segunda-feira, 28 de março de 2011

Boa vontade

John Hamers, Sem título, 2011

"Pelo facto das pessoas serem como são e não como desejaríamos, é que nos tornamos tão irritadiços, rudes, mal humorados em certos momentos. Uma das causas frequentes de nossa falta de boa vontade com algumas pessoas, inclusive muito próximas de nós, é nosso apego a ideias de como as coisas e as próprias pessoas deveriam ser. 
O mais provável é que a vida com que sonhamos nem exista. Em vista disto, resta-nos a realidade. E quanto mais apagamos das nossas mentes a fantasia, maiores chances de descobrir elementos de prazer a alegria espalhados na vida real. E haverá mais afabilidade e doçura em nossas palavras e gestos, tornando a vida muitíssimo mais agradável."
Rita Foelker

11 comentários:

GRAFIS disse...

Eu cá acho que a vida sem "fantasia", esperança, desejo, sonhos, etc. não consegue ser mais do que um palito quando poderia e deveria ser fósforo. Não chega a ser uma promessa de vida. Sobreviver não é suficiente.
Por vezes o sonho está onde menos se espera e é aquilo que nunca pensámos que pudesse ser, embora seja necessário Fé.
Vamos lá por as pernas ao caminho e nunca desistir. De ser feliz. O caminho poderá ser o que quisermos. E quem sabe por onde passarão esses caminhos…

whitesatin disse...

Always,

Acho que o "problema" está mesmo na criação de expectativas. É algo que tenho vindo a verificar como uma recorrência na minha vivência (algo que ando a corrigir)
...vivemos neste ciclo vicioso de nos apegarmos às ilusões que nos confortam, e/ou que nos transmitem segurança... porque ao longo da vida fomos perdendo a coragem (ou curiosidade) de aceitar o desconhecido como algo positivo...acho que é isso que significa perder a inocência...deixar de ver com o coração, ou melhor, deixar de olhar o mundo através dos olhos de uma criança...

sei lá...é tudo tão pseudo-dramático e ao mesmo tempo tão relativo...lol

Por mim, decidi praticar o desapego...tudo se torna mais facil de suportar...e de compreender... :)

Bjs

Always disse...

Querida C.

Concordo contigo quanto à necessidade absoluta do sonho. Sem eles estaríamos mortos, não passaríamos de entidades robotizadas, entregues a rotinas, programados mecanicamente para passar o tempo, nada mais do que isso.
O sonho faz a vida acontecer, sem dúvida! :)

Mas o texto refere-se concretamente à idealização das pessoas e à expectativa frustrada. E nesse sentido, parece-me que a autora tem razão. Não podemos esculpir as pessoas à nossa medida, moldá-las àquilo que gostaríamos que elas fossem por dar mais jeito ou ser mais confortável.
E se deixarmos de lado a ideia tonta de que um dia vamos conseguir mudar as pessoas e fazê-las corresponder à nossa fantasia, poderemos ver mais da realidade e aproveitá-la mais plenamente. Isso é também descobrir caminhos e aprender a partilhar a vida fora do nosso umbigo.
Desistir de sair à rua porque imaginámos um dia de sol e está chover, é asfixiarmos, pouco a pouco, num ambiente fechado de um 'nós' frustrado e amargo. Pode cantar-se e dançar-se à chuva, acho eu, tudo depende do que sentimos...

Um abraço e obrigada por continuares perto. :)

Always disse...

N.

Também acho que sim, que o 'problema' reside na gestão de expectativas baseadas em modelos, fantasias, ideais individuais que descuram o 'outro' como entidade autónoma, construído, com história, fantasias e expectativas próprias. Tendemos a fazer prevalecer a nossa maneira de ver as coisas para cumprir a nossa expectativa. Às vezes esquecêmo-nos de que temos de gerir também as expectativas do outro e, para isso, temos de ver e agir, com o coração, contra o desconforto ou a insegurança que isso nos possa causar. Porque é verdade que seria muito confortável que os outros correspondessem a tudo o que sonhámos, mas também é verdade que o outro pensa a mesma coisa em relação a nós, e seria mesmo muito estranho e irreal que coincidíssemos passivamente como se fôssemos feitos de plasticina ou, pior ainda, completamente acéfalos.

O mais estúpido disto tudo são os pseudodramatismos que desencadeamos por coisas tão relativas.

Um abraço. :)

rv disse...

sabes crescer custa p toda a gente, mais ainda + qd projetamos os nossos objectivos de vida c base nos contos de fadas q nos contaram em miúdos, nem tu imaginas o qt sou a favor das versões originais pc disso, há bem pouco tempo ouvi uma psicóloga na tv falar da importãncia q isto tem vida de tds influenciando em mt a nossa vontade de moldar a vida e tratando-a da forma como ouvimos q devia ser. Quem diz a vida diz tb as pessoas, só a meio de um processo interior grande é q me apercebi q o meu egocêntrismo era tão grande q achava q todos deviam ser, respirar e funcionar como eu achava, pq somos descompensados de nós mm ,somos e por mt q nos amem nunca será o suficiente p nós, pq n alcansamos os outros p além de nós próprios, o q temos é pouco e por isso a única coisa q nos dá segurança. Nunca vêr p além de nós faz-nos sentir q os outros nos estão sp a magoar, é o síndrome do Kalimero.
Agora eu é q te deixo a pergunta, e tu? ainda q , "terrívelmente teimosa" n estarás tu tb a iludires-te qt a alguém poderá nunca ter condições ou abertura suficiente para te vir buscar a casa?
bjs

rv disse...

pronto vim provocar o desassossego

Always disse...

R.

Aiiiiiii.... doeu a tua pergunta!... ;) Deixa-me almoçar primeiro e já cá volto! :)

whitesatin disse...

É uma pergunta pertinente :)

Always disse...

R.

Obrigada pela partilha que é, particularmente, ilustrativa de muito do que aqui dou conta, designadamente no que diz respeito à questão do egocentrismo e da necessidade de uma análise profunda de auto-reconhecimento de limitações estruturais individuais que levam a pessoa a procurar refúgio num processo de victimização continuada - síndroma de kalimero - em que a culpa é sempre do que fica fora de nós mesmos. É muito mais confortável ser vítima do que trabalhar interiormente para alcançar o outro. E tal como dizes, num quadro dessa natureza, as vítimas nunca se sentem suficientemente amadas, porque dispõem de pouco para dar e, consequentemente, estão indisponíveis para receber também, e tendem a vêm os outros à sua imagem e semelhança. Isto é, de facto, um grave problema de relacionamento humano a todos os níveis.

Quanto à pergunta que me fazes, percebo a razão dela e a pertinência de que ela se reveste. E assumo que nem a minha terrível teimosia me pode salvar naquilo que não depende de mim. É a pergunta que toda a gente me faz, inclusivamente quem está habilitado profissionalmente para a fazer - é o meu trabalho de casa. Neste momento, pelos sinais que me são dados, ou melhor, pela ausência deles, provavelmente milito numa ilusão... :/

GRAFIS disse...

eu não quis comentar essa parte pq não concordo inteiramente com a autora, mas tb não sabia como expor o meu ponto de vista.
tentemos.
é verdade que por vezes as pessoas não são como gostaríamos, mas a verdade é que quando projectamos uma imagem delas, muitas vezes criamo-la a partir de algo para a qual elas tb contribuíram. as pessoas evoluem, mudam, transformam-se. ou não. por vezes o processo de “mudança”, “transformação” (que é naturalíssimo acontecer nas nossas vidas) é interrompido, e essa pessoa não chega a ser o que gostaríamos, o que projectamos, o que esperávamos. é como se as pessoas contribuíssem para essa “promessa”, que nunca chega a ser cumprida.
porquê? não sei. talvez pq sejam apenas humanas e pq há coisas que acontecem que as fazem duvidar, esmorecer, desistir, desviar…
mas o processo normal não é este. tu sabes que podes mudar, aliás, mudaste, certo? toda a tua vida mudou há uns anos para cá, certo? pena é que por vezes não consigamos encontrar quem nos acompanhe, embora por vezes tenhamos a felicidade de encontrar alguém assim, e qd isso acontece... :)
às vezes parece ser uma roleta russa.
logo, não devemos viver amputando essa capacidade de projecção, nossa e do outro. Fé, esperança, sonho, mudar, caminhar…
bjs

Always disse...

C.

As pessoas só evoluem, mudam ou transformam-se quando têm estrutura para isso ou lhes são fornecidas ferramentas para operar essa evolução. Não é linear nem é condição natural no ser humano.
Todos nós projectamos nos outros expectativas e todos nós já nos enganámos, mais do que uma vez.... Por vezes, os outros inventam uma imagem que não corresponde à essência, mas que até eles mesmos se esforçam por acreditar que sim e chegam a convencer durante algum tempo. Outras vezes, amamos tanto uma pessoa que fechamos os olhos a todos os defeitos e quase pedimos desculpa pelo incómodo de tanto amor para dar...
As pessoas não mudam se não reconhecerem o que têm de mudar e isso é tarefa difícil e dolorosa. As pessoas, por norma, projectam sistematicamente a culpa nos outros quando as coisas correm mal.
As pessoas que evoluem são apenas aquelas que, como tu dizes e bem, sentem que alguém as acompanha com um propósito comum, alguém que as inclui num sonho, numa fé e lhes renova a esperança no Amor.
Tu, que conheces bem a minha história, e me acompanhaste no passado, sabes o que mudei, o que perdoei, a disponibilidade que tive para continuar a amar e a acreditar depois de tudo, quando toda a gente me dizia o que agora me dizes também (tu e toda a gente): 'Vai à tua vida, ela não te ama, não te iludas!' Perdi a inocência nessa altura, deixei ficar a ilusão e o sonho. Não desisti. Porque apostei no Amor. Hoje já não posso fazer essa aposta porque as coisas mudaram - a pessoa mudou, substituiu o coração por um buraco negro e sonha para além de mim.
Ontem fizeram-me aqui uma pergunta que não é fácil. A verdade é que estou a iludir-me, acreditando na capacidade de perdão que, ao que parece, não existe na outra pessoa. Sem amor não existe perdão, uma e outra coisa estão intrinsecamente ligadas.

Bjos para ti! :)