segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Fado

Agnes T. Ackerl, Depressed

Sem mais nem menos, somos confrontados com a fragilidade da vida. Neste dias, irreversíveis, que começam mal e não chegam ao fim, porque o que era não voltará a ser, percebemos que somos muito pequenos e insignificantes. Aprendemos pouco ou quase nada. Amanhã, quando acordarmos, somos feitos da mesma matéria e teremos sorte se acordarmos. Haverá quem não acorde para o dia seguinte e uma tristeza intrínseca nos que são tocados pela ausência. Deveríamos aprender algo, uma lição de vida. Passear os olhos tristes é muito pouco perante a urgência da mensagem: temos pouco tempo, seria um desperdício viver a adiar as coisas importantes da vida. Há que aprender a valorizar, a hierarquizar e a viver à escala humana.

13 comentários:

pixel disse...

aprender a viver com simplicidade, respirando fundo cada tempo.A vida é o tempo entre a chegada e a partida.

Bom Ano.

S-Kelly disse...

Partilho plenamente deste teu desabafo. Creio que a vantagem de vivermos dia a dia confere-nos a capacidade de perceber que a vida é perfeita quando bem vivida, mas também pode ser efémera quando menos esperamos. Disse isso no meu post sobre o meu balanço de 2008 e só quando nos toca algo menos bom à nossa porta, só aí é que percebemos que podíamos ter dado mais aquela pessoa, que podíamos ter abraçado mais aquele amigo, que podíamos ter enfatizado mais as palavras de agrado que dissemos ás nossas paixões, aos nossos pais, avós, irmãos, amigos e colegas... e o amanha pode ser tarde!

Num livro de Ernesto Sampaio, uma homenagem à sua mulher Fernanda Alves (actriz), o jornalista escreve qualquer coisa como: "deveria ter amado muito mais a Fernanda. Deveria te-la amado como se ela estivesse sempre a morrer".

Esta relação constante no seu livro (sobretudo após a morte de Fernanda) tem a ver com o tempo e como lidamos com ele, porque só pensamos no presente, e o presente cega-nos... É um livro brutal, este que Ernesto dedica a Fernanda, sua esposa, e é sobretudo uma abordagem ao presente que hoje dá tudo e ao amanha que tira tudo, incluindo a magia e alegria do viver a dois.
Como dizes "é um desperdício adiar as coisas importantes da vida"!
Um abraço

whitesatin disse...

Concordo. Viver com simplicidade, um dia de cada vez.

Abraços

Always disse...

eu e whitesatin,

Eu também concordo com esse voto de simplicidade na nossa passagem pelo tempo. Contudo, é preciso ter noção da irreversibilidade do nosso passeio e evitar o desperdício.

Um abraço

Always disse...

S-Kelly,

Obrigada pelo teu atento comentário que foi ao encontro dos meus pensamentos. Porque às vezes somos surpreendidos pelo inesperado e é impossível não reflectir sobre a fragilidade do que somos e do que é o mundo a nossa volta que pensamos eterno.

Obrigada também pela tua sugestão de leitura. Pelo que descreves, fica-me uma imensa curiosidade pelo livro de Ernesto Sampaio que, de acordo com a tua leitura, me parece carregado de uma sensibilidade adulta que me impressiona. Gosto muito da ideia que transcreves: 'deveria ter amado muito mais a Fernanda. Deveria te-la amado como se ela estivesse sempre a morrer', com a qual concordo absolutamente - o Amor que damos nunca é suficiente porque é infinito.

Um abraço

S-Kelly disse...

Always,
O livro "Fernanda", de Ernesto Sampaio é um livro muito duro, mas de uma sensibilidade assustadora, sobretudo porque é escrito pela mão de um homem. O meu, está todo sublinhado, e anotado, porque tocou-me imenso. É um livro que não voltei a ler, mas que recordo por diversas vezes, o teu post foi uma delas.
Quando o acabei de ler, voltei a acreditar que haveria amor eterno, algo que julgava distante e dissipado no ser humano. Creio que é uma leitura que merece a tua atenção, só não sei se conseguirás encontrá-lo ainda disponível. Quando chegar a casa posso indicar-te o nome da editora, talvez seja mais fácil para uma eventual busca.
Um abraço

Always disse...

S-Kelly,

Imaginei o livro tal como referes, e o facto de ter sido escrito por um homem é de relevar.
Aguardo então a indicação da editora, para ver se consigo encontrá-lo e avaliar de forma mais concreta.
Obrigada desde já. :)

Um abraço

S-Kelly disse...

Always,

Tenho o livro na mão e foi publicado pela Fenda Edições Lda (R. de S. Nicolau, nº13-5º, 1100-547 Lisboa), em 2000.
Se não o conseguires encontrar, não tenho qualquer problema em emprestar-to [está é um pouco rabiscado :-( ]. Acho uma ideia boa a troca de livros, confesso, acho ainda interessante, como assisti em Estocolmo, encontrar um livro "esquecido" num banco de jardim, poder levá-lo e deixar um outro (meu) em seu lugar. Pena que aqui em Portugal não consigamos desenvolver brilhante jogo...
Um abraço

Always disse...

S-Kelly

Fui à procura na Net de coisas sobre o livro que, à medida que vou aprendendo sobre ele, me desperta cada vez mais interesse. E ao que parece já tem várias edições (duas, pelo menos). Encontrei a crítica de José Mário Silva, muito boa, ao livro, que saíu no suplemento DNa, do Diário de Notícias, em 3 de Fevereiro de 2001, que aqui partilho contigo:
http://morel.weblog.com.pt/2006/01/
memoria_de_ernesto_1.html

Definitivamente vou à procura do livro, por todas as razões e mais alguma! Obrigada por me teres encaminhado até ele e obrigada, também, pela tua disponibilidade de emprestares-me o teu. É bom saber que se a minha demanda for em vão, existe o teu exemplar, enriquecido com as tuas anotações.

Subscrevo a ideia de deixar um livro em troca de outro, como, em Estocolmo, te aconteceu. Em Berlim deixei também um livro... :)

Um abraço

S-Kelly disse...

Always,

Não consegui resistir e dei uma escapadinha até ao link me enviaste. Mas que bem que escreve José Mário Silva! Efectivamente só quem conheceu Ernesto Sampaio é que consegue escrever assim, com o coração. Morrer de amor, como referiu Mario Cesariny, é isso que se sente na ângustia daquele livro, daquele homem, daquele amante...
Dispõe do meu exemplar, caso não consigas um para ti. Afinal, não é só o meu livro que está anotado, há mais quem o faça (confesso que tem momentos em que acho que é desrespeitar a essência do livro, das palavras. Não é bonito ver um livro rasurado, sublinhado, anotado, mas é um hábito que não consigo evitar. Shame on me) :-(

Always disse...

Também fiquei muito impressionada com o texto de José Mário Silva. Quanto ao «Fernanda», acabo de localizá-lo em 2ª edição (2005) em várias livrarias online (a 1ª edição, de 2000, está mais do que esgotada) e tenho alguma fé que, ainda hoje, o amor da minha vida, na sua procura pelas ruas da cidade, consiga encontrar a jóia de que me falaste em 1ª mão. :)

Quanto aos sublinhados e aos rabiscos nos livros rabiscados, não te preocupes, pelo menos, fica o testemunho das impressões sentidas ao ler as palavras e ao extrair delas uma lógica pessoal e um sentido. Há hábitos muito piores do que esse! LOL

Um abraço

S-Kelly disse...

Espero que por esta hora, já estejas aninhada no regaço do "amor da tua vida", a degustar as palavras agri-doces de Ernesto Sampaio. Ufa, um final feliz!? :-)
Um abraço

Always disse...

Bem, a paciência é uma virtude e eu vou ter de esperar pelo carteiro!... :)
Um abraço