Don Nieman, Living among the dead, 2005
Como tudo o que se promete, a vida acontece umas vezes cumprida outras vezes por cumprir. E o carácter de cada um define-se pelas escolhas que se fazem e pelo bem que somos capazes de perceber nos outros. Ver para além do umbigo é difícil, mas é preciso para não morrermos fechados em nós mesmos como vítimas das circunstâncias. Se formos generosos percebemos que o Mal não está nos outros, mas sim no egoísmo da autocomiseração e na nossa incapacidade de trocar o sofrer pelo agir. Se tivermos coragem de assumir o que é verdadeiro e optar pelo lado positivo, em que a vontade é igual ao Bem, o Mal passa e não nos toca, porque o Mal ocupa apenas o lugar deixado vago pela nossa passividade. E isso é suficiente para nos percebermos um bocadinho melhor e não imputamos aos outros a culpa de tudo o que nos acontece. Porque a culpa dos outros não é mais do que a incapacidade de nos gerirmos a nós mesmos, porque não gostamos de quem somos e projectamos esse desamor nos outros como um mecanismo de autopreservação, uma estratégia de sobrevivência. É mais fácil escolher ser vítima do que agir em nós mesmos. É fundamental compreender que não podemos mudar o mundo, mas podemos mudar o que em nós está desordenado. Escolher ver o Bem é, antes de mais, aprender a gostar nós e privilegiar a paz de espírito. A partir daí, a visão do mundo altera-se, os demónios desaparecem e os outros deixam de ser uma ameaça. Evoluímos.