quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Chão de água

Rudi Kokic, Nirvana, 2010

E, caminhando o Inverno, o chão tornou-se água, que abraça os pés em toda a volta, como se fosse essa a forma de fazer entender que assim é mais fácil a caminhada. Aqui e ali encontramos pedras, reais e imaginárias, pequenas, grandes, do tamanho que nós lhe inventarmos à nossa medida. Aqui e ali perdemos o pé e estremecemos. Depois olhamos para baixo. A água continua a embrulhar-nos os pés, como se fosse essa a forma de nos fazer saber que a carícia translúcida das ondas nos faz ver melhor por onde vamos. De resto, pouco importa se o Inverno se mantém invernoso, se a maré sobe ou desce, se o ceú se abre ou escurece. Não faz diferença a quem tem a claridade de saber onde quer ir.

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