segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Do outro lado do inverno

Yannis Logiotatides, Drops on window, 2003

Enquanto a chuva desce e o abraço em que descansamos nos aquece a noite do frio em que se desfiou o dia, lembro-te a ti e a mim sem o abrigo que hoje somos. Aqui, por detrás do vidro da janela que nos separa da tarde invernosa, sabe bem recordar as muitas voltas que o mundo deu até nos encontrar num mesmo passo, num mesmo tempo, numa mesma história. Aqui, abrigadas dos dias invernosos em que derivámos na dôr, à margem uma da outra, celebramos uma fé maior do que a vida, porque ela é a própria vida quando tudo perde sentido longe do Amor. O fogo, que é como sempre foi, vive em tons escaldantes numa chama alta. Aqui não temos frio, a roupa sobra-nos despida da pele incendiada por este algo tão imenso e quanto impalpável que sentimos por dentro e nos estremece o corpo todo. Ontem já éramos tudo isto, mesmo quando, longe, chorámos o que nos julgámos impossível. Hoje somos mais e amanhã, recordando hoje, seremos mais ainda. Somos infinitas, porque o provámos a nós mesmas e aprendemos a razão desse infinito. Porque, se dúvidas houvesse, bastaria olhar para trás e repararmos na nossa sombra escura e arrastada nos tempos de abandono. Porque tu e eu temos uma razão de ser, aqui, do mesmo lado. Do outro lado do inverno, um mundo de vento, chuva e nevoeiro sem nós.

4 comentários:

The White Scratcher disse...

Existe sempre o outro lado de alguma coisa, seja ele inverno, rua, vidro, mesa, mundo, rio, mar, monte. È muito bom quando podemos andar pelo outro lado e reconhecer que afinal, é deste lado que pertencemos, porque aquí não estamos sós e o outro lado já não mete medo.
Assim vale a pena.

t'Mary @ disse...

Como eu amo este blog fogo =$

Não resisto a tirar excertos daqui, sorry!

E muitos Parabéns =D

Always disse...

The White Scratcher,

Todas as coisas, todos os lugares e todas as pessoas têm um outro lado - um escuro e um claro, um quente e um frio, um alto e um baixo, é inevitável. É como dizes, o importante é reconciliarmo-nos com essa dualidade do ser e aprender a viver seguros no lado onde nos sentimos confortáveis e inteiros. Saber onde pertencemos é viver em paz de espírito. Vale sempre a pena tentar a felicidade.

Um abraço

PS - Por onde viajas actualmente 'Bernardo João'? Estejas onde estiveres Feliz Ano Novo!

Always disse...

Eupensoque,

Obrigada pela tua generosa atenção, és muito benvinda por aqui. :D

Bjs