quinta-feira, 19 de julho de 2012

Alta noite

Tom Slatin, Abandoned Schoolhouse

Na outra ponta da casa esconde-se a lua nova em noite escura, e o tempo passa como um segredo nunca revelado de uma vontade impura. O vento bate à porta, entra e sai, veloz, pelas janelas, arruma e desarruma as cores esbatidas de uma velha tela. Sabe a noite uma história de luz que perdeu o dia, e a lua tem vergonha da sua figura vazia. E no que o tempo anoitece tudo é lento na sua infinita monotonia. As horas nascem e entristecem na contemplação de tão grande desperdício. Só o vento não se esquece de emprestar a toda a casa um ar de reboliço.

6 comentários:

JG disse...

Muito bom, Always! Denso no sentido e fluido na imagem percepcionada. Sente-se a poesia a andar pelos corredores da casa... :)

Always disse...

JG,

Obrigada, JG. Gosto do teu olhar... :)

Ana M. disse...

E será sempre o vento o único elemento de mudança, aquilo que mexe, o que se mantém vivo. A casa cristalizou e a lua envelhece esvaziada da fantasia. Metáfora plena de objectividade, A. e certeira na sua dinâmica psicanalítica!...

Beijo meu!

Ana M. disse...

PS - Londres, 3-5 ago ou, se preferires, na semana a seguir... :)

Su disse...

Tanta coisa em tão poucas palavras! :)... Aprecio esta capacidade de criar uma imagem poética e cheia de significados que nos obrigam a um quase jogo de decifração.

Margot disse...

Quase cinematográfico...
Gosto muito do que escreves, do teu estilo e da forma como casas as palavras com o sentimento.

:)