terça-feira, 27 de novembro de 2007

Ida e volta

B Shortall, The Bench, 2005

O que é estar longe realmente, a distância física entre duas cidades em dois países diferentes ou a dor das saudades que nos invadem a alma entre a partida e chegada? Estar longe é sofrer a ansiedade de um beijo nos lábios ausentes que ficaram à nossa espera. Parto porque tenho de ir, mas parto a ficar para trás, parto quase a chegar. Na verdade não parto realmente, ninguém parte de quem ama nem por dois dias nem por duas horas. O coração não viaja ao mesmo tempo que nós. O coração anda sempre mais depressa e, às vezes, tão depressa que suspende o tempo e só volto a existir quando te regresso. E quando estou nesse longe dos lábios que não te chegam, regresso-te milhares de vezes entre um minuto e outro. Desabituei-me de respirar sem te saber ao alcance dos meus braços, desabituei-me de andar por todo o lado sem te viver em pensamento e seguir-te cada passo. Estar longe é não suportar a certeza de que a distância entre dois pontos é mesurável para além da nossa ansiedade. Amanhã e depois vou perder a distância e encontrar-te a toda a hora porque estás em toda a parte e não apenas no que a minha vista vista alcança. Deixo-te o meu coração para que cuides dele até o meu corpo te voltar. Levo-te comigo tatuada debaixo da pele, bem no centro da alma.

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