segunda-feira, 16 de maio de 2011

Demónios interiores

Don Nieman, Living among the dead, 2005

Como tudo o que se promete, a vida acontece umas vezes cumprida outras vezes por cumprir. E o carácter de cada um define-se pelas escolhas que se fazem e pelo bem que somos capazes de perceber nos outros. Ver para além do umbigo é difícil, mas é preciso para não morrermos fechados em nós mesmos como vítimas das circunstâncias. Se formos generosos percebemos que o Mal não está nos outros, mas sim no egoísmo da autocomiseração e na nossa incapacidade de trocar o sofrer pelo agir. Se tivermos coragem de assumir o que é verdadeiro e optar pelo lado positivo, em que a vontade é igual ao Bem, o Mal passa e não nos toca, porque o Mal ocupa apenas o lugar deixado vago pela nossa passividade. E isso é suficiente para nos percebermos um bocadinho melhor e não imputamos aos outros a culpa de tudo o que nos acontece. Porque a culpa dos outros não é mais do que a incapacidade de nos gerirmos a nós mesmos, porque não gostamos de quem somos e projectamos esse desamor nos outros como um mecanismo de autopreservação, uma estratégia de sobrevivência. É mais fácil escolher ser vítima do que agir em nós mesmos. É fundamental compreender que não podemos mudar o mundo, mas podemos mudar o que em nós está desordenado. Escolher ver o Bem é, antes de mais, aprender a gostar nós e privilegiar a paz de espírito. A partir daí, a visão do mundo altera-se, os demónios desaparecem e os outros deixam de ser uma ameaça. Evoluímos.

10 comentários:

whitesatin disse...

Aprender a gostarmos de nós não é fácil, mas quando o conseguimos sabe tããumm bem! :)
Aprender a sermos responsáveis pela forma como vemos e lidamos com o outro não é fácil, mas quando conseguimos sabe tããumm bem! :)
Aprender a sermos generosos e a escolher o Bem mesmo nas piores circunstâncias não é fácil, mas quando conseguimos sabe tããumm bem! :)

Resumindo: Tudo o que somos, pensamos, fazemos, é nossa total responsabilidade porque é sempre uma decisão individual optar pela vitimização ou pela libertação - e é nesta escolha que a vida nos acontece...para o bem ou para o mal.

Brilhante texto Always, como sempre nos habituaste :)

Um abraço

Always disse...

Querida N.
A nossa conversa de ontem inspirou-me... :)
Que amanhã haja sol para ires até á praia... :)
Um abraço

NanBanJin disse...

Cara A.:

Adoro sempre passar por cá e tudo o que aqui encontro, independentemente da respectiva dimensão mais ou menos pessoal, diz-me sempre e invariavelmente muito.
Certo é que, desta vez, as palavras tecladas disseram-me mais e mais ainda que de todas as outras vezes juntas.

Um Sentido Obrigado A.

NBJ

Always disse...

NanBanJin,

Eu é que agradeço deixar-me saber que as minhas palavras e a minha forma de sentir o mundo lhe faz algum sentido, independentemente do lado pessoal dos meus textos. Porque é reconfortante saber que não estamos sós na nossa descodificação da vida e dos novelos em que ela se enrola e desenrola.

Obrigada pela partilha de sensibilidade e também pelas viagens que me permite no Japão através do seu espaço, que visito com regularidade.
Por falar nisso, espero que tudo esteja mais calmo por aí -- continuo a acompanhar com profunda consternação a tragédia que tem assolado o país.

Um abraço

rv disse...

buuuuuuu ( para assustar os demónios) ;)

Always disse...

R.
LOL...
Buuuuuuu em som estereofónico para ser mais eficaz :D
Beijos!

Lábios de Caprichos disse...

Ver para além de nós mesmos...este egoísmo permanente em que nos instalamos (e contra mim falo, q tantas vezes ajo em função de mim, de mim e de mim). Não acho que a culpa esteja nos outros, nem somente em mim, mas sim na união de "duas" formas distintas de crer, e ao tentarmos (e irmos conseguindo) unir todas as formas, sem prejuízo de nng, percebmos quão existe para além de nós.

Always disse...

LC,

A tua visão é cjeia de lucidez e se já chegaste a essa clareza de espírito, tens tudo para conseguir conciliar e ser bem sucedida. Metade do percurso está percorrido. :)

Um abraço!

Lábios de Caprichos disse...

Não gosto de pensar q já percorri tanto... (sabes, acho q metade do caminho, na nossa existência, significa bastante) Tenho medo de me desleixar da vida! Idiotices, bem sei, mas acho q tenho muito mais a aprender, do que aquilo q ja me foi ensinado. *

Always disse...

E tens razão em pensar assim, mas não desvalorizes o que já aprendeste porque é essa bagagem que te permite integrar o que vais aprendendo todos os dias.
Nunca sabemos demais. Importa sobretudo aprender e evoluir.

Um abraço! :)