sábado, 16 de abril de 2011

Despojamento

Normagerber, Net sails on side walk, 2008

No fim perdemos sempre, tudo o que temos perdemos, a morte encarrega-se disso. Mas ao menos que, enquanto tivermos, tenhamos a certeza de ter completamente e de viver a intensidade de dar e receber de forma inteira e infinita. Que seja uma entrega sem reservas e sem limites, porque só quem tem essa disponibilidade acima de si mesmo, pode entender a dádiva no seu pleno sentido e valorizar, de forma justa, aquilo que nos chega pela mão do  Amor. Porque há no Amor uma condição implícita: o despojamento. Temos de saber ficar sem nada para valorizar a grandeza do que nos é dado e poder dar o que sentimos com a mesma generosidade com que o recebemos. Assim amei eu, em total despojamento.

9 comentários:

Lábios de Caprichos disse...

Despojamento! como eu faço minhas as tuas palavras. Quando amamos entregamos o Mundo se for preciso. Despimo-nos de tudo o que é nosso em nome de outro alguém. E sentimo-nos felizes assim, a amar, ... E quando algo nos magoa de tal forma que o "despojamento" se torna tão doloroso ao ponto de nos faltarem forças?

Always disse...

Amanhã respondo-te com calma. :-) Estou em Leiria, vim ver a Diamanda Galas, estou num hotel a ler o teu comentário no telemóvel e tenho coisas demais para te responder assim à pressa... Fica para amanhã, prometo... Bjos

whitesatin disse...

Tanto quanto sei, só assim é que faz sentido amar. Esse é o espírito do Amor Incondicional...a entrega total sem esperar retorno. E receber com gratidão tudo o que volta para nós naturalmente. É um exercício tremendo! Não é fácil...e quando não somos compreendidos é doloroso...mas se nos conhecemos e sabemos quem somos e o que sentimos, tudo faz sentido, e é possível perdoar a incompreensão dos outros.

Beijos

Always disse...

LC,

Amar deve implicar esse acto de despojamento e de entrega absoluta. Somos felizes por tudo o que damos porque nada nos parece suficiente em função da imensidão que sentimos.
Contudo, embora este dar seja incondicional, precisamos de ser abraçados de volta e precisamos que reparem em nós e na forma despojada como amamos e saimos fora de nós, em cedência de nós mesmos, para colocar o outro como prioridade absoluta. E ás vezes não reparam, habituam-se simplesmente, como nos acostumamos a rotinas. E o desequilíbrio e a assimetria emergem e ficamos magoados e faltam-nos as forças, tens razão.

Não tenho uma resposta para a tua pergunta. Sou, aliás, um mau exemplo a seguir. O meu despojamento nunca foi valorizado. Vivi numa casa sem espaço para mim, sem 'vestígios' meus (para além de cds e roupa) e o 'amor da minha vida' nunca chegou a compreender que não é possível duas pessoas viverem bem quando uma delas nada tem de si á sua volta para se dar a conhecer melhor e construir, assim, um habitat comum. Não podemos ser hóspedes na vida de quem amamos...

O que magoa mais é que não reconheçam o nosso despojamento em nome do amor.

Always disse...

N.

É preciso reconhecer o Amor assim, compreendê-lo dessa forma. Mas quando duas pessoas estão em estádios de existência diferentes essa compreensão não é linear e a insegurança e falta de confiança são riscos que espreitam em cada canto do ser. É uma questão de matridade emocional acima de tudo, penso eu.
No que me diz respeito falhei em não me ter feito compreender, porque amei incondicionalmente e não perceberam o quanto fui despojada nesse amor, sem esperar mais do que Amor igual (porque uma relação entre duas pessoas pressupõe amor recíproco). Magoa não ser reconhecida pela pessoa que diz que nos ama. Magoa ver o Amor ser reduzido a uma competição estúpida e acabar estupidamente. Mas, enfim, agora já não interessa. Já não é, já não somos.

rv disse...

hum...é claro q o amor é vivido a 2 e para mim só o é qd ambas as partes se entregam, ainda q de maneiras diferentes, com a mesma intensidade.Contudo as reservas tb são importantes sobretudo no que toca ao nosso amor próprio, pq ao contrario de muita gente o Amor nem sempre cura td, ajuda mt sim mas nem sempre cura e qd isso acontece essas tais reservas são importantes para nos lembrarem de q o tal Amor não é td numa relação, até pq não se o pode viver de forma saudável se não houver Equilíbrio este sim, para mim, juntamente com o fator confiança e respeito são as bases para o Amor ser vivido, partilhado e até discutido em harmonia. Eu acho, sem querer dizer q sei tudo, q o q faz falta a muita gente é perceber q o Amor não é de facto tudo em qq tipo de relação. Por muita q seja a fé q se tenha no Amor...

bj

Always disse...

R.

Pois eu também acho que o Amor não é tudo, é fundamental Equilíbrio, Respeito e Confiança, muitas vezes conceitos maleáveis de acordo com o que dá jeito, havendo frequentemente dois pesos e duas medidas para uma mesma realidade.

Por equilíbrio, entendo eu, duas pessoas estarem no mesmo nível de interacção; por respeito entenda-se aceitar as diferenças e integrá-las, não como incompatibilidades, mas como inevitáveis traços de individualidade que devem ser geridos com base no diálogo e na disponibilidade para receber o outro; a confiança é a soma destess dois pilares subjacentes ao Amor, pois amando e CONFIANDO, haverá equilíbrio e respeito.

Bjos

Lábios de Caprichos disse...

A forma como rematas-te a resposta ao meu comentário foi tocante pela forma como me trespassou. Um dia li algo de um poeta que dizia q toda a felicidade termina na decepção (...) it's true.

"e precisamos que reparem em nós e na forma despojada como amamos e saimos fora de nós, em cedência de nós mesmos" cedências e mais cedências... Ao olhar para trás parece que cedi uma vida inteira e q os segundos de reconhecimento foram tão escassos que ñ sei como encontrei forma de ceder sobre tudo e todos, sobre todas as vontades, ...
E triste é saber q poucos dão valor. E triste é saber q qdo dão valor foi pk se apercebem q mutilaram tudo de bom q existia, qd vêm a desilusão e dor expressa no olhar de quem tudo cedeu.

Always disse...

Percebo-te! :)
E depois faltam-nos as forças e começamos a faltar a quem amamos porque ficamos bloqueados, inseguros e quase a acreditar que fazemos tudo mal e que o que somos não é suficiente. E depois crescem muros que erguemos por defesa, por instinto, para salvaguardar o amor próprio que nos resta e do qual não podemos abdicar, porque não podemos amar o outro senão nos amarmos a nós mesmos. E esse é o ponto central das coisas, se calhar não é o nosso amor que não chega, se calhar é o Amor que não cura tudo e quando existem coisas desarrumadas no outro que já lá estavam antes de nós chegarmos, e que involuntariamente vêm à tona sem que nós tenhamos culpa... E nem todo o Amor do mundo pode afastar fantasmas que não são nossos...