sábado, 27 de setembro de 2008

Algures


Adalberto Tiburzi, Looking East, 2005

Há dias em que tenho dificuldade em acordar. E não acordo. Passo pelo dia sem abrir os olhos, lenta e inconsistente, sem que as horas, as coisas e as pessoas cheguem a dar por mim. Há dias que acordam a minha indisponibilidade e, por mais que eu tente arrastar-me para fora desse quarto perdido dentro da minha cabeça, não depende de mim mas de uma chave nem sempre combinada com a fechadura. E os meus olhos fechados, ainda que reconheçam o ruído de um relógio que me dá notícias do mundo lá fora, revestem-me o corpo de uma invisibilidade necessária, que me protege da não-presença das coisas e das pessoas como eu as imagino. Porque, às vezes, só existem as horas e, nelas, imagens que não nos abraçam e nem reparam nós.

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