John Hamers, 2011
E o tempo ultrapassa-me e de nada adianta correr contra ele. Mais forte do que o vento forte, o tempo ultrapassa tudo, sonho e realidade. De tudo quanto fui, quardo o que posso num baú imaginário, como quem segura o que sente por dentro como alma. O que sou, construo todos os dias como quem quer muito aprender a melhorar. Do que serei amanhã e nos dias por vir só posso trabalhar a ideia do que gostaria que fosse, como quem sonha uma bola colorida onde cabem todos os sonhos do mundo e o mundo também. Mas o tempo corre mais depressa do que a vontade e do que sonho. O tempo corre mais depressa do que a vida. E eu, como toda a gente, sou apenas um esboço de inúmeras possibilidades. Sou sonho e coisas concretas, memórias e ideias, passado, presente e futuro. E sou também o tempo que me ultrapassa quando me deixo ficar imóvel nas horas a que nada acrescento para além do meu petulante aborrecimento e falta de assunto. E sou também a vida que quer o tempo por inteiro, sem desperdício. E quero encontrar-me e acertar o passo, como quem acredita que não há tempo a perder. Tem de ser o que estiver para ser e tem de ser agora.