nem te persegui, mesmo assim mudaste o teu número de telefone - só falta sugerires que eu mude de cidade para não te cruzares comigo na rua. O único peso que tens atrelado a ti é a consciência.
O medo que vi ontem nos teus olhos, receando que ele nos visse juntas, enterrou-se com dor no meu peito. Não tenho nada a esconder, a nossa história já nem existe, de que tens medo? É óbvio que tens medo de magoá-lo, como sempre tiveste; é óbvio que é a ele que proteges, como sempre protegeste, mesmo quando me querias a mim ou pensavas que me querias. É a mim que escolhes sacrificar. Amas-me?! Tens medo e o medo é ausência de amor. Amo-te e sacrifiquei-me por ti, cumprindo a tua vontade de silêncio e distância entre nós.
Eu também tenho medo, sabias?
Tenho medo de me ter enganado quanto ao tanto que vi em ti; tenho medo de perder o amor e ficar a odiar-te; tenho medo de um dia acordar e não me lembrar de ti; tenho medo que passes por mim e não me vejas; tenho medo de perder ainda mais do que já perdi mesmo sabendo que já não há mais nada a perder.
* 1 João 4:18 - "No amor não há medo. Pelo contrário, o perfeito amor lança fora o medo, porque o medo produz tormento. Aquele que teme não é aperfeiçoado em amor."

sábado, 7 de outubro de 2006

Uma hipótese

Anabark - Behind Walls (SET06)

Uma hipótese: encontras-me onde me deixaste, mas não da mesma forma como me encontraste a primeira vez.
Tudo está no mesmo sítio, aparentemente o mundo não mudou, só o tempo passou. Os dias lá fora e cá dentro são diferentes. Aqui as horas não passam, todos os dias são o dia em que te foste embora. Aparentemente não há nada de novo à minha volta. Mas eu mudei - deixei de querer-te inocentemente. Desfizeste a martelo o encanto que segurava a minha alma à tua, num desejo de estar permanentemente em ti e contigo. E eu pergunto 'O que fazia um elefante na minha loja de porcelanas?', como naquela velha canção dos Clã que só eu sei de côr.
Empurraste-me para fora de nós. O medo turvou-te a razão e os sentidos e encolhei-te a alma. Já não existes como no dia em que me apaixonei por ti. És outra coisa qualquer que nem tu saberás o quê. Dizes-me que não existem universos paralelos e, no entanto, vives paralela a ti mesma, numa alternativa segura e confortável que não és tu completamente.
Empurraste-me para fora de ti e, no entanto, dizes ainda que me amas e amarás sempre. Estou do lado de fora de ti onde me pediste para eu ficar e onde deixaste de fazer sentido. Tenho na mão um copo vazio e se o apertar com demasiada força partirá e os estilhaços de vidro vão enterrar-se debaixo da pele e aí ficarão para sempre.
Não te amo menos, mas perdi a inocência - o que amo em ti não existe e, mesmo que existisse, tu não lhe dás relevância. És um esboço em que te desenhas e reinventas constantemente, talvez porque te sentes aborrecida ou insatisfeita. Eu sou a tonta que olhou para o desenho e viu um projecto - todos nós precisamos de mentiras na nossa vida, às vezes é uma forma de acreditar num sentido de existência. Por mais que me digas que não consegues viver na mentira, os factos falam por si com eloquência - escondes-te todos os dias de ti mesma. Queres uma mentira maior do que viver às escondidas de nós próprios?

Plano

Musa Christo Engelbrecht - Empty Glass (2005)
de Nuno Júdice
Trabalho o poema sobre uma hipótese: o amor
que se despeja no copo da vida, até meio, como se
o pudéssemos beber de um trago. No fundo,
como o vinho turvo, deixa um gosto amargo na boca.
Pergunto onde está a transparência do
vidro, a pureza do líquido inicial, a energia
de quem procura esvaziar a garrafa; e a resposta
são estes cacos que nos cortam as mãos, a mesa
da alma suja de restos, palavras espalhadas
num cansaço de sentidos. Volto, então, à primeira
hipótese. O amor. Mas sem o gastar de uma vez,
esperando que o tempo encha o copo até cima,
para que o possa erguer à luz do teu corpo
e veja, através dele, o teu rosto inteiro.


_____________
Uma hipótese: encontras-me onde me deixaste.

Forget Her

Anabark - Interdito (JUL06)

by Jeff Buckley

While this town's busy sleeping,
All the noise has died away.
I walk the streets to stop my weeping,
she'll never change her ways.

Don't fool yourself,
she was heartache from the moment that you met her.
And my heart feels so still
As I try to find the will
To forget her, somehow.
I think I've forgotten her now.

Her love is a rose, pale and dying.
Dropping her petals in land unknown
All full of wine, the world before her,
was sober with no place to go.

Don't fool yourself,
she was heartache from the moment that you met her.
My heart is frozen still
as I try to find the will
to forget her, somehow.
She's somewhere out there now.

Well my tears falling down as I try to forget,
Her love was a joke from the day that we met.
All of her words, all of her men,
all of my pain when I think back to when.

Remember her hair as it shone in the sun,
the smell of the bed when I knew what she'd done.
Tell yourself over and over you won't ever need her again.

But don't fool yourself,
she was heartache from the moment that you met her.
My heart is frozen still
as I try to find the will
to forget her, somehow.
She's out there somewhere now.

Oh She was heartache from the day that I first met her.
My heart is frozen still
as I try to find the will
to forget you, somehow.
Cause I know you're somewhere out there right now.

sexta-feira, 6 de outubro de 2006

Imagina só

«Imagina Só» (Ol Parker - (EUA, Reino Unido, Alemanha -2005)
A história de uma rapariga que se apaixona no dia do seu casamento... mas não pelo noivo.
Luce: I think you know immediately. As soon as your eyes... Then everything that happens from then on just proves that you have been right in that first moment. When you suddenly realize that you were incomplete and now you are whole...


Rachel: You make me feel something I absolutely cannot feel.
----------
O filme é uma comédia romântica, a vida não. Todas as semelhanças com a realidade são coincidências irritantes e se, por vezes, a ficção é inspirada por situações reais, o contrário raramente - se não nunca - acontece. A ficção é, por definição, irreal, inconsequente, não existe e no que não existe tudo é possível. O credível e o inverosímel são níveis no expectro de avaliação do sujeito. No que não é real nada é vinculativo. A vida, pelo contrário, é uma sucessão de páginas em branco preenchidas por sequências de pensamentos, actos e omissões consequentes, às vezes irreversíveis.
A nossa história aconteceu e, por muito que tenha em comum com o filme (ou talvez nem tanto), os personagens são reais, as acções vinculativas e as decisões consequentes. Tu e eu temos responsabilidade sobre a história. Tu e eu reconhecemos no olhar o momento em que nos tornámos completas, inteiras. Tu e eu escolhemos, tu e eu decidimos. Tu e eu fomos felizes, tu e eu acreditámos. Eu acreditei em ti, tu deixaste de acreditar. Escolheste o fim como escolheste o princípio - de um momento para o outro. Fiquei a meio e queres-me longe.
No silêncio e na distância que me dás imagino coisas. Imagino-te, imagino-me e projecto-nos numa tela imaginária. Não somos nós - nós não existimos. São imagens apenas, segmentos como num filme. Provavelmente nem existes, fui eu que te inventei, imagina só!

Diamanda Galas: my world is empty without you



Coisas imperdíveis na vida: concertos da Diamanda Galás

Dia 21 de Novembro, 21H00, Diamanda Galás, the dark avant-garde chanteuse, única e inexcedível na capacidade de nos revelar um mundo que deriva na escuridão da injustiça e da demência, volta a actuar no CCB em Lisboa, para apresentar o seu último espectáculo «Guilty, Guilty, Guilty» em que interpreta temas de Johnny Cash, Frank Sinatra e Edith Piaf. Lá estarei, como sempre!

"DIAMANDA GALÁS is a strange, extreme, unique, brilliant artist. She can smoothly croon («THE SINGER», 1992) or hellishly scream from the depths of the darkest places in human soul »LITANIES OF SATAN», 1989). She embodies the demented spirit («SHREI X», 1996), the umbareble suffering of the living, the penance of the condemned dead and the wailing for the unjustly deceased («PLAGUE MASS», 1991; «DEFIXIONES - WILL AND TESTAMENT», 2003). She defies Heaven and Hell, never afraid. She sings to disturb («VENA CAVA», 1993), to cut deep inside, to make us bleed in agony! She makes us sick! She make us think! She is malediction and prayer! Play her at maximum volume!"

Anabark, 05NOV2003

Pele

Anabark - Restos na pele (OUT06)


Lembras-te das noites em que entre palavras tuas me dedicavas também o poema de David Mourão Ferreira?
"Quem foi que à tua pele conferiu esse papel
de mais que a tua pele ser pele da minha pele"

Se fosse verdade a tua pele envelheceria nos dias que passam sem tocar a minha.
Se fosse verdade
a tua pele estaria gasta e seca pela distância que a separa da minha.
Não envelheceste nem secaste na minha ausência.
Vives bem na tua pele.
A minha pele não é mais do que minha
e envelheceu uma vida na saudade da tua.

quinta-feira, 5 de outubro de 2006

Cannonball


Anabark - Vento at the Clarion Hotel Stockholm (2006)

by Damien Rice

still a little bit of your taste in my mouth
still a little bit of you laced with my doubt
still a little hard to say what's going on

still a little bit of your ghost your witness
still a little bit of your face I haven't kissed
you step a little closer each day
so close that I can’t say what's going on

stones taught me to fly
love taught me to lie
life taught me to die
so it's not hard to fall
when you float like a cannonball

still a little bit of your song in my ear
still a little bit of your words I long to hear
you step a little closer to me
so close that I can't see what's going on

stones taught me to fly
love, it taught me to lie
life taught me to die
so it's not hard to fall
when you float like a cannon..

stones taught me to fly
and love taught me to cry
so come on courage
teach me to be shy
'cause it's not hard to fall
and I don't wanna scare her
it's not hard to fall
and I don't wanna lose
it's not hard to grow
when you know that you just don't know

Respirar debaixo de água

Roy Litchenstein - We rose Up Slowly (1964)

“Have you ever been in love? Horrible isn't it? It makes you so vulnerable. It opens your chest and it opens up your heart and it means that someone can get inside you and mess you up. You build up all these defenses, you build up a whole suit of armor, so that nothing can hurt you, then one stupid person, no different from any other stupid person, wanders into your stupid life...You give them a piece of you. They didn't ask for it. They did something dumb one day, like kiss you or smile at you, and then your life isn't your own anymore. Love takes hostages. It gets inside you. It eats you out and leaves you crying in the darkness, so simple a phrase like 'maybe we should be just friends' turns into a glass splinter working its way into your heart. It hurts. Not just in the imagination. Not just in the mind. It's a soul-hurt, a real gets-inside-you-and-rips-you-apart pain. I hate love.”
Neil Gaiman

quarta-feira, 4 de outubro de 2006

Destroços

Anabark - Fosso (2006)

ROBERT
(desperately):
Francesca, listen to me. You think what's happened to us happens to just anybody? What we feel for each other? How much we feel? We're not even two separate people anymore. Some people search their whole lives for it and wind up alone -- most people don't even think it exists and you're going to tell me that giving it up is the right thing to do? That staying here alone in a marriage, alone in a town you hate, in a house you don't feel apart of anymore -- you're telling me that's the right thing to do!?
Clint Eastwood em «As Pontes de Madison County»

Não percebo quando me impões silêncio e distância e a seguir falas de um caminho até ti. Não há caminho até ti. Como é possível percorrer um caminho que tornaste inviável? A 'luz e o amor' que evocas de nada valem quando deitas abaixo as poucas pontes que restam.

Consegues viver sem mim e eu vou aprendendo, aos poucos, a fazer o mesmo, tenho de querer-te também longe do corpo e do coração. Não tenho outra escolha, foste tu que partiste.


Lover Letter


Anabark - C. (MAI06)

By NICK CAVE AND THE BAD SEEDS

I hold this letter in my hand
A plea, a petition, a kind of prayer
I hope it does as I have planned
Losing her again is more than I can bear
I kiss the cold, white envelope
I press my lips against her name
Two hundred words.
We live in hope
The sky hangs heavy with rain

Love Letter Love Letter
Go get her Go get her
Love Letter Love Letter
Go tell her Go tell her

A wicked wind whips up the hill
A handful of hopeful words
I love her and I always will
The sky is ready to burst
Said something I did not mean to say
Said something I did not mean to say
Said something I did not mean to say
It all came out the wrong way

Love Letter Love letter
Go get her Go get her
Love Letter Love letter
Go tell her Go tell her

Rain your kisses down upon me
Rain your kisses down in storms
And for all who'll come before me
In your slowly fading forms
I'm going out of my mind
Will leave me standing in
The rain with a letter and a prayer
Whispered on the wind

Come back to me
Come back to me
O baby please come back to me

Começar do fim...

Fan Yang - Empty Glass of Water (2002)


Começo pelo título do teu email – 'De copo meio cheio'.
A diferença do meu 'copo vazio' e do teu 'meio cheio' diz muito, quase tudo. O meu copo ficou vazio no dia em que partiste, continua vazio e a sede que tenho de ti é todos os dias mais insaciável. No meu copo só existe o vazio a ocupar o teu lugar. O teu está meio cheio, tens lá dentro alguém que te ama e segura e a vida que escolheste para recuperares a "força e a estabilidade" que dizes que te roubei. Ainda que tenhas sede de mim, tens o copo meio cheio daquilo que decidiste ser o melhor para TI.