Adormeço à beira de uma janela de fora para dentro e, enquanto me sossega a alma, revisito o tempo de dentro para fora como quem percorre de memória paisagens que só existem na nossa cabeça e só de vez em quando. Adormeço à procura de sono, debruçada nessa janela onde a luz não falta, mesmo à noite quando a terra vira costas ao centro feito de fogo. Restam-me alguns minutos de conversa interior antes de vaguear, por onde ainda nem imagino, no sonho de daqui a bocado. E encontro-te a ti, aqui e ali, em todo o lado. Sei-te a dormir, por isso falo devagarinho e faço barulho baixinho e corro o risco de te acordar. A noite dá-me o tempo que o dia te retira e teimo em ficar assim, à janela, a imaginar que, debruçada nela, me sonhas um mundo cheio de nós e que, depois, entre o eu acordada e o teu a dormir, há uma ponte de beijos que atravessamos sem chegarmos a margem nenhuma, de um lado ou do outro. Porque não há margens quando concordamos que o Amor é uma passagem infinita. Debaixo da minha janela, imagino-nos um mar alto esticado até ao céu, num azul único feito da mesma luz da meia noite ao meio dia. Daqui, da minha janela de onde, de fora, espreita o sono, só lamento as horas que se perdem sem nós. Beijo-te não tarda nada...
2 comentários:
"Porque amar é querer mais ao outro do que a nós mesmos, aceitar o outro com tudo o que isso implica e sentir que só estamos completos na sua presença."
Luísa Castel-Branco in "Alma, e os mistérios da vida"
É isso, não é?
Um abraço x 2
É isso com um pequeno reparo: para 'querer mais ao outro do que a nós mesmos' implica gostar do somos e aceitarmo-nos a nós próprios antes de tudo o resto. Se assim não for o Amor enfraquece, torna-se frágil...
Um abraço duplo
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