quarta-feira, 18 de julho de 2012

Paladar

James Casebere, Interrogation Room, 2008

Sabe-me a água salgada o dia que termino sem mar à vista e praia adiada. Sabe-me o dia a outra vida que não esqueci. Sabem-me as horas ao desassossego insatisfeito que noutro tempo vivi. Sabe-me a tudo e a nada e a uma vontade desencontrada. Sabe-me ao mundo que encontrei um dia e no dia seguinte perdi. Sabe-me ao sonho de um Amor inteiro e maior do que a vida. Sabe-me a quem não distingo, na alma, de mim. Sabe-me ao vazio e à melancolia das coisas pequeninas. Sabe-me ao que adormeço todos os dias e à distância que me arrefece. Sabe-me a folhas mortas e a florestas desertas. Sabe-me ao desejo e ao impossível. Sabe-me à intensidade que me sobra e que não sei pôr de lado nem tornar imperceptível. Na boca tenho o gosto de um querer de alma que não se cumpre nem adormece.

4 comentários:

Lia disse...

Absolutamente brilhante! :)

Always disse...

Obrigada, Lia! :))

Ana M. disse...

Quando a fantasia morre não há volta a dar, A. E o passado só nos é importante pela intimidade que se mantém ou se reconstrói no presente. Se nenhuma das coisas existe não vale a pena perder tempo com o vazio.

Always disse...

Tens toda a razão, Ana M. :)