segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

A dimensão do básico

Cindy Diaz, Wiltered Flower, 2005

Espaço básico, a dimensão do que somos dentro de nós e não o espaço que apropriamos. Espaço básico. As fronteiras são por dentro e por dentro o espaço tem o tamanho da alma que nos anima. Na alma tenho-te a ti e a fronteira do que te quero não tem fim. O espaço básico do meu querer é um infinito de nós, sempre em frente um horizonte sem longe em que o abraço em que nos embrulho tudo torna perto aqui e agora. Neste espaço básico em que te enlaço não existem recantos abertos ou pontos de fuga. Tudo é amplo, tudo é desejo de mais. Maior e mais além. Porque nada limita o tamanho do coração. O que somos dentro do espaço que a vista não alcança, tem a grandiosidade de todas as coisas impossíveis de medir numa escala precisa. O que sentimos é palpável como espaço básico de existência. Por dentro existes como minha vontade infinita de vida.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

A culpa é da vontade, amor da minha vida

Linda Mingay, Playing with FIRE, 2004

Uma canção que não me sai da cabeça quando penso em ti. 'A culpa é da vontade que vive dentro de mim e só morre com a idade, com a idade do meu fim':

A culpa não, não é do sol
Se o meu corpo se queimar
A culpa não, não é do sol
Se o meu corpo se queimar
A culpa é da vontade
Que eu tenho de te abraçar

A culpa não, não é da praia
Se o meu corpo se ferir
A culpa não, não é da praia
Se o meu corpo se ferir
A culpa é da vontade
Que eu tenho de te sentir

A culpa é da vontade
Que vive dentro de mim
E só morre com a idade
Com a idade do meu fim
A culpa é da vontade


A culpa não, não é do mar
Se o meu olhar se perder
A culpa não, não é do mar
Se o meu olhar se perder
A culpa é da vontade
Que eu tenho de te ver

A culpa não, não é do vento
Se a minha voz se calar
A culpa não, não é do vento
Se a minha voz se calar
A culpa é do lamento
Que sufoca o meu cantar

A culpa é da vontade
Que vive dentro de mim
E só morre com a idade
Com a idade do meu fim
A culpa é da vontade


ANTÓNIO VARIAÇÕES

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Olhar esverdeado

Hideki Shiota, Snap Shots Series, 2009

Ainda está a chover. O verde que a chuva afoga mantém a esperança de que nenhuma estação do ano dure para sempre. Tal como a vida que nelas se vai enrolando e desenrolando, porque nada se perde, tudo se transforma. E não somos mais do que apenas isso - vento, chuva e tempo quente alternados, partes de um todo. E mesmo que a chuva nos incomode, faz parte do ciclo que nos descreve e nos inscreve a vida, passo a passo, como lágrimas entre o céu e a terra. É preciso acreditar que o verde não acaba e que a chuva é o princípio de tudo o que vem a seguir, mesmo quando o céu cinzento nos desanima. O conforto é um intervalo, sem garantia vitalícia. Somos, intrínsecamente, primavera, verão, outono e inverno. Porque a vida é um ano inteiro e não apenas dias combinados.

sábado, 16 de janeiro de 2010

O dia em que o mundo mudou de sítio

Manuel Guerra, Cable, 2006

Regresso ao passado e celebro o presente. Estou eternamente grata às novas tecnologias que te trouxeram até mim.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Contrastar

Patrick Smith, Under the Berkeley Pier, 2009
Em tudo em nós há sempre uma perspectiva diferente que varia em função do ângulo de abordagem. Umas vezes cheia de tudo, outras errante no nada. Numa e noutra situação, importa dar passos, grandes e pequenos, em busca do que não está ao alcance da vista, mas que sabemos algures no horizonte que nos contempla, numa distância que aumenta ou diminue conforme a nossa forma de olhar. A paisagem e os obstáculos são construções nossas, prolongamentos de nós, do que nos sobra por dentro e não sabemos arrumar. Nem sempre estamos em ordem porque nem sempre temos noção da nossa própria escala. Nem sempre somos nós mesmos, por inteiro, no que temos de melhor. Nem sempre sabemos dar. Generosidade é dar e receber também. Por vezes, falta-nos a calma para fazer entender a nossa disponibilidade. As horas assimétricas que nos desencontram são apenas circunstâncias e não factos. O Amor constrói-nos num espaço e tempo únicos, onde as imperfeições são poeira numa paisagem que nós pintamos de horizonte mais alargado. De resto, os constrastes de luz são o elemento fundamental na definição do quadro. O Amor é luz que aprendemos a misturar.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Horizonte

Michel Corboz, La zone Orange, 2009

Os anos passam e o poeta escreveu que para além dos tempos, mudam os ventos e também as vontades; muda-se o Ser e a confiança. Ainda que seja tudo isso verdade, a essência do que somos permanece, e o que somos essencialmente define tudo o resto, para o bem e para o mal. O Amor não muda. O Amor é o amor, a essência do princípio, meio e fim. O Amor é a origem do Ser, o príncipio que nos começa e que não se acaba porque é, por definição, inesgotável. Quando, em nós, descobrimos a capacidade de amar, a vida é sempre um infinito princípio. Não sei explicar essa qualidade humana, mas sei o que sinto e no que sinto os anos não passam, os tempos não mudam nem se modificam as vontades. O Ser muda e com ele a confiança, mas não a essência nem o princípio de vida. E ser adulto é aceitar que não há bem que sempre dure nem mal que não se acabe e amar sempre por igual. O Amor cresce-nos na interiorização da verdade nua do que somos. Não somos perfeitos, nunca seremos perfeitos. Quero que me ames sempre pelo que me sabes, despida de artíficios, despojada e nua. Quero que saibas com absoluta certeza que te amo pelo que és essencialmente e não pelo que julgas ser. Porque, às vezes, dou-me conta que não te conheces tão bem como eu te conheço. E é nesse espaço ou margem que te sobra, em que não te encontras facilmente, que eu semeio e colho os frutos da minha vontade imutável de te amar completamente.