segunda-feira, 25 de abril de 2011

Liberdades?

Zonedout, Liquid Krystal 9, 2011

Perdemos tanto tempo e saúde a pensar e a investir no que não vale a pena, é triste e quase patético! Não acredito em tanta coisa e depois dou por mim entretida a pensar que sim, que pode ser que aconteça, que talvez seja como dizem e que o defeito é meu por não vislumbrar. Tenho os valores que me educaram, e me fizeram a pessoa que sou, e alguma inteligência que fui construindo sobre o mundo. Acredito que a Liberdade é um bem fundamental. Não a liberdade no sentido amplo e vulgar que se confunde com anarquia e desordem geral, mas a Liberdade que estabelece que nenhum homem escravize outro ou penalize uma forma de pensar diferente da sua. Hoje é o dia em que se comemora essa condição. Mas, enquanto nação, Portugal não existe. Os portugueses não sabem construir um país, não têm noção do que deve ser para que Portugal se cumpra como adulto. Estou farta de não saber por onde ir por não ter em quem confiar. Tudo é mediocre e oportunista. Só me restam os artistas porque deixam obra pela paixão à arte.
Acredito que Amor é a maior virtude do ser humano. Acredito que somos melhores em tudo quando nos sentimos amados. Precisamos todos de um abraço sentido, verdadeiro, forte. Precisamos de amor, de saber o que isso é no corpo, no coração e na alma. Sem isso não seremos nunca nem fortes nem felizes. Talvez, nos dias que correm pela minha vida, eu tivesse razões para pensar o contrário, mas não. Ainda que o Amor seja também sofrimento, ele é vida e capacidade de superação, coragem no seu estado mais puro. Isso, hoje, eu sei. Nunca me senti tão viva e tão inteira, tão disponivel para me dar ao mundo como quando vivi nesse estado de graça.
Os portugueses têm vidas vazias, desinteressantes, porque não amam, não sentem completamente, são demasiado quadrados para privilegiar o que não é palpável. São tacanhos, condenam-se condenando o que não sabem compreender. E eu sei do que estou a falar, fazendo parte de uma minoria de comportamento diferente em termos de sexualidade. Eu gostava de acreditar que, um dia, não fará diferença a ninguém eu beijar a mulher que amo em público, como qualquer casal hetero que se despede ou se cumprimenta naturalmente. Mas a minha Liberdade ainda não me chegou e eu nem culpa tenho de ser o que sou, como não tenho culpa de ter cabelo preto e pele branca. Hoje é também o dia em que penso em tudo isto, em que a Liberdade devia ser também o triunfo do Amor entre os homens, o seu reconhecimento como príncipio fundamental da felicidade humana.
Ontem, que foi domingo de Páscoa, um homem chamado Jesus Cristo, reza o mito, ressuscitou em nome do Amor, depois de ter morrido na cruz por ser diferente da maioria e por assumir essa diferença como revolução (ou para nos limpar de pecados...). E, ao fim de mais de dois mil anos, pergunto eu, como na canção-senha 'E depois do Adeus': quem somos nós, o que fazemos aqui? Quero saber quem sou e o que faço aqui. E não sei. Existo apenas? Só o Amor me dá sentido e até nisso sou discriminada.

11 comentários:

rv disse...

epah é isto tudo tudo tudo! Parabéns disseste td mt bem!

Always disse...

Eu acho que ficou tanto por dizer... mas fica para o ano! :)
Bjos

whitesatin disse...

Excelente reflexão :)
É isto tudo e muito mais, e tocaste num ponto muito importante (ou talvez, o mais importante): andamos todos distraídos com coisas mesquinhas quando nos deviamos concentrar no essencial - viver e deixar os outros viver / amar e deixar os outros amar.

Um abraço

Lábios de Caprichos disse...

Ao contrário de muitos outros povos do Mundo, somos pouco apegados ao sentimento real.
Vejamos a pouca atenção que os portugueses dispendem com a arte, a pintura, a poesia, ... Portugal vive de "futebolices", de "Ronaldos e Mourinhos", de "escandalos de palmo e meio", de "governos mal decididos e impostos e preços de petróleo". Intitulam-se de "mentes abertas", c/ amor à camisola, "povo simples, hospitaleiro", quando no fundo continuamos tão fechados e "quadrados". Acho q nos falta vontade, ganância (no bom sentido da palavra), fé e sobretudo "olhos abertos para o Mundo".
Continuamos a espreitar a casa da vizinha, continuamos a comentar situações "pouco convencionais socialmente", e continuaremos... como povo portugues...

underadio disse...

Brindo a esse Amor e a essa Liberdade de que falas.Acredito e espero que Portugal chegue a um estado de Liberdade e não desta coisa que vivemos. Tb quero acreditar que nem todos os portugueses são tacanhos e, atenção que eu sou uma pessimista.Mas, por exº, lembro-me que, quando te conheci e à Blue, senti uma esperança renovada nesses ideais de liberdade e amor de que falas e creio que como nós há mais a vivermos e batermos por eles simplesmente com a nossa vida e com as circunstâncias que se nos apresentam.
Obrigada pelas tuas palavras e por seres o que és, sem medos mesmo sendo portuguesa ; )

Beijinhas muitas de Força e Amor de mim e da Carla.

underadio disse...

"batermo-nos por eles", corrijo o comentário acima.

Always disse...

N.
O mais dramático é realmente o facto de andarmos preocupados com minudências e não salvaguardarmos princípios básicos de felicidade. Nisso a humanidade evolue muito lentamente...
Abraço

Always disse...

LC.
E tudo isso que dizes acontece porque somos provincianos. Continuamos fechados sobre nós mesmos sem disponibilidade para integrar o que fica para além do universo conhecido, como se o mundo fosse apenas o meu quintal mais i quintal do vizinho. Esta limitação condiciona e determina padrões sociais de comportamento baseados numa matriz conservadora e provinciana, o que tem efeitos preversos na evolução das mentalidades.
Bjo

Always disse...

Underadio,

Não percas essa esperança - depende de mim, de ti, da Blue essa conquista. Não me escondo nem minto e vivo sem o peso da intolerância. Muitas vezes são os fantasmas pessoais que carregamos em nós mesmos que condiconam o nosso comportamento, mais do que o juízo dos outros sobre nós. Muitas vezes somos nós que temos dificuldade em gerir a nossa própria natureza e então criamos bodes expiatórios. Esse é o primeiro problema que tem de ser ultrapassado. O resto, de uma forma ou de outra, acabará por fluir...

Um beijinho para ti e para a Carla :)

euexisto disse...

uau!

não conhecia o blog, com este post passou direitinho aos favoritos. que saudades tenho do tempo em que amei e fui amado. beijinho

Always disse...

Euexisto,

Obrigado pela visita e pelas suas palavras de apreço. :)

Um abraço