Anabark.Once upon a time (MAI07)
Na casa da improvidência morou, por algum tempo, o Amor, alimentado pela condescendência e pela promessa de compromisso. O Amor, que deixou para trás tudo o que era seu por não poder trazer nada consigo, veio de vontade e com a vontade de ficar para sempre, e ali foi muito feliz enquanto, em tudo, foi condescendente. O mesmo Amor que, antes, tinha sido abandonado, subiu uma montanha para ali chegar e encontrou outra montanha quando lá chegou. Mas valia a pena, havia Amor e braços amplos e quentes que, apesar do medo, esperavam por si. Pouco tempo passou, e o Amor ali vivia a esticar braços complacentes até ficarem doridos de tanto os esticar. Um dia, o Amor baixou os braços para ver o que acontecia, á espera de ser reparado, confiante que os braços que tanto amava lhe chegariam quentes e fortes para não o deixar cair. E andou pela casa inteira, dias e meses a fio, e os braços que amava não se abriram nem aqueceram mas teimavam que sim, que amparavam e que eram mais seguros do que os braços do Amor. E o Amor não entendia, porque tinha frio e nenhum calor lhe vinha. E o Amor chorou baixinho, escondido e ás escuras, para que ninguém tivesse pena. E nunca deixou de acreditar. E os braços que amava, cada vez mais frios e envergonhados, foram empurrando para fora. E o Amor não entendia, porque amava muito, tudo, e chegava-lhe pouco, quase nada. Não deixou de amar, gritou para chamar a atenção, queria apenas que reparassem. Desacreditado adoeceu de tristeza e, no desespero, fechou-se na memória do que, ainda tão há pouco tempo, tinha sido. Ninguém veio por ele, por lá ficou esquecido. O Amor não entendeu quando o fim chegou sob ameaça. Um dia, sentado na sua parte da cama, sempre á espera de um abraço, um dedo esticado apontou-lhe a porta e, sem hesitar, mandou-o sair.