quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Desabafo

Looseends, Dipped, 2008

Está calor. Estou um bocadinho farta de transpirar todo o dia…
Ontem foi o equinócio de Setembro e eu tenho urgência do aconchego do Outono.
Desculpem a falta de propósito do desabafo...

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Ponto X

Katfood1, You are here, 2007

Aqui, encontradas, inteiras, numa peça única. Os desajustes de calendário não passam disso, mas são injustos para ambas as partes - quem vai à frente vai sozinho, quem fica quer partir porque a espera se torna longa quando se suspende o abraço. Assim se explica o desassossego deste desencontro de dias que me fez voltar sem ti e te fez voltar a mim mais tarde. Assim explico eu o Amor que se mede pela pressa de chegar-te e tu a mim, com a ansiedade da primeira vez. Aqui de novo, completas, inebriadas reciprocamente, na partilha do mesmo estado de alma como se todos os dias, todos os anos, toda a vida fosse apenas um minuto em que apostar tudo vale sempre a pena.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Quase aqui

Jack P. Williams, Time Flies in the World of Grunge, 2008

Já é hoje e hoje é voltar a estar inteira. O tempo de espera esgota-se e a cor da vida regressa ao corpo, aos olhos e aos gestos. A medida do tempo é um estado de espírito. Hoje somos a terra outra vez em movimento. A medida da saudade, se a saudade se medisse, é a eternidade. Longe ou perto, quem ama vive sempre de saudade. Mas hoje que voltas para onde estiveste sempre, o coração celebra reencontro do olhar. Chega-te depressa a mim que me custou tanto esperar-te.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Falta o quase

Patrick Smith, Walking on Glass - Pismo Beach, California, 2008

Os dias grandes são, por vezes, demasiado grandes, sobram no vagar que arrastamos nas horas teimosas, vazias, que duram mais do que o suficiente. Nesses dias é o inverso que avança e que nos ultrapassa. A sensação de que falta tudo para coisa nenhuma toma conta de nós como uma espécie de bolor antigo. Os dias grandes não se definem, demoram e demoram-nos no impasse, na espera, no porvir. Os dias grandes são erráticos, tiranos. São assim os dias em que te espero, grandes e asfixiantes. Os dias em que te espero são uma prisão onde, hora a hora, sucumbimos à claustrofobia da deambulação.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Falta muito?

Dond, Polished Stones, Worn Smooth by the Sea, 2007

Agora que voltei, não paro de fixar o ponteiro das horas. Espero. Faltam quantos dias? Menos um do que ontem, eu sei, que é como quem diz faltam quase todos! Poucos, tão poucos para alguns. Para mim muitos, porque até me voltares parte do que sou está ausente, logo não existo completamente. Vim à frente e enquanto não chegas conto as pedras que o mar nos deixou e que não apanhámos. São tantas, muitas, infindáveis... como as saudades.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Descompressão

J_P6, Decompression Bubbles, 2009

Dias de descanso, dias que se resolvem em si mesmo sem pensarmos muito nisso. Dias em cujo o único assunto é a ausência de assunto com que percorremos as horas, como se o tempo fosse todo nosso. Dias que começam sem príncipio e terminam sem fim definido. Dias que podem ser tudo e se forem nada tanto melhor. Dias de vagar que passeamos sem compromisso e sem planos fixos. Dias em que nos demoramos nas horas que escapam de um relógio despreocupado. Dias de férias e férias dos dias matemáticos e disciplinados. Férias para recuperar um outro passo, mais cheio do que é importante e primordial. Férias. Volto depois do intervalo.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Momentos abstractos

Petem, Vase, 2006

Tenho dias. Às vezes não sei se existo, se sou ou estou naquilo que muda o sentido do verbo ser para o verbo estar. Tenho dias. Por vezes acredito que sou infinita e que tudo à minha volta é infinito. Tenho dias. Outras vezes sou matéria e vivo um dia de cada vez, porque aprendo que a vida é uma sucessão de dias e não um plano estável, definido e acabado, que cumprimos com rigor ponto por ponto. Tenho dias, mas todos eles contigo e a viagem das horas, sabendo-te comigo, acontece-me lúcida, transparente como água pura de uma nascente do centro da terra que só a natureza tocou. A essência dos meus dias é a certeza de tudo o que existes em mim nesse estado de tal forma translúcido que caminho a noite dos dias desencontrados de lógica sem chocar de frente com o abstracto, porque amar é o oposto do abstracto, é uma linha que desenhamos contínua num espaço com margens de infinito. Assim te desenho eu, em cores de vida todos os dias.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Dias sem geometria

Peter Sussex, Ashtray on the floor, 2007

Passam dias demasiado voláteis, quase translúcidos, feitos de matéria impalpável que só a alma toca e segura. Passam dias em que me escondo em ti do mundo e, nesses dias, deixo-me ficar quieta, imóvel, sem tocar em nada para que o encanto não se quebre e as cores não desapareçam e se instalem os cinzentos infinitos que nos vigiam como aves de rapina do lado de fora do que é nosso. Nesses dias suspensos, quase mágicos, pelo desafio de não obedecerem às leis habituais do espaço e do tempo, gosto de te observar sem dares conta, como fazem os anjos invisíveis que, supostamente, olham por nós no alto dos edifícios. Nesses dias tudo fora de ti é superficial, monótono, plano. Procuro-nos, sobretudo, a irregularidade porque nos dá graça e consistência em três dimensões. Procuro-nos a relevância dos planos a partir de dentro, porque assim existimos fora do desenho, para além da projecção. Interessa-me essencialmente a realidade em que tu e eu somos percurso e linha do horizonte.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Natureza curiosa

Natebol, A curious nature, 2009

Porque a curiosidade é sempre um acto espontâneo em qualquer aprendizagem, é essencial observar, integrar e compreender. Somos mais se estivermos atentos. Somos nós por nós mesmos e mais aquilo que nos acrescentamos todos os dias pelo que sabemos aprender através do olhar curioso e espontâneo sobre todas as coisas. Assim é viver. Receber e dar, desinteressadamente, ao mundo o que sabemos em diferentes cores. A vida é assim… tudo a condizer.

terça-feira, 30 de junho de 2009

A linguagem dos objectos

Jackeline R., 3# Project Love

Pé ante pé, antecipando o corpo todo, espalho vestígios pelo quarto onde te encontro um sorriso antes de adormecer. Esqueço-me do dia e das horas que passaram até a noite nos abraçar. No momento em que me arrumo em ti já só cabemos nós e o que desarrumamos com o desassossego do corpo e a febre de quem ateia um fogo descontrolado desde o princípio do mundo. Amanhã, quando a noite chegar ao fim, vou tropeçar, com cuidado, nos restos de ontem espalhados pelo chão e reparar no que ficou escrito no escuro na cumplicidade de objectos dispostos numa espécie de ordem ditada pelo acaso. Mas tudo em meu redor me diz que nada acontece por acaso. Olhando para ti, acredito. Tenho fé nas pequenas coisas, em pequenos gestos, como gotas de água transformadas em oceanos.

domingo, 28 de junho de 2009

Depois do tempo

Petem, Storage container, 2006
Assim. Arrecandando vestígios e marcas de quase tudo o que surpreende na alma. Assim, coleccionando o tempo no que, da sua passagem, vai ficando em todos espaços dentro e fora de nós, vivemos. Assim te vivo eu no desdobrar das horas sempre a desejar que elas se prolonguem e nos projectem, um dia, nessa prometida dimensão onde nada de nós se acabe, nada morra e tudo cresça para além do espaço e do tempo. Assim te sonho e nos sonho eternas e indivisíveis. Assim nos quero na vida e na morte. Assim, sem tempo. Quero olhar para as paredes, para os livros de letras a perderem-se no papel, paras ruas por onde caminhamos os dias e reparar que o tempo passou contigo ao meu lado. Assim. Com a mesma certeza do primeiro momento e vontade indomável de vivermos para sempre, partilhando com a mesma intensidade o tempo e a sua inevitável relatividade.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Massa de ar frio

Mischa Bronstring, Locked Bibles, 2007

Amanhã, enquanto eu não chego, guarda-me o dia inteiro como se eu fosse um livro que não queres acabar sem me teres à distância de um beijo a sussurrar-me a última frase. Leva-me para todo o lado quando saíres para o dia que começa e não me percas de vista nem me esqueças um instante que seja. Eu estarei a ir, a percorrer quilómetros cheia de pressa, a acelerar a máquina que não é do tempo, mas que eu gostava que fosse para te voltar sem demoras. Amanhã saio mais cedo em direcção ao norte e terei frio durante todo o dia porque deixo os teus braços, ainda adormecidos, à minha espera. Parto agasalhada porque o inverno é o que me fica quando me separo de ti, por breves instantes que sejam. Amanhã segura-me as horas que faltam para voltar-te e sopra-me recados tontos que apressem a viagem e a hora de chegada. Sem longe nem distância, não sei deixar-te sem mim nem sei estar sem te saber comigo.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Movimento pela igualdade - MPI

Kevin Rolly, Greystone VII, 2009

Convido todos quantos por aqui passam a assinar a petição do MPI :
e a visitar o site em www.igualdade.net/
Porque um Estado de direito democrático existe para defender os direitos e garantias fundamentais de TODOS os cidadãos e não apenas de alguns e porque não podemos permitir que a sociedade se baseie no príncipio de que 'todos somos iguais mas alguns MAIS IGUAIS do que outros'.

Constituição Portuguesa - Artigo 13.º da PARTE I
(Direitos e deveres fundamentais - Princípios Gerais)
(Princípio da igualdade)

1. Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei.

2. Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica, condição social ou orientação sexual.

Não será isto suficientemente claro para todos sem excepção?

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Precisão

Captain Superlekker, Kyoto

Fosses tu uma espécie de lugar que o tempo não define e eu o momento tornado infinito de quem descobre terra a acabar o mar e as palavras que nos explicam e nos descrevem teriam outra precisão. Porque o que não se vê nem sempre se escreve de forma precisa, nem sempre as palavras são fáceis de entender, porque o pensamento e a eloquência falham, porque as ideias nos falham, porque o talento é algo tão raro como o amor e é tão difícil conjugar as duas coisas... Tenho o Amor que sonhei, falta-me o talento da precisão com que sinto para ser exacta na descrição. O valor absoluto do Amor existe numa outra dimensão, onde tu e eu navegamos exactas num mesmo e único plano.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Tu ali, em todo o lado

Don Nieman, Hole in the table, 2005

De pensamento solto sempre ao teu encontro saio para o sol que me espera lá fora. E, enquanto os nossos olhos não se cruzam e ficam um no outro a trocar segredos e outras coisas com e sem importância, vou e venho muitas vezes até onde te sei, ou onde te imagino, para matar saudades. Espero-te em todo lado, ao dobrar da esquina, ao funda da rua, à saída de um edifício de um e do outro lado da estrada. Toda a parte é toda a parte e o meu pensamento solto é indisciplinado e impreciso. Daqui até aí todo o espaço se resume ao momento da chegada.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Éden

Brent, 1st - fresh fruit, fresh water, 2009

Não saias daí. Deixa-te ficar na minha vontade de água fresca todo o ano, nesta sede que tenho do teu corpo transpirado e exausto enroscado no meu. Não te mexas, deixa-me saborear o fruto acabado de colher, de cores vivas e permanentes como o teu perfume omnipresente em todo o lado por onde passo sempre a caminho de ti. Deixa-te ficar neste momento doce em que os meus beijos te procuram a frescura do que me és na alma, no que me fica de forma inteira mesmo depois de adormecermos. Fica assim como um amor primeiro e último porque não quero mais nada do que o infinito que me refaz os dias cheios de certeza de que o mundo é nosso, apenas nosso e todo o resto é fado. Eu contigo e tu comigo somos o destino marcado. Não saias de mim, deixa-te descansar no corpo que te aninha no desejo vivo e fresco, acabado de nascer sôfrego e sempre desassossegado.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

A(garra)r

JLM, Kittens Series, Griffes

Olha como eu me seguro às paredes, usando unhas que não querem largar nem deixar cair. Repara no quanto quero segurar que, por vezes, transformo as mãos em garras e, por vezes também, arranho sem querer magoar. A pedra nada pode, não detém mãos que te querem com a vontade da alma onde tudo cabe, porque não tem tamanho quem, no peito, sente o fogo da vida reacender todas as manhãs de todos os dias. Vê como os meus dedos te procuram em cada esquina e sabem onde te encontrar, porque o amor é uma linha recta que nos orienta e nos faz chegar a lugares que nem sabemos que existem quando começamos a andar. Tudo o que descobrimos só existe porque caminhamos lado a lado. Tudo o que imagino do outro lado do mundo, lá estará à nossa espera, bastará que venhas comigo. Olha como cresci e avanço sem medo, dobrando cada esquina com a fé de que a vida é mais jovem, mais leve, mais luz de primavera, porque te tenho a ti por todo caminho de mão dada.

terça-feira, 19 de maio de 2009

Árvores de tronco único

Mart's, Trees series, 2009

Nada melhor do que o espaço livre da imaginação para rebolar-me em ti sem intervalos sobre uma relva sempre verde e perfumada, onde somos sempre luz da primavera, indiferentes às horas do dia. Nada mais livre do que esse mergulhar por entre as ondas em que abandonamos corpo e alma em viagens onde somos principio, meio e não temos fim. Um dia seremos árvores, de tronco único, eternamente esperança e elevadas até onde o céu e a terra perdem os seus limites. A liberdade de ser mede também a liberdade de amar. Em ti renasço todos os dias no que o Amor me deixa livre para te amar desmedidamente. Nada melhor do que uma pradaria infinita que cuidamos por dentro, onde tu e eu nos deitamos na verdade do mesmo abraço.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Quase pornograficamente

Barry Green, Rose Petal Pink, 2005

Apetece-me deixar tudo por fazer e correr até onde estiveres para te despir num gesto único e descontrolado, porque é descontrolada a minha vontade de te ter pele na pele e de me fundir contigo. Apetece-me ouvir o gemido húmido e incontido do corpo que nos escorrega no desassossego constante que nos anima. Apetece-me dar-te voz na minha voz num mesmo movimento instintivo. Apetecem-me todos os beijos que nunca esgotamos e fazê-los durar até adormecer embrulhadas numa febre contínua. Apeteces-me despida aqui e agora e em todos os minutos que demoram até te chegar, porque me apeteces sempre e em toda a parte mesmo que te tenha toda e completamente em mim. Porque o desejo é permanente e o Amor absoluto.

domingo, 10 de maio de 2009

No topo da montanha...

Stefano di Domizio, Ladybugs and coleopters Series, 2009

Só vejo um caminho, só imagino esse caminho, só sei o caminho que se estende em frente até à nossa eternidade. Em frente e cada vez mais alto a abraçar paisagens que o mundo lá em baixo não sonha nem acredita. Cá de cima somos maiores do que a vida e o sempre é uma cama de nuvens prateada pela luz sol que não dorme nem se esconde no azul, onde reina indiferente ao movimento do mundo. Aqui, onde ninguém nos alcança, seguimos firmes o caminho em frente porque acreditamos no tanto que alcançámos e temos fé no infinito que está por vir. Subimos e olhamos para baixo para guardar sempre a certeza do que ontem nos aconteceu, do que hoje somos e do que amanhã e depois queremos continuar. Aqui, onde não temos limites conhecidos, somos a cada instante mais matéria estável, mais corpo definido e alma intocável. Cá em cima onde nunca deixamos de nos abraçar, as horas passam ao contrário, a contagem é decrescente pelas saudades de tudo quanto nos aproxima e nos une debaixo do mesmo sentido e sentimento. Não te apresses nem te atrases, morreria bruscamente de saudades no descompasso de um respirar... O Amor é vida e tu és a minha vida, o meu caminho em frente, o meu sempre, o meu em toda a parte.