sexta-feira, 28 de setembro de 2007

A dormir


Anabark, Última noite (SET07)

Adormeci e sonho. Sonho-te e sonho que adormeci. Longe é para dentro, por onde passo quando adormeço à procura de ti. Longe é a distância que percorro nesses lugares que não reconheço nem nunca vi. Longe é esse outro mundo onde o tempo pára e o espaço nem sempre tem sentido. Descubro-te numa paisagem diferente, como num pedaço de filme, e corro a agarrar o sonho que me abraça a ti. Aproximo-me até um beijo de distância e pergunto-te 'Estavas a sonhar comigo?', e espero que me digas que sim. E mesmo que não te lembres como chegaste a mim, pouco importa, aninho-te no que sonho, feliz, que te vivo enquanto o corpo descansa e espera por ti. Sonho-te dia e noite no desfilar das minhas horas lentas cheias de impaciência de te chegar. Longas são as noites que passo sem dormir. Lentos são os dias que passam sem me acordares.

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Prisioneira

U-Turn / Anabark, Algemadas (SET07)

Voluntariamente prisioneira do que te descubro todos os dias e das vidas que me quero embrulhada em ti, adormeço num beijo sem tempo e espero-te em sonhos de olhos fechados. Não preciso de luz, a claridade com que te vejo vem de dentro, do que alma te colecciona em mãos cheias de assombro. Reparo-te mesmo a dormir pelo que te sinto o meu centro de gravidade. Reparo-te mesmo quando tu não estás pelas saudades que ficam em teu lugar. Não sei perder-te de vista, tudo és tu e a vontade de sermos nós infinitamente orienta-me os sentidos. Nem a noite te esconde nem o dia te ilumina, adivinho-te à luz do que te sinto em mim desmesuradamente. O sorriso dos teus olhos nos meus estende-me os braços que me prendem a ti. Amanhã quando acordares, chega-te a mim, desperta-me devagarinho e deixa-me ficar sempre assim, fechada no teu coração eternamente.

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Caminhar sobre as águas

Anabark, Bord de Seine (SET07)

Embrulhar-te no meu abraço é segurar o tempo à beira rio e dizer-te que os meus braços à tua volta não têm fim. Abraçar-te é garantir-te firmemente que não acabamos nas margens do rio. Seguro-te a certeza de um presente que é passado e futuro todos os dias com a mesma intensidade. Quando te encostas no meu ombro sentes-me a vontade de caminhar para além do sonho. E enquanto passeamos por cima e por debaixo de água, mergulhamos à procura do tempo perdido e, nesse entretanto, encontramo-nos completamente neste tudo com que erguemos pontes do sonho até nós. O rio navega-nos um sentir do tamanho de um mar infinito e intemporal. E se os nossos corpos se confundem embalados pela água é porque somos um só coração e uma mesma alma. Quando te espreito por dentro e te espero em cada beijo, regresso-me por inteiro por seres a minha melhor parte e porque parte de ti sou eu. Acontecemos no encontro e somos muito mais lado a lado, na soma das partes como um todo único e indivisível. Muito para além do tempo moramos nós, maiores do que a vida, eternamente Amor.

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Quarto duplo

Anabark, Opera (SET07)

Para mais tarde recordar o que as paredes que nos observam seguram através dos anos, porque há momentos que fazem o tempo e a vida, porque é impossível esquecer pormenores que nos viveram e que testemunharam a nossa existência neste tudo que se estende como um mar sem princípio nem fim, colecciono-te em mil cores, formas e feitios. Porque existes em tudo à minha volta e eu só existo por inteiro no caminho que somos nós, porque és a parte de mim à qual me regresso depois de mil anos à espera de ser completamente, invento estradas de palavras em que todos os cruzamentos me levam a ti. Porque te adivinho sem saber como e te pressinto e sei porquê, porque me sei e sabendo-me sei-te a ti, porque nem a distância nos separou e nunca desistimos, aprendo a vida através do que me vai na alma e na alma tenho a calma do que me ensinou o coração. Amor és tu no que sinto tão completamente como o ar que respiro. Amor é a voz que oiço quando me falas ao ouvido. Amor é o que o coração explicou à alma num beijo que ficou para sempre tatuado debaixo da pele. Sinto-te inevitável, eterna, uma pedra precisosa que guardo num abraço que nunca chega ao fim. Colecciono-te milímetro a milímetro em pleno desassossego dentro e fora de mim.

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

We will always have Paris

Alain Bublex, Plan de Paris, 2006

Porque te sonhei de mão dada pelas ruas de uma cidade do nosso tamanho e porque te quero com a mesma intensidade da luz eterna que a ilumina, passeei-te de corpo, alma e coração seguindo o mapa do Amor. Não pergunto direcções, sei o quero e por onde vou, mesmo quando baralho o norte com o sul. Em todos os meus pontos cardeais estás tu e tu és do tamanho do mundo. Passear-te é viajar-te apaixonadamente e sem destino porque é infinita a minha vontade de encontrar-te em cada esquina. E não existem distâncias impossíveis quando queremos tão intensamente a viagem. Todo o longe é perto quando o abraço não tem fim. Nos beijos com que nos celebrámos na cidade que inventou o perfume, caminhámos perfumadas pela certeza de que o tanto que temos é infinito e incontornável. Uma na outra somos a vontade de sempre em qualquer lugar do mundo.

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Quando o mundo mudar de sítio

Anabark, Forte (MAR06)

De que serve um castelo no fim do mundo, quando o que queremos salvar e proteger fica do outro lado? A fortaleza, que será também a minha prisão, não é longe, fica à distância de um mundo de pernas para o ar. 'Longe' pode ser perto, ao virar da esquina ou até dentro da mesma casa. Mas 'longe' é também deixar de ter, ficar com menos, e ficar com menos quando se tem pouco faz a diferença de deixar de ser perto o tudo e o tanto que se tinha. Ainda que a distância seja um cálculo relativo que varia em função do que nos diz o coração, o 'longe' e o 'perto' medem-se na diferença entre uma mão cheia de coisa nenhuma e qualquer coisa sempre à mão. Ainda que o coração não meça a distância entre o ter e o não ter, sabemos que 'longe' é levar mais tempo a chegar, é escolher os dias para chegar, longe é ter a certeza da improbabilidade de te tocar ao virar da esquina. A esquina não estará lá porque o mundo vai mudar de sítio. Lado a lado continuaremos a inventar e a desenhar caminhos e pontes que abreviem o 'longe' que nos sobra da distância do tempo que não temos.

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Ao mesmo tempo

Anabark, Auto-retratos (ABR07)

Mesmo que ninguém acredite, nós sabemos que é verdade. Por muito que pareça impossível, sabemos que é real. Por ser tão verdadeiro, talvez por isso pareça inacreditável. Acontece, acontece-nos quando nos acontecemos. Porque corpo obedece à alma e a alma conhece bem a vontade de sermos muito mais do que um momento, reconheço em nós um coração único. No Amor acontecemos ao mesmo tempo e o Amor é tudo, prazer e dor, tristeza, alegria e felicidade, e muito mais. Acontecemos ao mesmo tempo no tudo e no muito mais que é o Amor. Somos mais do que perfeitas uma para a outra, num tempo verbal de existência partilhada, mais-que-perfeito, somos infinito. Se te digo que o Amor é maior do que a vida é porque nem a morte, que é para sempre, detém o que se reveste de eternidade. Acontecemos ao mesmo tempo numa metafísica impossível de explicar. A consistência do que não se explica surpreende-nos talvez, mas a intensidade que nos transcende é um segredo da alma que o coração reconhece incontornável. Se acontecemos em simultâneo somos Uma no que está para além do palpável.

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Lentamente

Anabark, Acordar devagar (JUN07)

Adormecer lentamente, sonhar entre beijos e acordar devagar. As nossas noites começam e acabam em nós. Dormimos só às vezes e enquanto não dormimos vivemos intensamente um abraço debaixo de água sem pausas para respirar. O dia nasce depressa e nós acordamos sempre devagar. A única urgência que nos conheço é a de ficar de corpo e alma uma na outra. A cama vazia de nós perde a graça e nós morremos de saudades. Adormeço lentamente a pensar em ti, sonho-te se adormeço e acordo devagar, sem pressa de fazer a cama desfeita pelas horas em que nos desarrumamos tão completamente que amanhece e anoitece quase ao mesmo tempo sem nos darmos conta. Demora-me esta ansiedade de quem te quer voltar à velocidade da luz porque sei que nunca te chego depressa demais e cedo menos ainda. Demora-me saber que tenho de esperar. Demoram-me as memórias de nós encostadas na almofada e a antecipação do abraço em que nos quero infinitamente. Demora-me esta vontade de te mergulhar com a mesma urgência com que te respiro como sopro de vida. Na cama, demasiado arrumada, repousa a vontade de me perder contigo e de nos encontrarmos de corpo e alma em nós, acordando lentamente, vivendo intensamente. Adormecemos de cansaço, sonhando-nos amor sem fim... o coração não dorme.

terça-feira, 11 de setembro de 2007

Certeza

Anabark, Eu Sei (MAI05)

O que eu sei é que sei muito pouco ou quase nada. Ou talvez pense que sei alguma coisa e não sei coisa nenhuma. Talvez este nada de que nem tenho certeza seja ainda menos do que isso. Entre o que penso e o que sei são duas vidas de distância. Umas vezes penso sem saber, outras vezes sei o que penso. E não são raras as vezes em que quase tenho a certeza do nada que sei e tento não pensar nisso. Mas sei o que sinto, conheço bem o que me vai dentro do coração. Não penso que sei o que sinto, tenho a certeza. Sinto-te a ti sem dúvida nem sombra e muito mais do que concretamente. Sinto-te como a única verdade em mim. Sei que és vida e tudo o resto são pormenores sem a mínima importância. Sei o tudo em que te acredito por inteiro. Sei o tanto que te quero por mil vidas. Do sempre em que te sinto tenho absoluta certeza. E mesmo que não saiba dizer-te este infinito amar em que te embrulho todos os dias, sei a intensidade em que o sinto e a verdade em que o confesso: indómita no meu querer-te para além de tudo e sempre, insubmissa na minha vontade de amar-te tudo infinitamente.

Muitos anos de vida

Crystal Mcdonald, Remembering, 2004

A data é-me querida e o meu maior desejo é que vivas eternamente. Dois dias depois porque só agora cheguei aqui. Não chego tarde porque estive sempre contigo. E ainda que não possas viver para sempre, o meu coração desconhece o tempo, nele vives eternamente. O amor é maior do que a vida. Parabéns.

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Quase a adormecer

Stu Egan, B sides Series (3), 2007

Adormeço sem dar conta e acordo quando me apercebo que estou a dormir. Às vezes é de dia, outras vezes nem por isso. O corpo não resiste e adoece no cansaço de quem, noite após noite, estica o tempo para que as horas tenham um bocadinho mais de vida. O corpo não obedece à vontade de ficar mais uns instantes a lembrar-te tudo com a minúcia de um coração embalado pelo infinito amor em que te vive. O corpo cansado adormece, mas a alma não descansa nem se cansa de procurar-te de olhos fechados, num caminho que sabe de cor, por entre sonhos, imagens e memórias que colecciono de ti. A alma conhece-te por debaixo da pele e, nesse tanto que te vai sabendo, vive ansiosamente a vida num só dia. A alma não dorme, passa noites em claro a ouvir o bater do coração e eu encontro-te no compasso desse ritmo apaixonado de querer abraçar-te tudo com a força com que gosto de ti. Adormeço para te regressar em sonhos porque não sei estar longe de ti, mesmo se no intervalo de distância os lábios se tocam. O corpo quer dormir porque está cansado há muitas noites e muitos dias. A alma resiste, embrulha-me na saudade e baralha-me o tempo a pensar em ti sempre e em toda a parte, mesmo quando me abraças o sono colada a mim. Adoeço o corpo do que me falta dormir para alimentar a alma do que me falta de ti, porque sinto infinitamente a tua falta acordada e a dormir. O corpo, a alma e o coração precisam de ti, tudo o que sou precisa de ti. No que me falta para adormecer fico, aninhada no teu corpo, a olhar para ti, na esperança de que me sintas, também, a embrulhar-te a alma e a olhar por ti.

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

No centro

Niki Conolly, 18 days without rain... the color of delirium, 2007

Nas minhas horas desocupadas de bom senso sofro a angústia de estar a desperdiçar tempo com pensamentos supérfluos que me desviam do centro e da essência das coisas. O centro é o espaço onde apenas tu e eu cabemos num ponto único, convergente e tão concreto quanto absoluto. Divagar em círculos mais ou menos concêntricos, mais ou menos equidistantes, fora do que somos nós, é deixar acontecer hiatos de sentido e neles errar de forma quase patética. Quando não sei exactamente de ti, procuro-te no centro e ali estás sempre. E no centro onde te encontro ao centro tu és eternamente a minha vida, o princípio de tudo o que não tem fim. De que me servem as horas de alma vaga quando te sei o centro do universo? Que perda de tempo insensata pensar-te num sentido incerto e impreciso quando te sei tão mais profundamente para além das impressões que ficam. No centro do que eu sou tu habitas-me completamente numa certeza absoluta e translúcida de terra, água, ar e fogo. O Amor é a verdade com que te sinto e vivo nas horas e fora delas. No centro que é a essência de tudo somos o Amor indelével e infinito que muitos imaginam como mito. Meu Amor, a distância possível entre nós é a de lábios contra lábios num beijo.

terça-feira, 4 de setembro de 2007

Nuvens


Kenny Goh, Silver Lining

Há momentos em que me apetece deitar nas nuvens, adormecer na sua imensidão impalpável e amanhecer por lá para olhar lá de cima, bem cedo sob a luz cristalina da manhã, e perceber melhor a paisagem cá em baixo. A terra que me aguarda o despertar nem sempre é plana e, por vezes, tropeço em coisas que não alcanço completamente. Invejo as nuvens que nos observam, altaneiras, e sabem por onde caminhamos, onde caímos e nos levantamos tantas vezes sem nos darmos conta. Esta noite sonho com um colchão de nuvens e uma almofada de luz.

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Infinito

Mathew Jellings, Timeless, 2007

Nos dias bons, nos dias maus, nos não-dias ou dias assim-assim. Nos dias de ausência ou na ausência dos dias em nós. Na distância daqui ao outro lado do mundo ou à distância de lábios que se beijam. Incondicionalmente para sempre. O meu 'sempre contigo' não tem tempo nem lugar. Sempre é a perpétua vontade de te ter comigo e a certeza de um amor absoluto. O meu 'sempre' é o mar infinito e intemporal em que te estendo os braços para tentar dizer-te 'Amo-te tudo'. Tudo não tem fim, é o tamanho do 'sempre' a que acrescento mais um dia por cada dia que passa por nós. Nem passado nem presente nem futuro. A vida que me anima a alma e que o coração sente tão completamente neste 'nós' que somos abraça-te e segura-te a eternidade. Depois de ti não há nada. O 'tudo' é o infinito que há em ti e em mim lado a lado.

domingo, 2 de setembro de 2007

Daqui a nada

Oleg O. Moiseyenko, Time XII (Kandisnky Time Series)

Quantas horas faltam para 'daqui a nada'? Quando faltava 'quase nada' para te ter olhos nos olhos, eu adormecia a sonhar esse 'daqui a nada' que tu dizias que faltava. E, na febre dessa ansiedade a queimar-me o corpo, as horas que contei 'daqui' a 'nada', desse quase nada de distância para nos voltarmos, eram muitos dias, tantos que nem sonhava porque acordava no sobressalto dos ponteiros fixos do tempo de espera. Voltaste mais depressa do que 'daqui a nada', tão depressa que nem me deste tempo de perguntar-te pelo caminho 'Agora já é logo?'. Logo era o 'daqui a nada' prometido e tu chegaste mais cedo, enquanto eu te seguia o rasto, segundo a segundo, no meu relógio lento de tanto tempo à espera.