quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Buraco negro

Black Hole

Este lado do infinito sou EU

Verdade absoluta

Patrick Smith, Maelstrom #3 (Kauai, Hawaii, 2009)

O outro lado do infinito és TU

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Pulsar


Gerla, Dreaming of a white christmas, 2009

O amor não é uma planície a perder de vista. O amor não é um horizonte plano onde não se passa nada para além da luz que alterna a noite e o dia. O amor não é um traço contínuo numa estrada nem uma linha recta geometricamente calculada. O amor não é branco que não é cor nenhuma mas ausência dela. O amor não é uma esfera, monótona, sem pontas por onde pegar. O Amor é uma montanha, alta, íngreme e agreste que nos faz olhar para cima e nos desafia a subir, na esperança de tocar o céu com a ponta dos nossos dedos e sentir os pés vitoriosos sobre a vertigem da escalada. O amor é um pedaço de gelo cheio de arrestas e muitos lados, uma forma prismática de perceber quem somos, o que vemos na complexidade dimensional que nos estrutura a existência. O amor é uma parede rugosa, irregular, viva e de personalidade difícil que não nos deixa encostar, que nos incomoda e nos faz reparar em coisas que nem suspeitamos em paredes lisas. O amor é velocidade, é cor, é estado líquido e estado sólido alternados e em simultâneo, é fogo e gelo, como uma ilha islandesa mais do que qualquer outro lugar no mundo. É um livro sem texto permanente, que se escreve a si próprio sem nunca chegar ao fim. Porque o amor é selvagem, cheio de tempestades, um movimento em espiral que nos leva numa viagem alucinante dentro e fora de nós. O amor é o infinito matemático, as casas decimais intraduzíveis. Amar é perceber que o Amor é acima de tudo um ritmo, um pulsar, um coração que bate, o milagre da vida na sua complexidade microscópica em que tudo se transforma, tudo evolui. Tu e eu somos vida, o reboliço que nos vem de dentro é Amor. Nem mais nem menos do que este perpétuo movimento de uma em direcção à outra. Sempre sem parar.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Menos é mais

Andrei Baciu, Haiku 4339, 2010

Reagindo à hiperemotividade e ao expressionismo abstracto da arte dos anos 50 e 60, o despojamento e a simplicidade do minimalismo deixa-nos perceber que menos pode ser mais. Não sei porquê, esta paisagem mergulhou-me no conceito como num sonho de pura objectividade...
'O minimalismo não se refere directamente ao conceito de "pouco", e sim de ampliar a essência do que realmente é importante, chegando ao ponto de tornar todo o restante dispensável perante o verdadeiro foco da criação, podendo ser dito como a redução da variedade visual numa imagem.' (Alexandre Aguirre)

terça-feira, 25 de maio de 2010

O todo pelas partes

Anabark, Parede Tripla, MAI10

A superfície de todas as coisas é feita de várias camadas. Todas distintas em testemunho de espaço e tempo específicos, como impressões digitais das experiências que nos constroem, umas boas, outras más, outras nem uma coisa nem outra porque não as recordamos com o pormenor de quem aprendeu algo pertinente. Camada sobre camada vamos construindo a pessoa que somos. O interior vai ficando cada vez mais para dentro, longe do que se vê de forma descuidada. O centro esconde-se sobre camadas de muitas coisas diversas, às vezes incoerentes, que reforçam ou condenam a essência pelo que condicionam a nossa forma de existir e ser no mundo dos outros. A superfície não nos define nem o meio nos explica simplesmente. Somos a soma do que trouxemos connosco ao nascer e o que nos vamos sobrepondo em camadas. Nem sempre fazemos sentido e muito raramente somos por inteiro as competências acumuladas. Mareamos por entre a expectativa dos outros e a nossa vontade. No fundo, a nossa maior liberdade é o espírito de contradição.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Na soleira

Glenn Franco Simmons, Flowers, 2010

À minha porta cresceram três flores de um rosa quase lilás que me impedem de sair. São inesperadas como o tempo mas estão lá, a marcar território, abertas ao vento e contentes, parece-me, por viverem mesmo em frente a uma porta, como um bom presságio ou um pensamento feliz à nossa espera do lado de fora. Não posso deixar de assinalar o inesperado e a falta de propósito da natureza que, de uma vasta porção de terra verde e fértil, escolheu um espaço limiar para se expandir por sua conta e risco.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Antinatural

Luc Tricot, How would you name this one, 2010

Hoje, que não é sábado nem feriado, apetecia-me organizar as coisas e partir como na semana passada. Voltar de férias é tudo menos motivador... O egoísmo de ter os dias feitos por medida é um prazer supremo que a 'alegria do trabalho' não consegue igualar. E aqueles que dizem que 'adoram trabalhar' são loucos ou não têm vida para além daquela que o ambiente de trabalho proporciona – não são ninguém, apenas uma ilusão que se mantém em horário de expediente. Ser o dia inteiro implica uma liberdade rara, um luxo, algo só atingível pelo dom da contemplação. Há ruído por toda a parte e distracções por todo lado - estamos demasiado habituados a acreditar que somos o que nunca seremos realmente. A liberdade de ser completamente é um estádio de evolução. Nascemos, morremos: talvez um dia, se tudo correr bem, tenhamos novas oportunidades.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Reticências

Dragomir Vukovic, All, 2010

Que acontece aos espaços em branco que ficam dos dias? Porque há dias incompletos e horas que não se esgotam totalmente no que esperamos delas. Que acontece a esses intervalos de tempo imaterial? Acumulam como pontos de um crédito impalpável para usar numa outra ocasião de maior conveniência? É confortável a ideia de que existem vazios, intervalos e branco, espaços de tempo disponível, alternativas de voltar a fazer e fazer melhor o que ainda não aprendemos totalmente, o que perdemos ou o que não demos conta que existiu. É importante agarrar essa possibilidade como fruta fora de época que nos desperta maior vontade, porque viver é mais do que tempo contado, universal. A vida é a subjectividade do espaço temporal que ocupamos combinada com o desejo de rosas quando não as possa haver. Se assim não fosse, o universo inteiro seria uma imensa maçada, porque a previsibilidade é cansativa e porque não vivemos realmente se sabemos invariavelmente o que vem a seguir.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Liberdade

Sanjibm, Flying in the wind, 2009

Free your mind and the rest will follow

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Se calhar hospital

S. Sabine Krause, A try at perfection, 2010


Hoje acordei mais envelhecida do que o habitual, hoje dói-me o corpo e o dia pesa demasiado. Deitei-me doente. Durante a noite senti a tua mão cheia de calor aninhar-me e o sono veio e levou-me. Ou então, acordada, esqueci-me de tudo, dos ossos fora de sítio e de nervos inflamados, debaixo da tua mão quente reparadora. Durante o dia, quando o corpo se impacienta dorido, regresso à palma da tua mão quente sobre a minha pele da noite anterior e aí me recomponho e restabeleço a força que preciso para chegar a casa...

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Tu também não

Maria João Arcanjo, Theatre of the escape, 2010
Sou capaz de não ter razão. E tu também não. E talvez ninguém tenha a razão que quer ter porque é essencial acreditarmos em nós mesmos íntegros, sobretudo quando sobramos em fragmentos, onde não cabemos nem sabemos encaixar. Querer ter razão é uma procura de sentido quando nos apercebemos em pedaços, sem nexo, pelo chão. Sou capaz de não ter razão. Sou capaz até de nem saber o que é ter razão. Talvez não conheça, de todo, a razão. Talvez assim me justifique a minha intolerância e o desejo, oblíquo talvez, de razão. Ou talvez não. Talvez queira apenas aprender a reconhecer a razão e não teimar em tê-la simplesmente. Talvez a ti te seja indiferente a diferença, mas para mim são dois mundos à parte e um barco entre eles que não sei equilibrar. Não espero que percebas, entende apenas o esforço do meu querer, em ti e por nós, navegar.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Insatisfação

Aziz J. Hayat, Broken Metal, 2009
"Sofremos demasiado pelo pouco que nos falta e alegramo-nos pouco pelo muito que temos..."

William Shakespeare

terça-feira, 9 de março de 2010

Parece que é

Cosmo, Dusseldorf Hafen #2, 2009

No fundo, vemos o que queremos, da forma que melhor nos convém. A realidade será outra coisa qualquer, nem concreta nem definida, algo elástico, variável em função de factores inconstantes como a luz, o ponto de observação ou a capacidade cognitiva do sujeito, por exemplo. No fundo, nada do que parece é e de nada do que é realmente temos absoluta certeza. E ainda que acreditássemos na realidade tal como a observamos, erraríamos, porque a verdade é inatingível como a essência do tempo, que só usamos de forma conceptual por uma questão funcional e porque temos absoluta necessidade de medir o universo à escala humana. Porque não sabemos de onde viemos nem para onde vamos. No fundo, a dúvida define-nos como espécie viva. No fundo, a maior parte dos mortais não tem a menor ideia do seu propósito de vida. Respiram apenas um dia atrás do outro. A realidade é o que cada um conseguir perceber de si próprio na sua relação com o mundo. No fundo, o Amor é um estado avançado de percepção do ser.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Sobreaquecimento

Ilse Rehn, Secret Journey, 2010

Tocar o corpo a caminho da alma encontrada. Sentir o corpo com a intensidade da vida que o coração controla. Fundir a alma no mesmo compasso que nos descontrola o corpo. Derreter por dentro a queimar por fora. Ontem é também hoje e assim será deste lado do universo, onde tu e eu somos o espaço infinito de um corpo só.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Capricho da Natureza

deep-x, sem título, 2010

Continua a chover por todo o lado. A chuva passeia-se pela rua e dentro de algumas casas, não poucas, também. E de pouco nos adianta a saudade de dias de roupa leve e céu aberto e lento. De nada serve queixarmo-nos do corpo encharcado e cheio de frio que arrastamos todos os dias por entre os intervalos da chuva, vento ou as duas coisas ao mesmo tempo. O Inverno reina no tempo dele, indiferente à indignação humana. E nós queixamo-nos por haver estações do ano umas menos azuis do que outras. Queixamo-nos da falta de água quando a chuva não chove e, quando chove, achamos sempre que é em demasia, convencidos de que sabemos melhor do que a Mãe-Natureza em que quantidades deve vir e ficar o Inverno. Melhor seria preocuparmo-nos em pensar soluções para melhorar o tempo dos homens em vez de dedicarmos os nossos dias debaixo de chuva a discursos inúteis sobre a metereologia, cheios de queixas infantis e caprichosas contra aquilo que realmente não podemos mudar nem alterar de acordo com vontades, jeitos e conveniências... e ainda bem.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Antes de chegar

h-pom, untitled 093, 2010

Ponto de partida, de chegada, ou simplesmente porto de abrigo. Os dias são viagens numa viagem desconhecida. O destino pouco importa, é durante a viagem que acontecemos e que o mundo muda de sítio e nas voltas que o mundo dá multiplicamos a nossa oportunidade de crescer. Ser adulto é assumir a responsabilidade e o compromisso dessa evolução. O erro e o medo fazem parte da viagem, assim como a vontade de descobrir e de vencer os dias pela experiência e conhecimento adquiridos no dia anterior. E do medo se faz força e do erro sabedoria. Durante a viagem podemos escolher viver.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Viver com urgência

Misu Schwartz, Temporary Structure, 2010

Talvez não sentisses frio se te abandonasses à fome de viver e percebesses que o resto da tua vida não começa amanhã, mas ontem ou hoje o mais tardar. Talvez não sentisses frio se te permitisses essa urgência de sangue a queimar por dentro pela falta de tempo a que, inevitavelmente, todos estamos condenados pelo simples facto de nascermos e morrermos demasiado depressa.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Escrever de luvas

Anabark a partir de Mischa Bronstring, Lockedbibles, 2007

Hoje lembrei-me de ir buscar as polaroids que nunca tirámos à gaveta das coisas impalpáveis e publicá-las aqui ou arquivá-las noutro sítio, de acordo com a sua importância. Assim, a olhar para elas, percebo que são muitos os momentos que ocupam este armário a guardar dentro a memória do que somos e do que erámos quando tudo começou. Hoje, sem mais nem menos, lembrei-me de desarrumar a memória e reviver o tempo desordenado. Foi assim que passei o meu dia, não me apeteceu fazer mais nada. Porque está a chover e está frio, refugiei-me no cheiro reconfortante de um móvel de madeira imaginário cheio de coisas nossas quentes, momentos de agasalho de ontem, hoje e sempre, que nos embrulham até que as massas de ar frio, que lá fora sopram os dias, deixem de o ser.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Inesperado

Derek Pullan, Hawai'Ian Islands

Outra vez o beijo, o mesmo beijo, sem tempo, de sabor infinito, vivo, intenso a queimar para além da boca. O mesmo fogo no corpo e nos lábios... Outra vez, meu amor, hoje e daqui a um ano e sempre, essa mesma força infinita de um momento inesperado.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Horas de gelo

F-Pappenheimer, Starlight, 2010

Conto as horas gota a gota, o tempo estende-se, torna-se longa a espera. Reparto os grãos de areia que ficam entre o que eu aguardo e o que me separa. Conto sem fim o fio de areia que vejo esvaziar lentamente minuto a minuto. Espero. E tudo anda mais devagar no tempo em eu espero. As gotas de água que substituem a areia cansada de contar as horas quase se tornam gelo e suspendem o tempo na ponta das folhas das árvores. Tenho as mãos e o corpo frio, porque me fazem falta os teus braços durante as horas geladas que as gotas de chuva prolongam na distância em que não estamos embrulhadas e no tempo que, daqui até aí, nos demora o calor do abraço.