Anabark, Desastre (JUL2010)
Só o Amor vale a pena, o resto é uma deriva, um sem destino, uma espera desorientada. Mas o Amor é caprichoso e abraça toda a gente da mesma maneira. Por vezes passa por nós de mansinho e quase nos toca mas, livre, segue em frente, outras vezes pega-nos pela mão e leva-nos consigo por duas ou três ruas apenas, para nos largar á esquina, sem olhar para trás, desapegado e vago. Mas o Amor que vale a pena é aquele que acontece contra nós como um choque frontal, aquele em que nos deixa imobilizados com tudo amachucado e uma só certeza acrescentada: que estamos vivos por dentro porque o coração nos dói pela força do gostar. Ao desastre que chamo Amor muito poucos sobrevivem por muito que jurem o que sentem. Porque este Amor escolhe os corações, um a um, em que ficar, porque este Amor escolhe quem, em intensidade, o acolhe incondicionalmente. É é disparate acreditar que ele acontece a todos da mesma maneira. São raros os que têm a força de amar para sempre e que sabem não ser amados da mesma forma.