Anabark, Pelos cantos, SET08
Nos cantos, pela casa, espreitam partes de nós desengonçadas. Reparamos todos os dias no que temos de arrumar e, por vezes, arranjamos tempo para deitar fora e desocupar o espaço que nos falta. Outras vezes acostumamo-nos e deixamos estar desarrumado. Porque nos doi o corpo pelas horas acordado, porque nos doi a cabeça de tanto pensar. Nos cantos, pela rua, sobram pedras abandonadas. Tropeçamos, passo a passo, nas que não conseguimos evitar. Não sabemos de onde vêm, mas apenas que ali estão à espera da gente que passa distraída, de olhos mais alto do que o chão. Os dias estão muito longe do Natal. Voltar a casa é acreditar que o que nos apetece vai acontecer. E corremos mais depressa do que as pernas podem. Todos os lugares do mundo são não-lugares longe da casa onde nos cumprimos. Pelos cantos, vão estando coisas soltas por arrumar, que nos sabemos, muito bem, onde as encontrar.
5 comentários:
Naquela nossa casa que o mundo acolhe, há sempre um canto vazio, uma aresta por limar, um espaço por arrumar, mas é sempre a nossa casa, a casa onde o vazio do mundo não entra, e onde só espreita quem nós quisermos...
S-Kelly,
Haverá sempre espaço desarrumado no que é nosso, porque viver é isso mesmo, arrumar e desarrumar coisas.
Tens razão, a nossa casa é o que tu dizes, um império onde reina a nossa ordem e somos soberanos. :)
Um abraço
Mots à la bouche,
Obrigado pelo link a "Modo de Amar" - o poema lindíssimo de Valter Hugo Mãe que tens no teu espaço 'Que reste t'il de Nous Amours?'
Um abraço
A música ali do lado, "sur toi" é muito intensa...e e e, os cantos e nós e nós e os cantos. : )
beijos
P.S. Ainda não chegou o fim-de-ano mas eu agradeço-te já por este belíssimo blogue "gardened" sempre impecavelmente.
(''),
E eu, aqui perdida pelos cantos, deixei-te sem resposta a esta. Desculpa o atraso, aqui vai um beijo à laia de quem te agradece a atenção de todo o ano :)
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