segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Olhar esverdeado

Hideki Shiota, Snap Shots Series, 2009

Ainda está a chover. O verde que a chuva afoga mantém a esperança de que nenhuma estação do ano dure para sempre. Tal como a vida que nelas se vai enrolando e desenrolando, porque nada se perde, tudo se transforma. E não somos mais do que apenas isso - vento, chuva e tempo quente alternados, partes de um todo. E mesmo que a chuva nos incomode, faz parte do ciclo que nos descreve e nos inscreve a vida, passo a passo, como lágrimas entre o céu e a terra. É preciso acreditar que o verde não acaba e que a chuva é o princípio de tudo o que vem a seguir, mesmo quando o céu cinzento nos desanima. O conforto é um intervalo, sem garantia vitalícia. Somos, intrínsecamente, primavera, verão, outono e inverno. Porque a vida é um ano inteiro e não apenas dias combinados.

sábado, 16 de janeiro de 2010

O dia em que o mundo mudou de sítio

Manuel Guerra, Cable, 2006

Regresso ao passado e celebro o presente. Estou eternamente grata às novas tecnologias que te trouxeram até mim.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Contrastar

Patrick Smith, Under the Berkeley Pier, 2009
Em tudo em nós há sempre uma perspectiva diferente que varia em função do ângulo de abordagem. Umas vezes cheia de tudo, outras errante no nada. Numa e noutra situação, importa dar passos, grandes e pequenos, em busca do que não está ao alcance da vista, mas que sabemos algures no horizonte que nos contempla, numa distância que aumenta ou diminue conforme a nossa forma de olhar. A paisagem e os obstáculos são construções nossas, prolongamentos de nós, do que nos sobra por dentro e não sabemos arrumar. Nem sempre estamos em ordem porque nem sempre temos noção da nossa própria escala. Nem sempre somos nós mesmos, por inteiro, no que temos de melhor. Nem sempre sabemos dar. Generosidade é dar e receber também. Por vezes, falta-nos a calma para fazer entender a nossa disponibilidade. As horas assimétricas que nos desencontram são apenas circunstâncias e não factos. O Amor constrói-nos num espaço e tempo únicos, onde as imperfeições são poeira numa paisagem que nós pintamos de horizonte mais alargado. De resto, os constrastes de luz são o elemento fundamental na definição do quadro. O Amor é luz que aprendemos a misturar.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Horizonte

Michel Corboz, La zone Orange, 2009

Os anos passam e o poeta escreveu que para além dos tempos, mudam os ventos e também as vontades; muda-se o Ser e a confiança. Ainda que seja tudo isso verdade, a essência do que somos permanece, e o que somos essencialmente define tudo o resto, para o bem e para o mal. O Amor não muda. O Amor é o amor, a essência do princípio, meio e fim. O Amor é a origem do Ser, o príncipio que nos começa e que não se acaba porque é, por definição, inesgotável. Quando, em nós, descobrimos a capacidade de amar, a vida é sempre um infinito princípio. Não sei explicar essa qualidade humana, mas sei o que sinto e no que sinto os anos não passam, os tempos não mudam nem se modificam as vontades. O Ser muda e com ele a confiança, mas não a essência nem o princípio de vida. E ser adulto é aceitar que não há bem que sempre dure nem mal que não se acabe e amar sempre por igual. O Amor cresce-nos na interiorização da verdade nua do que somos. Não somos perfeitos, nunca seremos perfeitos. Quero que me ames sempre pelo que me sabes, despida de artíficios, despojada e nua. Quero que saibas com absoluta certeza que te amo pelo que és essencialmente e não pelo que julgas ser. Porque, às vezes, dou-me conta que não te conheces tão bem como eu te conheço. E é nesse espaço ou margem que te sobra, em que não te encontras facilmente, que eu semeio e colho os frutos da minha vontade imutável de te amar completamente.

quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Feliz nova década

Lisa Feuer, Fiber optic snowman, 2004

Que os dias que vamos estrear no ano mesmo à beira de chegar sejam cheios de saúde, de paz e permitam a concretização de sonhos e expectativas. Tudo isto embrulhado em muito Amor. A todos desejo um Feliz Ano Novo.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Que seja realmente Natal

Clinton Chin, Frozen Night, 2005

A todos desejo um NATAL FELIZ como nas fantasias de infância, nas quais o mundo começa e acaba no sapatinho sobre a chaminé. Porque o Pai Natal existe quando acreditamos que um outro mundo é possível e fazemos alguma coisa para isso acontecer.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

9mm


Também tenho munições...
...milimetricamente eficientes.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Acontece no Oeste... e não só



Tenho a pistola... Vá, DESPE-TE!

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Electromagnetismo

Steve H, London Visions

E se desatássemos a correr pelos dias, que imagens focaríamos? A velocidade, por desatenta que seja, tem a vantagem de recriar perspectivas e definir paisagens ligeiramente diferentes da realidade. Se pudéssemos fixar esse intervalo entre o que realmente é e o que julgamos ver, que coisas novas descobriríamos acerca de nós mesmos? Enquanto tento imaginar, para passar um pouco mais depressa pelas horas onde estou agora, dou-me conta que o teu tempo, tão diferente do meu, vai passando por onde não nos vamos encontrar senão à noite, quando nos regressamos por inteiro, despidas de contratempos, disponíveis em intensidade. Temos tão pouco tempo para tanto que nos queremos dar! Quem me dera que fôssemos mais velozes e fizéssemos durar as noites tão infinitamente quanto as horas dos dias que nos separam… Quem me dera ser raio de luz e encontrar-te, ao longo do dia, a intervalos regulares, empurrada pela voracidade dos trezentos mil quilómetros por segundo de um impulso e percorrer-te por inteiro com a velocidade desta ideia magnética que me anima!...

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Uma ideia de fé

Jasontheaker, Photographic paradox, 2009

Viver é acreditar. Acreditando vivemos mais coisas no mesmo tempo de vida. Acreditando vivemos, sem dar conta, duas vidas numa só. Acreditar é crescer em altura e em comprimento, porque construímos uma alma maior, mais preparada para chegar a todo o lado. Acreditar é saber que não estamos sós e poder contar sempre com isso, porque fica mais pobre aquele que escolhe desfocar o mundo e ver tudo de um só lado. Acreditar é aprender um pormenor diferente em cada dia que passa, decorá-lo até saber falar dele de cor, sem hesitações. Acreditar é confiar que o lado bom é infinitamente superior ao pior que se imagine, porque vivem bem aqueles que fazem dos obstáculos pontos de apoio para alargar conhecimento. O Amor, que é coisa que não se vê, acredita-se porque se sente e vive-se acreditando que aquilo que não vemos nem tocamos é uma razão maior do que a nossa capacidade de raciocínio. Amar é confiar e confiar é admitir que há coisas que não sabemos explicar e crescer em busca de respostas, sem desistir nem vascilar no que sentimos como força maior, centro do mundo. Assim te sinto eu.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Um lobo chamado António Sérgio


Foi ontem, dia de Todos-os-Santos, durante a hora do lobo que partiu. Ou talvez não. Ninguém parte realmente quando deixa para trás história viva em cada um de nós crescidos ao som de uma voz, de um gosto, de uma estética, de uma maneira de estar sem fronteiras. Apostas, transgressões para a frente, sempre adiante e mais além. Sede de descobrir, de arriscar, de musicar o mundo de forma alternativa, porque o mundo tem ser alternativo para que seja inteiro e completo. Porque o direito à diferença foi o que aprendi na voz, no som, na escolha de António Sérgio, assim cresci embalada pelo uivo da resistência e assim me reconheço parte da matilha do lobo 'Gitano', obrigado António Sérgio - o teu espírito vive para sempre... para além do éter para além do tempo.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Dois tons

Mattana, California poppy, 2004

Hoje enfeito o dia de verde esperançoso e vermelho cor de vida a condizer com a paisagem que a minha vista alcança quando olho para ti. Não te dás conta das vezes que fico a olhar para ti e a percorrer campos e colinas de vida, passado, presente e futuro. Não está à vista o tom de sangue que me aquece quando me chegas num beijo. Vermelho de sangue pulsante, incandescente como fogo. Não te dás conta do verde e do vermelho que me pintam o caminho por te saber comigo, sempre e completamente. Não sabes nem eu te consigo dizer mais do que os meus olhos te mostram honestamente todos os dias, ainda que nem sempre te dês conta do tanto que os meus olhos olham para ti.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Delay

Aziz J. Hayat, Water Animation, 2009

Esqueci-me. Foi num dia 4 de Outubro. há 3 anos atrás. Naquele tempo todos dias eram noite escura. O sol deixou de ser e o corpo vivia aos tombos á procura dos pedaços do amor estilhaçados pelo chão. Há 3 anos atrás fingia que havia vida para além de ti e morria ao minuto, morria cada vez mais, fatalmente adoecida pela tua ausência. Foi assim, de olhos sofridos, rasos de água e dôr, que deixei as primeiras palavras dentro de um copo vazio. Foi há 3 anos atrás... noutra vida cujo único elemento constante somos nós, três anos depois, renascidas, mais fortes, infinitas. E talvez imortais.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Anatomia do coração


Porque às vezes na ficção encontramos palavras certas, cheias de sentido exacto que explicam a verdadeira anatomia do Amor:
"(...) Burke: Cristina...I could promise...to hold you...and to cherish you. I could promise to be there in sickness and in health. I could say...till death do us part. But I won't. Those vows are for...optimistic couples, the ones full of hope. And I do not stand here on my wedding day optimistic or full of hope. I am not optimistic. I am not hopeful. I am sure. I am steady. And I know. I am a heart man. I take 'em apart. I put 'em back together. I hold them in my hands. I am a heart man. So of this I am sure...you are my partner...my lover...my very best friend. My heart, my heart...beats for you. And on this day, the day of our wedding, I promise you this...I promise you to lay my heart in the palm of your hands. I promise you... me. (...)"

Votos de casamento do Dr. Preston Burke de "Anatomia de Grey" (Serie 3, Epis. 25)

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Expedição

Patrick Smith, Shores of Eternity - Big Sur, California, 2009

Vá, vem daí, anda contar as pedras que fazem o infinito que temos pela frente por entre terra e mar. Porque nada nos separa e o céu inteiro nos ampara. Anda, vem daí, vem mais longe, sempre mais além, temos tanto para alcançar. Damos voltas e mais voltas porque a terra não se acaba onde o mar começa. Temos sempre um céu infinito como horizonte e mesmo o chão ao contrário é feito desse azul sem tempo e sem fronteiras para além da nossa vontade. Daqui vejo um mundo inteiro para descobrir para além de tudo quanto já temos arrecadado. Anda, vem daí, sempre comigo, pelo caminho que nos segura corpo e alma sem cansaço porque nele confiamos um mesmo coração.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Desabafo

Looseends, Dipped, 2008

Está calor. Estou um bocadinho farta de transpirar todo o dia…
Ontem foi o equinócio de Setembro e eu tenho urgência do aconchego do Outono.
Desculpem a falta de propósito do desabafo...

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Ponto X

Katfood1, You are here, 2007

Aqui, encontradas, inteiras, numa peça única. Os desajustes de calendário não passam disso, mas são injustos para ambas as partes - quem vai à frente vai sozinho, quem fica quer partir porque a espera se torna longa quando se suspende o abraço. Assim se explica o desassossego deste desencontro de dias que me fez voltar sem ti e te fez voltar a mim mais tarde. Assim explico eu o Amor que se mede pela pressa de chegar-te e tu a mim, com a ansiedade da primeira vez. Aqui de novo, completas, inebriadas reciprocamente, na partilha do mesmo estado de alma como se todos os dias, todos os anos, toda a vida fosse apenas um minuto em que apostar tudo vale sempre a pena.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Quase aqui

Jack P. Williams, Time Flies in the World of Grunge, 2008

Já é hoje e hoje é voltar a estar inteira. O tempo de espera esgota-se e a cor da vida regressa ao corpo, aos olhos e aos gestos. A medida do tempo é um estado de espírito. Hoje somos a terra outra vez em movimento. A medida da saudade, se a saudade se medisse, é a eternidade. Longe ou perto, quem ama vive sempre de saudade. Mas hoje que voltas para onde estiveste sempre, o coração celebra reencontro do olhar. Chega-te depressa a mim que me custou tanto esperar-te.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Falta o quase

Patrick Smith, Walking on Glass - Pismo Beach, California, 2008

Os dias grandes são, por vezes, demasiado grandes, sobram no vagar que arrastamos nas horas teimosas, vazias, que duram mais do que o suficiente. Nesses dias é o inverso que avança e que nos ultrapassa. A sensação de que falta tudo para coisa nenhuma toma conta de nós como uma espécie de bolor antigo. Os dias grandes não se definem, demoram e demoram-nos no impasse, na espera, no porvir. Os dias grandes são erráticos, tiranos. São assim os dias em que te espero, grandes e asfixiantes. Os dias em que te espero são uma prisão onde, hora a hora, sucumbimos à claustrofobia da deambulação.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Falta muito?

Dond, Polished Stones, Worn Smooth by the Sea, 2007

Agora que voltei, não paro de fixar o ponteiro das horas. Espero. Faltam quantos dias? Menos um do que ontem, eu sei, que é como quem diz faltam quase todos! Poucos, tão poucos para alguns. Para mim muitos, porque até me voltares parte do que sou está ausente, logo não existo completamente. Vim à frente e enquanto não chegas conto as pedras que o mar nos deixou e que não apanhámos. São tantas, muitas, infindáveis... como as saudades.