terça-feira, 31 de julho de 2007

Totalmente mais

Jill, As the branches undress Series, 2006

Desconheço os limites do Amor, descobri-te como amor total, livre de fronteiras, imenso e infinito. Se ilimitado, às vezes, se limita e, proibido, às vezes, se liberta, o amor não se mede pela liberdade de se expõr aos quatro ventos, mas na forma total e inexplicável com que nos anima corpo, alma e coração. Não conheço limites ao amor que sinto, porque te tenho debaixo da pele, porque te sinto parte de cada parte do que sou, porque te sinto completamente. O amor só é interrompido pelos limites da vida e mesmo depois do tempo contado da matéria, algo se retoma, algo permanece imortal. Um sentimento tão concreto e absoluto nunca desiste, ainda que, às vezes, queira morrer para arrasar a morte e voltar. O amor total em que nos sinto é este desassossego de que nada mais existe para além de nós e da vontade de sermos sem barreiras, indiferentes às horas, aos dias e aos limites da vida. Este amor total em que nos descobrimos sem cansaço de sentidos, acontece por inteiro nesta vontade ilimitada de nós, numa aproximação instintiva dos lábios distraídos do calendário.

sexta-feira, 27 de julho de 2007

Claridade

Ann LT, Sprayed 4

O teu amor de volta, a incendiar-me os dias e as noites, como rastilho aceso num barril de pólvora, devolveu-me a claridade que perdi no labirinto da tua ausência. Dentro de mim, tu eras sol e céu sempre azul à minha volta. Enquanto não voltavas o Tempo envelheceu-me, porque dentro de mim tu eras a eternidade e a eternidade é a ausência do Tempo. Sentia-te tricotar janelas por onde me espreitavas e esperava ver-te um dia debruçada nelas a tentar chegar-me. Senti que me dizias 'sinto a tua falta como a falta de mim mesma' porque o sentias realmente, e chorei ao mesmo tempo que tu. Dentro de mim, eras tu a claridade. No teu amor de volta navega-me a saudade num oceano em fogo. No teu abraço sinto tempestades que arrastam mundos e quando me seguro nos teus olhos, sem palavras, digo-te uma e outra vez: 'A falta do teu abraço é-me insuportável'. Ainda bem que voltaste. Acorda-me durante a noite com palavras de vida na tua voz, para eu ter a certeza que não te imaginei e lembrar-me o quanto te amei antes de te conhecer. Ou acorda-me simplesmente para eu saber que existes e tu acreditares em mim adormecida ao teu lado. Mostra-me que sabes que o meu amor e o teu, juntos, são o nosso infinito.

quinta-feira, 26 de julho de 2007

Amanhã

Ann LT, Street Shots Series

Deixo para amanhã o que te disse ontem e hoje também e todos os dias antes disso e nos que estão para vir. Porque adormeço no que tenho para te dizer e sonho com o quero significar. Porque durmo enquanto escrevo e escrevo feliz, e assim me embrulho em ti ao teu encontro, por entre sonhos feitos daquilo que te quero dizer, mas que não te escrevo hoje por receio de que o sono troque as letras e as palavras de lugar e desconfigure o sentido da ideia fundamental. Amar-te é um texto em construção a tempo inteiro, feito de frases lentas que, esta noite, aninho entre beijos à espera de amanhã. Porque nos desejo eternamente 'o amanhã', porque quero acordar ao teu lado e dizer-te 'Amanhã tenho uma coisa para te dizer'. E na manhã seguinte, vou dizer-te a mesma coisa e por aí adiante. Tenho sempre coisas para te dizer, coisas que tu sabes de ontem, de hoje e que quero que saibas todos os dias. O nosso 'sempre' teve um princípio, mas não se acaba amanhã, tenho a certeza.

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Fora de horas

John Wayne, No Use Crying Over Spilt Milk!, 2006

O presente importa porque existe e porque é hoje que o futuro começa pelo que esperamos de nós e de nós esperamos um universo cheio de mundos por descobrir. E por cada dia que passa quero-te mais, sem peso nem medida, quero-te sem fim - ontem que já passou, hoje que te vivo aqui e amanhã pelo que nos sonho cumprir. Acertei o coração pela intensidade do Amor e assim me dou conta de que o tempo é uma falsa aritmética, apenas útil a quem vive desapaixonadamente. Tu e eu faltamos ao tempo, tanto quanto nos falta o tempo para sermos tudo o que nos prometemos sem darmos conta do vento que nos sopra as horas para fora de nós. O porvir é uma promessa de infinito, uma ideia de 'sempre', um conceito vago, abrangente, mas talvez insuficiente para viver o que nos falta quando o que nos falta é a eternidade. O Amor acontece fora de horas, foge aos planos, vive de improviso e da capacidade de entornar o tempo pelo chão. Quem ama passeia pelos dias e selecciona instantes para viver por inteiro e torná-los eternidade. O que vivo contigo é intemporal, sinto-te infinitamente e na imensidão do amor perco-me de saudade.

terça-feira, 24 de julho de 2007

Em código

Adalberto Tiburzi, I Need a Key

Por mais que leiam em livros escritos em todas as línguas do mundo, por mais que saibam de ouvir dizer, por mais que reconheçam nos outros aquilo que dá pelo nome de 'Amor', nunca saberão o que é realmente a sua essência se não sentirem na pele o arrepio da saudade, por breve que seja o espaço de tempo que nos separa de quem amamos. Porque entre um segundo e o outro se pode morrer de saudades, porque entre a ausência e a falta é possível morrer de amor, porque a saudade mata e a falta de amor também. Por mais que achem que conhecem e que sabem o que é o Amor, é preciso ter a chave e usá-la com sabedoria como num código a decifrar. Porque o Amor não se copia nem se reproduz por imitação, porque amar é desaprender frases feitas e versos de poetas, porque amar é sentir na alma o que manda o coração. O Amor vem de dentro, sem juízos nem preconceitos, sem palavras suficientes a dar-lhe forma ou uma definição. Por mais que penses que nos conhecem e que sabem tudo sobre nós, não saberão certamente, porque de nós só existe uma chave, aquela que guardamos ao peito, que só nós sentimos do lado de dentro do coração, como um segredo apenas nosso do qual só nós conhecemos a solução. Ninguém sabe o tamanho do que se sente infinitamente, apenas eu e tu no 'nós' que vivemos tão completamente.

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Caído do céu

Robert Faraday, Hope (La Speranza), 2006

Do céu caiu um coração e entrou-me pela casa adentro no dia em que acordaste o resto das nossas vidas sem sequer saberes porquê. E porque entraste pelo telhado da minha casa sob a forma de coração, hoje sei o que é verdadeiramente Amar. Todos os dias te descubro maior no meu encontro com o Amor. O meu coração não tem tamanho, alarga e estica com o que pões dentro. O Amor, sem fim, que nele mora é feito do que te guardo em mim do que me dás de ti e do que somos nós do que aprendemos a ser juntas infinitamente. Lado a lado, dois corações sobrepostos não têm tamanho porque o Amor verdadeiro é para sempre, ainda que 'para sempre' seja insuficiente para viver e morrer o amor da minha vida. Por muito tempo que seja, parece pouco a quem se passeou demasiado tempo pela vida à espera de um coração. Caiste do céu em cheio no meu peito que embalas com a mesma certeza de Amor no te oiço dizer:
"Hoje sei o quanto é diferente Amar. Amar de verdade é o que sinto nas mais pequenas coisas que sei que é contigo que sinto pela primeira vez na vida: é acordar só para te sentir aqui e poder tocar-te, é ser embalada pela tua respiração enquanto dormes; é a minha pele vibrar ao toque da tua; é, quando te digo 'Amo-te' ou tu me dizes a mim, senti-lo na alma e no coração; é sentir-te única e insubstituível; é saber que, sem ti, porque já vivi 'longe', a minha vida não faz sentido; é ao teu lado todo o mundo à volta desaparecer; é beijares-me e eu perder o chão e o norte; é estares doente e eu ficar doente também, é temer o pior e perceber que se te perdesse eu queria 'ir ter contigo' a seguir; é sentir que te pertenço por inteiro e adorar pertencer-te, como se nos pertencêssemos e nos completássemos uma à outra desde sempre; é observar-te sem que te dês conta e pensar comigo mesma: 'Meu Deus, amo-te tanto, mas tanto'; é fundir-me no teu corpo numa urgência que não sei de onde vem e que tem uma força incontrolável; é querer-te sempre entre os meus braços; é ter intuido, inexplicavelmente, tudo isto no momento em que nos conhecemos e reconfirma-lo todos os dias num Amor infinito que cresce mais e mais a cada dia." *
E porque és tudo e porque vou viver mil vidas contigo, não sei amar-te menos do que este tanto que aprendo ao mesmo tempo que tu. Do céu só cai um coração uma vez na vida e, às vezes, nem isso. Não sei se te mereço, mas quero cuidar-te em Amor nesse infinito que aumenta de dia para dia.
----------------------
* U-Turn (23. Julho. 2007, 01:31)

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Antes de adormecer

Terry Clarke, October (Reflections), 2005)

E nos dias que passam por tudo com pouco tempo para nós, sonho acordada com o dia seguinte, lento e vagaroso cheio de eternidades nossas. A saudade fica sempre para além do tempo, porque o que é infinito é intemporal também. Penso no que pensas enquanto eu te penso naquilo que te escrevo sem reparar nas horas. A esta hora dormes e eu sinto o abraço em que me embrulhas enquanto vou ficando por entre palavras ensonadas que te acordem pela manhã. Espero pela luz do dia para te dizer o que sei que sabes de cor, mesmo quando quase te esqueces de te lembrar. Por agora encosto-me a ti à distância de um beijo e fecho os olhos para te encontrar mais depressa depois de adormecer. Não acordes - aninha-me onde estiveres em sonhos e deixa-me ficar até serem horas de voltarmos ao dia.

quarta-feira, 18 de julho de 2007

No outro tempo

José Pinto, Outro Mundo

Havia no fundo do mar uma promessa, quase tão grande como o Amor, resumida numa única palavra 'Sempre'. E lá no fundo onde eu vivia sem luz do sol, iluminava-me essa ideia de ti - 'Sempre'. Como desistir da certeza de 'Sempre'? No fundo do mar segurou-me a esperança de que me sentisses como eu te sentia a ti, sem longe nem distância. E ainda que não te soubesse, acreditava-te a pensar em mim e chorar ao mesmo tempo que eu enchia de mais lágrimas o mar que me afundava. Sentia-te sem terra firme, à deriva e eu deixava-me naufragar todos os dias ao fim do dia, sem vontade de adormecer e acordar para mais ausência na manhã seguinte, porque a ausência torna-se doença e acaba por matar. No fundo do mar, era eu e tu comigo no que eu sentia e acreditava. Lá longe, do outro lado do mundo, vivias tu o mesmo 'Sempre' da promessa, silenciosamente, tão silenciosamente que só eu te ouvia. E enquanto te enrolavas na areia sem queres ouvir o que te respondia, eu, no fundo do mar, cuidava do 'Sempre' teimosamente, tão teimosamente que toda a gente se ria. Mas eu e tu tínhamos razão, da certeza de 'Sempre' não desistimos. Salvou-nos o Amor e nele nos navegamos numa ideia de mar infinito e intemporal. Sempre - tu és insubstituível.
____________________

"They couldn't hear him. They couldn't see him. But he was there when they needed him... Even after he was gone." («Always», Steven Spielberg, 1989 - EUA)

terça-feira, 17 de julho de 2007

Infinitamente mais!

Anabark, Veludo (JUN07)
Amar-te é encontrar uma forma de te abraçar nos dias em que os braços nos doem de esticar sem conseguir tocar. Amar-te para além de tudo é ultrapassar-me a mim mesma para te chegar primeiro. Amar-te por inteiro é sorrir quando te penso num bom ou mau momento. Amar-te tudo é procurar-te em toda a parte e encontrar-te antes de tu saberes onde estás. Amar-te infinitamente é arranjar maneira de te lembrar sempre que vamos viver eternamente, porque juntas não temos fim. Amar-te perdidamente é sentir-te pele da minha pele e, sendo Uma, nem tu começas nem eu acabo. Amar-te incondicionalmente é não saber desistir porque gosto de ti contra tudo e contra todos se tiver de ser. 'Eu mais' é o infinito do que te sinto que fica por dizer.
... eu mais, infinitamente mais!...

Thinking Blogger Award

Sonia Mak, The Thinker, Houston, TX, 2005

Ando sempre distraída e fora de tempo. Nos mundos paralelos o tempo não existe ou, se existe, perdi-me algures entre um ponteiro e outro.
Assim, e com o devido atraso, agradeço-te a nomeação do que está dentro deste 'Copo' no «The Thinking Blogger Award». É meu privilégio a tua escolha, sobretudo, pelas palavras simpáticas que acompanham a nomeação - que te sintas sempre bem ao passar por aqui. Obrigada!

quinta-feira, 12 de julho de 2007

Nascemos uma estrela

Anabark, Entre o Céu e o Mar (JUN07)

Enquanto dormes e eu caio de sono, sopro-te ao ouvido aquilo que te repito, vezes sem conta, em voz alta a olhar-te nos olhos nos olhos, 'amo-te incondicionalmente'. Deixo, sem dares por isso, um beijo nos teus lábios adormecidos e sinto-te reagir, como sempre, aos meus lábios ensonados. Entre beijos , digo-te boca a boca, 'O champagne é um truque de magia, vou fazê-lo aparecer só para sentir o abraço cintilante com que me seguras no olhar. E não será ilusionismo, é a magia da força de vontade e do compromisso que assumi em mim de fazer-te feliz para o resto das nossas vidas. Fecho os olhos e, nas saudades que te tenho, embrulho-me a ti. Encontro-te em sonhos, onde posso esgotar-te de forças, mas nunca extinguir-te o fogo, tão intenso quanto o meu, que nos descontrola o corpo por via do coração. De manhã quando acordarmos seremos uma nova estrela a brilhar, intensamente, no céu.

quarta-feira, 11 de julho de 2007

Viver além de existir

Hubble Image: Dark Matter Halo around Galaxy Cluster Cl 0024+17

E será sempre assim, porque o chão nos foge dos pés em cada beijo e tudo é um mar infinito em que navegamos a vontade de nunca chegar ao fim. Ser de outra maneira nao seria simplesmente, porque o tudo só faz sentido quando nos damos por inteiro. E quando nos temos completamente, o mundo é mais pequeno do que o nosso tamanho. Viver é acordar em ti e adormecer-te na certeza de que o tempo não existe para além de nós, e nós somos a vontade de infinito. Viver de outra maneira não seria viver simplesmente, sobreviver talvez. Antes de ti eu existia e pensava que vivia, mas só vivia pela metade. Antes de ti, a vida era outra coisa qualquer, uma ideia de existência, sobrevivência talvez. Contigo tudo começou como um universo inteiro em expansão, porque a vida só começa quando acorda o coração.

terça-feira, 10 de julho de 2007

Cobrar ao tempo

Dennis Rogers, Rusty Nail, 2005

Agora que sei mais do alguma vez soube, agora que sei que existes, vou procurar-te e encontrar-te em todas as vidas que me estejam destinadas por desígnio superior. Porque te quero o tempo do antes de nós, porque não me chegam nem mil vidas nem um universo inteiro para o tanto que és em mim. Quero o tempo que passou antes de sermos, aquele tempo perdido de um lado para o outro, quando não passávamos de uma ideia vaga de Amor, baseada numa qualquer passagem de um livro ou numa história de cienema. A vida acontece quando estamos desprevenidos e nós mudamos, crescemos e reinventamo-nos e, às vezes, renascemos. Hoje, que sei que és tão real quanto o sangue que me percorre e dá vida, quero-te tudo completamente. Querer-te tudo é olhar-te nos olhos, mesmo sem estares à minha frente, e sentir-te única num arrepio que me atravessa a pele e me chega ao coração. Querer-te tudo é sentir-te pele da minha pele e viver-te intensamente mil vezes por segundo. Falta-nos o tempo que vivemos antes de nós, àparte disso sobra-nos a eternidade e o infinito do verbo amar que nos embrulha corpo, alma e coração.

segunda-feira, 9 de julho de 2007

Caminhar-nos em caminho

Scott Wright, Trails of Traffic - A27, 2003

Olho à nossa volta e só um caminho se descobre à nossa frente, um trilho cheio de luz alimentada pela nossa vontade de palmilhar a vida lado a lado. E a força que nos faz caminhar com certeza de pisar o chão é marcada pelo compasso uníssono do bater do coração. Não me lembro do que ficou para trás no dia em que te conheci, nem sequer tenho a certeza de ter existido antes de ti. E ainda não há muito tempo descobri que depois de ti não há nada a não ser a memória do tudo que és tu. Hoje estamos aqui incondicionalmente Uma. Sabemos por onde vamos e por onde queremos ir é uma vida inteira a descobrir. Hoje, que somos para sempre, crescemos um universo inteiro em busca de nós e seguimos em frente. O Amor serve de guia, de escudo e arma ao mesmo tempo. E há uma luz mais alta que nos ilumina a vontade de chegar ao que queremos ser por inteiro. E esse sol que trazemos por dentro é a fé que precisamos para nos mantermos de pé, mesmo que tropecemos mil vezes pelo caminho. À minha volta só consigo ver-te a ti e seguro-te com a fé de quem vive certezas de alma e coração infinitas. O nosso caminho é longo, sabemos. Mas o nosso querer não tem tamanho.

sexta-feira, 6 de julho de 2007

Horas de incêndio

Ann LT, Sprayed 2
Às vezes fico a olhar para as manchas do tecto, outras vezes apetece-me riscar o teu nome nas paredes da cidade. Deixo as saudades incendiarem-me e espalho o fogo à minha volta. Não sei estar quieta com uma floresta a arder por dentro, não sei calar-me quando os meus lábios queimam em chamas de paixão descontrolada. Às vezes sinto tudo isto e, nesses momentos, as manchas que descubro no tecto, para passar o tempo, têm o teu contorno e, quase de certeza, o teu cheiro também. E fujo do impulso de correr para ti e abandonar-me a esta vontade de te ter, o tempo todo, refém do meu Amor. Tento distrair o pensamento, mas tudo acaba e começa em ti. E, entre o que vou pensando em desassossego permanente, o tempo vai correndo em ritmos diferentes - umas vezes, passa com a toda a pressa, outras vezes, tudo fica suspenso, tudo pára na contagem dos minutos que nos separam de sermos de novo Uma. O tempo é injusto com o Amor. As saudades de Amor queimam por dentro o corpo, a alma e o coração. No tecto vejo umas vagas manchas que teimam em mudar de sítio. Não são manchas, são cinzas do incêndio que acontece enquanto penso em ti.

quinta-feira, 5 de julho de 2007

À espera das estrelas

Gili Levy, Sea Star (Zanzibar), 2007

As estrelas dos teus olhos esperam por mim e os meus olhos brilham a contar o tempo que falta para lhes chegar. Estou tão perto que quase consigo tocar-lhes através das memórias que guardei para matar as saudades. As memórias nunca são suficientes, as saudades persistem e multiplicam-se. E os dias passam lentamente quando estamos à espera. O teu coração feito de estrelas bate feliz e espera com a mesma ansiedade. 'Agora já é logo?', pergunto, contando que o tempo passe mais depressa se eu perder a noção das horas. Não, agora ainda não é logo nem daqui a bocado. O meu agora é daqui a uns dias. Sento-me e aguardo a luz que te veio de dentro como dois astros-sol. Já faltou tudo, agora falta muito pouco e eu sei esperar. As estrelas dos teus olhos são um bocadinho minhas também e eu espero o tempo que fôr preciso para as ver brilhar. Vai-me contando histórias desses teus pedaços de céu para eu não sentir tanto o tempo por passar. Nesse entretanto, os meus olhos brilham na luz dos teus onde eu posso esperar.

quarta-feira, 4 de julho de 2007

Definição

Ann LT, Street Shots Series

O Amor é uma estrada de dois sentidos para percorrer, um dar e receber para cumprir em igual medida, um saber dizer e ouvir equilibrados. O Amor é adivinhar e compreender, mas também é não saber e perguntar. O Amor é feito de curvas e contracurvas e uma mesma velocidade. O Amor é medir tudo o que não tem tamanho, é querer segurar o vento, o mar e o tempo tudo mesma mão, ou apenas um beijo que nos faz fugir o chão. O Amor é encontrar-te em tudo o que penso e digo e acreditares em mim mesmo quando não te faço sentido. O Amor é sonhar-te durante a noite e acordar de manhã a teu lado, é embrulhar-te em pensamento nos meus braços duas ou três vezes por segundo e morrer de saudades a toda a hora. O Amor é acreditar em ti antes de uma explicação e fazer entender por entre o silêncio o que se perde nas palavras e o que falhamos em dizer. O Amor é ter a certeza de que fazemos tudo bem intencionado, esteja certo ou esteja errado. O Amor é o lugar onde tu e eu habitamos por debaixo da pele, é o brilho que te descubro no olhar quando olhas para mim e saberes que te espero para além do tempo e te desejo infinitamente.

terça-feira, 3 de julho de 2007

Urgência

Ann LT, Emergency Calls Only

Tenho urgência de te dar aquele abraço que tu e eu sentimos urgente. Tenho urgência de correr para ti para te dizer 'estou aqui' e me encontres no exacto instante em que me procuras. Tenho urgência de te dizer que as horas que demoram até ti são horas desertas de tudo, áridas e sem vida, porque tudo pára nos intervalos de nós. Tenho urgência de te mostrar que as saudades são infinitas e uma forma eficaz de tortura do corpo e da alma. Tenho urgência de fotografar o brilho dos teus olhos feito do que somos uma na outra para que nunca me falte essa luz primordial. Viajo nesta espiral de urgência da vida que és em mim e nela eu te regresso antes de partir, mesmo que a nossa ausência só demore alguns segundos. Tudo em mim é esta urgência de te ter sempre comigo à distância de um beijo. Tudo em mim te procura, tudo em mim te adivinha onde estás, como tu a mim. Todos os abraços são urgentes. Embrulho-te todas as noites com a urgência de braços que te querem para sempre, quando para sempre é tempo infinito, como infinito e intemporal é este Amor em que te sinto em tudo o que existo à tua beira. Tenho urgência de ficar a olhar para ti só pelo prazer de olhar para ti e sentir-te em mim tão completamente. O Amor é este estado de emergência em que nos vivemos todos os dias e alegremente sorrimos sem perceber porquê.