Rob Oele, See Buoys 5, 2010
O desassossego de Pessoa fez-me entender que 'o maior domínio de si próprio é a indiferença por si próprio' e que se pensarmos muito sobre a vida é porque estamos perto da morte e da agonia que é darmos conta de todas as coisas que não fomos e, como diz o poeta, 'não há saudades mais dolorosas do que as das coisas que nunca foram'. Viver é saltar muros e não erguê-los. E, mesmo que o poeta diga que 'a vida é a hesitação entre uma exclamação e uma interrogação. Na dúvida, há um ponto final', a verdade é que temos de viver com coração e o coração não pensa, o coração sente. Aliás, 'o coração, se pudesse pensar, pararia', e isso seria a morte. Há em mim 'uma vontade de não querer ter pensamento,(...) um desespero consciente de todas as células do corpo e da alma', uma vontade de vida absoluta e pura, concreta e definida pela certeza de um coração ingénuo e indomável. Porque 'amanhã também eu – a alma que sente e pensa, o universo que sou para mim – sim, amanhã eu também serei o que deixou de passar nestas ruas (...) E tudo quanto faço, tudo quanto sinto, tudo quanto vivo, não será mais que um transeunte a menos na quotidianidade de ruas de uma cidade qualquer'. E por isso entristece-me não viver a vida num só dia, dia após dia. As perdas de tempo são puro desperdício e desgaste de tudo quanto é belo na alma humana.
Extractos a sublinhado retirados do "Livro do Desassossego", de Fernando Pessoa
2 comentários:
Como entro em contacto contigo? Tenho saudades tuas. Beijos
Sofia
Olá Sofia,
Agora me lembro que não te devolvi a chamada do outro dia, desculpa. Prometo fazê-lo ainda hoje ou amanhã, sem falta. :)
Beijos para ti... e para os teus rapazes.
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