segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Minimal

José Pinto, Gamelight, 2004

Enquanto, no meu colo, aninho a espera do tempo que conto e desconto para que chegues com a mesma pressa com que te espero, vou alinhando o sentido das palavras que quase nunca chegam ao que eu lhes projectei. Sei que, neste espaço de perda entre o que se pensa e o que se quer dizer e o que se lê e se interpreta, falho muitas vezes em dizer exactamente como sinto e não o que sinto. Porque o que sinto é mais fácil de dizer. Como o sinto é uma visão calesdoscópica de muitas coisas ao mesmo tempo que, embora tente, não sei dizer num sentido único, sem margem de erro interpretativo. Por mais que organize um sentido e uma geografia precisa na cadeia de palavras que me ocorrem para falar de ti, sei, com toda a certeza, que as palavras têm vida para além de mim, no que tu lês e nem sempre escrevi. Aqui e agora, tenho três palavras inequívocas para te acordar amanhã de manhã: tu, amor e sempre. Assim, de forma minimal e sem ambiguidade.

8 comentários:

The White Scratcher disse...

Não te incomodes a dizer como sentes, só tens que o demonstrar. A maioria das pessoas são incapazes sequer de pensar nisso, são focadas nelas mesmas e não conseguem mais. Aquilo que dizes é fruto daquilo que sentes e como o sentes.
È bom vir aquí e saber que temos sempre sentimentos puros para ler, é confortante e faz disto um lugar seguro.
Estas é uma das minhas seguranças para 2009.

Always disse...

'João Bernardo Castanheira' és um querido! :)
Independentemente da nossa certeza e vontade, as interpretações de gestos, palavras e acções são múltiplas e, por vezes, o equívoco surge sem darmos conta sequer. O pior de tudo é quando o equívoco e/ou erro de leitura/percepção assumem uma dimensão real sem matéria consistente.

Os sentimentos deveriam funcionar sempre como fortalezas robustas, seguras, não achas?

Um abraço

The White Scratcher disse...

È engraçado que falas de possíveis interpretações de sentimentos num dia em que pensei muito mesmo sobre este assunto.
No trabalho, cruzei-me com uma senhora que conheço pouco mas que faz sempre muita questão em ser muito simpática comigo e de perguntar se estou bem e se o meu dia está a correr como suposto. Não acho isso estranho, mas o que me faz pensar é a maneira como a senhora faz isso. Trata-se de uma pessoa bruta, com maneiras muito masculinas e voz alta que faz eco para todos os lugares onde se encontra. Fala muito alto e com voz de comando. Hoje questionei-me: esta pessoa nada tem a ver comigo pela sua maneira de ser e pela agressividade que exterioriza. Numa outra situação, seria uma pessoa que de modo inconsciente tentaria evitar e isso fez-me pensar que um erro na interpretação da senhora como pessoa poderia definitivamente fazer-me renunciar a conhece-la melhor.
Hoje parei e pensei: porque será que esta pessoa é assim?
Espero ter sempre a frieza para fazer isso a cada vez que alguém tenha algum comportamento de que não gosto e não deixar que as minhas defesas primárias venham ao de cima.
Hoje percebi que sou muito básico.

Os sentimentos são sempre fortalezas seguras, para nos juntar a alguém ou para nos protegermos.

Bjs

S-Kelly disse...

Bela foto. Escolhes sempre fotografias tão bonitas e tão apropriadas... (é um à parte).

A vida tem-me ensinado a expulsar os sentimentos para longe de mim. Nem sempre fui assim, mas acho que é fundamental poder dizer que também mudamos, e que fazemos esse esforço por sermos sempre melhor, sobretudo em matéria de sentimentos. E não me tenho dado mal, confesso. Dantes, e refiro-me não há muito tempo, retraía o que sentia, servia-me da escrita para me soltar, porque já não aguentava mais de tanto soluço e contenção. Hoje, estou um pouco diferente, já não em retraio tanto e expresso-me mais, porque percebi que o que é bonito deve ser manifestado, seja em abraços, em beijos, em danças, em elogios, em palavras que se soltem e que voem até aos destinos, de que forma seja, o importante é mostrar àquele que se quer, o quanto o amamos, ou estimamos, ou admiramos... always!

pixel disse...

gosto de ler o que por aqui se escreve!

:)

Always disse...

The White Scratcher,

É interessante confirmar por diferentes vias e em diversos contextos e matérias que 'as coincidências não existem'. Acho pertinente a tua reflexão sobre o erro interpretativo, ou melhor, não será propriamente um 'erro' mas antes uma interpretação própria. Somos humanos, reagimos a estímulos e, por vezes, somos profundamente básicos nos juízos de valor imediatos. Mas temos segundas oportunidades, para pensar um bocadinho e perceber o que nos escapa 'à primeira vista'. Acho graça a essa senhora que tu dizes 'bruta' fazer muita questão de ser 'muito simpática contigo'! Terá a suas razões, muito embora seja, pelo que intuo, 'desajeitada' a comunicar. Por outro lado, é lógico que fazemos escolhas, tendemos a aproximarmo-nos daquilo com que nos identificamos. É uma forma de criar à nossa volta um 'milieu' confortável, onde podemos baixar as defesas sem grande dano expectável. A tua reacção primeira é classificar e hierarquizar. É normal que assim seja, por questões de sobrevivência pessoal e de grupo.
De resto, dizes bem, também eu espero ter essa 'frieza', a que eu chamaria antes 'ponto de tolerância', para descobrir para além das aparências. E digo isto, porque nem sempre tenho, confesso.

Um abraço.

Always disse...

S-Kelly,

Antes de mais, agradeço-te o 'à parte'! :)

A maturidade que se adquire pela experiência que vamos somando na vida obriga-nos a uma reformulação continuada de estratégias, quase sempre para nos protegermos e evitarmos danos. Lidar com os sentimentos é uma tarefa complexa. Mas é precisamente por essa via que experimentamos a vida propriamente dita. É na libertação do sentir que ganhamos consistência e damos mais de nós aos outros, ao mesmo tempo que criamos oportunidades para nós mesmos para encaixar o mundo e recebê-lo em troca. Percebo perfeitamente o que dizes. A vida também me ensinou que é fundamental dizer às pessoas que nos são importantes que gostamos delas. O abraço a quem gostamos/amamos - amante, amigo ou familiar - nunca é despropositado. E digo isto em exercício de auto-reflexão também - não sendo a pessoa mais expansiva à face da Terra, vou aprendendo a gerir esta minha pessoa que, por vezes, gosta e ama muito mais do que sabe dizer/exprimir.

Um abraço

Always disse...

Eu,

Mais uma vez obrigada pela atenção! :)