quinta-feira, 3 de maio de 2012

Da cama para a rua

Anabark.Once upon a time (MAI07)

Na casa da improvidência morou, por algum tempo, o Amor, alimentado pela condescendência e pela promessa de compromisso. O Amor, que deixou para trás tudo o que era seu por não poder trazer nada consigo, veio de vontade e com a vontade de ficar para sempre, e ali foi muito feliz enquanto, em tudo, foi condescendente. O mesmo Amor que, antes, tinha sido abandonado, subiu uma montanha para ali chegar e encontrou outra montanha quando lá chegou. Mas valia a pena, havia Amor e braços amplos e quentes que, apesar do medo, esperavam por si. Pouco tempo passou, e o Amor ali vivia a esticar braços complacentes até ficarem doridos de tanto os esticar. Um dia, o Amor baixou os braços para ver o que acontecia, á espera de ser reparado, confiante que os braços que tanto amava lhe chegariam quentes e fortes para não o deixar cair. E andou pela casa inteira, dias e meses a fio, e os braços que amava não se abriram nem aqueceram mas teimavam que sim, que amparavam e que eram mais seguros do que os braços do Amor. E o Amor não entendia, porque tinha frio e nenhum calor lhe vinha. E o Amor chorou baixinho, escondido e ás escuras, para que ninguém tivesse pena. E nunca deixou de acreditar. E os braços que amava, cada vez mais frios e envergonhados, foram empurrando para fora. E o Amor não entendia, porque amava muito, tudo, e chegava-lhe pouco, quase nada. Não deixou de amar, gritou para chamar a atenção, queria apenas que reparassem. Desacreditado adoeceu de tristeza e, no desespero, fechou-se na memória do que, ainda tão há pouco tempo, tinha sido. Ninguém veio por ele, por lá ficou esquecido. O Amor não entendeu quando o fim chegou sob ameaça. Um dia, sentado na sua parte da cama, sempre á espera de um abraço, um dedo esticado apontou-lhe a porta e, sem hesitar,  mandou-o sair.

2 comentários:

Anónimo disse...

O Amor ficou tão triste , que deixou de acreditar em si. Tempos e tempos passaram e nãohavia mais nenhum Amor ,que aquele Amor conseguisse olhar. Ou será que ele andava tão envergonhado que nem olhava para o que devia ver ?Será que a dor era tão forte que o sufocava ao ponto de se fechar sobre si?

Always disse...

O Amor ficou muito triste mas não deixou de acreditar em si. O tempo vai passando e a dor, essa, ficou. Ás vezes, falta o ar, mas o amor não morre de falta de ar, morre de saudade... Quando olha em volta, sente-se um estranho!

Abraço!