Anabark, Visão turva [Telemóvel, JAN2011]
Ter razão é tão relativo quanto a posição que ocupamos no espaço. Depende, em primeiro lugar, do ponto de observação que escolhermos e essa decisão determina todo o raciocínio a seguir e os nós no pensamento que, aqui e ali, nos estrangulam a clarividência das coisas. Ter razão é um desejo e não uma verdade linear. Entre o que tu sentes ser verdade e o que realmente é e o que eu entendo como a minha razão há, certamente, muitas outras possibilidades de interpretação e outras tantas meias-verdades. Se mudarmos de sítio, a perspectiva é diferente, a realidade parece outra e, no entanto, nada mudou, a não ser a nossa visão, agora mais esclarecida pelo alcance panorâmico acrescentado. Tu tens razão, eu tenho razão, nenhuma de nós tem razão realmente. Temos a razão que teimamos ter, quase irracionalmente, enquanto permanecermos no mesmo sítio. E, se nos quisermos perceber de forma inteira e íntegra, é preciso compreender que o espaço que ocupamos individualmente começa e acaba em nós, se condicionado pela indisponibilidade de espreitar o outro e andar nessa direcção. Se essa vontade não existe no coração, não será na cabeça, suspensa no nevoeiro, que a iremos encontrar. Se o amor existe e insiste em manter-nos vivas, somos mais do que essa cegueira que nos consome por coisa nenhuma, diz-me a clarividência do coração.