Anabark, Poço (Junho.2010)
Quando o Tudo nos encontra e acontecemos por inteiro, sobra pouco para acreditar mais e melhor. E depois do Tudo, guardamos a melhor parte de nós no silêncio de um poço sem cor nem fundo. A dor de quem perde é esse espaço infinito do Nada que nos aninha a saudade do que sabemos ter sido tão completamente e a certeza profunda do que não se repetirá da mesma maneira e nem na mesma intensidade. E a vida segue, o Tempo trás outro tempo atrás e, depois do Tudo, só nos resta viver pela metade, desconfiados, com o fardo do desperdício feito de erros por reparar e de equívocos por desfazer, sobre os ombros. Tudo o que somos constrói-se ao segundo, dia após dia, até ao fim da nossa vida. Não sabemos quanto tempo temos nem o que o tempo nos traz. Talvez por isso eu não desista do meu Sempre. Quem ama acredita e vive a ideia de Sempre, não como um acto de fé, mas porque amar para além de Tudo e da dor do Nada é a prova do que o que sentimos e vivemos foi verdadeiro e absoluto e não apenas um caso ou um instante numa linha de tempo passado. Não seria Amor se desaparecesse assim tão completamente em mim. Não seria Amor se sentimentos mesquinhos me vencessem para atenuar a dor.