segunda-feira, 11 de junho de 2012

Tabuada

Dwight Rankine, 2011

O Tempo tudo envelhece, o corpo, o ser, a confiança. E depois do tempo não há mais nada. E falta tempo a todos sem excepção... Trocamos prioridades por opções porque dá menos trabalho e não se pensa tanto. Assumimos a futilidade como zona de conforto, esvaziamos a alma para ficarmos mais leves e inconsequentes e mais iguais a toda gente indistinta. E falamos de nós em voz alta para impressionar os outros com castelos de areia. Não dizemos nada de jeito nem ninguém se impressiona com o vazio que nos antecipa a voz. E riem-se nas nossas costas e nem damos por isso!... E o Tempo consome quem tempo desperdiça em coisa nenhuma. Ter alma intacta é um bem raro nos dias que correm. O sentido da vida escapa-se por entre os dedos de mãos fracas. Ter medo é não o ter coração no lugar. Viver apenas de cabeça é não saber mais do que a tabuada.

2 comentários:

C.S. disse...

Tão verdade!
A sua reflexão faz-me lembrar um texto que li no outro dia, de Jean de la Bruyère, do qual deixo aqui este excerto:

"É triste costume, servidão incômoda, correr incessantemente uns atrás dos outros com a impaciência de não se encontrar; não se encontrar senão para dizer futilidades, senão para informar-se reciprocamente de coisas de que não se ouviu falar e das quais não vale a pena quase saber; de não entrar num aposento senão precisamente para dele sair, de não sair de casa depois do almoço, senão para retornar à tarde, satisfeito de ter visto em curtas cinco horas três porteiros, uma mulher que mal se conhece e outra que se detesta! Quem avaliasse bem o preço do tempo e como sua perda é irreparável, choraria amargamente tão grandes misérias."

:)

Always disse...

Muito a propósito, de facto!
Obrigada, C.S. :)