quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Antes de chegar

h-pom, untitled 093, 2010

Ponto de partida, de chegada, ou simplesmente porto de abrigo. Os dias são viagens numa viagem desconhecida. O destino pouco importa, é durante a viagem que acontecemos e que o mundo muda de sítio e nas voltas que o mundo dá multiplicamos a nossa oportunidade de crescer. Ser adulto é assumir a responsabilidade e o compromisso dessa evolução. O erro e o medo fazem parte da viagem, assim como a vontade de descobrir e de vencer os dias pela experiência e conhecimento adquiridos no dia anterior. E do medo se faz força e do erro sabedoria. Durante a viagem podemos escolher viver.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Viver com urgência

Misu Schwartz, Temporary Structure, 2010

Talvez não sentisses frio se te abandonasses à fome de viver e percebesses que o resto da tua vida não começa amanhã, mas ontem ou hoje o mais tardar. Talvez não sentisses frio se te permitisses essa urgência de sangue a queimar por dentro pela falta de tempo a que, inevitavelmente, todos estamos condenados pelo simples facto de nascermos e morrermos demasiado depressa.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Escrever de luvas

Anabark a partir de Mischa Bronstring, Lockedbibles, 2007

Hoje lembrei-me de ir buscar as polaroids que nunca tirámos à gaveta das coisas impalpáveis e publicá-las aqui ou arquivá-las noutro sítio, de acordo com a sua importância. Assim, a olhar para elas, percebo que são muitos os momentos que ocupam este armário a guardar dentro a memória do que somos e do que erámos quando tudo começou. Hoje, sem mais nem menos, lembrei-me de desarrumar a memória e reviver o tempo desordenado. Foi assim que passei o meu dia, não me apeteceu fazer mais nada. Porque está a chover e está frio, refugiei-me no cheiro reconfortante de um móvel de madeira imaginário cheio de coisas nossas quentes, momentos de agasalho de ontem, hoje e sempre, que nos embrulham até que as massas de ar frio, que lá fora sopram os dias, deixem de o ser.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Inesperado

Derek Pullan, Hawai'Ian Islands

Outra vez o beijo, o mesmo beijo, sem tempo, de sabor infinito, vivo, intenso a queimar para além da boca. O mesmo fogo no corpo e nos lábios... Outra vez, meu amor, hoje e daqui a um ano e sempre, essa mesma força infinita de um momento inesperado.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Horas de gelo

F-Pappenheimer, Starlight, 2010

Conto as horas gota a gota, o tempo estende-se, torna-se longa a espera. Reparto os grãos de areia que ficam entre o que eu aguardo e o que me separa. Conto sem fim o fio de areia que vejo esvaziar lentamente minuto a minuto. Espero. E tudo anda mais devagar no tempo em eu espero. As gotas de água que substituem a areia cansada de contar as horas quase se tornam gelo e suspendem o tempo na ponta das folhas das árvores. Tenho as mãos e o corpo frio, porque me fazem falta os teus braços durante as horas geladas que as gotas de chuva prolongam na distância em que não estamos embrulhadas e no tempo que, daqui até aí, nos demora o calor do abraço.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Chão de água

Rudi Kokic, Nirvana, 2010

E, caminhando o Inverno, o chão tornou-se água, que abraça os pés em toda a volta, como se fosse essa a forma de fazer entender que assim é mais fácil a caminhada. Aqui e ali encontramos pedras, reais e imaginárias, pequenas, grandes, do tamanho que nós lhe inventarmos à nossa medida. Aqui e ali perdemos o pé e estremecemos. Depois olhamos para baixo. A água continua a embrulhar-nos os pés, como se fosse essa a forma de nos fazer saber que a carícia translúcida das ondas nos faz ver melhor por onde vamos. De resto, pouco importa se o Inverno se mantém invernoso, se a maré sobe ou desce, se o ceú se abre ou escurece. Não faz diferença a quem tem a claridade de saber onde quer ir.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Dentro, uma janela

Jola Dziubinska, Frosty Diamonds, 2010

Nem sempre reparamos nos diamantes que tropeçam no nosso andar. Nem sempre perdemos tempo para contemplar a luz que nos ilumina, não a noite mas os dias por inteiro para além do tempo contado em unidades. Nem sempre estamos há altura de ver mais longe, para lá da matéria em que fixamos o olhar. Nem sempre encontramos a beleza onde ela existe sem senão - pura, translúcida, infantil. Perdemos tanto e percebemos quase tudo pela metade. Os olhos enganam-se e, às vezes, derrapamos numa cegueira continuada. Perdemos. Anoitecemos sem reparar. E o tempo foge mais depressa do que a nossa teimosia. O tempo é curto. Não nos espera. Vem, meu amor, à procura de tudo o que ainda não sabemos, e sabemos quase nada. A casa que construimos é o que nos falta descobrir e o que já encontrámos pelo caminho. A viagem é uma janela aberta virada para os diamantes que guardamos dentro e que nos oferecemos generosamente quando saimos à rua ao encontro uma da outra.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Podemos almoçar?...

Barry Green, Helical Pink, 2006

Não foi há muitos anos, mas já passaram alguns. Não temos muito tempo, mas temos uma outra vida. Podia ter sido ontem, lembro-me como se tivesse sido hoje, há poucas horas atrás. Podia ser amanhã e eu saberia reconhecer-nos, como me reconheceste da primeira vez. Seria fácil, como foi quando inesperadamente nos chegámos. Seria fácil hoje, amanhã, sempre. Porque há momentos instintivos, como nascer, respirar e morrer. Reconhecer-nos esse instinto de quem se acolhe na manta quente que corpo e alma sempre precisaram e nunca antes desse dia nos embrulhou, é renascer, crescer e viver. A vida só existe nesse acto instintivo que reconhecemos como Amor. Foi neste dia que te conheci e, reconhecendo-te, conheci-me. De forma inesperada, aprendi a respirar e a correr riscos pelo prazer de viver. Viver é amar-te e continuar a reconher-nos todos os dias.